Imprensa

O que será do Diário sem
a presença de Ronan Pinto?

DANIEL LIMA - 09/05/2016

Há dois grandes problemas localizados na mídia regional a preocupar quem pensa no futuro desta Província. Primeiro, as imperfeições editoriais do Diário do Grande ABC. Segundo, a possibilidade de o Diário do Grande ABC fechar as portas impressas no futuro. Tanto numa quanto noutra situação a presença do empresário Ronan Maria Pinto é essencial.

Se continuar preso por conta de investigações e denúncias da Operação Lava Jato, é muito provável que o Diário do Grande ABC troque a primeira (imperfeições) pela segunda (descontinuidade) em tempo mais breve do que potencialmente impõem as novas tecnologias.

Se Ronan Maria Pinto voltar logo, provavelmente o Diário do Grande ABC vai se segurar, mesmo que aos trancos e barrancos, por mais tempo.

Se Ronan Maria Pinto demorar a retornar, aflorará uma crise econômica naquela empresa com consequências provavelmente danosas ao conjunto da sociedade.

Torço sinceramente pela variante do Diário do Grande ABC seguir mesmo que aos trancos e barrancos. Não sei o que seria de mim sem o Diário do Grande ABC todos os dias na soleira da porta. Trata-se de referencial indispensável. Com o Diário do Grande ABC na praça – e também com as outras publicações de menor porte – posso ter mais confiança no escrutínio cotidiano do que se passa na região.

Minha vantagem ante a maioria dos leitores é que sou do ramo jornalístico e sei exatamente o que dizem as entrelinhas, quando não as manchetíssimas -- manchetes das manchetes da primeira página.

Interesse de todos

Ao formular a pergunta da manchete deste texto o faço com a certeza de que represento a grande maioria dos leitores do Diário do Grande ABC. Não chego a afirmar que é preciso ter coragem de colocar a questão publicamente e, mais que isso, tentar responder às nuances decorrentes dessa medida.

A função jornalística impõe iniciativas nem sempre bem avaliadas pelo público em geral e por determinados grupos sociais em particular. A relação entre jornalista e leitor é ambígua e controversa. Nem sempre o que se produz alcança os interesses de quem consome. É uma espécie de migração da roda gigante ao trem fantasma.

Uma crítica aos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, por causa das lambanças que destruíram parte dos empregos industriais na região, muitas vezes é execrada pelo leitor. O mesmo leitor me coloca no pedestal em outra situação, de análise rigorosa dos maus exemplos do sindicalismo da região.

Sei lidar com tudo isso porque tenho o ego ajustado, o juízo no lugar e uma coerência a toda prova. Convenhamos que isso tudo é raro na megapraça de conveniências em que se transformou a sociedade como um todo.

Invadir a seara do Diário do Grande ABC nestas alturas do campeonato, numa situação de excepcionalidade diretiva, é obrigação profissional. Esperar de corretores de imóveis, de eclesiásticos, de políticos, de economistas, e de tantos outros públicos, algo nesse sentido, é ingenuidade. Cada um cuida de seu quintal de interesses. Como estou cuidando do meu que, coincidentemente, é o quintal de todos.

Jornalismo sério e combativo é um reduto da democracia, embora não faltem bandidos sociais com sérias intenções de me colocar no xadrez porque não suportam a realidade dos fatos e das denúncias.

Perda de tempo

Os federais (Ministério Público Federal, Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro) perderam tempo ao tentar arrancar de Ronan Maria Pinto qualquer novidade no campo criminal sobre a administração de Celso Daniel. A morte do titular do Paço de Santo André foi ocasional, como tenho cansado de escrever. Cansado mas não esgotado.

A cada dia um novo jornalista aparece na mídia paulistana a utilizar de meus textos como contraponto à versão de crime de encomenda. É verdade que eles, esses jornalistas e radialistas, não me dão o devido crédito como maior especialista no caso Celso Daniel. Mas isso não me incomoda. Faço o registro apenas para ressaltar que já não estou sozinho nessa batalha.

Se existe algo com que Ronan Maria Pinto pode colaborar, conforme informações de bastidores políticos e também de decisão do Judiciário em Santo André, está restrito ao campo administrativo da gestão de Celso Daniel. Mais que isso é desperdiçar tempo.

Quem cair na conversa dos promotores criminais que investigaram a morte do prefeito de Santo André vai dar com os burros nágua. Eles foram ludibriados por um delegado de Polícia hostil ao petismo. Por isso não fez outra coisa durante todo o processo pós-morte que produzir informações fora da realidade dos fatos e das investigações oficiais. Romeu Tuminha, esse delegado, escreveu sobre o caso Celso Daniel num livro de múltiplos temas criminais. O capítulo do assassinato foi o suficiente para não ler os demais. As informações são um amontoado de bobagens.

Regionalismo frágil

A ausência de Ronan Maria Pinto é um golpe à saúde financeira do Diário do Grande ABC. Bem ou mal, Ronan conduziu o jornal com estabilidade econômica como interlocutor preferencial e quase exclusivo nas esferas públicas da região. Exerceu desde 2004, quando adquiriu as ações da publicação, uma modalidade de empreendedorismo a qual jamais este jornalista praticou um dia sequer como comandante editorial da revista LivreMercado. Nada mais natural: Ronan Maria Pinto é empresário, eu sou jornalista.

Sem Ronan Maria Pinto e seus métodos específicos de empresário provavelmente o Diário do Grande ABC já teria desaparecido na modelagem impressa – como centenas ou milhares de jornais mundo afora. Quando adquiriu as cotas da empresa da Rua Catequese, o Diário do Grande ABC já abrira o bico econômico. Estava em crise diretiva e financeira. Já reduzira drasticamente o contingente de colaboradores. E continua a reduzir entre outros motivos porque esta Província não comporta uma publicação impressa diária que possa ser decididamente exemplar na prática de jornalismo.

Vivemos a ilusão de quinto potencial de consumo do País, mas nos esquecemos burramente de que não temos lastro como sociedade organizada e suficientemente doutrinada ao regionalismo. Sofremos com o Complexo de Gata Borralheira em todos os segmentos e setores.

Existe uma terceira via a interceder no destino do Diário do Grande ABC. Já há comentários sobre a mobilização de gente interessada em adquirir a publicação, dando Ronan Maria Pinto como descartável pós-condenação. Talvez a emenda seja muito pior que o segundo soneto, ou seja, que o fechamento do jornal.

O repasse do controle acionário da publicação a investidores estranhos à sociedade regional, ou tão entranhados à sociedade regional a ponto de buscarem espaço para consolidarem objetivos particulares, seria muito pior que a própria desativação do Diário do Grande ABC.

Buscar na credibilidade da marca daquela publicação outra coisa que não seja a locupletação de interesses privados seria mais um chute nos fundilhos da cidadania regional tão escassa.



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