Economia

Também apanhamos da Grande
São Paulo, mesmo sem Capital

DANIEL LIMA - 24/06/2016

Quem acha que perdemos competitividade na geração de empregos apenas para o Interior do Estado não conhece o tamanho da incompetência regional em criar atmosfera de investimentos na produção. Sofremos derrotas até mesmo na Região Metropolitana de São Paulo, espaço supostamente infernal para empreendimentos industriais como a Província do Grande ABC. Que nada: as nossas debilidades são exclusivamente nossas mesmo. Nossos dirigentes públicos e privados, em larga escala, são incompetentes na gestão do espaço de 840 quilômetros quadrados e de 2,7 milhões de habitantes. Não à toa a cada temporada desabamos em diversos ranqueamentos econômicos e sociais.  Tanto caímos que cada vez mais somos a cara do Brasil. Querem algo pior do que isso?

Antes de ir a novos números, mais alguns parágrafos de inconformismo. Existe uma preguiça coletiva da Província do Grande ABC em correr atrás de resultados que contribuam para melhorar a qualidade de vida da população. Até quando a sociedade regional vai suportar o desprezo dos administradores públicos, principalmente dos administradores públicos, com o desenvolvimento econômico? Até quando?

Somos uma região em flerte permanente com o atraso nas relações econômicas e sociais. Interessa a quem dizer que somos um estuário de modernidade nacional? Vamos deixar a idiotice de lado ou continuaremos a embalar a fome pantagruélica dos bandidos sociais?

G-31 gera mais empregos

Depois do desabafo, vamos então aos dados estatísticos sobre o mercado de trabalho formal na Grande São Paulo.  A Região Metropolitana de São Paulo, sem os números da Capital e dos sete municípios da Província do Grande ABC, gerou relativamente mais empregos durante o governo petista a partir de janeiro de 2002 até abril deste ano do que a Região Metropolitana de São Paulo com os dados da Capital e da Província do Grande ABC.

Vou tentar explicar a configuração da Região Metropolitana de São Paulo. São 39 municípios no total. Quando se descontam os sete municípios da região e também a Capital, restam 31. Fora Osasco, Guarulhos e Barueri, os demais são pouco conhecidos. Mesmo os três principais perdem em fama para a Capital e para a Província. Pois são os 31 restantes (restantes?) que dão maior sustentação ao emprego industrial com carteira assinada.

O estoque de empregos com carteira assinada nos 31 municípios que completam a Grande São Paulo avançou 35% no setor industrial e 38,421% no total geral, considerando-se todas as atividades econômicas. A cidade de São Paulo ficou estagnada nos empregos industriais no mesmo período (cresceu mísero 1,60%) e, como era de se esperar, explodiu nas demais atividades, principalmente em comércio e serviços, com salto de 78,52% sobre a base de janeiro de 2002.

A Província do Grande ABC, como mostramos ontem, cresceu apenas 13,64% no estoque de empregos industriais com carteira assinada e 41,48% nos demais setores.

Mais força industrial

Ou seja: o G-31 ganhou muito mais musculatura industrial em confronto com os demais oito municípios, os quais se agigantaram principalmente em comércio e serviços, cujos empregos são de menor remuneração quando confrontados com o setor industrial. Exceto, como no caso da Capital, em ilhas de excelência dos setores financeiros, hotelaria, gastronomia e de consultoria, principalmente. Na Província do Grande ABC prevalece o terciário de terceira divisão, ou seja, com baixíssimo valor agregado.

Como são os empregos industriais que mais importam, os dados que CapitalSocial coletou diretamente do Ministério do Trabalho mostram que a crise na atividade produtiva é muito mais acentuada na cidade de São Paulo e na Província do Grande ABC.

O entorno metropolitano do G-7 (os municípios da região) e da Capital do Estado tem lidado com mais competência com a concorrência do Interior do Estado. Integrada por 39 municípios, a Grande São Paulo detém praticamente a metade do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado de São Paulo. O G-31, formado por todos os municípios da área, menos os da Província e a Capital, está ganhando cada vez mais fôlego econômico.

Rodoanel mudou tudo

Parte das explicações para o que poderia ser chamado de industrialização e geração de empregos na Região Metropolitana de São Paulo está no trecho Oeste do Rodoanel, que beneficiou diretamente um conjunto de municípios nas proximidades de Osasco. O traçado, que leva em conta a inserção do Rodoanel no tecido físico e econômico daquela área, atraiu centenas de empreendimentos desde que foi inaugurado, no começo dos anos 2000.

Uma situação bem diferente da registrada na Província do Grande ABC, espaço no qual foi construído o trecho sul do Rodoanel. A diferença entre uma obra e outra é que o trecho sul do Rodoanel é extremamente limitado na Província quando se trata de diálogo físico e econômico com parte dos municípios. Para começar, passa apenas tangencialmente por São Bernardo, Diadema e Mauá. Só existem três áreas de acesso à integração logística. A chegada do trecho Leste do Rodoanel, que supostamente beneficiaria Ribeirão Pires, segue o mesmo conceito de restrições de acesso. Tudo em nome da mais que respeitada mas nem sempre bem engendrada defesa da preservação ambiental.

Talvez a melhor maneira de entender o que se passou com Osasco e vizinhança e o que foi oferecido aos municípios da Província do Grande ABC seja uma metáfora. Na chamada Grande Osasco, o Rodoanel virou espécie de bola de futebol levada a campo conforme as regras vigentes do esporte. Todos os municípios no entorno têm acesso à meritocracia de disputar cada espaço de investimentos. A amplitude da obra é tamanha que, não é exagero afirmar, foram distribuídas várias bolas de futebol para um grupo reduzido de atletas de modo que individual e coletivamente eles pudessem beneficiar-se do manejo. Fazem quantos gols quiserem. Basta ter um mínimo de competência em planejamento e ações.

Já na Província do Grande ABC o trecho sul e o trecho leste restringiram-se à distribuição de uma única bola de futebol e, mesmo assim, com limitações de manejo a determinados jogadores. São Bernardo, Mauá, Diadema e Ribeirão Pires disputam poucos espaços, porque há um número limitado de acessos aos respectivos territórios. Santo André e São Caetano foram excluídos do jogo. Têm potencial de participação complementar, apenas.



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