Após dois meses da largada oficial, os APLs (Arranjos Produtivos Locais) desenham-se como uma das poucas ações de desenvolvimento econômico regional que deixam o terreno do diagnóstico para avançar pelo caminho do planejamento e da execução. Os sistemáticos encontros semanais dos grupos de plástico, autopeças e ferramentarias sinalizam os primeiros resultados da iniciativa da Agência de Desenvolvimento Regional de adensar cadeias produtivas com pelo menos dois indicadores pró-ativos.
Uma das ações é a elaboração do PAI (Plano de Ação Imediata) para evitar a dispersão do grupo. A outra aponta para a conclusão unânime de que todas as empresas participantes devem passar pela radiografia do chão de fábrica.
Envolvidos com a massacrante rotina de quem tem de cuidar da produção, do financeiro, do administrativo e até mesmo do conserto de torneira, dirigentes de 60 empresas que integram o projeto têm se desdobrado para provar que a união realmente pode fazer a força. Os APLs chegaram à região com atraso, mas o modelo de associação concebido para dar fôlego de grande aos pequenos é entendido como saída mais próxima para transpor a encruzilhada da modernização de processos produtivos e gerenciais e de acesso ao crédito barato.
Liberdade para atuar
Conclusões do PAI (Plano de Ação Imediata) elaborado por cada um dos grupos setoriais apontam os gargalos e são indicativos de que quanto mais os participantes se apropriarem do processo, mais rápido devem aparecer resultados. A Agência de Desenvolvimento manifesta, desde o início, preocupação com a capacidade de manter o grupo unido. Por isso, deixou claro que haveria flexibilidade para os empresários modificar o cronograma.
A decisão de colocar os participantes no comando do processo é um dos pontos de atratividade. Mesmo assim, a Agência precisou disparar mais de mil convites para arregimentar 60 participantes. Como há razões de sobra para desconfiar da capacidade prospectiva e de mobilização das entidades empresariais e do poder público do Grande ABC, a cautela inicial era esperada. “O tempo do empresário é precioso e se as reuniões não apresentarem resultados práticos, ele abandona o projeto” — é enfático o gerente de APLs da Agência de Desenvolvimento Econômico, Raimundo Libório Júnior.
O Plano de Ação Imediata também ajuda a reforçar a mobilização porque abre espaço para que as empresas decidam o que querem e o período em que as ações devem estar resolvidas. O PAI já determinou a participação do grupo de plástico em curso de tecnologia do Sebrae. Também indicou a necessidade de diagnóstico do chão de fábrica em todas as empresas para detectar o nível de processos e produtos. A demanda foi unânime, assim como a indicação do Senai para realizar o trabalho.
A Agência e a entidade já iniciaram tratativas para tentar dar conta do recado durante os próximos seis meses. “Pela primeira vez, um trabalho desse tipo dá sinais de produtividade” — avalia o diretor da Acelik e representante do APL de autopeças, João Paschoal. O empresário chegou ao grupo por meio de convite de outro participante e se surpreendeu com a recorrência de problemas que julgava rondar apenas a fabricante de porcas e parafusos sob sua responsabilidade. Ele e os demais integrantes da equipe já participaram de mais de uma dúzia de encontros.
Conhecimento limitado
Entre as principais conclusões está a certeza de que conhecimento técnico é insuficiente, porque falta de tempo e de dinheiro invariavelmente acompanha o pequeno empreendedor. Por isso, as oficinas de treinamento da Agência de Desenvolvimento Econômico têm sido pedagógicas para radiografar o nível de entendimento gerencial de cada participante.
Atividades como o Jogo da Cerveja são espécie de ferramenta lúdica que descreve as etapas de produção, distribuição e venda para que as empresas se situem na cadeia produtiva. O gerente Raimundo Libório Junior explica a compreensão da metodologia de sustentação às etapas do APL que prevêem consultores nas empresas. “O empresário tem de estar preparado para tirar o máximo proveito da oportunidade e subsidiar com precisão os profissionais designados para auxiliar na detecção de problemas” — entende Raimundo Libório Júnior. “O envolvimento de todos é fundamental para chegar a resultados positivos” — reforça o representante do grupo de ferramentaria, Marcos Baradel.
Capital e crédito
Além do auxílio em gerenciamento e produção, as empresas têm a expectativa real de encontrarem caminhos mais rápidos para crédito e capital de giro. Para isso, terão de atingir grau de amadurecimento que permita elaborar projeto de solicitação de dinheiro para o grupo sem ferir suscetibilidades individuais. O primeiro passo nesse sentido é a formalização jurídica das associações. “Acredito que os grupos vão caminhar naturalmente para a legalização” — aposta o coordenador de fomento e apoio à micro e pequena empresa da Agência de Desenvolvimento Regional, Ciomar Okabayashi. “É bem mais difícil tratar individualmente do assunto crédito. Se todo mundo estiver junto talvez os resultados apareçam no curto prazo” — espera o representante do APL do plástico, Nelson Bellotti Júnior.
O empresário dirige a fabricante de cordas Polibel e já delineia planos com base nos dois primeiros meses de participação no projeto. A Polibel tem a intenção de lançar novos produtos e conquistar o mercado externo, por isso precisa de recursos financeiros.
Crédito mais barato
A expectativa que a Polibel deposita na força dos APLs, sobretudo para a obtenção de crédito mais barato, só vai encontrar ressonância se o nível de organização atingir a excelência exigida pelos principais financiadores da atividade produtiva brasileira. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) só financiará os Arranjos Produtivos Locais se os grupos forem capazes de ter representação jurídica formal.
Dos R$ 47 milhões de orçamento que o BNDES estima executar até o final deste ano, 65% deverão ser destinados às grandes empresas. Os APLs só terão oportunidade de ganhar quinhão se conseguirem se enquadrar no modelo que o BNDES entende como a maneira mais rápida e eficiente de transformar pequenos em grandes. Caso contrário, não resta alternativa senão disputar individualmente os 35% de recursos que o banco estatal costuma destinar aos empreendimentos de menor porte. Também o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal já manifestaram interesse pelos APLs do Grande ABC, mas precisam igualmente de garantia jurídica.
Os APLs do Grande ABC receberam aporte de R$ 1,7 milhão do Sebrae e contrapartida de R$ 100 mil da Agência de Desenvolvimento Econômico. O projeto pode ser contemplado ainda com US$ 1 milhão caso o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) avalie como satisfatórios os resultados da primeira etapa. A Agência espera ser contemplada com parte dos R$ 10 milhões que o governo paulista, também por meio do BID, deve aplicar em APLs em todo o Estado. Se conseguir mais recursos, novas cadeias poderão ser inseridas no processo.
Pólo no alvo
A necessidade de formatação jurídica para o acesso a crédito deixou de ser entrave para os produtores de cosméticos de Diadema. Depois de dois anos sob a tutela da Prefeitura, o grupo de empresas que também pode ser caracterizado como arranjo produtivo, ganhou vida própria sob a denominação de Pólo Brasileiro de Cosméticos e prepara projeto para solicitar ao BNDES o financiamento de Centro Tecnológico a partir do próximo ano. A iniciativa atende a necessidade de reduzir custos dos serviços de aprimoramento de produtos, análises e certificação e está conectada à recente promessa do BNDES.
Em visita à cidade, representantes do BNDES se impressionaram com o potencial da indústria local da beleza e acenaram com possibilidades de financiamento desde que a associação fosse formalizada. “Sem formato jurídico, com CNPJ e outros documentos exigidos nas transações financeiras, fica praticamente impossível pleitear ou receber verbas” — explica a diretora de comunicação do Pólo e gerente de marketing da Di Larouffe, Larissa Lopes da Mota. O Pólo ainda não definiu o valor que vai solicitar ao banco de fomento porque o projeto está em fase de execução e, entre detalhes relevantes, falta decidir o local que abrigará o Centro Tecnológico.
O Pólo Brasileiro de Cosméticos ganhou formato de Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), com diretoria formada por quatro empresários, um representante da Prefeitura e um do Ciesp local. A nova configuração não exclui a parceria do governo municipal, mas coloca as empresas à salvo dos humores políticos e da volatilidade das urnas. Até agora a participação em feiras setoriais era capitaneada pela Prefeitura, trabalho que passará a ser comandado pela nova diretoria. O calendário de 2005 já está praticamente definido e a previsão é repetir a participação na Cosmoprof e em feiras internacionais na Itália, Estados Unidos e Emirados Árabes.
O Pólo Brasileiro de Cosméticos é formado por mais de 100 empresas, 64 das quais já participam de alguma atividade associativa nas feiras, no grupo de compras ou de exportação. O conjunto é formado principalmente por pequenas e médias empresas e é considerado representativo porque abrange desde fornecedores de matéria-prima até fabricante do creme que chega às perfumarias e supermercados. Larissa da Mota considera que além do crédito, outro desafio é manter a mobilização do grupo por meio de participação cada vez mais qualificada.
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