Economia

Grande ABC terá PIB mais
que estarrecedor em 2030

DANIEL LIMA - 09/01/2019

Quer saber como estará a economia do Grande ABC dentro da Região Metropolitana de São Paulo quando 2030 chegar? Antes, não esqueça de atentar para uma situação que está posta: 2030 está aí, batendo à porta. Uma década passa num piscar de olhos. 

O que projetamos para a região numa macro-área territorial de 39 municípios, que representa quase a metade do PIB do Estado de São Paulo, só não é estarrecedor porque é muito mais que estarrecedor. 

Chegaremos ao fundo do poço temporário (porque o definitivo sempre será adiado) se o ritmo de crescimento do PIB Geral da região nos próximos 14 anos (a contar de 2017) for semelhante ao PIB Geral dos 14 anos anteriores (entre 2002 e 2016), como mostramos na análise de ontem com dados brutos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

Antes de passar aos dados que vão deixar o leitor de cabelos em pé, convém lembrar que a perspectiva que traçamos não tem nada de pessimista, de catastrófica, de cética. É realidade retrospectiva combinada com realidade prospectiva. A primeira já está consolidada. A segunda tem tudo para se consolidar. Os números absolutos devem mudar, mas os números relativos têm tudo para se confirmarem. 

Mudar ou mudar 

Só haveria uma hipótese que colocaria a nocaute os estragos que vamos desenhar: se num passe de mágica a Província do Grande ABC passe a contar com um grupo de gestores públicos, agentes empresariais e agentes da sociedade prontos a se beliscarem mutuamente. E se deem conta de que precisam acordar de um pesadelo. Que a competitividade regional seja restaurada, sob pena de contarmos com uma população gigantesca cada vez mais integrada por excluídos. 

O Grande ABC dos tempos gloriosos a partir dos anos 1950, com a chegada da indústria automobilística, já morreu faz tempo. Os escombros estão aí. E podem ser maiores e mais contundentes ainda. 

A projeção para a economia da região em 2030 aponta no sentido de que teremos apenas 5,00% de participação do PIB Geral da Região Metropolitana de São Paulo. Bem menos que os 13,29% registrados em 2002, último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso, e também bem menos que os 10,11% de 2016, último ano sob influência mais aguda do governo petista de Dilma Rousseff. 

Essa projeção coloca o Grande ABC como a quarta força do PIB Geral da Região Metropolitana de São Paulo, atrás da sempre líder Capital, da Grande Oeste (liderada por Osasco) e do Grande Leste (liderada por Guarulhos). Hoje já estamos atrás da Grande Oeste. E perdendo de goleada. 

Veja como, pela ordem cronológica, os posicionamentos das regiões da metrópole paulista neste século:

 O Grande ABC contava com participação metropolitana de 13,29% em 2002, caiu para 10,11% em 2016 e chegaria a 5,00% em 2030.

 São Paulo, Capital, contava com participação metropolitana de 63,92% em 2002, passou para 62,01% em 2016 e marcaria 60,16% em 2030.

 A Região Norte contava com participação metropolitana de 1,31% em 2002, subiu para 1,91% em 2016 e chegaria a 2,80% em 2030.

 A Região Sudoeste contava com participação metropolitana de 2,50% em 2002, passou para 3,31% em 2016 e chegaria a 4,37% em 2030.

 A Região Leste contava com participação metropolitana de 9,35% em 2002, passou para 9,02% em 2016 e chegaria a 8,69% em 2030. 

 A Região Oeste contava com 9,62% em 2002, passou para 13,63% em 2016 e chegaria a 18,92% em 2030. 

Passado condena futuro 

Antes de explicar a estrutura de suporte ao esticamento do futuro provável da economia da Grande São Paulo até 2030 convém ressaltar que o passado recente de 14 anos já apurados do PIB Geral, a partir da base de 2002, assegura que o quadro regional será praticamente inexorável. A escalada de crescimento das demais áreas da metrópole em relação aos passos de tartaruga do Grande ABC tem consistência em fatores estruturais e ambientais para os negócios. 

Quanto mais a Região Metropolitana de São Paulo for dotada de complementação macroviária (o Rodoanel ainda não se completou, porque o braço Norte está com o cronograma atrasado mas deve ser inaugurado nos próximos dois anos), mais o Grande ABC estará descartado de investimentos produtivos. 

Estamos encalacrados pela Serra do Mar e pelos mananciais. E o trecho sul do Rodoanel praticamente nos isolou do restante da metrópole e da Baixada Santista. Uma situação de extrema-unção logística. Não há a menor possibilidade de alterar esse nó de competitividade.

Também não se deve desconsiderar o período da pesquisa com dados brutos do IBGE e cujos números revelamos na edição de ontem. O PIB Geral do Grande ABC praticamente ficou congelado entre janeiro de 2003 e dezembro de 2016, numa comparação ponta a ponta. O crescimento nominal foi pouco acima da inflação do período. Quando se divide o saldo por 14 anos, o resultado é que o crescimento real, descontada a inflação, pouco passou de 1% em média ao ano. Muito pouco perto dos concorrentes metropolitanos. 

Crescimento médio 

Pois foi o crescimento médio nominal de cada área metropolitana que balizou a perspectiva de uma realidade que chegará em 2030. É claro que esse não é um jogo milimetricamente exato, mas a tendência é que não fuja ao que se apresenta neste artigo. 

Chegar em 2030 com apenas 5,00% do PIB Metropolitano, para quem já passou dos 13% neste século (e que já foi muito maior em períodos anteriores, casos da catástrofe do governo Fernando Henrique Cardoso e dos estragos do sindicalismo) é o que se poderia chamar de fim da picada. Mesmo assim, a conclusão seria precipitada. Depois de 2030 tudo pode ser ainda pior.  Não temos institucionalidade para uma reviravolta no placar de competitividade. Ou teremos alguma coisa diferente com um novo titular no Clube dos Prefeitos, no caso o prefeito de Santo André, Paulinho Serra? Trataremos disso amanhã.

Para concluir, chegamos aos percentuais de participação de cada região da metrópole paulista com base no índice de velocidade do crescimento nominal (sem considerar a inflação) do PIB Geral entre 2003 e 2016. Vejam como se comportaram esses espaços:

 Grande ABC, crescimento nominal de 185,50%, com média anual de 13,25%.

 Cidade de São Paulo, crescimento nominal de 264,08%, com média anual de 18,86%.

 Região Norte, crescimento nominal de 448,27%, com média anual de 32,01%.

 Região Leste, crescimento nominal de 262,03%, com média anual de 18, 71%.

 Região Sudoeste, crescimento nominal de 396,08%, com média anual de 28, 29%.

 Região Oeste, crescimento de 431,75%, com média anual de 30, 84%. 

Metodologia segura 

A operação que culminou nos dados previstos para 2030 foi ancorada pelo PIB Geral de cada município multiplicado pelo índice de crescimento de velocidade nominal do PIB Geral nos 14 anos anteriores. A projeção é de que, em valores de dezembro de 2016, o PIB Geral da Região Metropolitana de São Paulo em 2030 chegará a R$ 4.157.716.428 trilhões. 

É claro que os valores absolutos poderão ser alterados, porque dependeriam de vários fatores, sobretudo inflacionários. Mas o resultado final que interessa mesmo e que deverá ser confrontado quando dezembro de 2030 chegar é a participação relativa de cada agrupamento regional. É aí que até prova material em contrário nos encontraremos com o desespero. 

A probabilidade de o Grande ABC não se desvencilhar das armadilhas em que se meteu e, também, de os concorrentes seguirem adiante no processo de crescimento muito acima dos sete municípios locais, é bastante factível. 

Mesmo com a recuperação da indústria automotiva, centro nervoso da economia regional, a reviravolta metropolitana do Grande ABC é improvável. Basta comparar a ponta do período de 2003 a 2016, quando o PT esteve à frente do governo federal. 

Eventual pico produtivo de veículos em 2030 na região não serviria de salvação da lavoura: somos cada vez menos importantes no mapa nacional de produção que conta com mais de sete dezenas de divisões produtivas. 

O melhor é torcer para que o Grande ABC em algum período dos próximos 11 anos encontre uma alternativa eficiente de reação à derrocada que se arrasta sem piedade. Quem acredita nisso? 



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