Cada página da revista LivreMercado editada por este jornalista reúne simbolicamente a mesma responsabilidade da decolagem ou aterrissagem de um avião.
A comparação pode parecer desproposital num momento como o atual, em que praticamente 200 passageiros da TAM desapareceram do convívio de familiares e amigos.
Pode parecer para os leitores, porque para mim é diferente — é deliberadamente proposital.
Sofri muito durante os nove meses em que voltei ao Diário do Grande ABC como diretor de Redação, depois de ter passado por aquela publicação 20 anos antes, num período de 15 anos em que exerci diferentes funções. Sofri principalmente porque assumi o controle de uma aeronave complicadíssima. Desconhecia pessoalmente todos os tripulantes da Redação, embora tecnicamente os observasse como leitor assíduo e implacável. Os acionistas constavam do radar de avaliação relativamente segura. Principalmente os remanescentes da turma original. Não tinha dúvidas do que poderia esperar dos passageiros, no caso os leitores e forças de pressão.
Não digo nem insinuo que durante aqueles nove meses fiz vôo cego, porque seria estupidez. Havia sim coisas estranhas no ar, algumas arremetidas clandestinas de terceiros para contaminar a linha editorial que adotamos, por isso não posso garantir que tenha sido um piloto a salvo de traições e turbulências. Aliás, paguei muito o pato de concessões de antecessores que fizeram do cargo a casa-da-mãe-joana.
Já a aeronave de LivreMercado é um espaço sobre o qual caminho com absoluta tranquilidade. Não delego a terceiros a responsabilidade da linha editorial. Mais que isso: procuro compartilhá-la verbalmente ou por newsletter própria (DaRedaçãoOnline) para todos os colaboradores, a fim de que não precise repetir indefinidamente as mesmas observações. As peculiaridades operacionais de uma empresa pequena de pretensões editoriais sem limites em termos de regionalidade não me permitem garantir que seja este jornalista substituível. Gostaria de me sentir e de ser de fato.
Duvido que exista um publisher na Imprensa nacional, seja qual for o porte da publicação, que tenha tantas informações quanto eu sobre o produto que edito. O painel de controle que moldei com a tecnologia da experiência vivida em outros ambientes inclusive para quebrar paradigmas chega ao requinte de a cada edição expor o mapeamento da produção individual de todos os profissionais. Mas não é uma exposição burocrática de números sem nexos. A metodologia chega ao requinte de definir quantos caracteres por minuto cada um dos jornalistas produziu ao longo do mês — em última instância um dos melhores indicadores de qualificação de cada profissional.
O que quero dizer com este artigo em meio a tanta confusão que permeia a queda do vôo da TAM é que não estou aferindo juízo de valor ao desastre em Congonhas, mas sugerindo que de maneira geral, nas mais diversas atividades, o que falta de fato é sistematização do trabalho e, sobremodo, atenção permanente.
Dirijo a Redação de LivreMercado como se estivesse numa cabine de avião. Permanentemente mantenho embates e debates com meus companheiros de trabalho para saber onde é possível melhorar o rendimento, sempre em busca da eficiência, que, como se sabe, é diferente de eficácia. Eficiência é chegar ao melhor resultado com qualidade de vida. Eficácia é alcançar um resultado de qualquer maneira.
Por saber como organizei a estrutura redacional de LivreMercado, por conhecer a mecânica de fechamento editorial dos jornais e por desconfiar da ganância dos acionistas das empresas de transporte aéreo, posso garantir aos leitores que acreditem para valer na publicação que edito, que tomem cuidado, muito cuidado, com os diários e, como eu, fujam o quanto puderem dos aviões.
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16/09/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (14)