Como gosto de suspense com números, deixo para amanhã a resposta sobre o que se passou nos últimos 12 meses em matéria de perda de emprego com carteira assinada no G-22 Paulista, o grupo dos sete municípios da Província do Grande ABC e as 15 maiores economias do Estado de São Paulo. O G-22 já foi G-20, porque reunia exclusivamente os 20 maiores municípios do Estado. Acrescentamos Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que pesam menos de 3% no PIB da Província, para não me chamarem de separatista regional. Não tenho vocação divisionista da maioria escassa dos britânicos.
É claro que os resultados não ficarão restritos ao G-22, embora esse seja o foco. Também faremos comparações do desempenho do emprego formal quando contraposto ao que se passou no Brasil nos últimos 12 meses. Antecipo que a coisa aqui está mais preta, muito mais preta. Mais preta? Será que vão me taxar de racista? Tudo é possível nesse mundo politicamente correto -- e cínico.
Certo mesmo é que os dados são muito preocupantes. É verdade que há desaceleração na queima de postos de trabalho, e que também há consultorias nacionais e internacionais especializadas em descortinar o futuro próximo da economia que dão como provável que já atingimos o fundo do poço. Mas como garantido mesmo nessa vida é o que está aí, consolidado nos tempos, o melhor mesmo é ficar com um pé atrás.
Certo também é que o ambiente eleitoral na região promete ter como componente de estresse dos eleitores um quadro de desânimo econômico, além do desconsolo com a política. O estoque de carteiras assinadas – que é a melhor configuração em matéria de emprego – dificilmente deixará de se pronunciar como elemento de peso nas urnas.
Lobby de duas faces
Não custa lembrar, também, que somos um território protegidíssimo pelo lobby sindical e também pelo lobby das montadoras de veículos. Há desemprego latente no setor automotivo, sobretudo nas montadoras, cujo desenlace pode explodir. O governo federal sob nova direção não tem dinheiro para sustentar determinados privilégios supostamente protetores do mercado de trabalho e do mercado consumidor.
Quando escrevo supostamente quero dizer que o benefício fiscal que se dá a um determinado setor e também a determinada categoria profissional é um ônus que o País como um todo paga. Não há almoço grátis. Esse protecionismo é focalizado, restrito, e reproduz anomalias estruturais em forma de desequilíbrios econômicos e sociais. A fuga de empresas industriais da região é um dos derivativos de distorções microeconômicas.
Entre os 22 municípios que integram esse agrupamento constituído por CapitalSocial para que a Província não fique a olhar para o próprio umbigo econômico, podemos adiantar que a liderança do ranking de baixas em carteiras assinadas pertence a um endereço da região. Mais que isso: contamos com três municípios entre sete do G-22 que estouraram os limites de tolerância e ultrapassaram os dois dígitos de variação negativa no estoque de trabalhadores demitidos – uma conta que leva em consideração o saldo entre contratações e demissões nos 12 meses completados em maio.
Recomendo aos leitores que não percam a edição de amanhã. Os números são oficiais, do Ministério do Trabalho, mas a sistematização e a análise são nossas. Jornalismo de verdade não é simplesmente repassar dados e informações de terceiros. Por essas e outras que grande parte dos veículos de comunicação está perdendo fragorosamente a guerra para leitores de quinquilharias. Mas essa é outra história.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)