Economia

Trator na CTBC

DANIEL LIMA - 05/05/1997

Não adianta espernear. A notícia é desagradável, mas a CTBC, Companhia Telefônica da Borda do Campo, uma das vacas sagradas do regionalismo do Grande ABC, está com os dias contados para ser privatizada. A queda do presidente Ademir Spadafora, executivo que personalizava a cultura da empresa e o orgulho do Grande ABC à frente da companhia é o primeiro estágio da transferência da CTBC para o acervo da Telesp, que será seguido pelo arremate de mega-corporações. Daí em diante, o que se terá provavelmente seja um modelo de privatização cultural com a região.

A volta à origem não guarda qualquer relação com os tempos quase românticos de meados da década de anos 50, quando grupo de empresários ligados ao Rotary Clube de Santo André, irritados com a ineficiência da Companhia Telefônica Brasileira, empresa canadense que detinha a concessão da área, resolveu criar a CTBC. O que se descortina para os próximos tempos é um jogo para profissionais que transformam grandes investimentos em lucrativos negócios.

Telecomunicações viraram sinônimo mais apurado de poder, de domínio de informações, de compactação de espaço, de miniaturização do planeta. E a CTBC, única companhia regional sob domínio do Estado, no caso da Telesp, Telecomunicações de São Paulo, que detém a maior parte de suas ações ordinárias (com direito a voto) e da Telebrás, a holding que controla o setor no País, está inserida no contexto de privatizações em massa.

A queda de Ademir Spadafora e de três dos quatro diretores técnicos não guarda relação mais intestina com privatização como a que deverá se consumar no ano que vem. Seria superestimar o governo federal imaginar planejamento de tão longo prazo. Pesou mesmo para a rasteira diretiva às vésperas de 1º de maio o que mais o Estado sabe produzir: engenharia político-partidária para manter o jogo do poder sob controle nas votações do Congresso Nacional. Se vai dar certo é outra história, mas que o trator do Ministério das Comunicações passou pela Avenida Portugal na noite em que a assembléia geral de acionistas — diga-se Telesp e Telebrás — pegou Spadafora de calças curtas, disso não se pode duvidar. Tanto que o único executivo que sobrou, Dellinger Mendes, que ocupa a diretoria econômico-financeira, é profissional de confiança do ministro Sérgio Motta.

Ademir Spadafora perdeu a presidência e provavelmente até se afaste da empresa em que construiu brilhante carreira de 35 anos porque a recomposição de forças de sustentação do governo Fernando Henrique Cardoso não leva em conta nem a eficiência administrativa numa estatal e muito menos a representatividade política da região, que, como se sabe, é reduzida em quantidade e esforçada em qualidade.

A abstenção do petebista Duílio Pisaneschi na votação para aprovar a emenda da reeleição de Fernando Henrique Cardoso teria sido a gota d’água que transbordou o copo de paciência do ministro. Quem entende que já se passaram alguns meses desde que Pisaneschi preferiu enfrentar a irritação do governo a avaliar a candidatura de Celso Daniel à Prefeitura de Santo André, possivelmente adiando por mais quatro anos o sonho de virar prefeito, subestima a resistência da mágoa do ministro e desconsidera que Pisaneschi fora a ponte que alçou Spadafora à presidência.

Os outros três executivos que caíram também tinham sustentação política de deputados. Mas igualmente tombaram nesse jogo de xadrez político-eleitoral. O xeque-mate não poupou João Batista Serroni de Oliva, diretor de Serviços de Telecomunicações, Ézio Barbosa Cintra, diretor de Engenharia, e Paulo Vieira de Souza, diretor administrativo.

Os novos executivos chegam com a missão de preparar o terreno de incorporação da CTBC pela Telesp, de modo a descomplicar todos os trâmites técnico-financeiros da privatização iminente. A área vital do setor de telecomunicações, a diretoria de engenharia, já foi encampada pela Telesp através de Flávio Mariotti Vasconcelos, há 24 anos no Sistema Telebrás e que acumula os cargos. Romeu Grandinetti Filho, que exercia a vice-presidência da Telesp desde agosto de 1995, é o novo presidente. Edmar Carlos Jorge de Moraes é o novo diretor administrativo e Antonio Lúcio Pires de Souza o diretor de Serviços, além de Dillinger Mendes, mantido na área econômico-financeira.

Relacionar a queda de Ademir Spadafora a eventual incompatibilidade de linguagem privativa com o Ministério das Comunicações seria algo como procurar fantasmas. Se até recentemente o assunto era tabu na CTBC, com diretores e funcionários evitando até pronunciar o termo, ultimamente a palavra privatização é utilizada em todos os tempos e sentidos. Ademir Spadafora, que ficou 36 meses no cargo, tinha consciência de que não corria nenhum risco político, inerente a quem administra organização pública, se fizesse incursões conceituais sobre o assunto.

Privatização passou a ser favas contadas na CTBC. A grande dúvida é outra: como se processará a gestão da empresa pela livre iniciativa? O risco que o Grande ABC corre e que precisa começar a compreender, e daí promover eventuais mobilizações, está na grande possibilidade de a CTBC transformar-se num naco importante mas complementar do filé mignon de telecomunicações da Região Metropolitana de São Paulo, arrematada suplementarmente junto com a Telesp por um dos megaconsórcios que estão se preparando para mudar a história do setor no País.

A tradução de tudo isso é que a CTBC poderá ser privatizada de uma forma que talvez não corresponda às expectativas de controle histórico do Grande ABC. Seria apenas uma porção de uma megacompanhia que substituiria a estatal Telesp, provavelmente como espécie de unidade operacional.

Protagonista de movimentos históricos de valorização da auto-estima regional, a transferência pura e simples da CTBC para um grupo privado que lhe dedique a mesma desatenção dos tempos em que a Telesp resolveu eliminar a diretoria regional seria a pior das soluções para o Grande ABC. A presença do advogado Ademir Spadafora na presidência da empresa há quase três anos, fruto de negociações políticas em São Paulo e em Brasília, reconquistou o orgulho regional.

Afinal, Spadafora tem fortes ligações profissionais e pessoais com a região, é funcionário de carreira e conhece muito bem a empresa. Enfim, exprime o regionalismo tão agregado à Companhia. Diferentemente, portanto, de seus antecessores imediatos, a partir da Nova República, em 1985. Nei Marques de Fontes, cunhado de Ulysses Guimarães, era tão boa-praça e fazedor de amigos quanto pouco versado no setor. Horácio Grobman mal esquentou a cadeira. Ex-executivo da Cofap mas estranho à realidade regional, ele deixou o cargo sob suspeitas de desvios prontamente abafados. Entre um e outro, uma desastrosa intervenção da Telesp, que eliminou a diretoria regional numa primeira etapa e em seguida introduziu o cargo de superintendente.

Max Hamers de Aragão Lisboa, Vitor Fioravante e Luiz Carlos Emmendoefer ocuparam o posto em ritmo de rodízio de churrascaria, num vapt-vupt próprio de quem, no caso a Telesp, não cultivava muito interesse em fortalecer o cargo. Tanto que não tiveram qualquer influência nos planos estratégicos da empresa. Entre os três, apenas Emmendoefer tem história na CTBC, como funcionário de carreira que, entretanto, acabou demitido no dia seguinte à posse dos novos dirigentes.

Liberto de eventuais contratempos vindos de Brasília, Ademir Spadafora surpreendeu quem conhece sua capacidade de esgrimir as palavras sem comprometer-se ao elencar, no recém-editado livro que conta os 43 anos de atividades da Companhia, algumas frases até então só reservadas aos amigos mais próximos: “A CTBC, a partir da fundação, em 1954, até a passagem do controle acionário à Telesp, em 1973, viveu período patronal. Na sequência, passou à fase profissional mantida até 1985. Daí para frente entrou no período político, de reduzida expansão, que perdurou cinco anos. Em 1990, quando então perdeu a autonomia, chegou à estagnação. A essa altura, a intenção do governo de incorporar a empresa à Telesp teve maior ímpeto do que na primeira tentativa, ocorrida entre 1985 e 1986. A sociedade, em suas manifestações públicas, nas defesas promovidas pela Associação Comercial e Rotary, garantiu a integridade, porém não a infiltração gerencial: chefias da Telesp assumiram na CTBC e vice-versa. O quadro se manteve até 1992. A mudança começou gradual em 1993″ — analisa Spadafora à página 12 do livro Nova Era, resumindo em poucas frases os diferentes períodos político-administrativos que marcaram a condução da empresa.

No mesmo dia em que os novos diretores aguardavam mensagem de Brasília para tomar posse, Ademir Spadafora promovia rápida limpeza em seu gabinete de trabalho, retirando pertences pessoais em intervalos intermitentes de telefonemas e visitas pessoais de solidariedade. Parecia não acreditar no que estava vivendo. Mesmo os dois adiamentos da assembléia que o decapitou, inicialmente marcada para os dias 14 e 18, foram interpretados como formalidades. Não havia o menor sinal de jogadas políticas preparavam-lhe a cama. Torcia agora para que houvesse reação da sociedade organizada, principalmente de lideranças empresariais, mas o golpe inesperado colheu a todos igualmente estupefatos.

Por isso, o desagravo da região ficou adiado para o próximo dia 15, quando Ademir Spadafora vai receber o Prêmio de Empresário do Ano conferido pela Associação Comercial e Industrial de Santo André (Acisa) e a ele comunicado ainda quando ocupava a presidência. A festa, que também homenageará a Pirelli e a Casa do Escapamento, acontecerá no Aramaçan. Quando se programou o evento, o presidente da Acisa, Saul Gelman, jamais imaginou que o Aramaçan teria sua noite de Vila Euclides, estádio de futebol de São Bernardo que acolheu os protestos históricos dos metalúrgicos comandados pelo até então desconhecido Lula.

Talvez seja pouco para o desempenho de Ademir Spadafora à frente da CTBC e também para o bofetão político que atingiu as faces do Grande ABC. Mas é o que de concreto se pode promover contra o cíclico desprezo do Poder Público central a um território eleitoral numericamente superior a mais da metade dos Estados brasileiros, mas que por força de manipulações de velhos caciques políticos, tem peso praticamente nulo na contabilidade congressual.

Quando Ademir Spadafora se referiu, no livro Nova Era, ao período profissional refere-se ao comando de Arno Traeger, executivo sem vínculos políticos. Daí em diante, a CTBC passou a ser moeda de troca política durante os governos de José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco. Com isso, sofreu os duros solavancos de gestões mais compromissadas com os critérios subalternos ditados pela Telesp. Com Fernando Henrique Cardoso e, principalmente, o ministro Sérgio Motta, iniciou-se nova etapa, de vistas postas na privatização. Os esforços de uma presidência que detivesse conhecimentos mais profundos sobre a empresa determinaram a escolha de Ademir Spadafora, naturalmente escorado por negociações políticas nas quais o nome do deputado federal Duílio Pisaneschi sempre aparece como anjo da guarda.

Para quem conhece o mínimo da cultura da CTBC e do orgulho que a empresa representa para importantes expressões políticas, econômicas e sociais, o depoimento de Ademir Spadafora no livro comemorativo provavelmente foi sintomático de quem espera que a privatização iminente não tire a autonomia administrativa da CTBC. Mas como isso será possível se o novo modelo de telecomunicações que está chegando não veste a camisa-de-força de injunções regionais e políticas, e está protegido pela argamassa geralmente insensível da globalização de investimentos?

Os megaconsórcios vêem as quatro macro-regiões em que provavelmente será dividido o País para a formação de novas concessionárias do setor não com os olhos voltados a eventual respeito e reverência às culturas locais, mas exclusivamente à contabilidade fria da rentabilidade do negócio. Isto quer dizer que a CTBC certamente será mais eficiente sob o controle privado, porque não há nada que renda menos do que empresas estatais, mesmo as enxutas e bem-administradas como tem sido a CTBC nos últimos anos. Mas certamente passará a ser simples endereço regional de um grande conglomerado decidido a obter densos lucros do capital investido, regra do capitalismo que tem o suporte de eficiência.

Perder o controle da CTBC desde já não é assunto agradável para a região nestes tempos de grandes transformações político-administrativas e institucionais. Os sete prefeitos nunca estiveram tão interessados em integração regional como agora. O governo do Estado jamais demonstrou tanto apetite em compartilhar as dificuldades locais e de caçar soluções conjuntas. A formação da Câmara Regional é prova disso. O Fórum da Cidadania, bem-aventurada conjunção de dezenas de organizações sócio-econômicas que iniciou toda essa revolução, certamente se chocaria com essa baixa. Tudo isso, é verdade, merece demorada reflexão, mas por si só não alterará o rumo dos acontecimentos.

Talvez a única saída seja uma campanha regional de estímulo a que importantes empresas sediadas no Grande ABC integrem o consórcio que arrematará a Telesp e a CTBC e que passará a ter o controle das telecomunicações na Região Metropolitana de São Paulo e no restante do Estado. A Pirelli, indústria de Santo André tão tradicional quanto a própria CTBC, já demonstrou interesse de integrar um dos consórcios para explorar a Banda B da telefonia celular da Região Metropolitana de São Paulo. Desistiu, mas isso não significa que esteja fora da privatização da CTBC.

A princípio, é difícil imaginar que as montadoras de veículos, outras vacas sagradas do desenvolvimento econômico da região, se interessem pelo processo de privatização com pitada regional do setor de telecomunicações da Região Metropolitana e do Estado de São Paulo, simplesmente porque fabricam carros. Diferente da Pirelli, que está investindo milhões de dólares numa nova fábrica de fibra óptica localizada em Sorocaba e que centralizou em Santo André todo seu exército de executivos, os quais traçam os caminhos a serem seguidos.

Só não se pode acreditar que haverá recuo na política de privatização das 28 companhias de telecomunicações do País. Por melhores que tenham sido os resultados da CTBC e da Telebrás nos últimos anos, a venda do conjunto de empresas é tão certa quanto o sol depois da lua. Privatizar as empresas de telecomunicações e criar um órgão regulador independente são ações básicas — na opinião do secretário-executivo das Comunicações, Renato Navarro Guerreiro — para alcançar a reestruturação do setor, eliminando definitivamente a atuação do Estado como empresário para fortalecer seu papel disciplinador.

O que o governo federal quer é, também, aumentar e melhorar a oferta de serviços num ambiente competitivo, criar oportunidades atraentes de investimento tecnológico e industrial e estabelecer condições para que o desenvolvimento do setor seja harmônico com as metas de desenvolvimento social do Estado.

O que de certa forma tranquiliza os bons profissionais das empresas estatais de telecomunicações, CTBC incluída, é a qualidade técnica de que dispõem. A privatização deverá provocar leilões que valorizarão os melhores técnicos. A CTBC já perdeu vários deles nos últimos tempos para empresas prestadoras de serviços na área. Outros 100 acabaram demitidos no processo de reorganização pelo qual passa a empresa, preparando-se para a privatização. Três consultorias de perfis complementares estão passando a CTBC a limpo.

O presidente Ademir Spadafora garante que a operação longe está de se assemelhar a uma faxina dos Recursos Humanos, como poderiam sugerir os 24 anos de estatização. Ele sustenta que as mais de duas décadas não retiraram do corpo administrativo e técnico a característica original de empresa privada. As crises teriam ficado restritas aos embates políticos que marcaram a performance diretiva. Mas a reestruturação se apresenta como inerente à empresa estatal e monopolista, que precisa se preparar para a competitividade da privatização sem reserva de mercado.

A gestão de Ademir Spadafora, iniciada em outubro de 1994, consagrou o argumento de regionalização administrativa da CTBC no figurino estatal. Isso pode eventualmente pesar num regime que leve em conta que o arremate do pacote Telesp – CTBC talvez não implique necessariamente num controle administrativo centralizado integralmente na Capital. Aliás, a tendência internacional de descentralizar o gerenciamento das empresas serve de embalo para quem sonha com a integridade regional da CTBC.

A diferença entre a CTBC de agora e a privatizada, se esse conceito for respeitado, poderia ser de denominação do cargo do executivo principal da empresa. Em vez de presidente, passaria a ser espécie de controller da operação. As demais diretorias provavelmente desapareceriam do organograma da CTBC. De qualquer forma, essa otimista alternativa não deve esconder o complemento da descentralização de gestão que daria à direção central exclusividade nas tomadas de decisões estratégicas. Em suma, o adeus a Ademir Spadafora tem duplo sentido, porque também serviria para o Grande ABC.

Estar no front do mercado usuário ou consumidor é regra básica do sucesso. Exatamente por viver na comunidade atendida pela empresa, Ademir Spadafora executou como prioridade, ao assumir o cargo, um plano de atendimento da demanda altamente reprimida, sem perder de vista a perspectiva de que o monopólio estatal do setor estava com os dias contados. Em 1995, a CTBC contratou 77,3 mil novos terminais telefônicos em parceria com a iniciativa privada e instalou 20 mil novos telefones, ampliando a planta de 380 mil para 400 mil terminais. Além disso, implementou a comercialização dos serviços Datafone 64, Bina, Videoconferência, facilidades CPA, 0800, 0900, CPCT em condomínio e outros serviços de utilidade pública.

O ano de 1996 foi mais pródigo. Foram contratados mais 90 mil terminais telefônicos, também em parceria com a livre-iniciativa, e instalados mais 100 mil novos telefones, ampliando a planta de 400 mil para 500 mil. Um crescimento de 25%, que alça a 16% a densidade de telefones na área. É número modesto perto dos 68,67% da Suécia, que lidera o ranking mundial, ou mesmo da França, com 54,73%, Bélgica, com 45,74%, e Eslovênia, com 28,82%. Mas é próximo do Uruguai, com 18,36%, e bastante superior à média brasileira, de 10,55%. Até mesmo a situação de desvantagem internacional, que de resto prevalece em todos os Municípios e regiões brasileiras, oferece o outro lado da moeda para os megainvestidores em telecomunicações, como os da indústria automotiva, igualmente defasada na relação veículos/população: há todo um mercado a ser conquistado.

A CTBC também desenvolveu projeto singular, pioneiro no Brasil, de construção de rede de acesso em fibra óptica para atendimento direto ao assinante, cuja ampliação está prevista para este ano. A telefonia celular também foi ampliada, chegando-se a 50 mil aparelhos habilitados. É muito menos que a demanda de 350 mil interessados, mas esse tropeço não pode ser creditado à atual diretoria. Em matéria de telefone celular, a Telesp é quem manda na área de concessão de telefone convencional da CTBC. O convênio, que reserva 50% das receitas para a CTBC, foi assinado pelo presidente da Telesp no período em que respondia pela presidência cumulativa da CTBC. Aos desavisados, 50% do faturamento sem a responsabilidade de instalação e manutenção do sistema significam bela fatia desse próspero serviço. A perda da autonomia para gerir esse negócio pode ser dimensionada nos números que revelam que o peso da receita advinda da telefonia celular no balanço da CTBC é de apenas um terço do que a Telesp contabiliza.

Mesmo com a sangria da telefonia celular, intervenção arbitrária no mercado da CTBC que passou despercebida das lideranças regionais sempre vigilantes, a empresa conseguiu encerrar o exercício do ano passado com lucro líquido de R$ 55 milhões. As ações da empresa, negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, alcançaram vertiginosa alta de 148% em relação ao exercício de 1995, atingindo valorização de R$ 409,00 por lote de mil ações, enquanto seu valor patrimonial ficou em R$ 422,08 por lote de mil ações. Em abril deste ano, a cotação das ações da empresa continuava em alta, atingindo valorização de R$ 589,00 por lote de mil ações.

Mercadologicamente, a CTBC é negócio apetitoso porque atua em área tipicamente urbana em 17 dos 18 Municípios atendidos, no Grande ABC e na Grande Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo. A operadora vai aplicar este ano em telefonia convencional 79% do total de investimentos de R$ 200 milhões autorizados pelo governo, montante superior a 160% em relação ao liberado no ano passado. Os restantes 21% atenderão à expansão e implantação de processos operacionais, dados, sistemas especiais e de apoio.

A administração Spadafora prevê a instalação, este ano, de mais 150 mil novos telefones, representando crescimento de 30% em toda a área, o que elevaria a planta de 500 mil para 650 mil telefones instalados. Uma nova expansão deverá ser contratada até julho próximo, agregando mais 160 mil telefones, com recursos próprios. Outros 250 mil telefones estão na alça de mira para dezembro. Esses volumes garantirão à CTBC um milhão de telefones instalados na virada do século. É possível que a privatização prevista para o ano que vem venha a alterar esses números, porque a prioridade poderá passar para a telefonia celular. De qualquer forma, a marca de um milhão de telefones, convencionais ou não, seria alcançada, desde que o novo comando diretivo não altere o cronograma e os investimentos.

Também neste ano será ampliada a planta de telefones públicos, com mais cinco mil aparelhos, totalizando 15 mil. A previsão acopla a substituição de modelos moedeiros para os mais avançados a cartão indutivo. Modernização tecnológica passou a ser dogma na empresa. Tanto que concluiu a contratação das redes estatística e determinística. Isso permite, desde abril último, a oferta de novos serviços, principalmente para os segmentos de indústrias, comércio e serviços. Essas redes possibilitam facilidades para transmissão de dados em alta velocidade, com custos menores e atendendo a toda a gama de protocolos de interligação de redes. Nada melhor para empresas que competem internacionalmente num mundo globalizado.

A concepção de centrais telefônicas também foi alterada pelo corpo técnico da CTBC. Todas as novas centrais estão sendo adquiridas na tecnologia digital temporal e, no decorrer do ano que vem, deverão estar contratadas todas as substituições das centrais analógicas. Com isso, a plataforma de comutação será integralmente digital antes do final do século. Conforme determinam a modernidade e o mercado. A diferença tecnológica e de desempenho entre o analógico e o digital pode ser comparada, para melhor entendimento, entre um veículo popular de mil cilindradas e um desses bólidos de Fórmula 1. A construção de redes de acesso também foi modificada.

Alguns números confirmam o vigor financeiro da empresa. A receita operacional líquida cresceu 61,68%, saltando de R$ 171,7 milhões em 1995 para R$ 277,7 milhões no exercício seguinte. O patrimônio líquido passou de R$ 710,2 milhões para R$ 763,3 milhões, situando a empresa em 9º lugar no ranking nacional do setor.



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