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MALU MARCOCCIA - 05/01/2000

Diadema decidiu sair da sombra de um estigma -- a de Município mais violento do País -- e guindar o desenvolvimento econômico à condição de prioridade. O prefeito Gilson Menezes e a vice Maria Regina Gonçalves, também secretária de Desenvolvimento Econômico e Turismo, resolveram fazer barulho para desafiar a crise econômica e de imagem que abala a cidade e criar força-tarefa que dinamize os negócios, além da arrecadação. Até mesmo a criação da TV Diadema faz parte dos planos. Mais do que isso, já aparecem no organograma público despesas sob a rubrica Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico, que consumiram 0,10% do orçamento de 1999, e Desenvolvimento Regional, com 0,01%. Um avanço em relação ao 0,00% de anos atrás.

Depois de mostrar a cara na Internet a partir do site www.diadematem.com.br, por meio do qual pode-se localizar as empresas do Município pelo nome ou por ramo de atividade, a Prefeitura produziu em conjunto com a iniciativa privada vídeo institucional que sublinha pontos positivos potencialmente atraentes para investimentos. Também lançou o programa Diadema 2000, com ações que serão colocadas na ordem do dia deste primeiro semestre. Entre os projetos destacam-se o cartão de compras Diadema Comercial, a criação de um centro permanente de negócios das empresas locais e convênio com a Fundação Getúlio Vargas para dar consultoria aos novos empreendedores. A TV Diadema, segundo o projeto, será vocacionada para negócios e serviços à comunidade.

Paralelamente, a máquina pública se reestrutura para agilizar a burocracia municipal diante das demandas de empreendedores, como a aprovação em 24 horas de novas empresas. A Lei de Uso e Ocupação do Solo também é objeto de estudo para facilitar a instalação de empreendimentos com eliminação de restrições legais de localização e edificação. "Além disso, discutimos no âmbito da Câmara Regional a Lei de Incentivos Fiscais para cada cidade atrair investimentos que fortaleçam suas vocações ou criem novas" -- expõe Maria Regina.   

O vídeo institucional foi apresentado a seleto grupo de empresários em meados de dezembro e ressalta o que a Prefeitura considera pontos positivos do Município: localização à margem da Rodovia dos Imigrantes a meio caminho do Porto de Santos e vizinha à Capital, pólo industrial com farta mão-de-obra, áreas para implantação de fábricas, rede de fornecedores próximos e inserção no maior mercado consumidor do País, a Região Metropolitana de São Paulo. Será levado a fóruns de debates e feiras, inclusive internacionais. O vídeo já foi apresentado no final do ano passado em Genebra, Suíça, no encontro das Mercocidades, de grandes cidades do Mercosul.

A secretária de Desenvolvimento Econômico entende que há um diagnóstico enviesado sobre Diadema e que é mais do que hora de Poder Público e entidades empresariais unirem esforços. Não se trata de varrer para debaixo do tapete a evasão industrial que castigou o Grande ABC, o desemprego que oscila entre 17% e 18% em Diadema ou o índice de criminalidade de 108 assassinatos a cada 100 mil moradores da cidade, o dobro da taxa nacional, segundo dados de 1998 apurados pela Polícia Militar. "Há variáveis que o Município não controla, como a recessão econômica que atinge o parque produtor e afeta o mercado de trabalho. Mas há coisas boas, e podemos fazer outras melhores, que devemos potencializar" -- entende a secretária, que se vem empenhando em visitas pessoais para sensibilizar as empresas. Foram cerca de 450 nos 10 meses de atividades da Pasta. "O próprio empresário se sente mais valorizado com a criação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Temos de acabar com a cultura ultrapassada de o Poder Público procurar a iniciativa privada só atrás de patrocínio e de as empresas procurarem a Prefeitura atrás de favores. A mentalidade deve ser de integração" -- coloca.

Pelos números da Prefeitura, Diadema vem ganhando algumas batalhas. Parcerias com entidades empresariais para atração de investimentos e assessoria a negócios já instalados -- casos de Ciesp, Acid e Sebrae -- indicam que a cidade mais recebeu do que viu ir embora (ou fechar) estabelecimentos. Em dois anos, contabilizados de janeiro de 1997 a novembro de 1999, foram inscritas 304 indústrias e encerradas 136, abertos 1.246 estabelecimentos de serviços e fechados 468, e inaugurados 1.166 comércios, contra 493 que fecharam as portas. Além disso, Diadema implementou experiência pioneira de condomínios industriais em antigos galpões de fábricas. Em quatro ex-grandes indústrias estão hoje 45 empresas de pequeno porte, que empregam 15 pessoas cada, em média. A maioria, segundo a secretária, vinda de São Paulo. "Foi a forma de revitalizar galpões vazios e incentivar novos empreendedores com custos competitivos, já que dividem as despesas de infra-estrutura" -- relata.


Mudar o perfil -- Mais do que não deixar tombar as receitas com arrecadação, o prefeito Gilson Menezes elenca como prioridade gerar emprego e renda. Ele diz que Diadema não dispõe mais de grandes áreas para formar pólos de produção, mas pode incentivar pequenos e médios empreendimentos na forma de condomínios. No ranking regional, Diadema é a cidade que menos sofre perdas no Índice de Participação dos Municípios, com base na arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). De 1982 a 1999, o índice subiu de 1,2125% para 1,3156% no bolo do ICMS no Estado, uma alta de 8,26%. O Grande ABC, em conjunto, baixou sua participação em 23,5% nesse período, segundo estudos da ASPR Consultores e Auditores, de Santo André. Mesmo assim, Diadema caiu do 10º para 12º lugar no ranking de arrecadação do Estado, de 1998 para 1999. 

A secretária de Desenvolvimento Econômico explica que as ações para instalação de novos empreendimentos e auxílio aos já existentes também visam a diversificar as atividades econômicas. "Queremos quebrar a dependência do setor metal-mecânico. Temos de fugir do espectro das montadoras" -- diz, referindo-se às metalúrgicas e autopeças, que hoje dão o tom dos negócios. Levantamento atualizado junto ao Ciesp local indica que a cadeia automotiva é dominante: metal-mecânico responde por 28% das atividades, plásticos por 14% e químico por 13%. Em quarto lugar emergem os serviços, com 9%. A aposta é na revisão da Lei de Incentivos Seletivos -- a Loto Fiscal do Grande ABC acertada no âmbito da Câmara Regional e que beneficia empreendimentos com devolução de impostos ou permuta de áreas públicas conforme o volume de empregos, expansão dos negócios e respeito à lei ambiental. 

Diadema quer fazer o mesmo que Santo André, que troca alterações na Lei de Uso e Ocupação do Solo por obras na infra-estrutura pública ou ações sociais. Já tem na cabeceira de pista, para decolar, investimento de R$ 2 milhões no Central Shopping, negócio com 140 lojas em 14 mil metros quadrados na área central onde estava previsto o Shopping da Moça, cujas obras estão paradas há quatro anos. "Conseguimos sócios para o investimento e agora vamos mexer na lei de verticalização em troca de obras sociais" -- revela Maria Regina. O shopping deve vir agregado a um centro de convenções e hotel cinco estrelas, o que exige mexer com a área urbana. "Temos de criar atrativos na cidade com boa oferta de comércio, rede hoteleira e cinemas de gabarito" -- cita a secretária.

Nessa corrida, serviço de Primeiro Mundo deve desembarcar neste mês. A Policard lança o Cartão Diadema Comercial para azeitar a máquina varejista. O cartão de compras não tem taxa de adesão, oferece isenção de anuidade e linha de crédito aos consumidores. A expectativa é de arregimentar nos primeiros quatro meses entre 30 mil e 40 mil usuários, cerca de 10% da população, segundo a Policard. Ainda este mês a Prefeitura pretende implantar premiação de incentivo às ações sociais das empresas criando distinção semelhante ao Empresa Cidadã e Amiga da Criança, em parceria com a Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos).

Para fevereiro, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico pretende iniciar debates sobre a construção do que chama de centro permanente de negócios das empresas de Diadema com o Brasil e o mundo. Pelo projeto, será criado um centro de exposições para troca de negócios e que também deve sediar um Museu da Ciência e da Indústria.  Para março, a agenda Diadema 2000 está programando Fórum Internacional sobre Desenvolvimento Auto-Sustentado entre cidades da América e Comunidade Européia, seguido de rodada de negócios. 

No balanço dos 10 meses da secretaria, Maria Regina Gonçalves destaca o credenciamento de Diadema junto ao Mercocidades, o que permite série de intercâmbios com cidades de grande porte do Mercosul, e o convênio com o Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação) do Grande ABC para implantação de restaurante-escola que formou 1,8 mil trabalhadores em 1999. Também cita a readequação do posto do Sine (Sistema Nacional do Emprego), que tem cadastrados 25 mil nomes à disposição das empresas sem custo de agenciamento, e a representação da cidade na Feira de Genebra e no Fórum Mercocidades de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Friburgo, Suíça, em novembro. 


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