O PIB da Província do Grande ABC de 2014 anunciado ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) praticamente alcançou a queda sugerida por mim há pouco mais de um mês. E uma queda e tanto: a perda de 4,52% em relação ao resultado de 2013, já com ajustes, significa metade do PIB de Mauá na temporada.
Não é pouca coisa. Principalmente porque mais uma vez foi atingido o coração econômico da região, São Bernardo. Os números só não são dramáticos para quem, como eu, já os esperava. Quando se antevê a queda de um avião sem combustível – e a Província do Grande ABC merece essa metáfora – qualquer coisa que não se configure um desastre é lucro. Não foi o caso do PIB de 2014. Como não serão os casos do PIB de 2015 e de 2016.
A situação registrada é muito mais grave que a do País naquela temporada. O Brasil cresceu 0,5% em 2014. Quando os dados de 2015 e 2016 forem divulgados oficialmente, no final deste ano e no final do ano que vem, a gravidade do quadro regional será ainda mais dramática. Afinal, o PIB Nacional caiu 3,8% em 2015 e deverá alcançar número semelhante nesta temporada.
Na edição de 21 de novembro passado antecipamos o desastre que coloca a região na pior situação econômica da história. Nunca fomos menos importantes ao conjunto da obra do PIB dos Municípios do Brasil. E olha que estamos caindo continuamente. Sem parar.
Alerta confirmado
Afirmamos na análise publicada três semanas atrás que poderíamos registrar queda entre 5% a 7%. Fundamentei concretamente a projeção com informações baseadas em vários indicadores econômicos. Não temos vocação à chutometria. Isso precisa ser dito e redito para que não confundam nosso jornalismo digital com jornalismo impresso e digital feito nas coxas, apenas para tapar espaço editorial.
Para que não confundam as bolas, reproduzo alguns trechos da matéria de novembro passado.
Em menos de 30 dias vai estourar uma bomba mais que prevista por esta revista digital. O PIB dos Municípios, uma formulação do IBGE (...) vai ser conhecido antes do Natal. Os dados referem-se a 2014. Naquele ano, o PIB Nacional cresceu 0,5%. O PIB desta Província em 2014 possivelmente não chegará a dois dígitos, em termos absolutos, não per capita, mas vai dar um mergulho e tanto. Fosse Londres, não uma Província, a bolsa de apostas sobre a queda seria disputadíssima. Quem quiser conhecer os estragos de 2015 e deste ano – que serão muito maiores que os de 2014 – vai ter de esperar. O PIB dos Municípios do ano passado só será anunciado no ano que vem. E o deste ano só aparecerá nos radares em 2018. É assim que funciona a máquina de atualização do governo federal quando se trata do comportamento da riqueza produzida por Município. (...) Como não sou economista e muito menos economista, não pretendo especificar numericamente o tamanho do rombo no casco do navio da Província na temporada de 2014. Poderia arriscar, mas não o faço. Posso garantir que vai ser um tranco terrível. Provavelmente acima de 5% e abaixo de 7%. Sugiro os dois percentuais apenas para que o leitor vá se preparando para o pior. Ou para o melhor, que seria o menos ruim.
Doença Holandesa Automotiva
Os sete municípios da Província do Grande ABC registraram em 2014 R$ 120.190.949 bilhões no PIB Municipal divulgado pelo IBGE. Em termos nominais, sem considerar a inflação de 2014 – 6,41% -- medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) o resultado é superior ao de 2013, quando, já com ajustes, chegou-se a R$118.294.049 bilhões. Entretanto, quando se aplica a correção inflacionária, aqueles valores de 2013 viram R$ 125.876.797 bilhões. É da comparação dos números deflacionados de 2013 e os valores de 2014 que decorre a perda do PIB dos Municípios da região.
Em valores monetários atualizados a dezembro de 2014, a Província do Grande ABC perdeu R$ 5.685.748 bilhões em relação à temporada anterior, de 2013. Como o PIB de Mauá em 2014 chegou a R$ 11.329.503 bilhões, a metade é um pouco menos, até, da quebra da produção da riqueza da região.
Vamos esmiuçar os dados da região e também do G-22, o grupo dos maiores municípios do Estado de São Paulo, exceto a Capital, nas próximas edições. Mas uma constatação salta aos olhos e não causa nenhuma surpresa para quem conhece a realidade histórica da economia da Província do Grande ABC: São Bernardo, a Capital Econômica da região, foi quem mais sofreu entre 2013 e 2014 (e quem mais vai sofrer nos anos seguintes) por causa da Doença Holandesa Automotiva, que consiste na dependência exagerada das montadoras e das autopeças.
Complicação em dobro
A queda de São Bernardo é praticamente o dobro da registrada pela região como um todo: 8,41%. Em 2013, sempre como ajustes do IBGE, São Bernardo apresentou PIB de R$ 48.789.309. Quando se aplica o IPCA, o valor correspondente a dezembro de 2014 como base de cálculo do resultado da temporada chega a R$ 51.916.703 bilhões.
Como São Bernardo registrou em 2014 PIB no valor de R$ 47.551.620 bilhões (portanto, apena um pouco acima do PIB de 2013 sem considerar a inflação) a queda real chegou a 8,41%. Esse resultado surge da aplicação da inflação no valor registrado em 2013 e da subsequente comparação com os números de 2014. Dos R$ 5.685.748 bilhões que desapareceram do PIB da Província do Grande ABC entre 2013 e 2014, nada menos que R$ 4.365.083 bilhões (ou 76% do total) se referem à derrocada de São Bernardo.
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