O PIB (Produto Interno Bruto) dos Municípios Brasileiros de 2016 deverá ser conhecido ainda esta semana. O calendário anual do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) reserva os números que identificam o comportamento da geração de riqueza nos municípios sempre que o dia 15 de dezembro se aproxima.
Há sempre dois anos de defasagem na divulgação do PIB dos Municípios. O Brasil viveu a recessão mais intensa da história entre 2015 e 2016. Ainda não conhecemos os estragos locais em 2016. Ou melhor: conhecemos fartamente, mas faltam números oficiais.
A região será impactada por nova e gigantesca queda. Os números serão detestados, mas precisam ser expostos. Até mesmo para que a maioria que se sente individualmente incompetente encontre um bálsamo restaurador: é quase impossível vislumbrar perspectivas douradas quando só se tem chumbo no dia a dia.
A queda do PIB, em volume, em 2015, confrontado com 2014, chegou a 16,02% envolvendo os sete municípios da região. Não será muito diferente quando sair o PIB do ano seguinte, de 2016. O PIB que deveremos conhecer esta semana. Nenhuma rezadeira vai dar jeito. Os triunfalistas de plantão, que vendem ilusões como a de que temos um setor de serviços avançado, que se calem. Chega de passarem vexames.
Como no ano passado
No ano passado, quando publiquei a primeira matéria sobre o comportamento do PIB dos Municípios em 2015, avisei que a notícia também seria péssima. Houve quem chiasse, quem me chamasse de terrorista, de derrotismo. De catastrofista.
Pois repito a dose neste ano. Dois mil e dezesseis foi igualmente terrível. No ano passado, 2017, também fomos mal, mas os números só serão conhecidos em dezembro do ano que vem. Possivelmente serão negativos, mas sem provocarem assombros. Se forem levemente positivos (afinal, a base de comparação é baixíssima) nada deverá causar entusiasmo. Aliás, a premissa vale também quando for conhecido o PIB dos Municípios da região desta temporada, que serão divulgados somente em dezembro de 2020.
Esse atraso é uma lástima, claro. Não seria a primeira vez que uma possível reação do PIB Nacional, com reflexos municipais, será colhida no contrapé de resultados verdadeiros, mas que fazem parte do passado.
O PIB Nacional deverá crescer perto de 2,5% no ano que vem, contra algo como 1,4% neste ano. Quem garante são os macroeconomistas. Uma reação tímida, é verdade, mas que configura a saída do fundo do poço do governo Dilma Rousseff, demitida por haver abusado de manipulações fiscais. Somente os cegos de paixão partidária e ideológica não reconhecem em Dilma Rousseff o suprassumo da incompetência e abusam em traduzir sua queda em golpe.
O PIB dos Municípios que analisei em 14 de dezembro do ano passado, referindo-se aos dados de 2015, estraçalharam especialmente São Bernardo e São Caetano, extremamente dependentes do setor automotivo.
Doença Holandesa
Quando afirmo que sofremos da Doença Holandesa Automotiva, sobretudo São Bernardo e São Caetano, quero dizer que esse negócio de depender demais de uma única atividade – o setor automotivo – é uma roubada. Sobretudo porque é uma atividade cada vez mais competitiva e descentralizada no País.
Os últimos dados do Clube das Montadoras, como deveria chamar a Anfavea, entidade que integra as indústrias do setor, revelam que há seis dezenas e meia de fábricas de veículos no País, com capacidade de produzir 4,63 milhões de unidade por ano. Como se vê, há muito se foi o tempo em que a região era praticamente monopolista no setor. Mas tem muita gente no comando da Administração Pública que não se deu conta disso.
E é o setor automotivo que baliza a calibragem do PIB dos Municípios da região. O desastre de 2015 da atividade foi terrível. Foram 22,8% de perda na produção e de 26,55% nas vendas. Quem esperava por resultados melhores em 2016 (o ano ao qual se refere o PIB que sairá nesta semana, não custa repetir) desconhece que desgraça pouca é besteira: as vendas de veículos em 2016 caíram 20,2% no território nacional, em comparação com o ano anterior. Foram licenciados 2,05 milhões de veículos, incluindo carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões.
São Caetano na frente
São Caetano perdeu em volume do PIB em 2015 bem mais que os demais municípios da região. Nem Santo André que vive largamente do setor químico e petroquímico do Polo de Capuava escapou dos estragos. A queda de São Caetano, dependente demais da General Motors, foi de 22,62%. São Bernardo perdeu 16,2% e Santo André 11,33%.
No ano de 2015 divulgado no ano passado o PIB da região alcançou R$ 111.919.471 bilhões, ante R$ 118.248.024 de 2014. Esses valores são nominais, sem efeitos da inflação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 10,67%. Para que o PIB da região de 2015 não sofresse nenhuma perda real no confronto com o PIB de 2014 teria de ter alcançado R$ 130.865.089 bilhões. A diferença entre o atualizado monetariamente e o registrado significou diferença negativa de 16,02%.
Quando São Bernardo é abalada na criação de riqueza o efeito-dominó sobre a região é automático, embora em menor intensidade. O PIB da Capital Automotiva da região era de 38,19% do total regional em 2015: dos R$ 111.919.471, R$ 42.745.533 bilhões tinham as marcas de São Bernardo. Nossa Doença Holandesa Automotiva, portanto, é disseminadora de empobrecimento. Da mesma forma que, no período de vacas gordas, gera reação em cadeia. O drama é que sempre que observada ao longo das duas últimas décadas, a dependência automotiva regional é um mau negócio.
Tradição de análise
Como é tradição desta revista digital, seguindo a liturgia de responsabilidade social da revista LivreMercado (lançada em março de 1990, em pleno Plano Collor, aquele que surrupiou o dinheiro dos brasileiros), vamos cuidar atentamente dos novos dados do PIB dos Municípios Brasileiros. É impossível entender o que se passa na região sem ter um histórico cuidadoso sobre tudo que está direta ou indiretamente relacionamento à produção de riqueza.
E não pensem que ficaremos restritos ao convencionalismo do PIB. Entenda-se convencionalismo como a simples divulgação dos resultados. Sempre fomos além disso e o faremos de novo. Um exemplo: em dezembro do ano passado, quando saiu o PIB dos Municípios de 2015, fomos a fundo para mostrar um PIB ainda mais precioso e revelador: quanto cada Município da região perdeu no critério per capita, que consiste em dividir o PIB Geral do Município pelo total de habitantes.
Foi assim que concluímos que São Bernardo perdeu 19,17% do PIB per capita no confronto com o ano anterior, ou seja, 2015. São Caetano foi ainda pior, com queda de 23,02%. Santo André perdeu no mesmo período de 12 meses nada menos que 11,66%. Em Diadema o estrago foi de 11,49%. Mauá caiu 0,75%, Ribeirão Pires 2,00% e Rio Grande da Serra 8,5%.
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