Quase todas as instituições públicas, privadas e sociais da Província do Grande ABC contam com a contribuição maciça da mídia regional para se manterem inúteis como braços e alma de cidadania e regionalidade. Há combinação de blindagem tríplice que coloca a mídia regional num estágio desaprovador a quem tem um mínimo de senso de observação. As instituições são protegidas pela mídia negligente, conveniente ou incompetente.
Os donos desses veículos de comunicação ainda não perceberam que poderiam provocar reviravolta no estado de inação da região se reagissem com rigor à inapetência das entidades. O jornalista Beto Silva, titular da coluna “Cena Política”, escreve hoje sobre o Clube dos Prefeitos. Havia muito tempo não lia, fora desta revista digital, posicionamento à altura da pobre governança regional que nos abate.
Vale a pena transferir para este espaço o texto completo de Beto Silva, jornalista que caberia na galeria dos talentos que o Diário do Grande ABC produziu ao longo dos tempos. O florescimento de profissionais no Diário do Grande ABC não tem nada a ver, entretanto, com eventual política de recursos humanos a que supostamente a empresa teria se dedicado para valer. Tudo não passa de resultado da gênese de quem opta pelo mundo da comunicação. Dedicar-se intensamente à profissão, numa associação de inspiração e transpiração, é a síntese dos jornalistas de verdade.
Não é o Diário do Grande ABC, entretanto, o foco deste texto. Estão na alça de mira a contundência e a oportunidade com que Beto Silva discorreu na edição de hoje do jornal sobre o Clube dos Prefeitos. Quando leio textos desse tipo fico extremamente satisfeito. Deixo de ser o suposto soldado fora do compasso das aberrações que marcam a trajetória social da Província do Grande ABC.
Abrindo a porteira
Estou escrevendo este texto como ombudsman não autorizado dos veículos de comunicação da região. Fazia tempo que não exercitava esse ofício a que me impus em 2014 e que produziu dezenas de análises. A frequência se tornou errática porque cansei de chover no molhado. Mas uma situação como a que se oferece hoje por Beto Silva não pode passar em branco entre outras razões porque poderia sugerir novas incursões de outros jornalistas.
Além disso, manifestar-me sobre o artigo é reconhecimento e incentivo -- se algum peso tiver minhas observações -- à prática de jornalismo que é a razão do próprio jornalismo: o olhar atento, a mente esperta, a coragem de não temer eventuais novos adversários e, sobretudo, a preservação do direito de informar os leitores com compromisso social.
Quando escrevo que o Clube dos Prefeitos é inútil, como o fiz em outras ocasiões com outras entidades da região, o significado é tão claro e republicano para quem conhece os cromossomos desta revista digital que somente os mal-intencionados transformam a crítica como crime de difamação. Como o fez Milton Bigucci, então presidente do Clube dos Construtores do Grande ABC. Sim, o famigerado empresário e incompetente dirigente juntou ao último processo criminal que moveu contra mim um artigo em que citava aquela entidade como inútil. Espertamente, eliminou qualquer vestígio histórico daquele verbete. “Inutilidade” mesmo fora do contexto de pressupostos com que sonho para a regionalidade desta Província pode parecer ofensa a mentes doutrinadas à sabotagem da liberdade de expressão. No contexto, então, é aberração.
Uma longa espera
O que os leitores vão acompanhar no texto de Beto Silva, que reproduzo abaixo, não tem outro significado, agora de forma específica, à inutilidade em que se constituiu o Clube dos Prefeitos no tratamento das enchentes nesta Província. Ou seja: a marca de inutilidade ganha uma variedade imensa de encaixes, desde o específico, como nesse caso, até o mais abrangente, no caso das implicações com uma regionalidade construtivista, não especulativa e enganadora.
O artigo de Beto Silva sob o título “Cadê o mapa das enchentes, prefeitos?” se enquadras nos dois campos de constatação. Leiam:
Em 1985, ou seja, há 31 anos, o Diário publicou o que ficou conhecido como mapa das enchentes. A reportagem apontou os principais pontos de alagamentos e seus motivos. Dentre eles, a inércia do poder público em agir para minimizar as cheias que causam transtornos e mortes. De lá para cá, o mapa foi atualizado algumas vezes. Não era necessário, pois as pessoas afetadas sabem exatamente onde e como ocorrem as enchentes, mas faz parte do jornalismo, que tem em sua essência a prestação de serviço, acrescentar ou suprimir informações das ações que afetam diretamente a população. O Consórcio Intermunicipal, criado em 1990, cinco anos após a veiculação do primeiro mapa das enchentes, começou a debater o tema drenagem mais assiduamente no ano 2000. De lá para cá, nada de efetivo foi feito em conjunto entre as sete cidades. Cada prefeitura tratou do assunto de maneira isolada, o que resultou em projetos pouco efetivos. Mais recentemente, a entidade regional resolveu arregaçar as mangas. Ou melhor, contratou uma empresa para fazer isso. Apesar dos inúmeros engenheiros e técnicos competentes alocados nas administrações municipais, a KF2 Engenharia e Consultoria assinou acordo para receber R$ 1,2 milhão para fazer estudo dos pontos críticos de enchente e propor soluções regionais. E o Diário, mais uma vez sabedor de suas responsabilidades diante da sociedade, fez outro mapa das enchentes para mostrar que não era necessário despender todo esse dinheiro, em época de crise, para mostrar onde alaga no Grande ABC. E o que fez o Consórcio? Aditou o contrato em R$ 301 mil e prorrogou por 120 dias a entrega do estudo. O prazo expira em junho. Hoje é dia 30. O trabalho já está nas mãos do clube de prefeitos. Mas ninguém quer divulgar o conteúdo antes de ser mostrado para os chefes de Executivo. O que estão esperando? Convoquem sessão extraordinária para tratar do assunto. Ou querem que mais 31 anos se passem para fazer alguma coisa? Ou os prefeitos estão tão ocupados que não conseguem se reunir? Ou acham que o povo já sofreu muito e pode esperar mais um pouquinho, quem sabe algumas outras décadas? A eleição está aí e eles vão prometer obras antienchente. Querem apostar? – escreveu Beto Silva.
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