O jornal diário eletrônico (e semanalmente impresso) ABCD Maior tem vieses ideológicos socialistas mais expostos do que veículos conservadores que se dizem pluripartidários. Mesmo assim, descontado o ímpeto esquerdista, mostra-se interessante a quem não se conforma com determinadas repetições da mídia em geral que pisa e repisa noticiários que pouco acrescentam.
Por exemplo: vários secretários municipais da região, principalmente da administração Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, são pauta de entrevistas com certa frequência do ABCD Maior.
Tomara que secretários de outros municípios e não apenas petistas também sejam ouvidos. Aliás, um e outro acabam ouvidos sim. A concentração da mídia nos comandantes dos paços municipais e também o excesso de preocupação com os legislativos mesmo em situação de absoluta rotina do noticiário são vícios da profissão e desestimulam a leitura na mesma intensidade que lustra o ego dos parlamentares.
Aliás, este é um dos motivos pelos quais há tanta debandada da mídia impressa, embora os caciques dos jornais gostem de se enganar ao propagarem indicadores de acréscimo de tiragens, sem explicar para o distinto público que os jornais gratuitos distorcem as estatísticas e esculhambam ainda mais com o critério de qualidade, contaminando também os resultados econômico-financeiros dos empreendimentos. Mas isso é uma outra história.
Como se explica a marginalização dos secretários que, afinal, são pontas de lança dos programas dos respectivos administradores? Porque, em muitos casos, eles tratam de questões que para muitos dos entrevistadores são pontos de interrogação de entendimento.
Se não bastasse a distância técnica de conhecimento que separa secretários e repórteres, o quadro se agrava devido ao pouco didatismo dos entrevistados. Os especialistas geralmente se perdem numa linguagem pouco acessível e, mais ainda, não conseguem traduzir para o entrevistado as informações de forma inteligível. Como as redações de jornais têm o velho e opressor compromisso de produção diária vinculado ao fechamento editorial escravizante no horário inflexível, o supostamente melhor caminho para os repórteres sempre apressados é evitar os pedregulhos que podem impor dificuldades mas, também, abrir novas e mais importantes veredas.
Numa entrevista do ABCD Maior com o secretário de Finanças de São Bernardo, Jorge Mattoso, descubro a importância da reforma administrativa que vai criar a Secretaria de Orçamento e Planejamento Participativo. Uma das consequências é que se vai retirar da pasta de Finanças a responsabilidade pela peça orçamentária.
Sabem o que Jorge Mattoso respondeu diante do que muitos poderiam entender como esvaziamento da pasta que dirige? Vejam:
“É uma mudança positiva. É ruim quando a Secretaria de Finanças faz a peça orçamentária, a arrecadação e a fiscalização das contas do Município. Existe muita pressão política sobre a secretaria nessa situação, e a possibilidade de que a pasta acabe fazendo bobagens do ponto de vista tributário, como aumentar taxas para alcançar determinadas metas, até criar novos impostos. Eu acredito que uma separação entre orçamento e administração fiscal e tributária seja positiva para democratizar essa questão. Permite que trabalhemos com mais seriedade e foco”.
Nada melhor, convenhamos, do que ouvir quem está envolvido de fato nas mudanças e conhece detalhes que o noticiário geralmente pontual não consegue captar.
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06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)