Economia

Rodoanel é cada vez mais
presente de grego regional

DANIEL LIMA - 20/12/2016

A Grande Osasco, que reúne oito municípios à Oeste da Região Metropolitana de São Paulo, segue a dar um show de bola econômico na Província do Grande ABC. O anúncio e a construção do trecho oeste do Rodoanel Mário Covas, inaugurado seis anos antes do trecho sul, que tangencia a Província do Grande ABC, e também muito antes do trecho leste, ainda mais distante do centro econômico da região, tornaram-se um divisor de águas. A realidade que projetamos há muito tempo com base em dados técnicos (como mostramos logo abaixo) é que o Rodoanel virou um presente de grego para quem mora na região. 

Entre os especialistas econômicos que medem cada decisão de alocação de recursos de investimentos considerando aspectos correlacionados à produtividade e à produtividade não há dúvida de que na maioria dos casos setoriais é muito melhor contar com empresas fora do eixo regional. E é o que se está dando a cada temporada, quando se anunciam os números do PIB (Produto Interno Bruto). 

O jogo entre Grande ABC e Grande Osasco tem se transformado em uma disputa entre time grande, que concorre ao título da temporada, e time pequeno, que luta para fugir do rebaixamento. 

Desde 2002, quando foi inaugurado o trecho oeste do Rodoanel, a economia da Grande Osasco supera para valer e sem dó a economia da Província do Grande ABC. Aquele que foi o último ano do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso apresentou a Província com superioridade de 23,81% sobre a Grande Osasco no medidor do PIB, que pode ser sintetizado como referência maior de produção de riqueza. 

Domínio expressivo 

O PIB da Província do Grande ABC, região de sete municípios e quase três milhões de habitantes, alcançou em valores nominais R$ 39.241.092 bilhões em 2002, ante R$ 29.902.890 bilhões de Osasco, Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba e Vargem Grande Paulista. Um G-8 dentro do G-39, que é a Região Metropolitana de São Paulo. 

Doze anos e três trechos depois do Rodoanel Mário Covas, o G-8 liderado por Osasco e também por Barueri passou a contar com PIB nominal (relativo a 2014, o mais atualizado) de R$ 138.382.863 bilhões. Nada menos que 13,15% acima do PIB da Província do Grande ABC, de R$ 120.188.959 bilhões. 

A diferença que passou a separar os dois territórios vizinhos pode ser medida pela velocidade dos números nominais, que não consideram a inflação do período. Os pouco mais de R$ 39 bilhões do PIB da Província em 2002, quando comparados aos pouco mais que os R$ 120 bilhões igualmente nominais de 2014, significaram 206,28% de crescimento. Já os quase R$ 30 bilhões da Grande Osasco em 2002 quando confrontados com os quase R$ 139 bilhões de 2014 representam crescimento nominal de 362,77%. 

O resumo dessa ópera é que a economia da Grande Osasco avançou sempre em termos nominais a velocidade 43,13% maior no período de 12 anos. Ou seja: a cada nova temporada, a Grande Osasco avança 3,60% a mais na velocidade de produzir riqueza em relação ao conjunto dos sete municípios da Província.

Mais derrotas 

Outra forma de constatar a gravidade da situação econômica da região em termos de produção de riqueza diante dos avanços da Grande Osasco é confrontar a participação dos dois territórios com o PIB Nacional naquelas duas temporadas. 

Em 2002, o PIB da Província equivalia a 2,632%% do total nacional, enquanto a Grande Osasco não passava de 2,005%. Como a Província não acompanhou o avanço mesmo que tímido do PIB Nacional, em 2014 o PIB da região registrou 2,029% de participação nacional. Já a Grande Osasco superou todas as expectativas: passou a contar com PIB equivalente a 2,506% do PIB Nacional. Ou seja: o que era superioridade de 23,82% no índice de participação nacional da Província no confronto com a Grande Osasco, em 2002, passou a ser vantagem do território vizinho, com Rodoanel mais competitivo, de 19,03%, em 2014. 

A reviravolta da Grande Osasco não é novidade aos leitores que acompanham nossa trajetória desde a revista LivreMercado. “Grande Osasco ameaça Osasco” foi o título da análise que publiquei na Livre Mercado de fevereiro de 2004 – portanto há quase 13 anos. 

Voltando ao passado 

Acho que vale a pena reproduzir alguns dos trechos do material entre outras razões para que todos entendam que, quando introduzi a necessidade de se produzir planejamento para tornar o trecho sul mais competitivo em favor da região (essa proposta está inserida no Observatório do Clube dos Prefeitos), o melhor que os chefes de Executivos da região têm a fazer é levar o assunto a sério.  Agora, leiam alguns dos trechos da análise de 13 anos atrás. O texto integral esta no acervo desta revista digital: 

 A Grande Osasco -- como podem ser chamados os oito municípios ao oeste da Região Metropolitana de São Paulo -- ameaça tomar o lugar do Grande ABC como maior polo econômico da Grande São Paulo, depois da Capital. Elaboramos estudo inédito sobre o comportamento econômico da Grande Osasco (G-8) em confronto com o Grande ABC (G-7) que vale a pena ser acompanhado. Decidi cruzar os dados porque há algum tempo escrevi sobre o deslocamento do eixo de investimentos industriais e de serviços de valor agregado em direção à Grande Osasco, beneficiada pela logística do primeiro trecho do Rodoanel. Antecipamos já há algum tempo que o Grande ABC poderia ver-se em maus lençóis não só por perder a disputa por novos negócios para o Interior mais apetrechado em vários quesitos como também para Osasco e municípios vizinhos, colados à Capital sem terem as mesmas dimensões dos atropelos da Capital. 

 Em 1995 o conjunto de sete municípios do Grande ABC acumulava 2,045 milhões de habitantes e R$ 17,6 bilhões de Valor Adicionado, ou seja, de transformação industrial que, em resumo, é a capacidade de geração de riqueza. Já a Grande Osasco de oito municípios contava com 1,455 milhão de habitantes e R$ 6,4 bilhões de Valor Adicionado. O Valor Adicionado do conjunto dos municípios do Grande ABC superava em 175% o do Grande Osasco. Um show de bola que, sem dúvida, colocava a região oeste na condição de capitalismo de terceira categoria na hierarquia da Região Metropolitana de São Paulo. Sete anos depois, em 2002, os números são extraordinariamente diferentes como consequência de dois movimentos contrastantes. O primeiro de descentralização da indústria automotiva e de abertura econômica desajuizada no setor que é nuclear à economia do Grande ABC, e o segundo de movimentação acelerada de empreendimentos incentivados pelas vantagens de perspectivas e depois de fato do trecho oeste do Rodoanel, que corta Osasco e também passa por outros municípios daquela região. Vejam o que aconteceu: a população do Grande ABC em 2002 atingiu a 2,354 milhões de habitantes e o Valor Adicionado saltou para R$ 26,4 bilhões, com variação nominal de 50,22%, isto é, sem considerar a inflação do período de sete anos. Já a população da Grande Osasco saltou para 1,881 milhão de habitantes e o Valor Adicionado atingiu R$ 17,1 bilhões, com variação nominal de 166,26%. Isso mesmo: enquanto o Grande ABC patinou num período em que o índice inflacionário registrado pelo IGPM da Fundação Getúlio Vargas apontou 118,69%, a Grande Osasco conseguiu a proeza de superar todos os obstáculos de desgaste da moeda, fortemente pressionada pela valorização do dólar. 

 A virada da biruta de negócios aproximou mais do que se imagina o Grande ABC e a Grande Osasco na numerologia. A vantagem de 175% do G-7 registrada em 1995 caiu para 54% em 2002. Desapareceram 121% em sete anos, ou seja, 17,28% eliminados por ano. Nessa toada, em pouco mais de três anos a Grande Osasco terá ultrapassado o Grande ABC na indústria de transformação, motor de desenvolvimento econômico.  A conta é simples: a velocidade média anual de crescimento do Valor Adicionado nominal da Grande Osasco durante os sete anos pesquisados foi de 23,75%, contra 7,17% do Grande ABC, resultado, respectivos, dos 166,26% acumulados pelo G-8 e dos 50,22% pelo G-7.

Mais análises 

Em muitas outras análises acompanhei o ritmo de desenvolvimento econômico dessas duas áreas da Região Metropolitana de São Paulo. Assim como o fiz com tantos outros territórios. Leiam alguns trechos da matéria que publiquei nesta revista digital em agosto de 2010 sob o título “Grande Osasco supera Grande ABC na geração de riqueza por habitante”: 

 Quando o Plano Real foi implantado em 1994 o Grande ABC de sete municípios era 52% superior à Grande Osasco de oito municípios na geração de riqueza por habitante. Quinze anos depois, em dezembro de 2009, a situação é completamente diferente. Confirma-se, portanto, o que cansei de projetar nas páginas da revista LivreMercado e na newsletter CapitalSocial Online ao longo da primeira década deste século. Agora a Grande Osasco está 21,03% à frente do Grande ABC na geração per capita de riqueza produtiva, como é definido o Valor Adicionado, principal indicador na composição do PIB (Produto Interno Bruto). O crescimento da Grande Osasco deu-se entre vários pontos por conta de migração de investimentos do Grande ABC àquela região, na esteira da implementação do trecho oeste do Rodoanel. O trecho sul só chegou este ano aos sete municípios locais — e mesmo assim sem o potencial de transformações que os mais afoitos apontaram. Também a política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso, que descentralizou a produção automotiva, golpeou a região durante larga parte dos anos 1990 até a chegada de Lula da Silva a Brasília. 

 Os 21,03% superiores da Grande Osasco sobre o Grande ABC em 2009 são um chute na canela de quem desprezou os efeitos colaterais do trecho oeste do Rodoanel e da saraivada de tiros no corpo automotivo regional. Quando o Grande ABC perdeu a batalha política para iniciar as obras do Rodoanel pelo território regional no final dos anos 1990, estava assinando atestado de incompetência diplomática junto ao governo do Estado. Acreditar que a chegada do trecho sul de 61 quilômetros de extensão vai corrigir a história desenvolvimentista do Grande ABC é raciocinar sob bases excessivamente frouxas. Primeiro porque o Grande ABC não dispõe de vastidão de áreas competitivas para atividades econômicas que obscureçam as vantagens relativas de outros municípios do Estado, principalmente da chamada São Paulo Expandida, também beneficiados pela proximidade do Rodoanel. Segundo porque o trecho sul tem baixa inserção econômica na estrutura regional. Afinal, só conta com três alças de acesso — Imigrantes, Anchieta e em Mauá — e mesmo assim distantes da maioria de empreendimentos industriais que poderiam manter maior integração logística. Na Grande Osasco a inserção do trecho oeste do Rodoanel é mais integrativa, com inúmeros acessos. O caos logístico interno do Grande ABC, de ruas e avenidas acanhadas, interpõe-se à necessária redução de tempo e de custos de operações veiculares. Os terrenos disponíveis na Grande Osasco estão mais próximos e menos embaralhados em relação ao trecho oeste do Rodoanel do que operação semelhante no trecho sul que está nos extremos de Diadema, São Bernardo, Santo André e num traçado excessivamente especulativo do Polo de Sertãozinho, em Mauá. 

 Não estaria o Grande ABC vivendo o paradoxo que apontamos já há muito tempo? Que tipo de paradoxo? O possível destino de na prática o trecho sul do Rodoanel apresentar peso menor no estímulo à produção de riqueza local e maior na evasão industrial? Pesariam nesse sentido as vantagens comparativas de empresas que poderiam deslocar produção a áreas menos onerosas quando se contabilizam vantagens e custos de estar no Grande ABC? Afinal, a proximidade do Porto de Santos, que, de fato, era uma vantagem competitiva do Grande ABC sem o trecho sul do Rodoanel, acabou tornando-se mais democrática para empreendedores de outras geografias, beneficiados pelo traçado. (...) Até quando permaneceremos com a institucionalidade em frangalhos? 



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