Há quase um ano, quando o sistema Anchieta-Imigrantes beirava o colapso, o governo estadual concedia à Ecovias não apenas o direito de exploração das autoestradas, mas a responsabilidade de desobstruir as artérias que ligam a Capital à Baixada Santista. Diante de possíveis intempéries da economia nacional que bem podem retardar o projeto, a Ecovias firmou parceria estratégica com empresa italiana. Desde fevereiro, a Impregilo, do Grupo Fiat, agrega experiência internacional ao sistema e responde por 20% do capital da empresa. Além disso, outra italiana, a ASTM (Auto Strada Torino Milano), foi contratada para dar suporte operacional. Com a qualidade do empreendimento otimizada, em momento algum dos últimos 22 anos a possibilidade de chegar mais rápido ao Litoral esteve tão próxima da realidade. Iniciada em novembro do ano passado, a construção da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes está orçada em R$ 540 milhões e com conclusão prevista para maio de 2003. Serão 18 quilômetros, nos quais estão previstos seis viadutos e cinco sob túneis. "A ASTM é concessionária de rodovias européias desde 1929" -- afirma o presidente da Ecovias, Irineu Meireles.
Pertencente à holding Primav, do Grupo CR Almeida, do Paraná, a Ecovias cultua política de preservação ecológica demonstrada no próprio nome. A passos largos tem buscado adequação dos procedimentos às normas das séries ISO 9000, de qualidade total, e ISO 14000, de gestão ambiental. Enquanto as paredes da empresa ainda não emolduram os certificados, a Ecovias conserva relação harmoniosa com a Secretaria do Meio Ambiente, bem como com ONGs (Organizações Não-Governamentais) ambientalistas.
Mas, como cruzar a Serra do Mar sem causar danos? Com essa preocupação ardendo nas entranhas, duas providências verdes já fazem parte da rotina da concessionária e constam do contrato padrão de terceiros: a contratação de mão-de-obra local, seja na Baixada ou no Grande ABC, para evitar surgimento de novos núcleos favelados na Serra do Mar, e a utilização do mesmo caminho privativo de serviço, aberto quando da construção da primeira pista da Imigrantes, para evitar novos desmatamentos.
E tem mais: depois que a obra for concluída, os acampamentos dos operários poderão ser transformados em centros de pesquisas. "Poderemos ceder esses espaços para entidades ecológicas como o SOS Mata Atlântica e outras" -- adianta o presidente. As obras iniciais da segunda pista da Imigrantes devem absorver 840 trabalhadores diretos e 1,2 mil por via indireta. Todo um trabalho de conscientização sobre atitudes de preservação ambiental tem sido desenvolvido pela Ecovias junto aos operários.
Antes de o sistema sinalizar traços de Primeiro Mundo, o uso de paliativos de ponta tem evitado transbordamentos em dias de pico, quando o fluxo de veículos chega a 100 mil. "Todo o sistema é ladeado por belezas naturais. Mas além de ser trajeto prazeroso, é o canal mais importante de importação e exportação do País em razão do Porto de Santos" -- frisa Meireles. Os esforços pela excelência dos serviços prevêem total de investimentos de R$ 950 milhões ao longo do período de concessão. Fora a obra da segunda pista da Imigrantes, R$ 53 milhões irão para a construção de vias marginais, alargamento de pistas, recapeamento e restauração do pavimento; R$ 24 milhões têm como endereço a construção e reforma dos prédios destinados ao sistema de atendimento ao usuário, sistemas de pesagem, postos de policiamento e passarela; R$ 60 milhões destinam-se à construção e recuperação de pontes, viadutos e trevos; R$ 73 milhões vão para a informatização e instalação de dispositivos de segurança; e há outros R$ 200 milhões que serão pulverizados em melhorias. "Temos a melhor rodovia do Brasil e continuaremos fomentando melhorias com as mais modernas tecnologias do setor” -- defende o presidente.
Expectativas -- Nos primeiros cinco anos de concessão a Ecovias projeta receitas de US$ 859,2 milhões e captação de recursos de terceiros de US$ 400 milhões. Os desembolsos previstos deverão somar no mesmo período US$ 1,38 bilhão. Pelo direito de exploração do sistema, a concessionária pagará ao governo do Estado R$ 87 milhões, além de 3% da receita bruta mensal. Neste primeiro ano de operação a Ecovias gerou dois mil empregos diretos e outro seis mil indiretos. Durante o prazo de concessão, pretende abrir total de sete mil postos de trabalho diretos e 21 mil indiretos. A taxa de retorno do projeto pretendida é de 20% ao ano.
Assim que selou a concessão por 20 anos, a Ecovias não arriscou. Absorveu 300 funcionários da equipe técnica da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) para manter o know-how da operação do sistema. Colocou à disposição do usuário atendimento gratuito 24 horas por dia com estrutura significativa: 30 guinchos para socorro mecânico, 14 veículos para inspeção de tráfego, 12 carros leves para inspeção e fiscalização, nove vans para sinalização, oito ambulâncias para primeiros-socorros, uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) móvel completa, três caminhões-pipa, três caminhões para apreensão de animais, dois caminhões guindaste, duas carretas para socorro de motos acidentadas e um carro com neutralizantes para produtos perigosos.
De todos os apetrechos que permitem mais segurança ao sistema, o telefone 0800-197878 parece ter caído nas graças dos usuários. Por essa linha é possível obter informação sobre tráfego e conseguir socorro a custo zero. Só em janeiro o número recebeu mais ligações que as registradas por todas as concessionárias do País juntas. Foram 160 mil chamadas. Para se ter idéia, a Nova Dutra, que opera a rodovia federal que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, acumulou 20 mil chamadas em dois anos. "A média é de 50 mil ligações mensais" -- orgulha-se o presidente da Ecovias.
Futurista -- A modernização do sistema, prevista para ser implantada em paralelo à evolução da obra da segunda pista da Imigrantes, bem poderia despertar a imaginação do cinema futurista de George Lucas: inclui 300 quilômetros de cabos de fibra ótica necessários à instalação da rede digital de comunicação, 26 câmeras eletrônicas utilizadas para operação com imagens acessíveis pelo site www.ecovias.com.br, 21 painéis informativos -- neblina, acidentes e congestionamentos --, 360 novos Call Box para chamadas telefônicas, sensores de volume de tráfego, sensores de visibilidade, sistemas de radiocomunicação para apoio à operação, cobrança de pedágio via Smart Card -- cartão inteligente --, cobrança de pedágio por identificação automática de veículos e 13 balanças para pesagem de caminhões.
As imagens do pós-moderno avançam ainda mais. Sistema de rastreamento de veículos por radar será instalado na frota de inspeção. O deslocamento de cada carro poderá ser monitorado por gráfico estampado na tela de um computador. "Já temos três veículos em teste. O sistema estará em pleno funcionamento ainda este ano" -- garante Meireles.
Para controlar caminhões desgovernados está sendo criada a Área de Escape, dispositivo similar ao usado em porta-aviões. A Ecovias será a primeira concessionária da América Latina a usar essa tecnologia em autoestrada. Trata-se de pista tangencial a curvas perigosas dotada de redes e cabos de aço que seguram veículos pesados em caso de emergência. O primeiro ponto a receber o benefício será o Km 42+700 da pista sul da Via Anchieta. A alternativa foi adotada depois de levantamento detalhado dos pontos onde ocorrem maior número de acidentes. "Além de moderna e segura, a solução garante viagens mais tranquilas" -- incentiva o presidente.
Enquanto projetos audaciosos não aparecem na bagagem de quem vai e vem no sistema Anchieta-Imigrantes, a Ecovias destacou equipe de engenheiros para identificar pontos de estrangulamento das estradas. "São medidas intermediárias para amenizar os problemas até a conclusão da pista nova" -- justifica Meireles. A concessionária já providenciou a terceira faixa da pista leste da Interligação Planalto, faixa reversível na Padre Manoel da Nóbrega, a terceira faixa na pista norte da Via Anchieta, solução caseira para melhorar o escoamento no sistema 5 X 2, e também a alça de acesso para a Piaçaguera-Guarujá com fôlego para 1,2 mil veículos por hora.
Intervenções plásticas também são perceptíveis. E como: todo o pavimento foi recomposto, as defensas danificadas foram substituídas ou receberam mão de tinta e a sinalização horizontal e vertical foi renovada. A empresa só não conseguiu ainda inibir o vandalismo, os pichadores e a ação de moradores de favelas lindeiras que insistem em jogar lixo na rodovia e destruir as placas sinalizadoras. "Lixo na estrada é um horror" -- lamenta o presidente. O jeito para diminuir o problema foi iniciar trabalho de conscientização junto às comunidades instaladas à margem das rodovias.
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