Economia

Província perde feio do G-3 na
criação de empregos industriais

DANIEL LIMA - 20/06/2016

A Província do Grande ABC perdeu feio para o G-3 do Interior do Estado -- formado por Campinas, Sorocaba e São José dos Campos -- no saldo de emprego industrial com carteira assinada durante os quatro mandatos (incompletos) do governo federal petista. Entre janeiro de 2003 e abril deste ano (160 meses), o emprego industrial no G-3 avançou 34,77% acima do registrado na Província. Considerando-se que quase todo o período foi francamente favorável ao setor automotivo, carro-chefe da economia da região, tudo leva a crer que nos próximos tempos os números serão ainda mais inconvenientes para os sete municípios locais.

O resultado é mais uma face explicativa aos estragos que o chamado Custo ABC vem produzindo há mais de três décadas nas matrizes de geração de riqueza. Campinas, Sorocaba e São José dos Campos são eixos territoriais a atraírem indústrias que por motivos múltiplos ou específicos abandonam o território regional.

Em dezembro de 2002, quando Fernando Henrique Cardoso deixou o governo federal após oito anos de dois mandatos, a Província do Grande ABC contava com estoque de 185.854 empregos industriais com carteira assinada. Os números são do Caged (Cadastro de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho. Já a soma de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos chegava a 116.386 postos de trabalho também protegidos pela Consolidação das Leis do Trabalho.

Vantagem reduzida

Em abril deste ano, os sete municípios da região contabilizam estoque de 211.208 trabalhadores com carteira assinada, enquanto Campinas, Sorocaba e São José dos Campos acumulavam 155.258 postos de trabalho. Ou seja: a diferença do mercado de trabalho do setor industrial em janeiro de 2003 favorável à Província chegava a 37,37%, e foi rebaixada 160 meses depois a 26,49%. O estoque da Província cresceu 13,64% no período, ante avanço de 33,40% do G-3. No período, a Província contou com saldo líquido de 25.354 empregos industriais formais, enquanto o G-3 do Interior somou 38.872 novos postos de trabalho.

O peso do emprego industrial continua maior na Província do Grande ABC no confronto com o G-3 do Interior quando se leva em conta o número de trabalhadores registrados. Em 2003 de cada 100 trabalhadores formais da região 35,67% estavam relacionados à engrenagem da indústria de transformação. Como houve maior crescimento de empregos formais em outras atividades, principalmente de comércio e de serviços, a correlação foi reduzida a 28,58%. Queda de 7,09 pontos percentuais.

Já na soma de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, de cada 100 trabalhadores registrados em janeiro de 2003, 25,14% estavam relacionados à indústria. Treze anos e quatro meses depois a proporção de trabalhadores industriais no confronto com os dos demais setores passou a 20,42%. Uma diferença de 4,72 pontos percentuais.

Ou seja: com o maior afluxo de carteiras assinadas no setor industrial e mesmo ao contar com maior número de trabalhadores quando se somam todas as atividades, Campinas, São José dos Campos e Sorocaba acusaram menos impacto no estoque de mão de obra do setor produtivo.

G-3 tem mais empregos

Embora conte com maior estoque em números absolutos e relativos de trabalhadores na indústria de transformação do que o G-3 do Interior, a Província do Grande ABC perdeu força nos últimos 160 meses pesquisados por CapitalSocial. Por isso detém menor contingente de carteiras assinadas. Em janeiro de 2003 a situação era favorável à Província, que contabilizava 521.039 carteiras assinadas em todos os setores, contra 462.915 de São José dos Campos, Campinas e Sorocaba. Já em abril deste ano, a Província totalizava 738.890 trabalhadores registrados, contra 760.327 de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. O que no começo do século era vantagem da Província de 11,15%, passou à condição de desvantagem de 2,81%.

Uma comparação que coloque em confronto o PIB (Produto Interno Bruto) da Província do Grande ABC e do G-3 do Interior Paulista e o comportamento do emprego com carteira assinada dos dois blocos de municípios fica inviabilizada porque a velocidade dos balanços do emprego no País não caminha na mesma raia da geração de riqueza. O chamado PIB dos Municípios brasileiros só é conhecido com defasagem de dois anos, enquanto os dados sobre emprego são divulgados sempre no mês seguinte aos registros oficiais.

De qualquer maneira, considerando-se o PIB da Província de 2013 (últimos dados) em confronto com o PIB do G-3 do Interior, os sete municípios locais levam vantagem -- são R$ 95.363.205 bilhões, contra R$ 76.9333.011 bilhões dos municípios interioranos.  Os 19% de superioridade da Província são bem maiores que os 8% de inferioridade de São José, Campinas e Sorocaba na soma populacional. É possível que a derrocada automotiva nos últimos dois anos poderá ser mais acentuada na queda do PIB da região do que aos três municípios, menos dependentes da atividade.

Aprofundar estudos

Somente estudos aprofundados poderão responder à seguinte questão: como que, com menor capacidade de gerar PIB, São José dos Campos, Sorocaba e Campinas criam mais empregos que a Província do Grande ABC?  Talvez a vereda a ser devassada seja mesmo o Custo ABC. Ou seja: haveria sobrepreço para produzir riqueza na região de modo a tornar esse território mais suscetível à perda de criar mais empregos que concorrentes diretos na disputa por desenvolvimento econômico. Não custa lembrar, também, que distorções metodológicas apontadas por especialistas tornam o PIB, isoladamente, incapaz de sustentar a tese de desenvolvimento econômico.



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