Imprensa

CapitalSocial segue projeto
de independência editorial

DANIEL LIMA - 27/11/2018

Vira e mexe alguém me pergunta, numa conversa típica de cerca-lourenço, sobre as condições financeiras para transformar esta revista digital em algo mais abrangente na ocupação de espaços de comunicação num mundo que parece não estabelecer limites tecnológicos.

Não costumo dar muita trela. Sei que condicionantes violadores dos princípios editoriais que nos movem jamais serão aceitos.

Os dias que me faltam são dias menos quantitativos que os dias que já vivi. Não teria sentido sujeitar-me a determinados critérios econômicos vinculados a interesses políticos e partidários para buscar amplitude que não me entusiasma. Já vivi mais do que tenho a viver.

Acho que os leitores deveriam ler este artigo sem considerar eventual porção personalista, individual, egocêntrica, deste jornalista. Sou obrigado a tocar em determinados assuntos porque tenho ampla interação profissional com os leitores. Devo-lhe a obrigação da transparência.

Audiência crescente

A intensidade de crescimento da audiência de CapitalSocial aumenta a nossa responsabilidade ao mesmo tempo em que cresce nossa convicção de que temos de sustentar personalidade profissional conhecida de todos, e, portanto, a salvo de pressões de terceiros.

Não é fácil equilibrar-se entre demandas de leitores mais que razoáveis, bastante interessantes, de demandas de leitores que só enxergam o próprio umbigo.

Enfrentei e enfrento o cão chupando manga com determinados surtos de revanchismo de leitores paus mandados de investidores sanguinários. Quando cantei a bola de que seria uma baita furada a chegada de novos shoppings na região, um assecla de um dos grupos avançou em direção a minha jugular. Mas como estava convicto de que não escrevera bobagem, o resultado não poderia ser outro: o moço escafedeu. Com o mercado imobiliário, com a terceirização do futebol do Santo André, com o avanço político sobre o futebol do São Bernardo, com as estatísticas furadas de secretários de desenvolvimento econômico, com a inutilidade, mas também com a importância do Clube dos Prefeitos, e assim por diante.

Sabem os leitores como sigo em equilíbrio com a minha própria história no jornalismo que já passou de meio século, iniciada que foi essa história quando adolescente em Araçatuba, na revista Cinelândia e na Rádio Luz?

Memória seletiva

Para começo de conversa, quando se trata de coerência minha memória é especial. Fosse assim a tantas outras coisas que esqueço com uma facilidade que me inquieta, acho que me candidataria a cérebro de ouro. Como, repito, esqueço de tanta coisa, tenho de tomar muito cuidado para não engrossar a fila dos completamente desmemoriados. Daquela turma que tem de conviver diariamente com o alemão da piada.  

Mas nem sempre a memória seletiva (no meu caso, jornalisticamente seletiva) deve ser superestimada. Afinal, quais seriam as condições para atender à demanda de eventuais acionistas de CapitalSocial que se pretenderiam interessados em acrescentar mais e mais camadas de credibilidade à marca?

Foi aí que me lembrei (viu como lembro mesmo de questões jornalísticas) de um texto que publiquei em 11 de maio de 2011 nesta mesma publicação. Fazia pouco mais de um ano que repassara a revista LivreMercado a um competente empresário do ramo de recuperação tributária que imaginou reproduzir o talento no ramo editorial e fracassou fragorosamente. Havia burburinho sobre possíveis parcerias que faria para retornar ao mercado impresso. Estava já incrustrado nesta área digital.

Foi então que resolvi publicar uma espécie de carta de responsabilidades mútuas, cláusulas pétreas por assim dizer, que delineava os limites a eventuais interessados. O documento é tão atual, porque, afinal, não caí na raia miúda de quem faz qualquer coisa por dinheiro, que vale a pena ser reproduzido. Dividi condicionantes em aspectos sociais, econômicos e políticos que saltaram do conteúdo histórico da revista LivreMercado, a qual dirigi por duas décadas, após cria-la em março de 1990. Vamos checá-los?

Aspectos sociais

1. Olhar permanente aos desvalidos, principalmente agentes sociais que atuam nas periferias do Grande ABC. As chamadas Madres Terezas e Freis Galvão.

2. Desprezo absoluto ao colunismo social de celebridades, uma fonte eterna de badulaques egocêntricos.

3. Construção de biografias de gente que faz o Grande ABC principalmente longe das manchetes sempre seletivas, protecionistas e compensatórias.

4. Tratamento responsável à infraestrutura social do Grande ABC.

5. Produção de reportagens e análises que desvendem e ajudem a solucionar problemas crônicos da sociedade.

Aspectos econômicos

1. Desbaratamento completo de falsas mensagens que procuram vender a economia do Grande ABC pela ótica do triunfalismo.

2. Comedimento e equilíbrio nas questões que envolvem capital e trabalho.

3. Desenvolvimento de estudos e análises econômicas que deem suporte a políticas públicas e privadas.

4. Avaliação criteriosa de anúncios de investimentos de forma a não ser levado pela onda de interesses nem sempre claros.

5. Análise crítica de investimentos públicos e suas consequências no tecido social e econômico da região. Sem salvacionismos do tipo trecho sul do Rodoanel.

6. Reconstrução de um processo de coletivismo que tenha nas entidades empresariais e sindicais agentes de modernização das relações com a sociedade como um todo.

Aspectos políticos

1. Menos protagonismo de siglas partidárias e prioridade total a uma agenda que valorize tanto as atividades econômicas quanto sociais e institucionais.

2. Análises eleitorais baseadas em ferramentas estatísticas confiáveis, entre outros elementos.

3. Fuga da rede de intrigas que trabalhe com subjetividades.

4. Enquadramento de informações estatísticas que deem sustentação a análises fora da órbita do governo de plantão.

5. Prioridade total a tudo que se referir à regionalidade do Grande ABC, sem deixar-se cair na rede de grandiloquências que já se provaram frágeis.

Completei aquele texto que já completou sete anos com um enunciado que se mantém atual. Leiam: 

 É claro que esses pontos são apenas uma vitrine para esquadrinhar a linha editorial de CapitalSocial. Nada que surpreenda, portanto, quem acompanha nosso trabalho. Qualquer resultado diferente do que imagino, ou seja, de desconforto em promover ajuntamento que tenha critérios tão solidificados de uma linha editorial de respeito aos leitores, será surpreendente. Quem sabe uma meia dúzia de bem-aventurados regionalistas que disponham de algum recurso financeiro permitiria nova plataforma de embarque desse veículo de comunicação. Garanto que não perco o sono por conta disso, ou seja, de uma nova-antiga forma de fazer jornalismo.



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