Economia

Santaguita, engenheiro que
não virou suco bigucciano

DANIEL LIMA - 10/08/2016

Minhas fontes no mercado imobiliário da Província do Grande ABC não mentem. Não mentem e não sofismam. Não sofismam e não deturpam os fatos. Não deturpam os fatos e não negam informações de que preciso para mostrar a realidade negada. O novo presidente do Clube dos Construtores do Grande ABC, Marcus Santaguita, apenas amenizou o descalabro que encontrou ao suceder Milton Bigucci, que chefiou a entidade durante 25 anos.

Num encontro de confraternização da classe realizado há duas semanas, Santaguita disse oficialmente o que já publiquei nesta revista digital: ele dobrou o número de associados em relação ao mandachuva que o antecedeu. A entidade agora conta com 100 associados.

O pressuposto de que recebera 50 associados foi anabolizado por Santaguita, engenheiro que não virou suco nas mãos do ex-dirigente da entidade, como muitos acreditavam que poderia virar. Dizia-se que Santaguita não passaria de fantoche de Milton Bigucci. Caíram do cavalo todos que assim pensaram. Diplomacia para suceder um dirigente arbitrário e centralizador é um requisito muito utilizado quando há consenso de que o tempo de gestão já expirou. Não saísse pela via diplomática, Milton Bigucci seria apeado a pontapés críticos, porque deixou ficha para lá de insatisfatória a toda a classe que supostamente representaria.

Para não deixar Milton Bigucci em situação ainda mais vexatória, Marcus Santaguita preferiu durante o discurso na festa de 28 anos do Clube dos Construtores ignorar ou deixar para lá que encontrou um quadro de 30 minguados filiados, num universo que por baixo conta com cinco mil participantes do mercado imobiliário.

Declaração de alforria

Está na edição do Diário Regional, que acompanhou os festejos: 

 À frente da Acigabc há pouco menos de sete meses, Santaguita destacou o aumento da representatividade da entidade no setor, por meio do crescimento do quadro associativo, como um dos pontos positivos da nova gestão. “Em pouco tempo conseguimos praticamente dobrar o número de associados, para cerca de 100, o que é muito positivo”, disse o dirigente.

O que Marcus Santaguita e os novos dirigentes do Clube dos Construtores realizaram nos últimos sete meses foi muito mais que aumentar a representatividade da entidade, como escreveu o jornal. Eles estão a restaurar a representatividade da entidade. Uma restauração que passa obrigatoriamente por série de medidas. Entre essas medidas, e de caráter emergencial porque valiosíssima, está a criação de uma diretoria específica para os pequenos construtores, praticamente dizimados na Província do Grande ABC por conta da legislação elitista de uso e ocupação do solo. O segmento resiste bravamente em Santo André, onde o secretário-geral do Clube dos Pequenos Construtores, Silvio Cura, um dos apoiadores da vitória de Santaguita, revela-se liderança de peso em busca de responsabilidade social do setor.

Ao mais que dobrar o quadro associativo do Clube dos Construtores, a diretoria presidida por Marcus Santaguita mostrou pelo menos dois aspectos da nova realidade da categoria: primeiro, o estado de calamidade administrativa deixado pelo antecessor; segundo, o atraso em que se encontra a associação em relação às premissas básicas para que o mercado imobiliário regional alcance nível mínimo de representatividade e, com isso, ganhe massa crítica e capacidade de sensibilizar os poderes públicos municipais em torno de iniciativas que contemplem o setor em conjugação os interesses de qualidade de vida da sociedade.

Bem diferente, portanto, de tempos passados, em que o desprezo ao coletivo praticado pelo então presidente se somava ao individualismo de medidas que contemplassem grupinhos que giravam em torno daquela diretoria.

Passado a esquecer

As declarações de Marcus Santaguita durante o encontro festivo podem parecer apenas mais um parágrafo de um discurso conciliador, mas quem conhece a história do Clube dos Construtores do Grande ABC e, principalmente, a fama de retaliador do ex-presidente Milton Bigucci avaliou o posicionamento como corajoso para evocar ressonâncias fortalecedoras do movimento levado adiante por um grupo de diretores: viraram passado os tempos de baixíssima transparência e de exclusivismos corporativos na associação que perdeu o ritmo que a teria conduzido à liderança institucional da Província do Grande ABC. Um passado para ser esquecido como referência às transformações que eles mesmos, os atuais dirigentes, se impõem.

Tanto se impõem que ante esses tempos bravios de recessão econômica o presidente Marcus Santaguita anunciou para o final de novembro o que chamou de feirão de imóveis. A revelação está na reportagem do Diário Regional. Chama a atenção a informação de que o evento só comportará empresas da Província do Grande ABC.

A reportagem não entra em detalhes, mas a iniciativa vai além de reserva de mercado regional, uma decisão que pareceria provinciana. As grandes construtoras e incorporadoras da Capital, apoiadas informalmente pelo Clube dos Construtores sob a presidência de Milton Bigucci, entre outras razões porque algumas são parceiras de negócios do conglomerado MBigucci, desorganizaram os negócios na região nos últimos anos.

Invasão destruidora

Essas grandes empresas invadiram a região sem contar com instrumentos avaliativos que as impedissem de exageros e de especulação imobiliária sem precedentes. Os estragos são visíveis. Já micos espalhados por todos os cantos a tumultuar a planilha de custos e de lucros das empresas da genuinamente da região. As grandes construtoras da Capital bagunçaram o coreto do uso e ocupação do solo. Deixaram rastros de contratempos de acessibilidade insanáveis.

O Salão do Imóvel do ABC estará, portanto, de volta. O evento foi realizado em seis edições entre 1996 e 2007. Tratou-se de algo que beirou o mequetrefismo, tomando na maioria das vezes os corredores do Shopping Metrópole, em São Bernardo. Uma espécie de antimarketing do setor na região. Um formato que a nova direção do Clube dos Construtores deverá evitar. Há consenso de que a mudança de direção da associação precisa estar clarificada em cada ação pública. Qualquer semelhança com o período do antecessor será retrocesso.

Aliás, sobre esses avanços, também minhas fontes foram confirmadas. Está na reportagem do Diário Regional que o Clube dos Construtores vai alterar a metodologia da pesquisa sobre a pulsação do mercado imobiliário na região.

A venda de gato por lebre, como cansamos de desmascarar neste espaço, não só está confirmadíssima com a protelação dos dados do primeiro e do segundo trimestres como também no anuncio oficial de Marcus Santaguita de que o material estatístico está sendo totalmente modificado e isso deverá provocar a divulgação de dados apenas a cada semestre. Ou até mesmo uma única vez por ano.

Avanço e retrocesso

A informação é um avanço e um retrocesso sincronizados. Avanço porque vão se deixar de publicar mentiras em forma de números; retrocesso porque a associação precisa buscar solução que mantenha a sociedade informada a cada três meses. O mercado imobiliário é importante demais como sinalizador do movimento das peças da economia regional para ficar à deriva – e sujeito a especulações informais – ao longo de 12 meses. Ou seja: a emenda pode se tornar bem pior que o soneto.

Para completar, de modo que não se estabeleça juízo de valor de qualidade diretiva apenas pelo confronto de números de associados deixado por Milton Bigucci após 25 anos de chefia e os sete meses de comando de Marcus Santaguita: há uma série extensa de atividades e deliberações da nova diretoria do Clube dos Construtores que também constou do discurso do atual presidente na festa de confraternização. Uma festa oficial de alforria dos grilhões que prenderam a entidade a um passado constante que se repetia a cada novo calendário gregoriano, como se tempo teimasse indefinidamente em retroceder.



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