Economia

Construção civil e indústria
da região empatam em perdas

DANIEL LIMA - 17/08/2016

Saiu o balanço do mercado imobiliário da Província do Grande ABC. Os resultados são um acumulado do primeiro semestre. Finalmente o Clube dos Construtores do Grande ABC colocou em ordem a bagunça operacional e metodológica dos tempos do dirigente Milton Bigucci.

Com o engenheiro Marcus Santaguita tudo indica que os resultados serão muito mais confiáveis, embora não faltem informações que dão conta de que o sonho de consumo do dirigente é repassar a atividade a uma instituição especializada, como o Secovi (Sindicato da Habitação) de São Paulo. A herança de Milton Bigucci, portanto, ainda não foi eliminada.

Mas é muito pouco provável que teremos sob nova direção um Clube dos Construtores que anuncie resultados do mercado imobiliário da região muito melhores que os da Capital, como nos tempos de Bigucci. Tudo não passou de mandraquismos estatísticos deliberados para especulação.

Dados dolorosos

Os dados divulgados hoje pela mídia com base no balanço da associação que representa o setor não dizem tudo. Perdemos em relação ao primeiro semestre do ano passado 52,38% nos lançamentos e 51,64% nas vendas. Mas os números são ainda mais alarmantes quando contextualizados. A construção civil da região sofreu nos últimos 12 meses encerrados em junho desgaste semelhante ao da indústria de transformação, que come o pão que o diabo amassou no setor automotivo, principalmente.

O contingente de trabalhadores com carteira assinada na construção civil caiu 9,65% nos 12 meses vencidos em junho, enquanto na indústria convencional o rebaixamento foi de 9,61%. Um empate técnico. Ou seja: a crise que bate na área industrial é proporcionalmente parecida com a crise que incomoda o mercado imobiliário.

É claro que o impacto da indústria no tecido econômico e social da região é maior, principalmente porque montadoras e autopeças reúnem grandes volumes de trabalhadores cujos vencimentos médios individuais são bem mais elevados que os da construção civil.

Em junho último o estoque da construção civil (dados mais recentes do Ministério do Trabalho) registrava 36.586 trabalhadores. Já na indústria de transformação eram 208.497. Ou seja: para cada 5,6 trabalhadores industriais há um representante da construção civil. Quando se transformam números absolutos em números relativos, os quase 10% de emagrecimento do estoque em 12 meses em cada um dos setores são tão preocupantes quando desafiadores. A crise do emprego, derivada da crise econômica, está mais que instalada na região. Como de resto no País. Só varia o peso de cada tormento. 

Dois dígitos de perdas

Santo André, São Bernardo e Diadema registraram queda do estoque de emprego na construção civil de dois dígitos. Foram 12,51% em Santo André, 12,34% em São Bernardo e 11,75% em Diadema. Quando comparado com o comportamento do emprego industrial no mesmo período de 12 meses vencidos em junho, apenas São Bernardo safou-se dos dois dígitos ao apontar perda de 7,92% de trabalhadores com carteira assinada.

A influência dos programas de contenção de demissões, principalmente o PPE (Programa de Proteção do Emprego) influenciou os resultados, mas pode estar se esgotando diante de anúncios de demissões na Mercedes-Benz e em outras empresas do setor. Os efeitos de anabolizantes que contrariam as regras do jogo da competitividade não costumam ser prolongados. E deixam efeitos colaterais sérios. Santo André registrou perda de emprego industrial de 11,47% e Diadema de 12,26%.

Como se percebe, correm na mesma raia de inquietação os dados de destruição de empregos formais da indústria e da construção civil na região nos últimos 12 meses. Daí não existir surpresa alguma no mergulho do mercado imobiliário. A ameaça de desemprego, o endividamento de famílias e empresas, a baixa confiança no futuro econômico do Pais, as restrições de crédito, tudo isso entre outros vetores dinamita os planos de expansão da economia.

Caindo das alturas

O Clube dos Construtores anunciou que foram vendidas no primeiro semestre deste ano apenas 1.440 unidades de apartamentos. Nos mesmos seis meses do ano passado o total chegou a 2.978 unidades. Entre janeiro e junho do ano anterior, 2014, foram 3.297 unidades comercializadas. Isso quer dizer que nos primeiros seis meses deste ano quando comparados aos seis primeiros meses de dois anos atrás a Província do Grande ABC acusou queda de 56,31% de unidades vendidas. Um recuo estatístico até o ano de 2013 eleva ainda mais a perda. Naquela temporada foram 3.957 unidades vendidas. Provavelmente muito mais do que será alcançado em toda a temporada atual. Quando se compara 2013 com 2016, sempre tendo o primeiro semestre como referencial, a queda é de 63,60%.

Menos vendas destroem também o entusiasmo por novos lançamentos. O balanço do Clube dos Construtores revela vizinhança profunda entre uma coisa e outra. Os lançamentos de unidades verticais na região nos primeiros seis meses deste ano foram 52,38% aquém do registrado nos primeiros seis meses do ano passado. De 2.430 em 2015, caiu para 1.157 este ano. Quando se comparam os dados deste ano com o de três temporadas atrás, ou seja, 2013, o rebaixamento dos lançamentos chega a 44,74% -- foram 2.094 no primeiro semestre daquela temporada.

Embora faltem estatísticas sobre quantos trabalhadores da construção civil da região estão alocados no mercado imobiliário e em obras públicas, há indicativos de que prevalece a construção de apartamentos. Os investimentos de governos locais, estadual e federal são minguados.

Por isso mesmo a Província registra números relativos bem menos dolorosos do que a média nacional. Nos últimos 12 meses vencidos em junho a construção civil brasileira perdeu 13,82% de trabalhadores com carteira assinada – 401.664 em números absolutos. A Operação Lava Jato, que desbaratou quadrilhas incrustadas nas empreiteiras de obras, responde por larga margem desse déficit.

Individualmente, nenhum dos sete municípios da região alcançou tamanha perda no setor, enquanto a média regional não chegou a 10% de rebaixamento do estoque de trabalhadores. Situação diferente do setor industrial no mesmo período: a região perdeu 9,61% de estoque, enquanto o País registrou 7,32%. Tudo porque o peso da indústria nas matrizes econômicas locais é três vezes maior na Província: 30% dos trabalhadores com carteira assinada na região são do setor, enquanto no Brasil não passam de 10%.



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