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Veja como encontrei o Diário que
Ronan Pinto comprou em 2004 (14)

DANIEL LIMA - 05/11/2018

Depois de intervalo exigido pelas disputas eleitorais desta temporada, que concentraram boa parte dos esforços desta publicação digital, eis que voltamos com a série especial sobre minha atuação como primeiro (e único) ombudsman da história do Diário do Grande ABC. Estava em junho de 2004. O texto que se segue é da newsletter OmbudsmanDiário, ferramenta que criei para me comunicar com diretores, acionistas e editores do jornal. Acompanhem a edição número 13, de 24 de junho: 

Edição número 13 

Estamos vivendo nesta quinta-feira os rescaldos de pós-jogo do Santo André. Fomos ao Estádio de Parque Antártica acompanhados de familiares e pudemos sentir as emoções de uma partida em que nos comportamos brilhantemente dentro e fora do gramado. Escrevo uma edição da newsletter Capital Social Online especificamente sobre o assunto. Afinal, há um ângulo do espetáculo que não foi explorado por nenhum jornal. Mas deveria ter tido tratamento específico do jornal. 

Senti a falta de uma matéria densa sobre o ambiente do espetáculo de ontem à noite fora das quatro linhas. Acho que a melhor maneira de explicar essa observação é escrevendo. E o farei. Há alguma coisa que precisa de correção de rota no cotidiano do jornal. Situações especiais exigem ações especiais. A matéria de ambiente do Parque Antártica jamais poderia ter sido desprezada como elemento editorial de enriquecimento de informações. 

O jornal acertou em cheio ao levar para o topo da manchete principal de primeira página o jogo da Copa do Brasil. 

 Matéria com ombudsman

A editora-chefe da revista LivreMercado, Malu Marcoccia, solicitou-me entrevista para explicar minhas novas funções jornalísticas. Como se sabe, sou diretor-executivo daquela que é dis-pa-ra-da-men-te a melhor publicação regional do gênero no País. Concordei com a pauta sobretudo porque para muitos leitores do jornal e da própria revista há um vácuo de informação depois de não ter aceito o cargo de diretor de redação e, tempos depois, assumir a função de ombudsman e de colunista do mesmo jornal. Como recentemente ocupei as páginas amarelas de LivreMercado contando as razões de rejeitar a função de diretor de redação, a editora-chefe entende que esse buraco informativo que o jornal não preencheu ao me entrevistar recentemente precisa ser preenchido. 

Sobre a entrevista que concedi ao Diário como ombudsman e colunista, naquela edição de domingo, houve evidentes cortes e censura por parte de não sei quem. Provavelmente do editor-chefe que é, afinal, a instância pressupostamente final de decisões na redação. Não questionei o jornalista que me entrevistou naquela oportunidade porque jamais o constrangeria. 

Esperava que houvesse explicações por parte do autor da medida. Se o jornal apresenta esse tipo de comportamento editorial com todos os entrevistados, a situação é pior do que se imagina. 

 Gastança legislativa

A Folha de S. Paulo publica hoje nova matéria sobre a possibilidade de redução do número de vereadores no País. O assunto interessa de perto ao Grande ABC. Recentemente o jornal conseguiu acertar a mão na abordagem do assunto. 

 Copa do Brasil 

A Folha de S. Paulo voltou a apresentar a melhor reportagem sobre a decisão da Copa do Brasil, que envolve Santo André e Flamengo. Questão de abordagem. Mas o esforço da equipe da casa merece ser registrado. Lamento profundamente a dor do editor de esportes Marcelo Camargo que, segundo informações, perdeu o pai ramalhino vítima de infarto do miocárdio em pleno Parque Antártica. 

 Quebradeira esportiva

Não consigo entender a razão de o jornal manter as páginas de esportes distantes do padrão gráfico das demais editorias, utilizando-se de composições quebradas. Traduzindo: as colunas de linhas irregulares dificultam a leitura, além de agredir a simetria gráfica da publicação. Desconheço qualquer outro jornal de gabarito que tenha resolvido praticar esse tipo de acrobacia editorial em contraste com as demais editorias. 

 Provincianismo

Acentua-se nas páginas do jornal a exposição pública de relacionamentos institucionais que deveriam se situar nos bastidores, como é norma nos principais jornais. Um exemplo está na Economia de hoje, quando um grupo de jovens empreendedores recebido por diretores da empresa ilustra a matéria "Encontro na Acisbec discute investimento no mercado financeiro". Outro dia foi um outro grupo, do Rotary, que ganhou as páginas do Informediário de forma ostensivamente caseira. Anteriormente, foram juízes da Comarca de Santo André. Tudo isso, repito, não se registra nos grandes jornais. É muito perigoso confundir regionalismo com provincianismo. Até porque, não faltam oportunistas que dão a vida para aparecer em páginas de jornais e revistas sem contribuir em nada com a sociedade. Mas isso não é o mais grave: a exposição de diretores da companhia em flagrantes de relacionamento institucional doméstico tem um viés de voo ao infestado mundo de celebridades. 

 Quem tem razão?

A matéria "Cetesb rebate afirmações de diretor regional do Ciesp", de Economia, não consegue desvendar o segredo da suposta burocracia da Cetesb no Grande ABC, acusada por um dirigente do Ciesp de Santo André que, como se sabe, pouco faz para organizar o setor industrial local. A troca de acusações conduz a uma leitura interpretativa confusa. Caberia ao jornal esmiuçar o assunto. Uma sugestão: por que não fazer uma triagem mesmo que aleatória, mas quantitativamente expressiva, de processos que deram entrada na Cetesb e o tempo médio para atendimento das necessidades dos empreendedores? A função do jornalismo moderno não é apenas registrar fatos, mas elucidá-los, principalmente. 

 Preciosidades locais

Cultura & Lazer continua cavoucando exemplos regionais de talentos nas mais diferentes áreas artísticas. Hoje temos o trompetista Danilo Henrique Oliveira. A reabertura do Museu de Santo André também fortalece a certeza de que há vida cultural em nossa região. 

 Nome trocado

Esqueci de registrar que numa das edições desta semana (não estou com tempo para vasculhar os arquivos), o empresário de São Caetano cuja legenda o identifica como Daniel Sanches não passa mesmo de Dênis Sanches. Exceto se ele tiver irmão gêmeo cujos pais, como os meus, tenham resolvido se render ao nome bíblico daquele maluco que enfrentou os leões. Hoje enfrentamos outro tipo de leão. 

 Universidade Pública

Imprecisa, burocrática e superficial a matéria "Setor produtivo fica fora de mais um debate sobre UABC", em Setecidades. Aliás, tem sido uma constante o jornal cobrir mal eventos desse tipo, provavelmente por falta de metodologia mais apropriadamente jornalística. Poderia discorrer em algumas laudas sobre as incorreções conceituais e técnicas da matéria, mas prefiro a simplificação construtiva de dizer que o problema é estrutural e, como tal, torna-se muito improvável que quem quer que faça matérias semelhantes consiga desvencilhar-se de restrições. 

Participei do evento como jornalista e dirigente do Instituto de Estudos Metropolitanos, não como ombudsman e colunista do jornal. O que quero dizer com isso? Que a orientação dada por quem quer que seja para que minha participação fosse minimizada fere a ética jornalística. Aliás, não é a primeira vez que o jornal comete tal insidiosidade. E nem por isso deixei de produzir a maior coletânea de cases sobre a realidade do Grande ABC no contexto metropolitano e global.

 Água transbordando

Os enunciados sobre a cobertura do evento da Universidade Federal valem para a matéria "Prefeita quer taxar uso da água já", de Setecidades. É indispensável melhor preparo técnico para cobertura de assuntos específicos. Por isso, uma vasculhada nos arquivos sempre é bem-vinda porque possibilita que a reportagem não se restrinja à repetição de edições anteriores. Os demais integrantes da mesa de debates foram praticamente esquecidos em favor da prefeita Maria Inês Soares e de seu chefe de gabinete. Das três uma: estavam ali apenas como marketing pessoal ou corporativo, foram desprezados como fonte de informações ou simplesmente nada disseram de interessante e, portanto, não deveriam integrar a mesa. 

 Prêmio contextualizado

A matéria "William Dib ganha dois selos de Prefeito Amigo da Criança", de Política Grande ABC, página 2, encaminha-se para o patamar que chamo de contextualização e interpretação. "Mesmo com um déficit de 5 mil vagas em creches assumido pela Prefeitura de São Bernardo, o prefeito William Dib (PSB) recebeu ontem dois selos pelas primeiras etapas do Programa Prefeito Amigo da Criança, da Fundação Abrinq. O terceiro e último selo será entregue em Brasília". Está aí, sem mistificação ou manipulação, um padrão de reportagem que dá salto de qualidade na média do que o jornal vem apresentando.



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