Quem imaginou, como imaginei, que seria praticamente impossível o PIB Industrial do Grande ABC cair ainda mais depois dos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002, só tem motivos a lamentações. Durante os 14 anos diretamente comandados pelo PT, entre janeiro de 2003 e dezembro de 2016, o PIB Industrial da região caiu outros 21%, média de 1,5% ao ano, numa comparação ponta a ponta. São Caetano comanda a derrocada. Seguem-se São Bernardo e Santo André. Diadema perdeu pouco. Os demais ganharam, mas pesam pouco no PIB Industrial da região. Resumo? Perdemos em municípios onde não poderíamos perder e ganhamos onde ganhar não significa muito.
O resultado do PIB Industrial é um contraponto mais que inquietante ao crescimento quase vegetativo, mas de qualquer maneira crescimento, do PIB Geral (que engloba todos os setores econômicos e a Administração Pública) que avançou em média 1,76% ao ano no mesmo período.
Quem concluir que o PIB Industrial em queda está na raiz da mediocridade do PIB Geral da região em 14 anos está absolutamente certo. O peso relativo das atividades de transformação industrial na região ainda é bastante expressivo. São 21% com tendência de cair persistente, depois de passar dos 50% nos anos 1970 e de começar este século acima dos 35%.
Trocando em miúdos: pelo andar da carruagem das mudanças econômicas que alteram o perfil da região, seguiremos perdendo mais PIB Geral em comparação com outras regiões do Estado do País e regrediremos no PIB Industrial sistematicamente.
Detalhamento dos números
Hoje ficaremos restritos à análise do PIB Industrial do Grande ABC levando-se em conta principalmente os sete municípios. O resultado mais abrangente também vai na contramão do crescimento das demais regiões da Grande São Paulo, como mostramos na semana passada quando tratamos do PIB Geral. Ou seja: os números não acompanham as demais áreas da metrópole quando se trata de resultado positivo, porque medíocre; e, no caso industrial, cai pelas tabelas.
Uma exposição didática mostra o novo declínio do PIB Industrial da região. No último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002, o balanço do Grande ABC no PIB Industrial apresentava o resultado de R$ 12.776.017 bilhões. Em dezembro de 2016, ou seja, 14 anos depois, o PIB Geral alcançou R$ 24.285.477 bilhões.
Para quem está no mundo da lua do triunfalismo coloca a escanteio a inflação do período, o Grande ABC teria dobrado o PIB Geral em 14 anos. Como o mundo econômico tem dinâmica própria, a atualização monetária de dezembro de 2002 com base na inflação medida pelo IPCA do IBGE no critério ponta a ponta, entre janeiro de 2003 e dezembro de 2016, registrou 128,98%.
Ou seja: o valor apontado como fechamento do PIB Geral deixado por FHC chegaria deflacionado a R$ 29.54.523 bilhões. Fazendo-se as contas do quanto era o PIB Geral de 2002 atualizado a 2016 e pegando-se o PIB Geral de 2016, chega-se ao resultado de perda de 20,46% no período.
Desindustrialização persistente
Tudo isso não comporta segredo nem manipulação. Ou o leitor acredita que, por exemplo, com o mesmo dinheiro que se comprava um carro novo em janeiro de 2003 se compraria um carro novo em dezembro de 2016? Claro que não. Mas há gente que despreza essa equação.
Não é difícil alguém se meter a comparar o resultado nominal do PIB Industrial da região em 2002 com o de 2016 e proclamar o dobro em matéria de crescimento. Já fizeram isso e ficou tudo por conta de desprezo às vítimas, também conhecidas como leitores incautos.
A explicação para nova perda do PIB Industrial do Grande ABC, agora num período amplo de 14 anos, que se somam aos oito anos de FHC, é que o processo de desindustrialização está longe de se encerrar. As autoridades públicas não dão bola para os estragos que se seguirão. Por isso vão continuar a chorar o leite derramado de quebras arrecadatórias.
Mauá e Ribeirão de perdas
Perder arredondados 21% do PIB Industrial em 14 anos significa que a região viu emagrecer a capacidade de construir riqueza em termos equivalentes a tudo que praticamente Mauá e Ribeirão Pires representaram de produção industrial em 2016. Traduzindo: quando se somam o que as indústrias de Mauá e de Ribeirão Pires transformaram em produtos com a massa de trabalhadores e salários embutidos na operação em 2016, chega-se praticamente à queda do PIB Industrial da região na mesma temporada.
Quer fazer as contas? Pegue o PIB Industrial atualizado a 2016 do Grande ABC de 2002 (R$ 24.285.477 bilhões) e confronte com o PIB Industrial de 2016 (R$ 29.254.523 bilhões. A diferença, negativa, é de R$ 4.969,046 bilhões). Agora pegue os valores monetários do PIB Industrial de Mauá em 2016 (R$ 4.373.723 bilhões) e some ao PIB Industrial de Ribeirão Pires também de 2016 (R$ 700.978 milhões). O resultado é praticamente o PIB Industrial perdido pela região durante o governo petista.
Os municípios da região mais dependentes da indústria automotiva acusaram as maiores perdas relativas desde 2002. Quem mais caiu foi São Caetano. O PIB Industrial foi rebaixado em 38,59%, média anual de 2,75%. Eram R$ 2.098.054 bilhões em 2002 (atualizado, o valor alcança R$ 4.804.124 bilhões em 2016), contra o efetivamente apurado de R$ 2.950.348 bilhões). Ou seja: o crescimento nominal de São Caetano no período, sem considerar a inflação, não passou de 40,62%. Bem menos que os 128,98% do IPCA.
São Bernardo se trumbica
São Bernardo também se trumbicou no PIB Industrial, com números relativos semelhantes. São Bernardo contabilizou perda de 29,43% (queda média anual de 2,10%). Santo André também perdeu no PIB Industrial, mas um pouco menos que os concorrentes mais intimamente relacionados ao setor automotivo. Foram 17,95% de rebaixamento, média anual de 1,28%. Teria sido muito mais não fosse Santo André beneficiada com a Doença Holandesa Petroquímica, ou seja, a riqueza produzida no Polo de Capuava. Uma riqueza que divide com Mauá. Diadema praticamente manteve o PIB Industrial, com queda de apenas 3,09% no período. Quase nada. O que, se não é péssimo, também está longe de ser razoável.
Os outros três municípios da região superaram vicissitudes conjunturais e estruturais do setor industrial da região e cresceram no período petista quando se retira o lacre dos valores nominais e se utiliza a métrica de valor real, ou seja, deflacionado.
Impulsionado pelo parque químico e petroquímico, do qual depende em mais de 60% na arrecadação de impostos, Mauá cresceu 24,25%, média anual de 1,73%. Ribeirão Pires cresceu mais ainda: 52,75%. E Rio Grande da Serra 81,61%. Seria bom se esses três municípios não pesassem apenas 13% no PIB Industrial da região, mesmo após tantos bons resultados.
Confira na sequência o comportamento do PIB Industrial dos sete municípios da região:
Santo André contava com PIB nominal de R$ 2.303.332 bilhões em 2002. Quando se aplica a inflação do IPCA do período que se esgota em dezembro de 2016, chega-se a R$ 5.274.170 bilhões. O PIB real de 2016 registrou R$ 4.327.279 bilhões. Resultado: perda do PIB Industrial de 17,95% na comparação ponta a ponta do período analisado.
São Bernardo contava com PIB Industrial nominal de R$ 5.089.675 bilhões em dezembro de 2002. Em valores atualizados a dezembro de 2016 chega-se a R$ 11.654.338 bilhões. O PIB Industrial real de 2016 registrou R$ 8.223.955 bilhões. Resultado: no confronto dos números, uma queda de 29,43%, média de 2,10% ao ano.
São Caetano contava com PIB Industrial nominal em 2002 de R$ 2.098.054 bilhões. Corrigido pelo IPCA, o valor alcança R$ 4.804.124 bilhões em dezembro de 2016. O PIB Industrial real de 2016 chegou a R$ 2.950.348 bilhões. Resultado: uma perda de 38,59% em termos reais, média anual de 2,75%.
Diadema contava com PIB Industrial nominal em 2002 de R$ 1.598.592 bilhões. Corrigido pelo IPCA, o valor alcança R$ 3.660.456 bilhões em dezembro de 2016. O PIB Industrial de 2016 registrou R$ 3.547.137 bilhões. Resultado: quebra de3,09% no período de 14 anos.
Mauá contava com PIB Industrial nominal de R$ 1.446.858 bilhões em dezembro de 2002. Atualizado pelo IPCA, chega a R$ 3.313.015 bilhões em 2016. O PIB Industrial real de Mauá em 2016 foi de R$ 4.373.723 bilhões. Resultado do confronto ponta a ponta: crescimento de 24,25%, com média anual de 1,73%%.
Ribeirão Pires contava com PIB Industrial nominal de 200.536 milhões em 2002. Em valores atualizados a dezembro de 2016 pelo IPCA, o valor alcança R$ 459.187 milhões. Como o PIB Industrial real registrou R$ 700.978 milhões em 2016, o crescimento no período foi de 52,65% em valores reais.
Rio Grande da Serra contava com PIB Industrial nominal de R$ 38.970 milhões em 2002. Quando corrigido a dezembro de 2016, eram R$ 89.233 milhões. O PIB Industrial de 2016 registrou R$ 162.057 milhões. Resultado: crescimento de 81,61% no período, média anual de 5,83%.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?