Imprensa

Diário 50 anos

DANIEL LIMA - 09/05/2008

O Grande ABC não seria o mesmo se não fosse o Diário do Grande ABC ao longo de 50 anos que se completam neste domingo, 11 de maio.


Basta comparar a situação do Grande ABC com cidades-satélites de regiões metropolitanas deste País: são povoados sem identidade própria, sem conexões culturais, sem fermentação cultural.


Podemos não ser a sétima maravilha do mundo, mas estamos bem à frente de todas aquelas áreas. E o Diário do Grande ABC, fertilizado nos idos de industrialização maciça ou hostilizado nos vindos de desindustrialização insana, ajudou sobremodo a imantar um processo de transformação social, econômica e cultural.


Independentemente de juízo de valor jornalístico do produto do passado e do presente, cuja interpretação depende do grau de sensibilidade, escolaridade e criticidade dos leitores, o fato incontestável é que o Diário do Grande ABC faz falta mesmo quando está em falta com a comunidade.


Tornou-se um hábito ou um vício, de acordo com observações mais ou menos críticas.


Há várias outras alternativas de comunicação regional diária no Grande ABC e na medida em que a rede mundial de computadores se desenvolve com novos produtos, mais e mais haverá escolhas a se fazer para se informar na região.


Entretanto, o Diário do Grande ABC provavelmente não deixará de ser o centro nervoso de comparações como veículo diário, como consulta diária.


Há situações presentes em que o Diário do Grande ABC perde no conteúdo para outras opções impressas, virtuais e eletrônicas. Não se trata nem de exceção à regra. É constatação isenta de quem quer simplesmente ser bem informado.


Como em tantas outras atividades humanas, e mesmo nas relações humanas, há fartos casos de vencedores inebriados que se perdem no meio do caminho para logo em seguida se acharem. O Diário do Grande ABC não seria exceção.


O Corinthians não está na Série B do Campeonato Brasileiro apenas por obra do Espírito Santo ou porque o Internacional de Porto Alegre entregou o jogo para o Goiás. Nem o Flamengo perdeu a classificação na Libertadores para o lanterninha do Campeonato Mexicano porque viveu uma noite de muito azar. No primeiro caso o Corinthians se excedeu no direito de promover cambalachos administrativos e no segundo o Flamengo se excedeu na embriaguês do título carioca de três dias antes.


O valor do Diário do Grande ABC será medido cada vez mais milimetricamente pelos leitores mais atentos porque, diferentemente do passado em que praticamente se consolidou como única opção, agora há enfrentamentos informativos.


Agora é força de expressão, porque já há pelo menos década e meia os efeitos da Internet começaram a se insinuar a todos que lidam com o mercado de comunicação social.


A missão do empresário Ronan Maria Pinto nestes tempos de um Grande ABC em busca da musculatura economicamente perdida nos anos 1990 é muito mais desafiadora do que o que se reservou àqueles quatro bravos jovens que fundaram o Diário do Grande ABC em forma de News Seller no final dos anos 1950. Mesmo assim, por força da inércia, da marca consagrada, apresenta-se-lhe o outro lado da moeda de recuperação plena, por mais demorada que seja, porque jamais tardia.


Naqueles dias dos anos 1950 a região emergia para o estrelato industrial. As condições macroeconômicas nem de longe podem ser comparadas a estes tempos de carnificina globalizante. Os rescaldos de administradores públicos desatentos com o futuro e embevecidos com cofres cheios de impostos colheram no contrapé do futuro imprevidente novas levas de prefeitos que não entenderam que a solução individual dos municípios que comandam passa necessariamente pela integração regional.


A propósito, não foi à toa que recuperamos na edição de maio de LivreMercado o Prêmio Esso de Jornalismo obtido pelos então jovens e permanentemente talentosos Ademir Medici e Édison Motta. Eles foram premonitórios no alerta de desequilíbrios sociais que adviriam de uma ocupação industrial sem eira nem beira.


A revista LivreMercado foi ousada e independente para, duas décadas depois, iniciar tormentosa e muitas vezes mal-compreendida guerra santa contra a desindustrialização planejada pelo governo federal de então, pelo governo estadual de então, e também pelos governos locais de então, os quais, em última instância, aceitaram o jogo jogado em escalões superiores sem ao menos lotar uma kombi para protestar.


Assim como este jornalista, muitos outros, centenas até de outros, deram seu suor e dedicação ao Diário do Grande ABC durante esse meio século.


Outros apenas fizeram daquele endereço entreposto para saltar rumo à mídia paulistana, imaginando-se, como muitos imaginaram, que a simples troca de endereço, a substituição de uma logomarca regional por uma nacional, o currículo de empresa paulistana na carteira de trabalho, imaginando, repito, que isso seria suficiente para sustentar uma carreira de sucesso. Pobres diabos que jamais desconfiaram de que eram extensão do nosso Complexo de Gata Borralheira e que viveriam na Capital cinderelescos papéis secundários que também desempenharam por aqui.


Entenda-se carreira de sucesso não necessariamente simbolizada por conta bancária e posses materiais, porque o jornalismo, como o magistério, não costuma oferecer essa contrapartida. Carreira de sucesso é ajudar ou tentar ajudar a construir novos enredos para um País irritantemente repetitivo nos adereços de vicissitudes.


Sou muito mais jornalista que empreendedor numa escala de prioridades em minha atividade profissional, embora me lance com entusiasmo há pelo menos duas dezenas de anos em busca de teorias e práticas administrativas que tenham correlação direta com o produto que dirijo. Por isso que exijo tanto do Diário do Grande ABC, no atual e nos comandos anteriores.


A indispensabilidade cotidiana do Diário não o exime da responsabilidade social de apresentar conteúdo cada vez mais comprometido com o futuro. Entendemos que seria romantismo demais tratar uma empresa de comunicação como braço das Madres Terezas, mas também não aceitamos que seja modelo gélido e pragmático de Wall Street.


Não quero dizer com isso que o Diário do Grande ABC seja a segunda alternativa. Não se trata disso, é claro. Todos queremos que o Diário seja melhor e que saia da vala comum dos grandes veículos nacionais, ventríloquos de uma parte da sociedade sem alma, em algo que nos remete ao eterno dilema do Tostines propagado numa mensagem genial de publicitários sobre a origem do suposto frescor do produto.


Um veículo de comunicação escravizado por pesquisas qualitativas e quantitativas é artifício de marketing e comodismo diretivo a transferirem aos leitores a responsabilidade de mudanças que são anunciadas como tais com certo estardalhaço mas, de fato, mantêm tudo como está. O caminhar letárgico do politicamente correto é a melhor resposta para quem quer manter tudo como está.


Quando preparei o Planejamento Estratégico Editorial para o Diário do Grande ABC em meados de 2004 procurei antes de tudo me isolar fisicamente de pressões de terceiros e mesmo me descontaminar do ambiente regional. Fui para o Interior. Nada disso se opõe, vejam só — e muito menos significa um paradoxo — ao fato de incorporar naquele projeto um Conselho Editorial formado por representantes da comunidade regional.


Como a própria denominação indica, Conselho Editorial aconselha, e não obrigatoriamente decide. Compete a quem dirige essa instância revolucionária no jornalismo brasileiro, no caso aplicada na revista LivreMercado, incorporá-la com ferramenta de novos desígnios.


No livro “Na Cova dos Leões”, um apanhado de vários textos que produzi na coluna “Contexto”, no período em que estive ali como Diretor de Redação, acredito ter traduzido o sentimento de regionalidade e de mudanças que creio ainda estar no horizonte de quem quer ver um Grande ABC avançando na direção do amadurecimento como sociedade.


Nesse ponto, como mídia diária, o Diário do Grande ABC é indispensável.


Por isso que cobro tanto — não por outra razão que só os rasos de inteligência e os profundos em maledicência manipulam desavergonhadamente.


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