Imprensa

Na Cova dos Leões

DANIEL LIMA - 18/05/2008

Repousava no almoxarifado de LivreMercado um excedente de mais de mil exemplares do livro Na Cova dos Leões, editado em 2006 com uma seleção de textos da coluna Contexto, que escrevi no período de nove meses entre 2004 e 2005. Naquele mesmo intervalo de tempo estive à frente da Redação do Diário do Grande ABC. Às vezes duvido de que tenha produzido tanto, tal a quantidade de compromissos naquele dia-a-dia do jornalismo diário que encavalou obrigações com LivreMercado.

Quando descobri ainda outro dia que havia tamanho estoque, não tive dúvidas em solicitar ao responsável pela distribuição de LivreMercado: cada exemplar deveria ser envelopado com a edição de junho da revista e distribuído para um público determinado. Escolhi os associados do Primeiro de Maio Futebol Clube, majoritariamente de classe média.

O que pretendo com a medida?

Primeiro, não se trata de presente de grego, que atrapalhará a vida dos destinatários e aliviará nossos espaços. Na Cova dos Leões continua atual e é espécie de coletânea das variadíssimas facetas de regionalidade.

Segundo, permitirá a leitores pressupostamente formadores de opinião um conjunto de interpretações que, no mínimo, os fará refletir. Não me incomodo nada com eventuais ou sistemáticas discordâncias, porque reformismo é maneira pouco agradável de mexer no que parece estar às mil maravilhas para uma minoria sempre predominante na hora do vamos ver de estabelecer definições. Além do que longe de mim qualquer idéia de infalibilidade. O que vale mesmo é retirar os leitores da indiferença que a maioria dos textos sobre o mundinho do Grande ABC evoca.

Terceiro, é evidente que há também aspectos marquetológicos, porque ninguém é de ferro. Quanto mais leitores interessados o Grande ABC reunir em torno das questões locais, mais potenciais leitores teremos, inclusive os demais veículos de comunicação.

Solicitei nova operação bota-fora de luxo. Quero saber quantos exemplares de Nosso Século XXI, lançado em dezembro de 2001, há disponíveis nos desvãos do almoxarifado. A contabilidade prática precisa estar sintonizada com os números que aparecem na tela de computador. A informatização é preciosa ferramenta de produtividade, mas nem sempre o mundo real bate com o mundo virtual. Há mandraques em todos os setores e segmentos.

Tanto é verdade que outro dia ouvi relato de um ex-proprietário de restaurante convicto de que jamais seria ludibriado e que daria ao empreendimento a modernidade tecnológica que geraria filhotes gerenciais inesgotáveis. Por isso, instalou comanda eletrônica para registrar todos os procedimentos de vendas. Só mais tarde, quando se viu em enrascada bancária, descobriu que o sistema não apontava todo o movimento que de fato se contabilizava nas despesas com insumos. Havia controles paralelos, que desviaram muitos recursos financeiros.

Espero que haja número relativamente grande de exemplares de Nosso Século XXI, mas se a checagem física for desagradável e poucos restarem, haverá a compensação de que estamos preparando uma segunda versão, com novos e antigos ensaístas, com lançamento em festa marcada para setembro.

A gente faz o que pode pela regionalidade. Só não cometeremos mais a besteira de ser bois de piranha dos covardes e muito menos alimentaremos os porcos éticos.