Economia

Clube dos Construtores muda
roteiro com balanço semestral

DANIEL LIMA - 05/07/2016

Os escombros deixados pelo então presidente Milton Bigucci (foram longos 25 anos de mandonismo) levaram os novos dirigentes do Clube dos Construtores do Grande ABC a mudanças operacionais e na divulgação dos dados estatísticos do mercado imobiliário. Por causa de uma ação chamada de pente fino os dados do primeiro trimestre atrasaram tanto que vão ser divulgados nos próximos dias com o agregado do segundo trimestre.

Somente dessa forma os dirigentes se sentirão mais próximos da responsabilidade institucional de seguir como referencial importante da dinâmica econômica da região.

O mercado imobiliário conta com perto de 50 mil trabalhadores com carteira assinada nos sete municipais locais e representa mais de R$ 5 bilhões de potencial de consumo.

Há divergências sobre o universo de empreendedores de pequeno, médio e grande porte. Nem mesmo os dirigentes do Clube dos Construtores têm ideia precisa sobre a categoria. Contando as imobiliárias e as administradoras, além de construtoras e incorporadoras, o cálculo mais conservador aponta mais de cinco mil representantes do setor nos sete municípios.

Puxadinhos estatísticos

O então presidente Milton Bigucci deixou um rastro de puxadinhos estatísticos sem credibilidade mesmo entre os dirigentes que desde janeiro assumiram o Clube dos Construtores. Muitos deles não se conformavam com os dados divulgados e, também, com a ênfase mais propagandística do que realista do setor.

Milton Bigucci é considerado o principal agente das expectativas exageradas. Sempre se pronunciou em nome da entidade como propagandista do paraíso. Por isso mesmo teria, segundo essas fontes, a maior parcela de responsabilidade pelo excesso de ofertas e escassez de demanda que impacta diretamente a todos os empreendedores, além de clientela estimulada a comprar gato por lebre. No caso, gato seriam os imóveis a preços elevadíssimos por se acreditar em valorização sobreposta no futuro.

O que se deu foi fortíssima queda de demanda seguida de rebaixamento sistemático do preço do metro quadrado. Daí, uma enxurrada de  distratos manchou os balancetes dos empreendimentos. Distratos são negócios desfeitos por uma série de razões -- principalmente porque os adquirentes descobriram que não poderiam arcar com os financiamentos bancários.

Há micos espalhados por todos os cantos da região. O maior,  segundo os especialistas, é o conjunto de apartamentos e salas comerciais do Complexo Domo,  no terreno e no entorno de antiga Tecelagem Tognato,  no quintal do Paço Municipal. Uma área imensa, valorizadíssima, mas superestimada pelos empresários do ramo, da Capital. Eles construíram quantidade de imóveis muito acima da capacidade de compra da classe média da região. Os preços desabaram nos últimos anos e, mesmo assim, não há compradores. As salas comerciais vivem à espera de locadores e proprietários que insistem em não aparecer.

Periodicidade em xeque

Ainda não está definido se o Clube dos Construtores (Acigabc) do Grande ABC passará a divulgar e a analisar os dados do comportamento do mercado imobiliário da região a cada seis meses. Haveria segundo uma corrente diretiva apenas correção de rota  circunstancial na próxima divulgação. A partir de então, já que muitos dos problemas encontrados já teriam superados,  os dados trimestrais voltariam a ser divulgados.  Há também a possibilidade de se seguir os passos do  Secovi, Sindicato da Habitação ao qual o Clube dos Construtores está ligado, que divulga os dados a cada 30 mês, com defasagem de 40 dias.

O fantasma do ex-presidente não abandona o Clube dos Construtores do Grande ABC, mas já não é mais tão proeminente como antes. Dá-se como certo que o novo presidente, Marcus Santaguita, e os demais dirigentes, não repetirão a filosofia do ex-dirigente. Repetir a filosofia seria convocar a imprensa ou ser procurado pela imprensa para destilar cenários considerados fantasiosos.

Como se deu, entre várias situações, em novembro de 2013. Ao jornal Bom Dia ABCD, em matéria assinada por Marcelo de Paula, sob o título “Preço do imóvel deve estabilizar e não cair”, Milton Bigucci traçou horizonte distante demais da realidade futura. Alguns trechos da matéria: 

 Empresário de sucesso, Milton Bigucci, proprietário da construtora MBigucci, com sede em São Bernardo, é um homem que aposta sempre no ABCD, tanto que tem previsto o lançamento de mais seis empreendimentos no primeiro semestre de 2013 na região. Em entrevista ao Bom Dia, ele afirmou que as perspectivas do setor para o ano que vem são boas, melhor do que está sendo 2012, cujos desempenho é classificado por ele mesmo como “morno”. No entanto, não se iludam aqueles que querem comprar um imóvel, mas estão no aguarda de queda nos preços. Segundo o empresário, isso não vai acontecer. No máximo, os preços se acomodarão no patamar que estão. (...) "Quanto aos preços, não vejo como cair o valor da habitação, mesmo tendo muita concorrência, pois os preços dos terrenos não cairão e os da mão de obra também não. Acredito em estabilização ou acomodação”.

Encalhe e descontos

As declarações de Milton Bigucci não resistiram ao tempo. Nem mesmo nos empreendimentos que lançou nos últimos tempos. O preço do metro quadrado desabou, com descontos que chegam a 50% anunciados e praticados em leilões de grandes companhias do setor. A MBigucci, autoanunciada a maior empresa da região, já fez vários leilões com descontos de até 30%. É comum as caixas postais eletrônicas de usuários de Internet na região serem invadidas por ofertas especiais da MBigucci. Ofertas especiais podem ser entendidas como tentativa de desencalhe.

É contra um ambiente de manipulação intencional ou imprevidente de preços que o Clube dos Construtores do GrandeABC decidiu se lançar agora sob nova diretoria. Um código de ética está sendo debatido para conduzir a entidade na relação com os associados e a sociedade. Entre os pontos mais importantes já listados está a imperiosidade de dirigentes não confundirem interesses privados com obrigações institucionais.

Um dos dirigentes diz que não será permitido que qualquer integrante da diretoria fale em nome do Clube dos Construtores como agente privado. Ou seja: não querem que o marketing corporativo de responsabilidade de quem responde por uma empresa seja transplantado para o conjunto da classe. Como se conduziu Milton Bigucci ao longo da história de uma entidade que perdeu ano a ano a representatividade da classe e o interesse da sociedade civil. Perdas que só agora começam a ser resgatadas.

Por isso que o balanço excepcionalmente semestral está sendo preparado com todo o cuidado. Não se pretende torturar os dados, como era comum durante a gestão de Milton Bigucci.



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