Quem imaginou que a Província do Grande ABC havia chegado ao fundo do poço do valiosíssimo emprego industrial com carteira assinada no último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, deu com a cara do otimismo na porta da realidade cruel. Mesmo ao faltar dezembro para ser contabilizado (os dados serão divulgados até o dia 25 deste mês pelo IBGE), a região rebaixou além daquele nível o estoque de assalariados no setor mais disseminador de riqueza. Trocando em miúdos: após 14 anos, a região registra exército ainda mais debilitado de trabalhadores industriais quando se compara o resultado atual com o final do governo tucano.
O balanço negativo deve ser debitado ao vermelho do Partido dos Trabalhadores. Dilma Rousseff tem tudo a ver com isso. Nem poderia ser diferente. Ela foi um desastre – também -- na condução da política econômica do País. Consideramos o ano de 2016 como inteiramente petista, apesar do afastamento da presidente em maio. É que os efeitos do desastre econômico não se dissiparam. Mais que isso: houve até alguma melhora desde então. Os estragos anualizados quando Dilma Rousseff foi tirada do cargo projetavam números bem piores no mercado de trabalho.
Já chega ao total de 62.066 os trabalhadores com carteira assinada demitidos durante os últimos cinco anos petistas na Presidência da República. O resultado transformou em pó os 60.247 empregos industriais gerados nos oito anos de Lula da Silva e no primeiro ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Isso quer dizer que são 1.819 postos de trabalho do setor o déficit em relação ao estoque deixado por Fernando Henrique Cardoso.
Mais perdas com FHC
Quando os números de dezembro forem revelados é possível que o buraco petista chegue próximo a cinco mil empregos industriais formais no confronto com dezembro de 2002 de Fernando Henrique Cardoso. Entretanto, para que o ex-presidente tucano seja superado na destruição de empregos na região seria preciso alcançar 81.327 postos de trabalho. Esse foi o total de empregos destruídos durante os oito anos de FHC a partir de janeiro de 1995.
A diferença ainda é favorável aos petistas e poderá se aproximar de 15 mil trabalhadores (saldo entre contratações e demissões) quando forem conhecidos os dados de dezembro do ano passado. Há com o governo do peemedebista Michel Temer perspectiva de melhora em diversos indicadores econômicos. No caso de empregos formais, há projeção de novas demissões líquidas mas, como nos últimos meses, em ritmo menos acelerado em relação à média mensal do governo de Dilma Rousseff.
Havia na Província do Grande ABC em dezembro de 1994 nada menos que 276.660 empregos industriais com carteira assinada. Essa é a base da estatística que envolve o governo de Fernando Henrique Cardoso, eleito naquele ano e que assumiu a presidência em janeiro de 1995. Em dezembro de 2002, portanto oito anos depois, Fernando Henrique Cardoso e sua política de abertura desregrada do mercado de autopeças, em contraposição ao protecionismo às montadoras de veículos, deixou um estoque de 195.333 empregos industriais – ou seja, uma quebra de 81.327 postos de trabalho.
Pentacampeonato de perdas
Nos oito anos do governo Lula da Silva (entre 2003 e 2010) e o primeiro ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011), a Província do Grande ABC chegou a recuperar 60.247 pontos de trabalho perdidos durante o governo FHC. O estoque regional então passou a ser de 255.580. Mas aí vieram 2012, 2013, 2014, 2015 e quase que integralmente 2016. Os 62.066 empregos industriais destruídos nesse período marcam espécie de pentacampeonato de infortúnio do trabalhador industrial da região.
Em 2012 o total de demissões alcançou 6.987 trabalhadores. Em 2013 caiu para 1.687. Voltou a subir – e a subir muito – em 2014, quando o PIB Nacional cresceu apenas 0,5% e o PIB da Província começou a despencar. Foram 15.093 trabalhadores demitidos quando se comparam admissões e demissões naquele ano.
Continuando o roteiro de perdas, em 2015, quando o PIB Nacional caiu 3,8% e o PIB da Província, movido à indústria automotiva, muito mais, a quebra foi de 24.495 postos de trabalho na região. Em 2016, ainda sem contabilizar dezembro, a região sofreu perda líquida de 13.819 empregos industriais com carteira assinada. Dessa forma, o estoque atualizado em novembro passou a registrar 193.514 trabalhadores. Menos, portanto, que na entrega da presidência de Fernando Henrique Cardoso a Lula da Silva em primeiro de janeiro de 2003.
Com Fernando Henrique Cardoso e seus oito anos de presidência da República a Província do Grande ABC perdeu em média por ano 10.166 postos de trabalho industrial. Ou 847,15 empregos a cada 30 dias. Já durante os 165 meses (quase 14 anos) dos petistas Lula da Silva e Dilma Rousseff foram destruídos em média por mês 376 postos de trabalho.
Perdendo o bonde
Aparentemente e apesar de tudo os petistas se deram melhor que os tucanos na gestão do emprego industrial com carteira assinada quando a Província do Grande ABC é o referencial. A constatação parece irretocável, mas há condicionantes que se não alteram o sentido estatístico contribuem para contextualizar diferença tão acentuada.
A melhor explicação comporta várias explicações. A principal é que o governo Lula da Silva e tantos outros governos de países produtores de commodities contaram com o fator-China como aliado para aumentar consideravelmente as receitas de exportação e, com isso, introduzir políticas econômicas voltadas ao consumo interno.
Entretanto, como o mesmo governo Lula da Silva não fez a lição de casa de organizar o País para gerar riqueza, sem a qual não há política de consumo que resista, a derrocada não demorou. A bomba relógio caiu no colo de Dilma Rousseff. O legado explosivo entregue ao vice-presidente Michel Temer logo após o impeachment da presidente não poderia ser pior.
O Brasil vive a maior recessão em quase um século. Por isso no balanço do desemprego industrial da região vinculamos os números de 2016 ao governo petista. A situação teria se agravado provavelmente de forma incontrolável sem que houvesse a troca forçada de presidente.
Se o balanço do emprego industrial formal é desfavorável a Fernando Henrique Cardoso, há atenuante que o favorece destacadamente: ele deixou o País macroeconomicamente arrumadíssimo para o sucessor Lula da Silva. A economia da Província já chegara ao que se imaginava fundo do poço e dava sinais de reação.
Uma situação antagônica à atual, entregue pelos petistas. O Brasil vem de duas quedas consecutivas do PIB, em 2015 e 2016, após crescer mísero 0,5% em 2014, e há indicativos de que dificilmente superará a marca de 0,6% de avanço nesta temporada.
Cestari projetou resultado
Para completar, não custa lembrar que na edição de 19 de novembro de 2015 desta revista digital entrevistamos o empresário e médio Fausto Cestari, destacado dirigente do Ciesp de Santo André e do conglomerado Fiesp/Ciesp. Perguntamos a ele sobre a possibilidade de o saldo líquido de empregos formais no setor industrial deixado por Lula da Silva ser dinamitado por Dilma Rousseff, conforme sugeria o andar da carruagem. Vejam o que ele respondeu:
“Não tenho duvidas de que vamos consumir todo o estoque e ainda entrar no cheque especial. Se considerarmos que só na Mercedes Benz temos 2000 empregos acima do necessário, que não há perspectiva de retomada de crescimento pelos próximos dois anos ou mais, que cada emprego na montadora gera em média 10 outras vagas na economia, esta conta já chega perto de 20.000 vagas. Vamos somar a essa conta o excesso nas demais montadoras regionais. Vamos adicionar o impacto no emprego formal com a desoneração das folhas de pagamento e os custos adicionais ao emprego doméstico. (...). Lembro que estamos falando somente da indústria e sem perspectiva de melhora no horizonte pelos próximos 18 meses. Estamos diante de um momento muito difícil, que requer mobilização de todos na busca de soluções urgentes. Por isso, encerro esta entrevista com um grito de alerta e de providências imediatas -- Reage ABC” -- afirmou Fausto Cestari.
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22/11/2024 SÍNDROME DA CHINA AMEAÇA GRANDE ABC