A recente chegada de mais três indústrias ao Pólo do Sertãozinho, em Mauá, evidencia a vocação industrial da cidade. Com cinco mil quilômetros quadrados (um terço do território de São Caetano) disponíveis para instalação de indústrias, o pólo apresenta vantagens competitivas para empreendedores que querem permanecer ou se mudar para a região. Além do preço atrativo, de R$ 30 em média o metro quadrado contra R$ 70 de outros terrenos industriais da Grande São Paulo, e da proximidade com produtores petroquímicos de Capuava, o pólo é considerado a principal reserva do Grande ABC com possibilidades de atrair especialmente médias e pequenas empresas.
As três novas organizações que vêm se juntar às 68 já instaladas em Sertãozinho iniciam atividades no segundo semestre. A argentina Sun Garden, fabricante de móveis plásticos, vem de São Mateus, na Zona Leste da Capital, para ocupar 12 mil dos 78 mil metros quadrados adquiridos no início do ano. A New Pack, de embalagens, troca Diadema por Mauá, e a Polarfix, de produtos médico-hospitalares, deixa Ribeirão Pires e duas cidades do Interior para se concentrar em terreno de 62 mil metros quadrados.
Com as três chegam cerca de 360 empregos. O número é pequeno devido à automação. Mas como novas empresas abrem oportunidades para serviços terceirizados e fornecedores locais, o Poder Público considera esses dois aspectos no cômputo final das novas oportunidades. Além do aquecimento, mesmo que lento, da economia da cidade, existe o aumento da arrecadação, fator crucial para um Município que convive com o fantasma de R$ 650 milhões de dívida, três vezes o orçamento anual.
"Cada indústria que chega confirma a vocação do Município" -- sustenta o prefeito Oswaldo Dias. O diretor de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura, Paulo Eugênio Pereira, vai mais longe. "A verdadeira vocação do pólo é a indústria de transformação do plástico" -- diz convicto. A afirmação está baseada na proximidade com Capuava, nas atividades das novatas -- a Sun Garden deve utilizar matéria-prima da Polibrasil e da OPP -- e também nos números. Quinze indústrias da terceira geração da cadeia produtiva do setor de plásticos já estão instaladas no Pólo do Sertãozinho. O fato motivou a unidade do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de Mauá a dar ênfase ao curso de processo petroquímico e a Comgás a anunciar a expansão da rede de gás industrial, que hoje chega até a ICI, antiga Tintas Coral, para todo o bairro.
Ao atacar em várias frentes, a Prefeitura aposta em outra peculiaridade da área. Como a maior parte dos 11,6 milhões de metros quadrados do pólo está classificada como Zupi (Zona de Uso Predominantemente Industrial), é possível utilizar a lei estadual 1.817/78, que não estabelece lote mínimo para implantação de indústrias desde que o Município aprove o empreendimento. A brecha, legalizada por parecer jurídico, foi encontrada na própria Lei de Uso e Ocupação do Solo de Mauá. Ao mesmo tempo em que estabelece a metragem mínima de cinco mil metros quadrados nas Zupis, remete ao Estado o poder de desconsiderar tal metragem. Se levado em conta que grandes empresas negociam benefícios para implantação com governadores e até presidentes, a abertura legal deixa a Prefeitura com importante trunfo. "Pequenos e médios sempre batem às portas do poder local" -- confirma Paulo Eugênio.
A movimentação econômica dos grandes, porém, desenha-se nos bastidores e ultrapassa as fronteiras do pólo. A Basf Poliuretano, instalada no Sertãozinho e que produz matéria-prima para solado de calçados, estuda a possibilidade de trazer nova planta para a unidade de Mauá. Também o Grupo Pão-de-Açúcar acena com a implantação de supermercado da rede em terreno na área central que pertencia ao Grupo Peralta e integraria recente negociação entre as duas empresas do setor varejista. O McDonalds, igualmente, teria demonstrado interesse em área próxima à Prefeitura onde funcionava o terminal rodoviário. De oficial, até agora, apenas o sinal verde dos vereadores, que aprovaram a venda da antiga rodoviária pela Prefeitura.
A esperada e reivindicada ligação Mauá-Via Anchieta, pela Estrada do Sertãozinho, pode mudar de rumo antes mesmo de sair do papel. Após a apresentação do projeto da estrada, que expôs a empresários e políticos de Mauá todas as dificuldades de viabilizar a obra, o prefeito Oswaldo Dias mudou de direção. De olho na movimentação do governo estadual que prepara as diretrizes do trecho sul do Rodoanel, Dias resolveu reivindicar um acesso para o Município. A obra, teoricamente, substituiria a ligação. Até agora, porém, de concreto só existe a boa intenção e a predisposição ao diálogo dos governos estadual e municipal. Pelo menos por hora, tanto a rodovia quanto a alça de acesso ao Rodoanel não passam de projetos.
A novidade promete mais um capítulo em história que tem no mínimo 20 anos. Orçada em R$ 25 milhões, dinheiro que a Prefeitura não tem e valor que não consta do Orçamento do Estado para este ano, a tão sonhada estrada adormece nas prateleiras do Poder Público. E corre o risco de nunca mais sair de lá, caso o Estado encampe a versão mais atualizada. De acordo com o superintendente de Gestão da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) e coordenador técnico do Rodoanel, Ulisses Carraro, a saída prevista para a região sul pode perfeitamente ser em Mauá. Basta que estudos comprovem a viabilidade. "Estamos apostando na nova alternativa" -- anima-se o prefeito Oswaldo Dias, que já tratou o assunto pessoalmente com o secretário estadual dos Transportes, Michael Paul Zeitlin.
O trecho sul do Rodoanel começa a ser construído em julho de 2000. Até o final do ano, porém, o ponto de interseção com a região já terá sido eleito. "É uma discussão para a Câmara Regional" -- avisa Ulisses Carraro. Como o Rodoanel se liga à Via Anchieta nas proximidades da Volkswagen, mesmo trecho em que desembocaria a estrada, a substituição é praticamente certa. Basta a Câmara entender que a alça de acesso em Mauá favorece o desenvolvimento estratégico da região.
Após duas décadas de espera, a luz parece brilhar no fim do túnel. As obras do Rodoanel, que começaram em outubro do ano passado, devem estar prontas em 2005. O anel viário de 162 quilômetros de extensão que circunda a Capital de São Paulo e interliga todas as rodovias estaduais vai consumir R$ 3,2 bilhões e desafogar o trânsito das marginais. Com projeto pronto para licitação, a Estrada Mauá-Via Anchieta prevê duas pistas com 14,8 quilômetros de extensão. Se fosse apenas escolher uma das duas alternativas, o problema estaria resolvido. Resta saber se a propalada integração regional vai falar mais alto.
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