Quem disse que fechamento de revista (e por que não de jornal ou telejornal diário?) tem de ser aquela coisa de louco em que prevalece correria frenética, ranzinzisse do chefe, insubordinação ou servilismo do subalterno, riscos permanentes de grandes falhas, omissões e imperfeições? Quem disse que redação tem de ser exercício de paranóia permanente? Quem disse que apenas um grupo de eleitos por decisões muitas vezes carregadas de subjetividade, quando não de protecionismo ou de comodismo, ou até de sobrecarga, pode ficar responsável isoladamente pela qualidade final do produto?
Há exatamente seis meses LivreMercado iniciou revolução no método de produzir um veículo de comunicação e está se dando muito bem. Aqui não existe simplesmente repórter, unicamente redator, especificamente editor, indispensavelmente editor-adjunto. Aqui, equipe enxutíssima cuida de todos esses instrumentos. A revista que você está lendo este mês, como as edições passadas desde setembro, tem a marca da polivalência, termo consagrado pelo ex-técnico Cláudio Coutinho, ou da multifuncionalidade, como fica mais adequado a uma publicação fortemente voltada para a economia.
O que era ritual desgastante, exasperante, irritante até, no qual o diretor de redação era o senhor absoluto dos títulos, das legendas, da edição propriamente dita, virou uma roda de samba de participação do conjunto da redação. A imagem da roda de samba talvez não seja a melhor, porque os repórteres-redatores-editores desta revista não usam instrumentos diferenciados, como reco-reco, pandeiro, cuíca e quetais. Se usassem, e como não têm talento para o samba propriamente dito, o resultado final seria desastroso.
Toda a equipe, dessa forma, utiliza-se de equipamentos semelhantes. A base do trabalho é a cultura da revista. Em graus diferentes, é verdade, mas em dose suficiente para compreender que a publicação tem diretrizes que não podem ser rompidas, os jornalistas de LivreMercado movimentam-se no mesmo ritmo. Eles são os responsáveis pelas matérias que produzem desde que uma pauta genérica os orienta sobre o projeto da próxima edição.
Da reportagem ao texto e do texto à edição, inclusive das chamadas do índice, tudo é exclusividade de cada jornalista. A saudável sinergia em que pontuam clareza de informação, criatividade, precisão e responsabilidade torna o ambiente geralmente ameno. Foi-se o tempo em que repórter era simplesmente repórter, redator redator, editor editor, e fim de conversa. Isso vale para outras redações que ainda não perceberam quantos talentos desperdiçam ao restringir-lhes liberdade, ao impor-lhes rígidas hierarquias, ao sustentarem algumas estrelas de primeira grandeza que mal olham para os subordinados-satélites, mas que são notórios bajuladores da cúpula.
Houve certo choque interno quando surgiu a proposta de levar para o campo prático a percepção de que as referências de produção editorial de revistas e jornais são obsoletas, carregadas de conservadorismo cultural em que domina o conceito de centralização, típica de uma nação colonizada durante séculos por culturas imperiais e patrimonialistas. Temos profissionais experientes a quem foram sonegados direitos de atuar integralmente como jornalistas. Como repórteres, redatores ou editores em outras publicações, nossos jornalistas sempre viveram na pele e na alma a idiotice da compartimentação estrutural, da subdivisão de funções.
Aqui é diferente. Os jornalistas são donos de suas matérias desde a entrevista até a editoração eletrônica. É evidente que todos, indistintamente, estão sujeitos a ter o material alterado. Mas nada se faz sem diálogo. O texto final, o título, a legenda e a chamada de índice sempre serão do autor da matéria.
Por isso, o fechamento da edição deixou de ser a etapa mais abominada do processo de produção da publicação. Agora virou refresco. Títulos, subtítulos, legendas, chamadas de índice, tudo-tudo é concebido no dia-a-dia em que as entrevistas ganham formas de matérias. Sem atropelos. Sem neuras. Casa de ferreiro, espeto de pau? Aqui não!
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)