Imprensa

Seminário econômico não
retrata dramaticidade regional

DANIEL LIMA - 15/04/2016

O suplemento encartado na edição de hoje do Diário do Grande ABC, que relata o seminário realizado pelo jornal terça-feira em Santo André sobre os rumos da indústria da região, é a síntese de uma jornada decepcionante. Tanto no formato quanto no conteúdo a publicação deixa a desejar. Faltou matéria-prima, que a maioria dos convidados a analisar a economia regional sonegou aos interessados.

Está certo que o tom editorial não incorreu numa tradição do Diário do Grande ABC -- de enaltecimento da economia regional por piores que sejam ou tenham se cristalizados os indicadores sociais e econômicos. Também seria demais se, em plena tempestade como a que estamos vivendo, o jornal adotasse linguagem triunfalista. Mesmo assim, não alcançou o equilíbrio ideal na mensagem dos títulos. Soluções possíveis foram tratadas como, senão fáceis, menos problemáticas do que são de fato.

Faltou essencialmente ancoragem editorial, entre outras razões porque o jornal não teve o controle macrotemático do evento. Deixou para terceiros. A falta de um grande profissional de jornalismo na área econômica do Diário do Grande ABC está na raiz dessa observação. Grande profissional que jamais o Diário do Grande ABC teve continuamente. Entenda-se como tal alguém com conhecimento, liderança, autonomia e determinação de produzir série de iniciativas encadeadas para formar o que chamaria de cultura de transformações culturais.

Temática obrigatória

A experiência do evento seguido do suplemento editorial não se tornou um fracasso clamoroso porque sempre há ponto positivo a se retirar de situações semelhantes: só o fato de colocar na ribalda temática da região um assunto tão sonegado ao conjunto da sociedade como o desenvolvimento econômico, já terá valido a pena.

É certo que o Diário do Grande ABC jamais foi (ou seja) referência de confiabilidade no acompanhamento do andar da carruagem da economia da região. Isso vem do passado como as glórias do São Paulo. Não por outra razão criei no começo dos anos 1990 a revista LivreMercado, seguida desta revista digital, para transmitir aos leitores mais qualificados a realidade econômica com fundas abrangências sociais.

O Diário do Grande ABC se comportou ao longo dos tempos como repassador de informações de terceiros, com os vieses significativamente danosos de terceiros. Atribuir ao Diário do Grande ABC protagonismo editorial na área econômica é uma fraude. Qualquer comparação com a linha editorial que este jornalista adotou nos veículos de comunicação que conduziu e conduz seria uma heresia. Meus arquivos são um arsenal a garantir essa afirmação, à falta de memória independente de quem quer que seja.

Buraco gigantesco

Poucas são as informações dos protagonistas do evento que resistem mesmo a uma leitura rápida, porque descartáveis e sem compromisso com o amanhã. Não existe nada no suplemento que não seja do conhecimento de quem acompanha a economia da região. E a lista de questões substantivas que poderiam ser abordadas pelos expositores e palestrastes é imensa.

Anunciado durante muito tempo como um evento que consistiria na escalação de conferencistas em três painéis diferentes mas complementares, o suplemento do Diário do Grande ABC obedeceu a uma limitação editorial que sugere ter havido mudança de rumo da proposta inicial. Será que os painéis foram substituídos por participação mais coletiva dos convidados? Se não houve essa alteração, a edição do suplemento é que se perdeu como fonte organizadora de informações.

Mas isso é de menos. O que interessa é que a mesmice tomou conta do evento. Velhos e surrados clichês acomodatícios, desses que se levantam apenas para cumprimento de tabela, foram novamente acionados. Pouca coisa, pouquíssima, sobra da publicação, se o referencial for um presente menos destrutivo e o futuro menos tenebroso.

Para não dizerem – como os idiotas procrastinadores costumam agir – que estou aqui apenas para distribuir bordoadas, faço uma lista breve de temas que poderiam, individualmente, ser traduzidos como oportunidades de ouro para se colocar para valer o dedo nas feridas de problemas regionais que atingem a área econômica.

Cada assunto que listo abaixo poderia contar com três participantes, em eventos ancorados de verdade por quem tem estofo técnico para levar os debatedores a entreveros verbais e intelectuais que redundem em contribuições efetivas às mudanças de que tanto precisamos.

Portanto, nada do que foi exposto pelo suplemento do Diário do Grande ABC, na verdade um encontro diplomático típico de um jornal que, sempre considerando sua atuação na área econômica, jamais, ou em raras situações, deixou a posição de um falso árbitro de contendas sobre as quais, de fato, pouco exerceu atuação transformadora. E na medida em que se omitiu, ou ajudou a dar corda a bobagens, acabou cristalizando vícios até hoje constrangedores.

Vamos então a lista de eventos que poderiam eletrizar a agenda regional e também a consciência de quem quer uma Província do Grande ABC de volta à condição potencial de apenas Grande ABC:

1. O encalacramento logístico que nem o trecho sul do Rodoanel conseguiu minimizar.

2. A inutilidade histórica das secretarias de Desenvolvimento Econômico.

3. O fracasso regional da Universidade Federal do Grande ABC, um potencial artilheiro que virou manequim.

4. A destruição das pequenas indústrias.

5. As relações beligerantes entre sindicalistas e empresários nos comitês de fábrica.

6. Os equívocos do Programa de Proteção ao Emprego.

7. O desmoronamento da mobilidade social na esteira da desindustrialização.

8. Os estragos provocados pelos planos diretores que deram ampla condição de massacres na ocupação do solo por mercadores imobiliários vorazes.

9. O desprezo das entidades empresariais pelo cooperativismo de ações de integração institucional e regional.

10. A inoperância dos legislativos municipais.

11. A desestatização da Fundação do ABC.

12. A reestruturação da Avenida dos Estados.

13. O excesso de investimentos e de ociosidade dos shoppings centers.

14. Os espaços ociosos dos centros comerciais.

15. O fracasso institucional das unidades da OAB.

16. O isolamento social do Clube dos Prefeitos.

17. As imprecisões funcionais da Agência de Desenvolvimento Econômico.

18. Como reduzir o custo trabalhista no setor automotivo?

19. Como acompanhar de perto as promessas e lorotas dos administradores públicos?

20. Como enfrentar o risco de enfraquecimento do Polo Petroquímico diante do ambiente internacional?



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