Imprensa

Já imaginou se Lula, Dilma
e Temer fossem Bigucci?

DANIEL LIMA - 27/06/2016

O famigerado empresário Milton Bigucci foi apeado diplomaticamente da presidência do Clube dos Construtores do Grande ABC em dezembro do ano passado, após 25 anos de catastrófica gestão. Entretanto, deixou muitos rastros de autoritarismo contra a liberdade de expressão. Mais especificamente contra este jornalista. Tornar pública as tentativas de sufocar a verdade dos fatos é um direito deste profissional. Transparência é um atributo que jamais frequentou o dicionário do famigerado empresário. Sorte dos jornalistas Janio de Freitas, Guilherme Fiuza e os articulistas do Estadão, entre tantos outros, que Michel Temer, Lula da Silva e Dilma Rousseff não são Milton Bigucci. Vou explicar na sequência.

Em julho de 2013 Milton Bigucci ingressou com nova ação criminal no Judiciário de Santo André para me colocar na cadeia. Na próxima sexta-feira vou reproduzir um mega-artigo no qual exponho as partes principais de 11 artigos assinados por mim nesta revista digital, juntados por Milton Bigucci em nome do Clube dos Construtores.

Juntar as partes principais não significa que a íntegra será negada. Haverá links de todos os textos completos logo abaixo daquele material jornalístico. Os leitores precisam saber para valer por que estou sendo outra vez acionado na Justiça.

A conclusão a que chegarão os leitores mais atentos é que este jornalista supostamente teria o dom de adivinhar o futuro. O que pratiquei naqueles textos e em tantos outros sobre a atuação do famigerado empresário e ex-comandante do Clube dos Construtores é puro jornalismo independente. Do mesmo viés esclarecedor dos artigos anteriores em que Milton Bigucci, como pessoa física e pessoa jurídica, interpôs para me criminalizar civil e criminalmente.

Represálias disfarçadas

Não é fácil a prática de liberdade de expressão com responsabilidade social ante um mais que evidente bandido social. Entenda-se bandido social como alguém que coloca seus interesses acima dos da sociedade desorganizada, como é a comunidade da região.

Milton Bigucci usa de todos os estratagemas possíveis para me transformar em criminoso social. Criminoso social é alguém que precisa ser banido do convívio em sociedade por razões diversas, legítimas e ilegítimas, legais e ilegais. No caso de um jornalista com mais de meio século de atividades, a melhor explicação é o transtorno aos malfeitores sociais.

Seria mais fácil cumprir o papel de relações públicas numa região onde a cidadania se esfarela visivelmente.  O acerto desta revista digital ao construir análises que se confirmaram porque eram evidentes demais é uma prova de que este não é um espaço para lantejoulas. Por isso o famigerado empresário não se conforma em me ver em liberdade física a usufruir constitucionalmente o quesito de liberdade de expressão.

A iniciativa de tornar públicos os textos estrategicamente selecionados (e subjetividade deturpados) pela equipe de advogados do famigerado empresário da construção civil deveria ter sido tomada antes, já na primeira ação civil que movida pelo milionário. Milton Bigucci só iniciou a caça a este jornalista porque, pouco antes, denunciei o esquema de corrupção em leilão de área pública em São Bernardo, do qual o presidente do conglomerado MBigucci foi o principal beneficiário. Ali estava a senha para o também e então dirigente do Clube dos Construtores recorrer à Justiça sem, acreditem, contestar uma linha sequer daquelas revelações, as quais evita levar ao Judiciário.

Mandraquismos semânticos

Nas 11 matérias que fundamentam com a solidez de gelatina a queixa-crime contra este jornalista, em nome do Clube dos Construtores, Milton Bigucci usa de sofismas e de seletividade de parágrafos, descontextualizando-os, para se fazer de vítima. Uma velha tática que deu certo nas duas primeiras arremetidas no Judiciário, as quais serão combatidas juridicamente com recursos cabíveis inclusive em âmbito internacional.

Afinal, os artigos anteciparam descobertas envolvendo o famigerado empresário.

Milton Bigucci fez deste jornalista biombo jurídico de suposta idoneidade. Tudo para encobrir as irregularidades que cometeu à frente do conglomerado empresarial que dirige. Irregularidades que, vistas de perto, analisadas e confirmadas por especialistas, também podem ser rotuladas de corrupção.

Pior que o mandraquismo semântico de Milton Bigucci em fazer-se de vítima – justamente ele metido em série de escândalos como empresário e caótico como então presidente do Clube dos Construtores – é a covardia das instituições da região, notadamente a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Conhecedora dos avanços arbitrários do empresário que deixou o Clube dos Construtores do Grande ABC em estado de petição de miséria organizacional, nenhum ramal da OAB na região se manifesta sobre as denúncias deste jornalista.

O escândalo do terreno público de São Bernardo, cuja licitação foi fraudada, passou em branco. Pior que isso: não faz muito tempo o então presidente da OAB de Santo André, o agora candidato a candidato a prefeito, Fábio Picarelli, bandeou-se para os lados de Milton Bigucci como testemunha de acusação contra este jornalista.

Severidade é crime

O argumento de Picarelli só não é picaresco porque é digno de picaretagem semântica: “ele é muito severo”, disse, referindo-se a este jornalista. Não poderia haver elogio maior. Provavelmente Fábio Picarelli diga algo semelhante sobre a atuação da força-tarefa da Lava Jato.  É claro que, já de olho nas urnas e em outros objetivos tangíveis e intangíveis, Picarelli tenha cedido à tentação de aliar-se a um milionário até então intocável.

Fico a imaginar se o presidente em exercício Michel Temer fosse Milton Bigucci. Qual seria a sorte do jornalista Janio de Freitas, que escreveu ontem na coluna que assina na Folha de S. Paulo um texto seguramente mais “severo” do que o deste profissional sobre as lambanças de Milton Bigucci. O que teria Fábio Picarelli a comentar sobre os seguintes parágrafos assinados por Janio de Freitas: 

 É passável que Michel Temer negue haver conspirata para o afastamento de Dilma Rousseff. Ou que faça acrobacias mentais para afirmar que foi muito votado, sim, para vice. Não se esperaria que fosse mais veraz do que incapaz de respostas respeitáveis. Mas intitular-se presidente, conforme se viu repetidas vezes na entrevista a Roberto D’Ávila (Globo News), não é apenas um feito a mais de fragilidade ética. (...). O título de Temer é vice-presidente em exercício da Presidência. Ou, simplificado, vice em exercício. Intitular-se presidente indevidamente pode ser visto como usurpação de direito alheio, legítimo exclusivo. O provável é que haja quem o veja até como falsidade ideológica, passível de processo criminal. Em princípio, impeditivo do exercício da Presidência. – escreveu o colunista da Folha de S. Paulo.

Nada mais risível

Uma coisa asseguro aos milhares de leitores desta revista digital: preparem-se para o agrupamento de um time de futebol inteiro (são 11 artigos) de bobagens que lastreiam a queixa-crime contra este jornalista. Nada seria mais risível não fosse a possibilidade de a tática dar novamente certo, porque já o deu em situações anteriores quando o famigerado empresário assinou a petição em nome pessoal nas áreas civil e criminal.

Milton Bigucci vive de réplicas atentatórias à liberdade de expressão. Dá como certa cada empreitada. Não teria a menor possibilidade de sucesso fosse este jornalista atuante na chamada grande imprensa, onde já esteve por muitos anos.

Quem conhece a retaguarda jurídica do famigerado empresário deve imaginar o tamanho da desvantagem potencial deste jornalista nos embates extracampo da comunicação.

Pensei muito antes de decidir retirar os artigos em questão das páginas da denúncia do famigerado empresário. Analisei equivocadamente em outras situações que o material não deveria ser levado aos leitores. Entretanto, os argumentos em contrário a essa conclusão são mais fortes.

Primeiro porque tudo que CapitalSocial edita é de interesse público. Segundo porque as nuances do mercado imobiliário, do qual Milton Bigucci até outro dia era o agente principal, como dirigente de uma associação de classe e também como o comandante do principal grupo empresarial do setor na região, são igualmente relevantes. Terceiro porque vou adicionar esse trabalho à defesa no Judiciário.

Portanto, não tem mais sentido manter distante do conhecimento dos leitores o caudal de artigos que escrevi sobre a atuação de Milton Bigucci no Clube dos Construtores do Grande ABC. Na verdade, a atuação do então dirigente se limita ao período de fevereiro a julho de 2013, período no qual se restringiu a queixa-crime.

O famigerado empresário usou o Clube dos Construtores como patrono da empreitada. Ele e sua equipe de advogados selecionaram os 11 artigos de modo cirurgicamente esperto, mas tormentosos como modelo de nexo constitucional. Todos os textos expõem uma fragilidade interpretativa de delito visceral.

Show de irregularidades

Até aquela altura do campeonato, em julho de 2013, Milton Bigucci poderia cometer a extravagância democrática de perseguir este jornalista no Judiciário. O escândalo do Marco Zero (empreendimento construído no terreno retirado do acervo físico da Prefeitura de São Bernardo) ainda era café pequeno. Ao ganhar as manchetes dos jornais paulistanos de que integrava a Máfia do ISS de São Paulo, exatamente em setembro daquele ano (ou seja, pouco depois de ingressar com queixa-crime contra este jornalista), a máscara do famigerado empresário caiu.

Por isso, se há alguém que cometeu o crime de difamação contra o Clube dos Construtores do Grande ABC – é esta a acusação a que respondo na Justiça -- a resposta não é este jornalista. É o então presidente da entidade, mentor da iniciativa retaliatória contra este profissional.

No período de seis meses correspondente aos 11 artigos selecionados para tentar incriminar este jornalista, publicamos 212 artigos sobre os mais diferentes assuntos – todos de interesse da sociedade. Propriamente do mercado imobiliário, de forma direta e indireta, foram 47 textos. Ou seja: do conjunto da obra jornalística que durante seis meses foram inseridas nesta publicação, Milton Bigucci, sempre em nome do Clube dos Construtores, separou 11. Menos de 5% do total.

Como se sofresse algum tipo de enfermidade visual ou interpretativa, quando não cognitiva, que o impedisse de detectar qualquer texto entre os 212 que não fossem os 11 selecionados, Milton Bigucci ignorou matérias que denunciavam suas peripécias como empresário que fraudou a licitação da Prefeitura de São Bernardo. O empreendimento Marco Zero, agora em fase final de conclusão, emergiu na área entre a Avenida Senador Vergueiro e Avenida Kennedy.

Outros assuntos igualmente abrasivos à reputação do famigerado empresário também constaram de CapitalSocial durante o período de fevereiro a julho de 2013 – todos ignorados na coleta seletiva que pretende criminalizar este jornalista. Para Milton Bigucci, naqueles seis meses escolhidos, o mais importante mesmo era tentar desmentir o indesmentível (que, por exemplo, manipulava as pesquisas sobre lançamentos e vendas de imóveis) do que supostamente defender-se da denúncia que formulei, colocando-o na condição de agente corruptor.

Abrangência editorial

Para quem eventualmente leia apressadamente o calhamaço denunciatório de Milton Bigucci registrado pelo Judiciário de Santo André em julho de 2013, este jornalista não faz outra coisa na vida profissional senão escrever artigos sobre a suposta vítima de uma perseguição implacável. E que também este jornalista só se preocuparia com análises críticas da entidade que o famigerado empresário então dirigia.

A realidade é bem diferente. As 212 matérias publicadas no período mostram o quanto sou abrangente nos critérios de regionalidade que doutrinam esta publicação. E também o quanto outras organizações coletivas, ineficientes como o Clube dos Construtores deixado por Milton Bigucci, evocam preocupações jornalísticas. Algo que não é prática da Imprensa regional em convulsivas complicações financeiras – muito mais que a Imprensa de maneira geral -- e em larga escala disposta a publicar somente o que interessa a agentes públicos e privados. Um jornalismo – com as exceções de praxe – que poderia ser rotulado de assessoria de imprensa.

É contra a prática de jornalismo sem rabo preso com agentes públicos, privados e sociais, mas comprometido com os rumos da decadente Província do Grande ABC, que Milton Bigucci sempre investiu. E o fez exclusivamente pensando em seus próprios interesses.

O futuro reservado ao famigerado empresário após ingressar no Judiciário em nome do Clube dos Construtores para criminalizar este jornalista não foi dos mais auspiciosos: além de denunciado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por participação na Máfia do ISS de São Paulo, processo ao qual está respondendo em nome do conglomerado MBigucci, fora condecorado pelo Ministério Público de São Bernardo com o título de representante máximo da empresa campeã de abusos contra a clientela na Província do Grande ABC. A MBigucci e empresas coligadas ludibriaram compradores de imóveis com cobrança de taxas muito além do permitido.

Diplomacia salvadora

Tudo isso, claro, além de perder a presidência do Clube dos Construtores. Sorte que a oposição foi diplomática. A troca de comando do Clube dos Construtores obedeceu a um ritual civilizado. Fez-se de tudo para evitar que a imagem da organização, estremecidíssima por conta da atuação delitiva do famigerado empresário, sofresse maiores danos.

O que os leitores vão observar no texto que já está sendo preparado sobre aqueles 11 artigos deste criminoso social é que o famigerado empresário não tolera o contraditório. Tanto que, desde 2011, quando iniciamos série de análises sobre o mercado imobiliário da região, ele fugiu de sete tentativas de responder a indagações desta revista digital. O contraditório vinculado à transparência não é a praia de Milton Bigucci.

Foram mesmo sete tentativas, em momentos e situações diferentes, de ouvir do dirigente e empresário argumentos sobre questões colocadas à mesa do interesse público. Para Milton Bigucci parece não haver limites à falta de transparência que, quando solicitada, ganha a forma de senha a retaliações.

Este jornalista é prova viva (e também segura, além de irreversivelmente independente) de que o famigerado empresário não respeita a sociedade regional. O interesse público não consta do léxico institucional e corporativo de Milton Bigucci. Tudo é tomado como invasão de privacidade. Ele tem muita sorte de não estar exposto a ambiente em que o jornalismo livre de amarras é muito mais severo do que o praticado por este profissional.

Ambiente protetor

Não seria deselegante listar alguns nomes de profissionais de comunicação de jornais e revistas, principalmente, que expõem análises penetrantes sobre agentes públicos e privados de um País em estresse econômico, institucional e social.

Fosse o presidente Michel Temer, o famigerado empresário da construção civil já teria mobilizado séquito de advogados para enquadrar Janio de Freitas. Imaginem então o que faria dos articulistas do Estadão se fosse Dilma Rousseff ou Lula da Silva? Ou então que caísse na rede de Guilherme Fiuza, jornalista e escritor de O Globo e da revista Época, fosse ele igualmente Dilma ou Lula?

Na Província do Grande ABC, jornalismo sem rabo preso é jornalismo sujeito a ser encarcerado. Sob o silêncio covarde, mesquinho e interesseiro de instituições tão mequetrefes quanto era o Clube dos Construtores sob controle do famigerado empresário. Aliás, “mequetrefe”, que significa “pouca importância”, é um dos apontamentos delitivos que me atribuem os advogados de Milton Bigucci no encaminhamento ao Judiciário.

Sou criminoso social entre outras razões porque “mequetrefe” ganhou conotação pejorativa quando, no caso da gestão do famigerado empresário no Clube dos Construtores, era a mais fiel conclusão à realidade dos fatos. Os novos dirigentes estão aí para comprovar o quanto houve de atraso histórico na condução daquela instituição.



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