Dezenove meses após diagnóstico em reportagem de Capa de LivreMercado, a temperatura dos condomínios residenciais horizontais continua alta. Motivadas pela demanda aquecida, construtoras da região, da Capital até de Minas Gerais continuam multiplicando ofertas. E da forma mais democrática possível, já que as opções se encaixam da base ao topo da pirâmide social.
A reportagem da edição de abril de 2003 mostra que condomínios horizontais proliferam porque aliam privacidade de residências térreas com segurança dos prédios de apartamentos. Os empreendimentos são dotados de portaria 24 horas e protegidos por muros reforçados com cercas eletrificadas. A matéria esmiuçou o surgimento de uma dezena de condomínios na região. A nova leva se concentra principalmente em Santo André e São Bernardo, cidades de maior potencial econômico e que respondem por metade dos 2,5 milhões de habitantes do Grande ABC.
Em Santo André, o segmento que já vinha embalado acaba de engatar a quinta marcha. Há condomínios horizontais para todos os gostos e bolsos. Despontam em bairros como Jardim do Pilar, Vila Luzita, Jardim Santo André e Vila Homero Thon. O empreendimento do Jardim do Pilar é o mais requintado e leva a assinatura da construtora JCR, de Santo André.
A perder de vista
O Giulias Garden, como foi batizado, contempla 17 sobrados de 133 metros quadrados de área privativa que incluem três dormitórios com uma suíte, sala de estar, sala de jantar, cozinha, lavabo, quintal com churrasqueira e garagem com duas vagas. O preço gira em torno de R$ 170 mil com parcelamento a perder de vista. "Mais da metade das unidades já foi vendida e as demais seguem em ritmo acelerado" -- explica a diretora comercial Rosângela Carvalho, referindo-se ao empreendimento lançado no início deste ano e com conclusão programada para outubro de 2005.
O Giulias Garden está em construção em terreno de 2,3 mil metros quadrados na Rua Caiubi, a 200 metros da Avenida Pereira Barreto, que liga Santo André a São Bernardo. É a primeira vez em 25 anos de atividades que a JCR investe em condomínio horizontal. "Sempre atuamos com residências de alto padrão, prédios de apartamentos e obras empresariais e públicas, mas não podíamos ficar de fora desse nicho promissor" -- justifica o diretor-proprietário e engenheiro João Carolino Ramos, que não esconde animação. "Já temos outros terrenos onde pretendemos construir mais condomínios horizontais" -- adianta, sem revelar detalhes.
Outra empresa de Santo André animada com o segmento é a Fagus, responsável pelas obras de um condomínio na Vila Luzita e pela incorporação de outro na Vila Homero Thon. Mas, diferentemente da JCR, a Fagus prioriza produtos financeiramente mais acessíveis. O Condomínio Vale Guarará, na Vila Luzita, contemplará 70 sobrados com 59 metros quadrados de área útil e dois dormitórios, além de uma vaga na garagem. As unidades custam a partir de R$ 62,9 mil com opção de financiamento em até 17 anos. Das 70 unidades, 33 já foram entregues e outras 37 devem ser concluídas em dezembro. Tudo em terreno de seis mil metros quadrados.
No lugar da metalúrgica
O condomínio em construção na Vila Homero Thon é o Villa da Vinci, que prevê 112 sobrados em terreno de 11 mil metros quadrados onde funcionava a metalúrgica Gots. A primeira fase está programada para este mês com entrega de 23 unidades, e as 89 restantes obedecerão etapas projetadas para os próximos 18 meses. Os sobrados de dois dormitórios com 62 metros de área útil custam a partir de R$ 79,99 mil, também com financiamento elástico. "Um terço das 112 unidades foi vendida" -- afirma Luiz Carlos Juelli, diretor-proprietário da Fagus, responsável pela incorporação do empreendimento com construção sob responsabilidade da paulistana InMax.
Juelli acredita que a fase de vendas poderia estar ainda mais avançada se não fosse a retração econômica do ano passado, quando o PIB (Produto Interno Bruto) recuou 0,2% e a renda do trabalhador brasileiro regrediu quase 8% -- perdas parcialmente recobradas pela retomada deste ano. Interferências macroeconômicas à parte, ele enxerga os condomínios horizontais como modalidade promissora. "Santo André e Grande ABC têm carência desse modelo residencial" -- afirma Juelli, que aponta a taxa condominial reduzida como vantagem adicional.
Por dispensar uso de equipamentos como bombas dágua e elevadores, os condomínios horizontais apresentam custo muito mais baixo que o dos conjuntos verticais -- um diferencial importante diante da compactação da renda da classe média nos últimos anos. "Os custos desse modelo residencial estão relacionados basicamente à mão-de-obra da portaria" -- explica Juelli, cuja construtora exibe outros dois empreendimentos do gênero já concluídos na breve trajetória de cinco anos: um condomínio com 10 sobrados em Utinga e outro com oito na Vila Homero Thon, próximo ao Villa da Vinci.
Classe popular
A maior prova de que não é preciso pertencer aos estratos sociais mais aquinhoados para morar em condomínio fechado está no Jardim Santo André, nas proximidades da Estrada do Pedroso. Naquela periferia da cidade a construtora Tenda lançou o Residencial Córdoba, que prevê 120 sobrados de dois dormitórios ao custo de R$ 59 mil. As primeiras unidades estarão prontas em abril de 2005 e as demais seguirão ritual mensal de entregas até março de 2007, quando o projeto deve estar totalmente concluído.
O perfil popular do Residencial Córdoba reflete a essência da Tenda. A construtora sediada em Belo Horizonte fez opção preferencial pelos menos afortunados e se orgulha de ter viabilizado o sonho da casa própria para 22 mil famílias em 35 anos de atividades.
A oferta de casas em condomínio fechado só não é maior em Santo André por força da legislação municipal que restringe esse tipo de empreendimento na área que integra o projeto Eixo Tamanduatehy. A paulistana Goldfarb Incorporações e Construções se propôs a erguer mega-condomínio horizontal sobre as ruínas das antigas fábricas IAP/Copas na Avenida Industrial, mas depende de alterações na Lei de Uso do Solo para transformar o plano em realidade. "A construção teria início imediatamente após a aprovação do projeto de lei e seria concluída em prazo de dois a três anos" -- declarou o empreendedor Milton Goldfarb.
O pré-projeto contempla 360 casas em estilo americano para o terreno de 56 mil metros quadrados localizado em trecho degradado que se transformou em cenário de prostituição e ocorrências policiais.
Concentração de lançamentos
Sem dispositivos que freiem a expansão imobiliária, o Bairro Demarchi, em São Bernardo, virou alvo de um dos maiores empreendimentos do gênero no Grande ABC. Trata-se do condomínio Terra Bonita, projetado para ocupar área de 47 mil metros quadrados -- equivalente a seis campos de futebol -- dos quais nove mil metros quadrados doados à Prefeitura para uso institucional e de preservação ambiental. O empreendimento assinado pela paulistana Agra Incorporadora prevê 180 casas de três dormitórios com uma suíte em dimensões que variam de 108 a 150 metros quadrados.
O Terra Bonita tomará forma no bairro que já acolhe o Swiss Park, o mais amplo e sofisticado condomínio fechado do Grande ABC, com 726 mil metros quadrados, três lagos que totalizam mais de 100 mil metros quadrados de espelhos dágua e 14 quilômetros de ruas protegidas por 4,5 quilômetros de muros. Diferentemente dos conjuntos de casas prêt-à-porter que caracterizam as novidades no Grande ABC, o Swiss Park, lançado em 1996, segue o estilo dos empreendimentos que proliferam pelo Interior ao oferecer lotes generosos para construção personalizada, ao gosto do freguês. A título de curiosidade, a casa do forrozeiro Frank Aguiar tem porta de entrada ornamentada como teclas de piano e corrimão decorado com gigantescas notas musicais.
A qualidade de vida frequentemente ameaçada pelo caos metropolitano é a característica mais ressaltada nos anúncios publicitários do Terra Bonita. A imagem de uma família dando banho no cachorro em um amplo quintal e a referência textual a ruas calmas e calçadas floridas em um universo cuidadosamente planejado procuram catalisar os anseios dos consumidores inclinados a abrir mão de casas avulsas e apartamentos em troca do modelo habitacional híbrido que avança em vários pontos da Região Metropolitana de São Paulo.
O New Port Village não terá a grandiosidade do Terra Bonita e muito menos do cinematográfico Swiss Park, mas vai ampliar a oferta de opções em São Bernardo. O empreendimento recém-lançado pela MBigucci terá apenas sete sobrados com áreas de 150 a 170 metros quadrados na Rua Bragança, centro da cidade, a 250 metros da Rua Jurubatuba. O preço gira em torno de R$ 199 mil e as obras começam em dezembro. "O grande mote dos condomínios horizontais é proporcionar segurança sem afetar a individualidade. Cada casa terá um quintal onde os moradores podem preparar churrasco, algo complicado em um apartamento" -- sintetiza Milton Bigucci Júnior, diretor-técnico da empresa cujo portfólio já exibe os condomínios horizontais Portal dos Nobres e Villagio Felicitá, na Vila Assunção em Santo André.
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