Golpistas imobiliários querem destruir a rede de pequenos construtores familiares em Santo André. Uma tentativa de mudança da legislação de uso e ocupação do solo ensaiada há bom tempo está sendo preparada à aprovação antes do recesso do Legislativo. A sinalização de última hora de que prevaleceria o bom senso de deixar os debates e eventuais medidas para o ano que vem não convence.
Os interesses são tão pronunciados quanto a falta de responsabilidade social dos prevaricadores éticos movidos por interesses individuais e grupais. Os mercadores imobiliários não têm escrúpulos. Atacam sempre que enxergam uma oportunidade de ganhar mais e mais.
Tanto a administração em fim de mandato do prefeito petista Carlos Grana quanto a administração pronta a dar largada do tucano Paulinho Serra estão envolvidas na tentativa de inferiorizar ainda mais os pequenos empreendedores imobiliários em favor dos gigantes da capital e de algumas grandes companhias da região que atuam em Santo André.
Eles, os prevaricadores éticos, espalhados pelos bastidores dos poderes públicos, são ardilosos e compulsivamente mercantilistas. Os capitães da fragata não dão as caras porque sabem que colocaram a pique suas intenções. Eles são agentes das trevas. Preferem terceirizar as manobras a assessores do prefeito Carlos Grana e também do eleito Paulinho Serra.
Recuo ou dissuasão?
Resta saber até que ponto os dois prefeitos, o que está saindo e o que está prestes a entrar, estão metidos nessas obscuridades. Já estaria havendo reações de Paulinho Serra, que desautorizaria as negociações protetoras dos grandes negócios. Situação análoga teria sido deflagrada por Carlos Grana. Resta saber até que ponto a versão de recuo é verdadeira ou tática para desmobilizar os pequenos empreendedores.
Os pequenos construtores têm em Silvio Cura liderança indigesta aos prevaricadores éticos. E a tarefa dos paus mandados dos bandidos sociais por trás das manobras para garantir benefícios ainda maiores aos grandes construtores, em detrimento de medidas que estrangulariam os pequenos, é viabilizar as alterações.
Em suma, sem entrar em detalhes técnicos (que podem ser acessados nos links abaixo), o que os gigantes da Capital e alguns grandes da Província do Grande ABC querem mesmo é maximizar a rentabilidade. Um projeto de médio e longo prazo, porque a situação do mercado imobiliário é crítica nestes tempos de recessão petista.
Considerar mercadores imobiliários os articuladores enrustidos da investida não é nada ofensivo quando se tem como explicação conceitual o fato de que as medidas que pretendem tomar adicionam mais fervura no caldeirão de baixíssima qualidade de vida na mobilidade urbana de Santo André e da região. Mercadores imobiliários só enxergam os próprios interesses. A sociedade como um todo que se dane.
Mais arranha-céus
Exceto Silvio Cura e um grande número de pequenos construtores mobilizados nos últimos dias para combater mercadores imobiliários da Província do Grande ABC e da Capital, mais ninguém se coloca na trincheira em defesa do conjunto da sociedade. O pantagruelismo dos donos de grandes empresas imobiliárias é alarmante. Eles querem mais e mais condições privilegiadas para erguerem arranha-céus sem se darem conta (ou desprezando todos os poréns que as medidas escancararam) de que quem vai pagar a conta mais uma vez em termos de estrangulamento do sistema viário é a população como um todo.
A ladainha de alguns deles ao longo dos anos, ao criminalizar o setor automotivo pelos congestionamentos, virou peça de marketing de puro oportunismo que atende ao desejo dos simplistas. Os mercadores imobiliários são agentes da deterioração da vida metropolitana em proporção semelhante à escassez de logística viária para dar suporte ao fluxo de veículos de um país concebido sob o signo do rodoviarismo.
Santo André é o único Município da região que conta com legislação incentivadora de pequenos negócios de construção civil. Muito antes do lançamento do programa federal Minha Casa Minha Vida os pequenos construtores atendiam e continuam a atender com mais qualidade e preços competitivos parcelas significativas da classe média baixa.
Custo fixo menor
Alguns milhares de prédios de pequeno porte, que dispensam elevadores e por isso mesmo reduzem o custo fixo de condomínio, são características próprias do ambiente habitacional de Santo André. Outros municípios poderiam adotar legislação semelhante porque ofereceriam à sociedade alternativa ocupacional diferenciada e menos dispendiosa que conjuntos de apartamentos verticalizados até onde é possível ludibriar a legislação com escândalos jamais apurados – caso do Semasa, por exemplo.
Exatamente por estarem isolados como exemplo de democratização do uso e ocupação do solo sem causar transtornos à mobilidade urbana (muito ao contrário, porque atenua os efeitos de congestionamentos com a descentralização de habitações aos interiores dos bairros) os pequenos construtores causam insatisfação principalmente aos gigantes da Capital que aportaram nos últimos anos na região e também a seus aliados esfomeados da Província do Grande ABC. Os gigantes da Capital e algumas das grandes companhias da região são acusados de desorganizarem totalmente o ambiente de negócios do mercado imobiliário regional. O encalhe de imóveis residenciais e comerciais é testemunho do descontrole motivado pelos excessos de lançamentos.
Vereadores eleitos, vereadores em fim de mandato, novos vereadores, assessores em fim de mandato e assessores prontos para assumirem funções em janeiro formam um batalhão de contraventores éticos que pretendem passar a perna nos pequenos negócios e satisfazer a sanha dos gigantes do mercado imobiliário em Santo André.
Essa turma da fuzarca legislativa se mobiliza nos bastidores da Câmara de Vereadores, fazem reuniões, debatem vantagens recíprocas e procuram criar uma narrativa de confronto ou de desclassificação dos principais lideres dos pequenos construtores – enfim, fazem da temática uma guerra ensandecida.
Há para os grandes empresários muitas vantagens imediatas e futuras em transformar o solo de Santo André em algo semelhante ao que a Administração Luiz Marinho perpetrou recentemente em São Bernardo – de privilégio total aos meganegócios imobiliários, contando então com a complacência, quando não com o apoio, do então presidente do Clube dos Construtores do Grande ABC (Acigabc) Milton Bigucci, um dos beneficiários das novas leis.
É claro que se procura dar todas as características de legalidade à mudança das regras de uso e ocupação do solo em Santo André. Mas a iniciativa não escapa à análise mais cuidadosa e fria quando se coloca na balança os direitos do conjunto da sociedade. O que grandes empresários querem, como mercadores imobiliários que são, é adequar a ocupação habitacional de Santo André aos interesses específicos das corporações que dirigem – e de sobra, inviabilizar os pequenos negócios.
Reforço de Santaguita
A parceria com assessores da administração municipal de Santo André é indispensável às conquistas. O relançamento das propostas no final do mandato de Carlos Grana e próximo à chegada de Paulinho Serra não é coincidência – é consequência de acertos de bastidores que, por serem vergonhosos do ponto de vista ético, quase que ganharam foro de consumação de novas regras na semana que passou. Só não o conseguiram porque Silvio Cura e outras lideranças dos pequenos reagiram e lotaram as galerias do Legislativo.
A expectativa é de que o Clube dos Construtores do Grande ABC, sob a direção de Marcus Santaguita desde janeiro deste ano, após 25 anos de mandonismos de Milton Bigucci, resolva reagir oficialmente em favor dos pequenos negócios. Mais que isso: há participantes do Clube dos Pequenos Construtores que querem ver Marcus Santaguita igualmente na linha de frente de combate aos prevaricadores éticos.
Certo mesmo é que Marcus Santaguita anunciou recentemente que pretende incorporar o pequeno construtor Silvio Cura na direção de uma diretoria a ser oficializada no Clube dos Construtores do Grande ABC, responsável pelos empreendedores de pequeno porte. A medida é vista com desconfiança sob o ponto de vista de viabilidade política. Milton Bigucci, avesso aos pequenos, já estaria se movimentando para abortar a iniciativa.
Milton Bigucci é presidente do Conselho Deliberativo do Clube dos Construtores e tem o filho Milton Bigucci Júnior como vice-presidente de diretoria. Instalar uma diretoria de pequenos construtores numa organização de classe que sempre ignorou a categoria seria um teste de fogo aos novos tempos que o Clube dos Construtores ensaiaria a partir do segundo ano de mandato de Marcus Santaguita. Seria uma forma de começar para valer a descontaminação do corporativismo de grandes empresas destilado por Milton Bigucci.
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