Uma nova roupagem, uma nova embalagem. Em novembro de 1996, LivreMercado transformou-se fisicamente em revista, em substituição ao jornal-revista de formato tablóide que circulou durante 79 meses consecutivos, a partir de março de 1990. A Reportagem de Capa da edição 80 trazia o prefeito eleito de Santo André, Celso Daniel, todo sorridente, sob o título Celso Daniel Bom de Voto, Bom de Governo? Era a primeira entrevista do petista à Imprensa depois de consagrado nas urnas. O editorial de LM, Gestação de 80 Meses Garante Corpo Mais Leve, simbolizava as diretrizes da publicação -- descontraído e ao mesmo tempo sério exercício jornalístico.
A segunda edição da etapa revista destacou na capa o segmento de shoppings. A abertura da matéria: "O Grande ABC vive outra revolução, além da impiedosa necessidade de atualizar seu importante parque industrial. O comércio convencional está sob a artilharia de antigos, recentes e novos empreendimentos no setor de shopping center, estrelas que chegaram atrasadas, devagar, mas que agora ensaiam blitz portentosa, com investimentos de expansão e de novas plantas. Os representantes dos shoppings tentam minimizar o quadro de competitividade que deverá gerar muitas vítimas nos centros comerciais centrais e da periferia. Também fazem manobra para disfarçar outro choque latente que envolve shoppings já instalados e alguns dos anunciados. Só existe uma certeza entre os contendores: os consumidores já estão ganhando com esse jogo aberto e franco, porque além da elevação do grau de competição que se instalou por força da concorrência, os preços ganharam maior visibilidade desde o Plano Real e aspectos como qualidade dos produtos e do atendimento já não são supérfluos".
A capa seguinte, de janeiro de 1997, destacou os ex-prefeitos Antonio DallAnese, de São Caetano, e José de Fillipi Júnior, de Diadema, sob o título Prefeitos-Operários. Eles deixaram as respectivas prefeituras como campeões de popularidade no Grande ABC e explicaram, praticamente com as mesmas palavras, a alta cotação junto à população: obras, obras e obras. O editorial referiu-se aos dois ex-prefeitos que acabavam de deixar os respectivos Paços Municipais e fazia citação também a Nelson Tadeu Pereira, convidado para a recém-criada Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Santo André.
A edição de fevereiro de 1997 analisou as repercussões pessoais e profissionais provocadas pelo Plano Real. O título Escravos do Real era traduzido na abertura do trabalho: "Eles representam a classe média brasileira. Média-média, média-baixa, média-alta. Eles são empreendedores típicos do Grande ABC, região que vive à sombra e à inclemência das montadoras de veículos. Eles podem ser chamados de Escravos do Real. É provável que desaprovem a identificação, mas talvez nenhuma outra expressão os defina melhor. Escravos do Real porque, desde que o plano do então ministro e hoje presidente Fernando Henrique Cardoso surgiu no cenário econômico brasileiro, eles começaram a sentir maior necessidade de produzir mais para enfrentar as dificuldades de um País que aprendeu a valorizar a moeda, depois de quatro perdulárias décadas de inflação".
A Reportagem de Capa de março de 1997 foi histórica: Grande ABC Tem Futuro?. Foi uma espécie de tratado de confiança na revolução que tomava conta da região. O título interno do trabalho -- O futuro à sociedade pertence -- era justificado pelo conteúdo do texto: "Como temer o futuro uma região geograficamente metropolitana que reúne sete prefeitos igualmente decididos a empreender gestões integracionistas? Como temer o futuro uma região que tem uma entidade chamada Fórum da Cidadania, que, em quase três anos de atividades, só coleciona sucessos como agente mobilizador da sociedade? Como temer o futuro uma região que tem em seus respectivos Municípios secretários de Desenvolvimento Econômico decididos a implementar ações conjugadas, tal qual seus chefes, os prefeitos? Como temer o futuro uma região eleita pelo governo do Estado para sediar o lançamento da Câmara Regional, primeira e inusitada experiência de gestão compartilhada de uma numerosa agenda de intervenções, da qual farão parte, além do próprio Estado, os prefeitos, por meio do Consórcio Intermunicipal, os vereadores, que também arregaçaram as mangas, a sociedade civil representada pelo Fórum da Cidadania, lideranças sindicais e empresariais diversas?". Foi uma das mais extensas e minuciosas Reportagens de Capa -- consumiu 46 páginas de uma edição de 100.
A edição 85, de abril de 1997, trouxe como manchete o então secretário estadual Emerson Kapaz e o título O Estado de Bem Com o Grande ABC. A abertura do trabalho: "A Câmara Regional do Grande ABC, lançada com pompa e circunstância dia 12 de março no Teatro Cacilda Becker, em São Bernardo, é o divisor de águas da história político-institucional da região. A nova e suprema instância de poder, que paradoxalmente nem formalização jurídica reúne, estabelece claro limite entre o passado de desintegração regional e de alheamento do Estado e o presente de fertilidade de manobras para recolocar o trem nos trilhos. Em inflamado discurso, o governador Mário Covas, uma das muitas autoridades presentes, não só assumiu a mea culpa dele e de antecessores por dedicar ao Grande ABC tratamento equidistante como condicionou o desenvolvimento do Estado ao crescimento da região (...) O Estado, como nas brincadeiras infantis, estendeu o dedo mindinho e está de bem com a região. Não convém perder a oportunidade".
A capa da edição seguinte, em maio de 1997, tinha duplo sentido ao exibir a foto de meio corpo de Ademir Spadafora, afastado presidente da CTBC. O título Adeus CTBC não se referia exclusivamente à demissão político-eleitoral de Spadafora, mas explicava o texto da matéria interna, logo abaixo da manchete Trator na CTBC: "Não adianta espernear. A notícia é desagradável, mas a CTBC (Companhia Telefônica da Borda do Campo), uma das vacas sagradas do regionalismo do Grande ABC, está com os dias contados para ser privatizada. A queda do presidente Ademir Spadafora, executivo que personalizou a cultura da empresa e o orgulho do Grande ABC à frente da companhia, é o primeiro estágio da transferência da CTBC para o acervo da Telesp, que será seguido pelo arremate de megacorporações. Daí em diante, o que se terá provavelmente seja um modelo de privatização sem qualquer relação cultural com a região".
Tema pouco comum numa publicação voltada para a economia mereceu Reportagem de Capa na edição de junho de 1997 -- Espiritualidade Ganha Vez nos Negócios. Sob o título Inteligência Espiritual, um resumo do trabalho nas primeiras linhas do material publicado: "O movimento ainda está restrito a poucas empresas, se considerado o universo brasileiro de empreendedores. Mas já é suficientemente numeroso para que se preparem holofotes que lhe dariam tratamento de estrela nos próximos tempos, sobretudo por causa do caráter excludente da globalização em que o mundo dos negócios se meteu. A inteligência espiritual ainda está longe da badalação que domina outro vetor de relacionamentos interpessoais e profissionais, a inteligência emocional, mas nem por isso deve ser desprezada. A cada dia novos missionários do espírito fortalecido somam-se àqueles que já dizem ter descoberto a espiritualidade como fonte indispensável entre equilíbrio racional e emocional".
A capa de julho de 1997 deu vez à informática, com o título Grande ABC Caiu na Rede. A abertura da matéria, sob o título Caímos na Internet: "Se você é daquele tipo que despreza a tecnologia e acredita mais em caneta e papel do que em computador, esqueça este assunto e volte imediatamente a cuidar da vida. Deve haver uma pilha enorme de papéis esperando-o sobre a mesa. Aqui vai se falar de alguns entre os cerca de 400 mil internautas brasileiros que estão criando uma comunidade muito especial, que usa a tecnologia sem preconceitos para fazer negócios, namorar, discutir política e até interferir diretamente nas decisões do Poder Público. A Internet é feita com tecnologia de ponta, mas é usada por gente normal. Afinal, a rede é muito simples: milhões de computadores ligados pelo telefone. Gente igualzinha a você, como aquele vizinho bom de papo ou aquela menina bonita do escritório, está na rede".
Em agosto de 1997, a principal reportagem abordou questões institucionais do Grande ABC. A Câmara Regional virou o assunto principal, sob o título O Vôo da Esperança. A abertura do trabalho editorial: "Para entender o que acontece com a região depois do foguetório da definição dos 31 pontos prioritários do plano estratégico da Câmara do Grande ABC, inédita integração das comunidades empresarial, social e sindical, além de administrações públicas municipais e estadual, talvez a melhor sugestão seja a linguagem figurada. Supondo que o Grande ABC seja um avião já cansado de guerra, só restam duas saídas: ou se deixava vencer pela fadiga do material, em forma de deserções industriais, vazio institucional e ausência de alternativas econômicas que agreguem valor, ou mobilizava passageiros, tripulantes e mecânicos para a troca da fuselagem desgastada, recondicionamento dos motores e elaboração de um plano de vôo que o levasse a zonas de não-turbulência. A Câmara Regional representa a segunda hipótese".
Em setembro de 1997, LM lançou mão de uma das imagens mais conhecidas do universo, a que marca o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, para ilustrar a Reportagem de Capa. O tema Apertar Parafuso Já Era abordou o mergulho do Grande ABC em treinamento para enfrentar a abertura econômica e a globalização. A abertura do trabalho na página interna: "Prevista para 1998, a reforma do ensino profissionalizante e também do Segundo Grau regular encontrará o Grande ABC mergulhado numa frenética busca por qualificação da mão-de-obra. Não só empresas, mas também a Câmara Regional elegeu a capacitação dos trabalhadores questão de fundo para o Grande ABC. A região dá mão à palmatória e reconhece que foi a nocaute na briga com outras localidades e países em se tratando de boa formação dos quadros. O que está em teste não é só o aparato tecnológico, que pode e está sendo adquirido, mas a qualidade de quem opera esse arsenal cada vez mais avançado".
Em outubro de 1997 a Reportagem de Capa deu vez ao marketing cultural, sob o título Quando Arte e Negócios se Completam. A síntese do material que ocupou 10 páginas: "Quem não associa determinada marca de cigarro ao maior festival de jazz do País? Há 12 anos a Souza Cruz descobriu o mapa de uma mina cujo ouro começa a ser procurado por número cada vez maior de empresas: o marketing cultural, investimento de excelente retorno mercadológico, publicitário e institucional. Esse crescimento, porém, não é fruto apenas da mudança de comportamento das empresas. Também é devido ao fato de o fomento à cultura por meio da iniciativa privada ter sido especialmente incentivado nos últimos dois anos com a regulamentação de duas leis federais, Rouanet e Audiovisual, que concedem benefícios fiscais aos patrocinadores".
A capa da edição de novembro de 1997, como é tradição na publicação desde o lançamento do Prêmio Desempenho Empresarial, foi reservada à empresa Melhor das Melhores. Desta vez, na primeira edição da fase revista contemplada pelo PDE, o presidente da Coop-Cooperhodia, Antonio José Monte, virou a estrela da capa. Foram reservadas 23 páginas para a cobertura da entrega da premiação. O título da matéria em que Monte contou detalhes da noite vitoriosa e as novidades da cooperativa -- Modernização Não Dispensa Humanismo -- refletia o acerto da decisão do Conselho Consultivo da publicação ao consagrar a Coop.
O ano de 1997 fechava com a Reportagem de Capa que reunia Wilson Ambrósio da Silva, Fausto Cestari, Marcos Gonçalves e Sílvio Tadeu Pina, os três primeiros que se sucederam na coordenação-geral do Fórum da Cidadania e o quarto, então potencial candidato ao posto nas eleições no ano seguinte. Grande ABC Muda Sob a Animação do Fórum da Cidadania, o título escolhido para a capa, era resultado de pesquisa junto ao Conselho Consultivo, o qual considerou a atuação da instituição o fato mais positivo do ano na região. O caos do sistema viário foi o fato mais negativo, segundo os consultores.
A primeira edição de 1998 apresentou na Reportagem de Capa uma nova tendência no mundo dos negócios. Ninguém é de Ferro foi o título escolhido para trabalho definido desta forma na abertura do material de página interna: "Em meados de outubro, na Associação dos Funcionários Públicos de São Bernardo, a Banda Fama animou encontro em que há pelo menos quatro anos não se ouvia falar. Foi o baile da ADC Basf, que, como nos velhos tempos, reuniu funcionários das unidades do Grupo Basf do Grande ABC e de Guaratinguetá. A retomada desse tipo de confraternização, que atraiu cerca de 300 colaboradores e familiares, não foi casual. Ações que tentam estimular ambiente de valorização da pessoa e favoreçam o espírito de grupo, que proporcionem momentos de lazer e harmonia ou voltadas ao bem-estar íntimo dos funcionários sempre estiveram presentes na política de RH da Basf. Mas ganham agora contornos mais definidos e intensos diante de nova onda que emerge, devagar, dentro das organizações e já ocupa a agenda de consultores empresariais: a qualidade de vida dos trabalhadores. O assunto saiu da sombra de forma tal que há três anos surgiu a ABQV (Associação Brasileira de Qualidade de Vida), cujo mote é justamente difundir o conceito sobre o estilo de vida e ambientes saudáveis nas empresas". Foram nove páginas de pesquisas, depoimentos, análises e informação.
Da qualidade de vida de janeiro, a capa de fevereiro de 1998 saltou para a preocupação com os pequenos empreendedores. O título Quem Salva os Pequenos Negócios? insinuava o que a reportagem resumia nas primeiras linhas:
"O império do salve-se-quem-puder domina os pequenos negócios do Grande ABC sem que autoridades públicas e lideranças da livre-iniciativa se movam de forma minimamente interessada. Cada novo grande empreendimento comercial ou na área de prestação de serviços que aporta na região, muitos dos quais em reformadas instalações de indústrias que debandaram, é recepcionado com entusiasmo e ufanismo só reservados aos heróis de guerra. É a indispensável modernidade que chega. As pompas variam, mas são geralmente pródigas no Poder Público, que concede facilidades de instalações de olho no bolo de receitas de impostos, muito mais concentrados e, portanto, mais fáceis de fiscalização. Ganham os consumidores, que passam a contar com conjunto cada vez mais completo de produtos e serviços, cujos preços refletem a competição pelo terceiro potencial de consumo do País. E os pequenos e tradicionais comerciantes de rua e prestadores de serviços, estimados em perto de 40 mil pontos de negócios? A cada nova inauguração de hipermercado, supermercado, grandes redes de autopeças, de móveis e de material de construção, o pequeno empreendedor amarga retração no caixa e engrossa a lista de mortalidade empresarial". Foram 12 páginas de ampla abordagem.
Nova e inédita Reportagem de Capa de muito fôlego foi reservada para a edição de março. Explode a Indústria do Entretenimento, o título escolhido, significou a mais completa reportagem que a Imprensa já publicou sobre outra face do Grande ABC pouco conhecida. O texto de abertura do material que consumiu 34 páginas: "Entretenimento. Entretenimento. Entretenimento. Guarde bem essa palavra. Melhor ainda: guarde a expressão indústria do entretenimento. É a quinta onda econômica do Grande ABC, depois das cerâmicas, dos têxteis e dos químicos a reboque da chegada da São Paulo-Railway no fim do século passado, da indústria automobilística nos anos 50, dos shoppings a partir do final dos anos 70 e do boom de serviços, em seguida. Entretenimento é um conjunto de atividades relacionadas diretamente com qualidade de vida. Bares, restaurantes, danceterias, cinemas, hotéis, teatros, centros de convenções, tudo isso tem o guarda-chuva do entretenimento. Mas falta alguma coisa ainda -- poderosíssima por sinal. São os parques temáticos, que dão visibilidade regional, mobilizam milhões de investimentos, atraem multidões de vários pontos do País e geram muitos empregos diretos e indiretos. São uma raridade no Brasil, mas atraem milhões de pessoas nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. Pois é: o Grande ABC de cara sisuda vai passar a exibir a alegria do entretenimento maior, dos parques temáticos".
Em abril, a Reportagem de Capa esmiuçou um dos setores-chave da industrialização do Grande ABC. Pólo em Xeque, o título da capa, referia-se ao Pólo Petroquímico de Capuava. A abertura da matéria especial que ocupou 16 páginas: "O aumento de produção da Petroquímica União, a primeira central de matérias-primas do País, é o maior teste à capacidade de mobilização institucional do Grande ABC. Responsável pelo abastecimento de empresas de segunda geração do setor petroquímico do Pólo de Capuava e também de outros municípios, inclusive Cubatão, a PQU vive situação decisiva. É agregar mais capacidade de produção de eteno, do qual deriva multiplicidade de subprodutos da cadeia produtiva, ou continuar a marcha batida de perda de importância econômica com repercussões em grande parte do parque industrial da região. A Petroquímica União, que já foi a maior central de matérias-primas da América Latina, perde feio para as outras duas unidades-chave do País, a Copene e a Copesul, porque só participa com 21% da produção nacional de eteno".
Outro setor econômico fortemente representado na região transformou-se em capa na edição seguinte, de maio de 1998: Virando o Jogo foi o título da matéria sobre a indústria moveleira do Grande ABC, densamente concentrada em São Bernardo. A reportagem, que ocupou 10 páginas, foi assim resumida na abertura: "A indústria de móveis do Grande ABC prepara-se para florescer novamente. Setor que já esteve no apogeu e deu fama à região até fins dos anos 70, quando começou a sucumbir diante de novas tecnologias, do despontar de outros pólos moveleiros do País e do furacão inflacionário que varreu a década de 80, a indústria de móveis está de volta. Não se trata apenas de tentar retomar a dinâmica econômica há muito desacelerada das estimadas 450 empresas que formam o parque produtivo regional e que empregam perto de seis mil trabalhadores. Trata-se de embarcar em iniciativas históricas que podem alterar o cenário do setor, preocupado em reposicionar-se para enfrentar outros pólos que dispararam na corrida pela qualidade e produtividade dos tempos modernos, casos de Bento Gonçalves (RS), Rio Negrinho (SC), Ubá (MG) e Linhares (ES)".
A capa de junho deu vez à educação. O Despertar das Escolas, matéria que ocupou 14 páginas, foi resumida assim no texto de abertura: "A Química ganha derivação para estudo do meio ambiente, a Mecânica cria opções para atuar com manutenção ou, num estágio mais avançado, em eletroeletrônica. O Direito do Consumidor recebe ênfase nos estudos de Administração e a mais nova profissão hightech, Info-Telecom, já prepara a primeira fornada para a virada do século. Formadores de conhecimento e de mão-de-obra, o ensino superior e as escolas profissionalizantes começam a seguir a cartilha da modernização econômica e a jogar pelos ares conteúdos pedagógicos ultrapassados. Cientes do potencial letal da desqualificação da mão-de-obra sobre os planos de eficiência das empresas, os centros de ensino do Grande ABC ajustam as grades curriculares a um mercado de trabalho implacável com baixa formação educacional".
A Reportagem de Capa de julho enfatizou o meio ambiente, sob o título Verde Valorizado. A abordagem econômica com forte pitada social revelou uma das preocupações editoriais da publicação. A reportagem que se espalhou por nove páginas -- Rendição ao Meio Ambiente -- foi sintetizada desta forma no texto de abertura: "O verde começa a colorir planilhas de gestão de inúmeras empresas do Grande ABC, que vislumbram no controle e preservação ambiental reforço à imagem institucional e base sólida para a competitividade internacional. Os valores ecológicos são formalizados pela série ISO 14000 e, a exemplo dos países desenvolvidos, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) já criou o Rótulo Ecológico do Brasil, figurado por um beija-flor, que objetiva certificar os produtos disponíveis no mercado que têm qualidade ambiental. No Grande ABC, onde está a maior concentração de indústrias automobilísticas do País, surgem as primeiras discussões sobre a instalação de uma fábrica para reciclagem de veículos".
Em agosto, nova Reportagem de Capa de muito fôlego e recheada por ingrediente que robustece mais e mais a publicação: credibilidade. Em pesquisa absolutamente inédita na história da industrialização do Grande ABC, o trabalho Quem Vai Desativar a Bomba Sindical? desvenda todos os labirintos das relações entre setor automotivo e sindicatos de metalúrgicos da região. A abertura da reportagem que se iniciou na página 12 e se estendeu até a 26: "Uma bomba-relógio ameaça agravar o declinante poderio econômico e a ascendente ruptura social do Grande ABC. Representantes de empresas que sustentam a principal atividade microeconômica da região -- a indústria automobilística e as autopeças que as rodeiam -- acabam de preparar espécie de dossiê que aponta quadro de gradual trombose do setor. A anomalia atinge quatro áreas que respondem diretamente pela capacidade de competir num mercado que se torna cada vez mais concorrido internamente, com novas montadoras que se instalam no País e, internacionalmente, com a globalização em ritmo frenético. Num trabalho inédito da Câmara Regional do Grande ABC, liderado pelo prefeito Maurício Soares, de São Bernardo, coordenador do Grupo de Competitividade do Setor Automotivo, os subgrupos de Relações Trabalhistas, Infra-Estrutura, Impostos e Desenvolvimento Tecnológico praticamente esmiuçaram os pontos principais de algo que pode ser resumido como Custo ABC, embutido em algo igualmente desestimulante para a atividade empresarial, o Custo Brasil".
Outro setor de relevo para o equilíbrio econômico do Grande ABC era desvendado na capa de setembro: Capital da Cor em Sintonia Com o Futuro descortinava as novidades apresentadas internamente, num texto plasticamente trabalhado com fotos que se iniciou na página 22 e se expandiu até a 34. A abertura da reportagem: "Imagine a cor do seu terno preferido, repare na textura do verniz que encobre o mobiliário de casa, preste atenção no esmalte que dá brilho ao seu veículo e na combinação de tintas que permite a alta definição de um trabalho impresso na gráfica ou no computador do escritório. Olhe um pouco ao redor. Tudo ou praticamente tudo é revestido: de paredes a cadeiras, do piso à geladeira, do carro na garagem à sinalização das estradas, do óleo sobre tela do pintor famoso ao desenho artístico em silkscreen das camisetas de campanha eleitoral. A indústria de tintas é imensa sob qualquer padrão, mas essa força econômica é pouco conhecida no território que sedia o maior contingente de fábricas no Brasil: o Grande ABC. Com 37 indústrias que empregam quatro mil funcionários, calcula-se que o Grande ABC produza 65% do mercado de tintas no País, algo colossal como 650 milhões dos 1,045 bilhão de litros registrados no ano passado, segundo dados do Sitivesp (Sindicato da Indústria de Tintas e Vernizes do Estado de São Paulo). A boa notícia, entretanto, é que esse parque vastíssimo em itens de fabricação tem como moldura uma coleção de tecnologias avançadas, ao contrário dos pólos que dão fama ao Grande ABC, como o automotivo e o moveleiro, que só recentemente providenciaram respostas ao aumento da concorrência trazida pelos importados e por outras regiões produtoras".
Em outubro a principal reportagem não poderia quebrar a tradição: voltou-se para a entrega do Prêmio Desempenho Empresarial. Desta vez, porém, não foi o representante da Melhor das Melhores, no caso Nívio Roque da OPP Polietilenos, o único a figurar na capa. Também o empreendedor Sérgio De Nadai, um dos diretores da De Nadai Alimentação, foi convidado a multiplicar o espaço de capa. Entre os dois, que posaram de perfil, o título sintomático do resultado da premiação -- Os Donos da Bola. A explicação estava na cobertura do PDE, que começou na página 94 e se alargou até a 126. Nívio Roque ganhou a foto de capa não só porque a organização da qual é o principal executivo conquistou o troféu número um do PDE, o de Melhor das Melhores, mas também porque ele, pessoalmente, ocupou uma das três concorridíssimas vagas de Executivo do Ano. E quem ocupou uma das outras duas vagas? Claro que Sérgio De Nadai, cuja empresa também constou da relação final das 12 organizações Melhores do Ano.
Em novembro a capa tornou-se polêmica, aguda, mas desbravadoramente corajosa e esclarecedora. Templo de Consumo é Torre de Babel foi o título escolhido para a reportagem que começou na página 20 e terminou na 28. O trabalho teve como origem debate promovido por grupo de estudos da USP (Universidade de São Paulo). O seminário internacional Os Shopping Centers Vistos por Especialistas, organizado pelo Gats (Grupo de Shopping Centers) e pelo Provar (Programa de Administração de Varejo da Universidade de São Paulo), reuniu alguns dos principais profissionais da área e serviu como âncora para a regionalização do tema à realidade no Grande ABC. Alguns trechos da matéria que abriu o trabalho: "Desde que foram inventados nos Estados Unidos, no início do século, os shopping centers se transformaram num bem-sucedido modelo comercial de domínio internacional. Onde quer que o capitalismo vigore, e vigora em praticamente todo o mundo desde a queda do Muro de Berlim e do esfacelamento da antiga União Soviética, parcelas mais ou menos significativas da distribuição de mercadorias são realizadas por intermédio desses centros de compras, que conquistaram espaço principalmente devido à segurança que proporcionam aos lojistas e à comodidade e conforto aos consumidores (...) Um mar-de-rosas ou uma rede de intrigas? Afinal, qual é a verdadeira relação entre lojistas e administradores de shopping centers no Brasil? Se vitrines reluzentes, qualidade, comodidade, estacionamento privilegiado e segurança fazem o consumidor imaginar um mar-de-rosas, não é menos verdade que a grita geral dos lojistas contra algumas imposições de empreendedores-administradores faz supor a existência de segredos e verdadeira rede de intrigas".
Em dezembro, pela segunda vez desde a fase revista, a informática ganhou Reportagem de Capa. Yes, Nós Temos Softwares simplesmente sistematizou, de forma criativa e envolvente, uma realidade que permanecia pulverizada no Grande ABC. O texto de abertura da matéria especial iniciada à página 62 e que só se encerrou à página 70: "Apesar de distante da envergadura dos grandes mercados de desenvolvimento de software do mundo e sem qualquer planejamento dos organismos públicos e acadêmicos, a livre-iniciativa do Grande ABC consegue reunir produtores de soluções de qualidade para os mais variados empreendimentos. Por meio de parceiros de maior porte, desenvolvedores locais driblam a falta de recursos financeiros e de informações sobre o setor, maior inibidora de acesso aos canais de difusão mundial. Produtos criados na região começam a romper fronteiras rumo ao mercado nacional e até internacional. A economia da região, que há 10 anos titubeia entre segurar o traço industrial e consolidar a tendência terciária, pede automação dos meios produtivo, comercial e de serviços. Isso implica em o mercado de tecnologia oferecer programas adequados para as necessidades dos parques industriais e concentrações comerciais e de serviços, permitindo performance para disputar espaço no mundo globalizado".
A capa de janeiro deste ano deu lugar, pela primeira vez, a uma empresa sem relação com pós-conquista do Prêmio Desempenho Empresarial. A Lista de Emkes foi o título escolhido para a capa em que o semblante sereno do norte-americano Mark Emkes, diretor-presidente da Bridgestone Firestone, exibia toda a tranquilidade de um vitorioso em País estranho. A abertura da matéria que começou na página 26 e só terminou na 34: "A guerra fiscal produziu no Grande ABC uma versão econômica da racial Lista de Schindler da Segunda Guerra Mundial. Presidente e diretor-geral da Bridgestone Firestone do Brasil, o norte-americano Mark Emkes recebeu no ano passado até homenagem do belicoso Sindicato dos Borracheiros, algo absolutamente inédito na história das relações sempre tormentosas entre capital e trabalho no Grande ABC. Da Lista de Emkes constam três mil empregos diretos desta multinacional de capital japonês. São os funcionários da fábrica de Santo André, que contribuem para equilibrar a apertada disputa no mercado nacional da Bridgestone Firestone com outros dois pesos-pesados mundiais, a italiana Pirelli e a norte-americana Goodyear. Se tivesse cedido à tentação de participar da guerra fiscal, a empresa já teria colocado um dos pés no Rio Grande do Sul, onde as concorrentes estão se expandindo".
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)