O Estadão de ontem publicou uma reportagem de página inteira sobre os estragos causados pela crise econômica brasileira na indústria do aço e suas consequências em Volta Redonda, sul do Rio de Janeiro. O grande jornal paulistano, que divide com a Folha de S. Paulo e O Globo a liderança dos impressos no País, poderia preparar nova matéria, e bem mais perto de sua sede: Diadema, um dos sete municípios da Província do Grande ABC, tem números sobre emprego industrial formal muito mais graves. Em Volta Redonda, nos últimos 12 meses, o estoque foi decepado em 11,90%. Em Diadema, chegou a 13,04%. Adivinhe que outro Município da região poderia constar da lista dos desesperados? O “viveiro industrial” Santo André, com índice de rebaixamento de 11,44%. Ou seja: empate técnico com Volta Redonda.
Duvido que algum secretário de Desenvolvimento Econômico da região, tenha se tocado ao ler a reportagem do Estadão. Eles desconhecem os municípios aos quais supostamente servem. Em termos regionais, então, seria um disparate sugerir que dispõem de informações agregadas que os levem a alguma iniciativa restauradora.
Volta Redonda sofre da Doença Holandesa do Aço, enquanto a Província do Grande ABC vice às turras com a Doença Holandesa Automotiva. Sofremos um bocado toda vez que a produção de veículos entra em parafuso. Em Diadema, a dependência de pequenas e médias indústrias das montadoras da vizinha São Bernardo é alucinante. Mas também há calcanhares de Aquiles espalhados por outros setores. Diadema sofre bastante porque tem predominância de pequenas indústrias. A maioria chama Jesus de Genésio ante o calabouço econômico entregue pelo governo de Dilma Rousseff, após a euforia artificializada do governo Lula da Silva. Tudo isso na sequência dos anos de chumbo regional de Fernando Henrique Cardoso – tudo registrado e minuciosamente analisado no acervo desta revista digital, herdeira legal das preciosidades editoriais de LivreMercado.
Pautas incompletas
Se a manchete de página interna do Estadão de ontem sobre Volta Redonda defina que “Uma cidade à mercê da crise do aço”, o que sugerir aos editores daquele jornal no caso particular de Diadema ou no caso mais amplo da Província do Grande ABC? “Uma região à mercê das montadoras” é a saída óbvia. O que pergunto é como os veículos de grande porte teimam em ignorar os desdobramentos da crise econômica na região e, mais que isso, a origem de tudo isso.
O material jornalístico é amplo, como tenho cansado de esmiuçar. Há diversidade de explicações que retirariam – ao contrário do que ocorre em Volta Redonda – a crise regional do vetor circunstancial e a remeteria, porque lá está, ao vetor estrutural. Ou seja: os estragos econômicos na região vêm do passado prevalecentemente festejado como exemplo a ser seguido. Deu no que deu quando o senso crítico escasseia e os salvadores da pátria compram corações e mentes, quando não outras coisas mais.
A reportagem do Estadão é muito interessante e instigadora a uma reação coordenada na Província do Grande ABC. Mas quem disse que algo vai se dar de diferente da apatia que abate as instituições locais?
O que mais me chamou a atenção naquela reportagem foram as últimas linhas, no pé da página. Está lá: “Para ajudar quem busca emprego, a Prefeitura mantém um portal na Internet com 300 mil currículos e 700 empresas contratantes cadastradas. Além disso, oferece cursos em parceria com as empresas, que já treinaram dois mil trabalhadores”. Não existe nada semelhante na Província do Grande ABC. Até prova em contrário, as prefeituras acompanham a desgraceira geral sem mover uma palha sequer. Entregam tudo aos sindicatos que, por serem sindicatos, privilegiam interesses corporativos. Os desempregados da região estão entregues à própria sorte.
Crise bastante complexa
Tomara que a região não precise começar a rezar como um todo para os indicadores criminais não avançarem como estão a avançar nos últimos meses. Avançam os homicídios, os latrocínios, os roubos e furtos de veículos, os roubos e furtos em geral – tudo isso começa a compor um caldo de desequilíbrio social que ainda parece estar longe do topo, entre outras razões porque há reservas dos direitos trabalhistas dos demitidos.
Quanto mais a crise demorar a ir embora – e não irá ao ritmo necessário tão cedo, porque o Brasil está em pandarecos fiscais e o mundo não está lá uma belezura – mais incômoda será a criminalidade na região. Mesmo diante de inquestionável melhoria na área de Segurança Pública. Em 20 anos reduzimos a marca anual de quase 1,5 mil homicídios para menos de 400. Não podemos retroceder, mas não estamos fazendo nada internamente para aliviar a penúria macroeconômica e macrossocial.
A Imprensa paulistana que só nos procura por causa de desgraças do cotidiano de uma metrópole ensandecida ou porque os pátios das montadoras estão abarrotados de encalhes, deveria procurar saber por que estamos de mal a pior a cada temporada. Somos uma exceção de desequilíbrios numa Grande São Paulo que não cresce tanto quanto o Interior mais moderno, mas que nos supera largamente. Somos uma peça defeituosa numa engrenagem social e econômica que vai muito além da falta de profundidade das pautas jornalísticas. Somos muito mais complexos que uma Volta Redonda qualquer.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?