A overdose de shopping centers injetada no Grande ABC nos últimos anos transformou em cenário darwiniano a luta pela sobrevivência no setor. Centros comerciais mais frágeis em estrutura, atendimento e localização estão cambaleantes, com parcela significativa de lojas fechadas, enquanto shoppings mais estruturados e com maior poder de fogo marquetológico e promocional para fisgar consumidores demonstram vitalidade, apesar da contínua queda de atividade econômica regional.
O ABC Plaza Shopping pertence à categoria das espécimes que se desenvolvem a despeito do habitat hostil. Inaugurado em setembro de 1997 nas antigas instalações das indústrias Atlantis e Black & Decker, ao lado da estação rodoferroviária de Santo André, o ABC Plaza atingiu vendas superiores a R$ 100 milhões em 1999 e não expõe uma loja fechada. Os mais de 200 espaços para locação estão ocupados por grifes como Vila Romana, C&A e Luigi Bertoli, situação rara no universo de shopping centers brasileiros, geralmente superdimensionados. "Se o shopping fosse uma fábrica, estaria operando no limite da capacidade de produção" -- ilustra o administrador Walter Tassetto. Executivo da BRX Administradora de Shoppings, responsável pelo Shopping D, entre outros, Walter Tassetto tem 10 anos de experiência no ramo e está há dois anos no ABC Plaza.
O faturamento de mais de R$ 100 milhões em 1999 é 36,2% superior ao do ano anterior e foi alcançado com inovações que, transplantadas para a lógica evolucionista dissecada pelo naturalista inglês Charles Darwin, devem ser compreendidas como adaptações ao meio ambiente. Durante o ano passado o shopping consolidou o prédio administrativo que acolhe organizações como América On Line, Amil e Caixa Econômica Federal, além de trazer gigantes do Varejo como Hipermercado Extra e Madeirense. A unidade 24 horas do Extra, do Grupo Pão de Açúcar, ocupa 13,7 mil metros quadrados da antiga Armco. A Madeirense, que vende milhares de itens em utilidades domésticas e materiais para acabamento, está instalada em outros 7,2 mil metros quadrados construídos. "O mix de produtos, que já era bom, ficou mais completo" -- resume Márcia Pacheco, gerente de Marketing do ABC Plaza desde setembro de 99.
Indício de que a realidade do empreendimento difere da de outros centros de compras abalados pela escassez de consumidores está na expansão do estacionamento de veículos. O shopping adquiriu terreno próximo de 8,2 mil metros para transformá-lo em 500 novas vagas. As obras já começaram e serão concluídas em junho, projeta Walter Tasseto. A expansão é necessária porque o estacionamento com 2,5 mil vagas vive lotado. O ABC Plaza recebe média de 20 mil veículos aos sábados, 12 mil nos dias úteis e 13 mil aos domingos. "O recorde foi batido em 23 de dezembro do ano passado, quando circularam 25.018 veículos, o que representa rotatividade de 10 vezes por vaga" -- empolga-se o administrador.
Os automóveis não devem ser tomados como único parâmetro de frequência. O ABC Plaza também recebe milhares de consumidores que não dispõem de transporte próprio, por estar localizado ao lado da estação rodoferroviária de Santo André. A pluralidade social dos potenciais consumidores, refletida no mix das lojas, explica em muito o êxito do empreendimento. Com a experiência de 10 anos no segmento, Walter Tasseto lembra que um shopping só se consolida com massa heterogênea de consumidores, a menos que a região de influência, como é chamada tecnicamente a área ao redor do empreendimento, seja tão extraordinariamente rica a ponto de justificar modelo eminentemente vip. E cita vários shoppings que encontraram dificuldades justamente por superdimensionar a fatia de consumidores mais abonados. O ABC Plaza recebe média de 50 mil consumidores aos sábados, 35 mil nos dias úteis e 40 mil aos domingos.
As 500 novas vagas de estacionamento compensarão com sobras as 350 que o shopping deixará de contar nos próximos meses. É que a área coberta de 10 mil metros quadrados utilizada como estacionamento improvisado será convertida em espaço para 50 a 60 novas lojas. A Brazil Realty, controladora do ABC Plaza Shopping, injetará cerca de R$ 3 milhões na ampliação, cujas obras terão início em agosto e o término é previsto para novembro. A expectativa da executiva Márcia Pacheco é de que as novas lojas entrem em operação no primeiro semestre de 2001. "Já existem cerca de 30 interessados nos espaços, mas é preciso avaliar com cautela para manter o equilíbrio do mix" -- explica Walter Tassetto.
O ABC Plaza Shopping atingirá, com isso, cerca de 270 lojas. Trata-se da terceira fase de expansão do empreendimento, que ainda não completou três anos de operações. A primeira etapa foi concluída em abril de 1998 -- menos de um ano após a inauguração, em setembro de 1997 -- com a chegada de âncoras como C&A, Vila Romana e Eletro. A segunda foi efetivada em meados de 1999 com a locação de espaços do prédio administrativo para organizações como Caixa Econômica Federal e Banco do Povo de Santo André.
Além de ampliações, o shopping passa por reciclagem contínua de lojas. No mês passado, a atacadista de artigos de papelaria Kalunga se instalou em área de 1,2 mil metros quadrados anteriormente ocupada pelas Lojas Brasileiras. Até o próximo Dia das Mães outras sete lojas deverão ingressar no empreendimento, por substituição: Zêlo, de artigos de cama, mesa e banho; Thousand e Prefixo, de moda jovem; French Bazar, de moda feminina; Coração Mineiro e Fileto, na praça de alimentação; além do empório Casa Mássima.
Entretenimento -- Com 51 mil metros quadrados de construção em espaço de 141 mil metros quadrados e responsável por 2,2 mil empregos diretos, incluindo 400 vagas abertas pelo Hipermercado Extra, o ABC Plaza Shopping dá certo sobretudo porque o segmento de entretenimento foi priorizado no projeto. São quase oito mil metros quadrados exclusivamente de diversão, compartilhados por Sport Bar com 24 pistas de boliche, Playland com mil metros quadrados e 10 salas de cinema administradas pela rede Cinemark.
O lazer é considerado por especialistas como uma das principais alavancas de crescimento de shopping centers porque atua como chamariz que beneficia setores tradicionais como vestuário, por exemplo. Afinal, é expressiva a parcela de consumidores que sai de casa com intenção de assistir a um filme e acaba seduzida pelas vitrines. As pistas de boliche, os cinemas e o Playland estão dispostos em mezanino cujo acesso pode se dar por escada rolante que atravessa a megalivraria Siciliano, totalmente integrada ao projeto arquitetônico do shopping.
A praça de alimentação também é superlativa. São 23 lojas, casos de McDonalds, Bobs, Amor aos Pedaços, Fredíssimo, La Basque, La Buca Romana e All Parmegiana, entre outras. Com 270 mesas e 1080 cadeiras, está entre as maiores de shoppings brasileiros.
A performance do ABC Plaza Shopping também é forjada por estratégias administrativas e peculiaridades estruturais que passam despercebidas do grande público. Todos os espaços são ocupados sob regime de locação. Não há um ponto comercial vendido, e isso é fundamental para o equilíbrio do empreendimento. "Já trabalhei em shopping com 50% das lojas vendidas. Era verdadeiro inferno. É preciso que todos os lojistas estejam em igualdade de condições perante a administração para que interesses próprios não se tornem obstáculo ao interesse coletivo" -- comenta o executivo Walter Tassetto. Também joga a favor do ABC Plaza o fato de ser horizontalizado. Sobretudo sob o ponto de vista financeiro. "As despesas com manutenção e energia elétrica consumida por elevadores e escadas rolantes dos shoppings verticalizados formam um dos itens mais pesados na composição de custos" -- explica o administrador.
O ABC Plaza Shopping também procura estreitar laços com a comunidade por meio de atividades físicas e esportivas. Desde meados de 1998 promove caminhadas matinais nos corredores do empreendimento, sob comando de um professor de Educação Física. Grupo com cerca de 20 pessoas, a maioria de Terceira Idade, caminha três quilômetros por dia. "As caminhadas são realizadas entre 7h e 10h, período em que o shopping estaria ocioso" -- explica Márcia Pacheco.
Durante vários meses a área de estacionamento foi convertida em quadras poliesportivas aos domingos para entreter jovens das comunidades próximas com jogos de basquete, vôlei e futebol de salão. Em abril do ano passado as quadras acolheram torneio de futsal para deficientes auditivos. As atividades esportivas no espaço dos automóveis tiveram de ser suspensas em setembro do ano passado, quando o ABC Plaza passou a funcionar também aos domingos. Feira de livros, curso de culinária, exames preventivos de osteoporose e diabetes, além de eventos culturais, representam outras frequentes ações de cunho comunitário. Em parceria com a Prefeitura de Santo André e o Diário do Grande ABC, o shopping idealizou em 1999 o concurso de pintura A Cor de Santo André é Você, em homenagem ao aniversário de fundação da cidade. Mais de 400 trabalhos foram selecionados e expostos.
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