Economia

Minciotti e Volks,
as boas notícias

DA REDAÇÃO - 05/05/1999

Duas boas e duas más notícias envolveram capital e trabalho em abril no Grande ABC. A primeira boa nova é que Sílvio Minciotti, um dos mais conceituados profissionais da região, já está reforçando o braço do governo do Estado na Câmara Regional. A segunda é que a Volkswagen do Brasil anunciou acordo com os sindicatos dos metalúrgicos do ABC e de Taubaté, e também com o Sindicato de Mecânicos e Afins de Transporte Automotivo da República Argentina, por meio do qual passa a debater em conjunto vários aspectos relevantes das unidades que atuam no Mercosul. As duas más notícias: aumentou o índice de desemprego e vai diminuir o repasse de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) aos projetos de requalificação profissional dos trabalhadores da região.


Membro do Conselho Consultivo de Livre Mercado, professor de pós-graduação do Imes (Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano), ex-presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e um dos diretores responsáveis pelo processo de preparação da privatização da Fepasa, Sílvio Minciotti passa a ter atividade integrativa na região, direcionada ao desenvolvimento de políticas de geração de emprego e renda. Indicado por Walter Barelli, secretário estadual do Emprego e Relações do Trabalho, Minciotti já está fazendo tabelinha de peso com Armando Laganá, representante no Grande ABC da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado. 


Sílvio Minciotti tem espécie de abacaxi imenso a descascar, porque as transformações econômicas locais estão deixando rastro de desemprego recorde. Na mesma semana em que se divulgaram as novas funções de Minciotti como representante do governo Mário Covas, técnicos da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) reuniram-se na sede do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, em Santo André, e anunciaram a bomba: há 245 mil desempregados no Grande ABC, número que equivale ao total das populações de São Caetano e Ribeirão Pires. 


A PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), como é chamado o trabalho contratado pelo Consórcio, constatou que a taxa total expandiu-se novamente no Grande ABC, passando de 20,6% da PEA (População Economicamente Ativa) em fevereiro para 21,1% em março. O nível de ocupação variou 0,7%, tendo sido criados seis mil novos postos de trabalho, o que elevou a estimativa de ocupados para 914 mil pessoas. Como no mês anterior, esse comportamento resultou da ampliação do contingente de ocupados no setor de serviços, já que indústria e comércio continuam em retração. Foram criados 24 mil postos de trabalho em serviços, contra redução de nove mil postos na indústria e outros nove mil no comércio. A incorporação de 15 mil pessoas à PED superou os seis mil novos postos de trabalho criados.


Em março, repetindo movimento registrado nos três meses anteriores, a taxa de desemprego total manteve trajetória ascendente, segundo estudos do Seade/Dieese. Trata-se do patamar de desemprego mais elevado já registrado desde o início da pesquisa, em abril do ano passado. Em relação a dezembro de 1998, houve crescimento de 3,9% na taxa de desemprego total no Grande ABC. Pelo terceiro mês consecutivo, o crescimento da taxa de desemprego na região (2,4%) foi menos intenso que o ocorrido no Município de São Paulo (5,1%). Esse comportamento, segundo avaliação dos técnicos do Seade e do Dieese, atenuou a expansão do desemprego na Região Metropolitana de São Paulo, cuja taxa, mesmo assim, ampliou-se 6,4% no período e alcançou 19,9%. 


FAT corta -- A preparação da mão-de-obra desempregada vai ganhar dramaticidade na disputa por recursos do FAT. A verba destinada ao Estado de São Paulo foi reduzida de R$ 46 milhões no ano passado para R$ 29 milhões neste. A comitiva regional que desembarcou em Brasília para tratar do assunto voltou de malas vazias e cabeça quente. O ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, só faltou dar uma banana gestual para a prefeita de Ribeirão Pires, Maria Inês Soares, também presidente do Consórcio Intermunicipal e coordenadora da Câmara Regional, para Carlos Augusto César Cafu, sindicalista que comanda o Fórum da Cidadania, para o deputado federal Luiz Carlos da Silva e para o secretário estadual Walter Barelli. Dornelles desvencilhou-se rispidamente dos visitantes, atribuindo ao conselho do FAT a distribuição dos recursos financeiros. 


O projeto Alquimia, direcionado à qualificação dos desempregados do setor de plásticos, corre sérios riscos na avaliação de Cafu, do Sindicato dos Químicos. Destinado à formação de 12 mil trabalhadores em 36 meses, o Alquimia exige R$ 3 milhões de recursos. 


Volks faz acordo -- Entendimento mesmo em abril só foi possível entre a Volkswagen do Brasil e os metalúrgicos do Mercosul. Não se trata de nada extraordinário, mas revela a boa vontade das partes em harmonizar relações tradicionalmente conflitivas. Fernando Tadeu Perez, vice-presidente de Recursos Humanos da montadora de origem alemã, reuniu líderes sindicais dos metalúrgicos de São Bernardo, Taubaté e Argentina para assinatura do Contrato Coletivo Mercosul. Foi uma festa comportada num dos auditórios da montadora, em São Bernardo. 


O contrato define que as unidades Volkswagen no Mercosul, os sindicatos e as comissões internas de fábrica realizarão pelo menos uma vez por ano reunião conjunta para debater assuntos relevantes das atividades da montadora no âmbito do Mercosul, especialmente no campo trabalhista. As partes se comprometem a buscar melhores condições de competitividade do conjunto das fábricas, assim como atuar no desenvolvimento da conscientização de todos os membros das unidades. O documento prevê também redução de conflitos por meio de diálogo permanente e, em casos especiais, de negociação.


A Volkswagen se compromete a reconhecer os sindicatos e as comissões internas de fábrica como interlocutores no tratamento de assuntos trabalhistas. Também admite o direito dos trabalhadores organizarem-se sindicalmente e a constituir comissões internas de fábrica. O acordo prevê ainda programas de capacitação profissional, que passarão a contar com contribuições e sugestões dos sindicatos e das comissões internas de fábricas de modo a tornarem-se homogêneos. 


O pano de fundo desse acordo são a competitividade cada vez mais intensa no setor automobilístico e os desdobramentos decorrentes disso, como nível de emprego, qualidade de vida, qualidade do produto, satisfação do cliente, produtividade e impacto ambiental. Aspectos macroeconômicos envolvendo Brasil e Argentina, principalmente os efeitos da desvalorização do Real, que alterou todo o jogo de relações comerciais entre os dois países, nem chegaram a ser discutidos. Volks e metalúrgicos preferiram o realismo de um acordo pragmático que não procurará, num primeiro estágio, debater questões econômico-financeiras que fogem do alcance de suas deliberações. 


O encontro só não foi mais descontraído porque um tema pirata acabou se sobressaindo: o que será do mercado automotivo nacional se o acordo que reduziu a carga de impostos federal e estadual não for renovado, neste início de maio? Tadeu Perez respondeu que 2,8 mil empregos poderão pagar a conta, porque esse seria o excesso do contingente de 19 mil trabalhadores da Volks/Anchieta se o patamar de vendas não se situar em pelo menos 1,5 milhão de veículos este ano. Um número que só a renovação do acordo pode garantir.


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