Ao completar ontem 58 anos de circulação o Diário do Grande ABC proporcionou uma senhora barbeiragem editorial ao esquecer o Diário do Grande ABC que completou 57 anos em 11 de maio do ano passado. Um Editorial de primeira página de ontem do mais antigo jornal da região e um suplemento de poucas páginas comemoraram oficialmente a marca histórica. O jornal evitou falar do próprio jornal do presente.
Jornalismo diário regional não pode ser visto como atividade pessoal e corporativa convencional. É ferramenta de transformações politicas, sociais e econômicas. Quem se acovarda ou se omite perderá fôlego de credibilidade. É melhor colecionar demandas judiciais mesmo que absurdas do que conviver com aproveitadores juramentados.
A edição de ontem do Diário do Grande ABC deu espaço ao passado do jornal e ao presente de atividades complementares da publicação. Do produto específico, que vai às bancas e aos assinantes diariamente, quase nada.
Pior que isso: o Diário de ontem subestimou a memória dos leitores mais atentos e simplesmente ignorou a “Carta do Grande ABC”, instrumento com o qual, também em Editorial de primeira página, anunciou aos leitores, no aniversário do ano passado, que assumiria para valer série de iniciativas para reanimar esta Província tão decadente em economia e em responsabilidade social.
Velocidade em contraste
A “Carta do Grande ABC” foi produzida por um pequeno colegiado diretivo do Diário do Grande ABC praticamente em cima da hora daquele 11 de maio do ano passado. Este jornalista fazia parte do grupo que também tinha o diretor de Redação do jornal, Sérgio Vieira, e a executiva Elaine Mateus. Estava ali este jornalista como espécie de ombudsman e também como consultor editorial. Voltava ao Diário depois de 10 anos a pedido do empresário Ronan Maria Pinto. Não completei seis meses de trabalho subsidiário.
Quem tiver a paciência de ler artigo que escrevi algum tempo depois de forma mais detalhada sobre meu pedido de afastamento vai notar que, infelizmente, estava certíssimo. O ponto central de minha decisão foi a percepção de que a velocidade de mudanças prometida pela publicação não corria na mesma raia deste jornalista. Estava montado num Fórmula-1 de reestruturação do ambiente regional. O jornal esmerava-se em passos de cágado.
Lamentavelmente, subestimei a possibilidade de o Diário do Grande ABC congelar a “Carta do Grande ABC”. Nem mesmo a publicação de suplementos mensais com um dos 10 pontos temáticos selecionados como diretrizes conjugadas que a partir de então o jornal empreenderia de forma prioritária pode ser considerada alguma passo efetivo na direção pretendida, tão limitados em conteúdo crítico.
Mais que isso: sem continuidade sistemática do projeto de aprofundamento das causas que levam a Província do Grande ABC a ser cada vez menos interessante à qualidade de vida.
Fôlego limitado
O Diário do Grande ABC ganhou lufadas de revigoramento editorial um pouco antes de minha chegada espiritual e técnica à Rua Catequese. Sim, chegada espiritual e técnica porque minhas atividades passaram fisicamente longe da redação, espaço que ocupei poucas vezes, embora não tenham me faltado convites e, mais que isso, camaradagem da cúpula.
Da mesma forma que minha contratação agiu como espécie de endorfina num organismo debilitado, durante o período em que prestei serviços àquela organização notei a quebra de fôlego produtivo. Jornalistas não são máquinas. As condições de infraestrutura e o sistema de ocupação funcional dos recursos humanos de Redação agem paralelamente.
Jamais imaginei que pudesse fazer milagres no Diário do Grande ABC, principalmente, e também, por conta das restrições a que me impus como colaborador à distância. Valorizo intensamente o trabalho em grupo.
A revista LivreMercado não foi a melhor publicação regional do País por obra de um único profissional. Tinha pavor ao imaginar a possibilidade de perder peças importantíssimas daquela engrenagem, tanto na área operacional quanto de Redação propriamente dita. A maquinaria de LivreMercado era tão eficiente quanto escassa. Um profissional que faltasse num dos dias de fechamento editorial colocava em risco todo o conjunto. A multifuncionalidade vigorava.
A reação ao receber o exemplar do Diário do Grande ABC em minha residência e constatar que o Editorial de primeira página e o suplementozinho especial ignoraram completamente a “Carta do Grande ABC” está muito acima da compreensão dos leitores mais imaginativos. Se o próprio jornal que concebeu um novo projeto editorial simplesmente renega aqueles pressupostos, tornando-os letras mortas, o que esperar da sociedade como um todo que está à deriva econômica e entregue ruinosamente a oportunistas políticos e sindicais na forma de mandachuvas e mandachuvinhas?
Os textos sugeridos logo abaixo ajudam a compreender o sentimento de frustração deste jornalista com a desativação do projeto “Carta do Grande ABC”, cuja vitalidade, durante um ano inteiro, rivalizou-se com o romantismo de uma pedra no meio do caminho. O Diário do Grande ABC abriu mão do futuro proposto sem ter sequer vivido espasmos significativos do presente de 12 meses.
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