Mostramos ontem com números oficiais e irrefutáveis que a desindustrialização do Grande ABC está longe de se resumir aos efeitos impactantes que a retirada da Ford de São Bernardo e mesmo da General Motors de São Caetano poderiam sugerir. O problema é estrutural. Entenda-se como estrutural algo como uma desgraça atrás da outra, com algum intervalo para a enganação da felicidade temporária que leva triunfalistas de plantão a botar a cabeça cheia de vento para fora. Até que tomem cacetadas em seguida. Está sendo assim desde sempre.
O Grande ABC perdeu feio da indústria no Estado de São Paulo, fortemente deslocada ao Interior. Avançamos em termos nominais apenas 88,82% (abaixo da inflação do período de 212,98%) no entre janeiro de 2003 a dezembro de 2016. Como estaria o confronto na Região Metropolitana de São Paulo, área que os chamados especialistas diziam lá atrás, nos anos 1990, estar condenada igualmente à deserção industrial?
Sempre considerando os 14 anos petistas especificados, que vieram após os oito anos desastrosos de Fernando Henrique Cardoso, quando o PIB Industrial do Grande ABC perdeu um terço de sua força, o comportamento da indústria da região no PIB da Região Metropolitana de São Paulo é uma associação de mediocridade e infortúnio.
Mais de C$ 5 bilhões
Claro que os números regionais do confronto estadual seguem a valer agora que o adversário é outro, ou seja, os demais 32 municípios da Grande São Paulo. O PIB da Indústria da região saiu de R$ 12.010.713 bilhões em 2002 (fita de largada da disputa) e chegou a R$ 24.123.420 bilhões em 2016. Quando se aplica a correção pelo IPCA, o PIB de 2002 salta a R$ R$ 29.254.524 bilhões. Ou seja: ficamos abaixo do mínimo necessário para não acusar perda monetária. Se o PIB Industrial de 2002 corrigido monetariamente virou R$ 29.254.524 e o PIB Industrial real de 2016 registrou R$ 24.123.420 bilhões, a diferença é de 5.131.104 bilhões. Que baita prejuízo, não é verdade?
Mas, afinal, o que significam mais de R$ 5 bilhões de diferença entre o real e o deflacionado que indicaria perda zero de PIB Industrial do período do Grande ABC durante o governo Lula-Dilma? Sempre considerando os valores atualizados a dezembro de 2016, nesse período a indústria do Grande ABC viu escorrer pelo ralo do esvaziamento produtivo nada menos que uma Santo André inteira (R$ 4.327.279 bilhões) somada a uma Ribeirão Pires (R$ 700.978 milhões).
Repetindo aos desatentos: o PIB Industrial do Grande ABC sofreu prejuízo equivalente à soma do PIB Industrial de Santo André e de Ribeirão Pires durante os 14 anos pós-mandatos de Fernando Henrique Cardoso. E ainda não surgiram os números oficiais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referente aos anos de 2017 e 2018, que só virão no fim deste ano e no fim do ano que vem. E podem cobrar: vem mais bucha por aí, porque a desindustrialização é crônica, além de estrutural.
Na contramão
E agora é que as águas metropolitanas se encontram. Como teriam se comportado os demais municípios do maior conglomerado populacional da América Latina durante os 14 anos mencionados. Somos generosos e incluímos os sete municípios da região no resultado final. Dos R$ 54.427.042 bilhões (sempre em valores nominais) registrados em 2002, chegamos a R$ 134.288.038 bilhões (valores de dezembro de 2016) na outra ponta do estudo. Crescimento nominal, ou seja, sem considerar a inflação, de 146,73%.
Para saber se a Região Metropolitana como um todo ultrapassou a barreira do crescimento nominal, ou seja, se os números de 2016 foram superiores aos números de 2002, é preciso deflacionar os valores. Quanto se aplica a correção inflacionária aos números de 2002 (R$ 54.427.042 bilhões) para saber o quanto seria de fato em 2016, alcança-se R$ 124.627.041 bilhões.
Repararam que o valor de 2002 atualizado a dezembro de 2016 é menor que o valor de fato registrado pelo PIB Industrial da Região Metropolitana de São Paulo, da ordem de R%$ 134.288.038 bilhões? Isso significa que em termos de PIB Industrial, mesmo carregando o fardo do Grande ABC nas costas, houve crescimento real. Foram R$ 9.660.997 bilhões de aumento em valores monetários.
Ou seja: enquanto o Grande ABC perdeu o equivalente à soma do PIB Industrial de Santo André e de Ribeirão Pires no período de 14 anos, a Região Metropolitana de São Paulo cresceu o equivalente a uma São Bernardo (R$ 8.223.955) e a quase que integralmente uma Cajamar com seus R$ 1.803.939 bilhão de PIB Industrial.
Caindo pelas tabelas
Uma das consequências desses resultados gerais e específicos, além da constatação repetitiva de que a desindustrialização do Grande ABC é endêmica, desmanchando a ilusão dos oportunistas que propagaram efeitos milagrosos ao trecho sul do Rodoanel, é que a participação relativa dos sete municípios sofreu duro golpe.
Se em 2002, último ano do governo fernandohenriquista, quando se imaginava o fundo do poço, o PIB Industrial do Grande ABC representava 23,47% do PIB Industrial da Grande São Paulo, em 2016 despencou para 17,98%. Ou seja: a região perdeu 23,48% de participação relativa no PIB Industrial da Grande São Paulo nos 14 anos analisados. Quase dois pontos percentuais ao ano. Uma barbaridade.
A Capital Econômica do Grande ABC sofreu duro golpe nesse período, ironicamente comandado em nível federal pelo Partido dos Trabalhadores nascido no berço esplêndido dos movimentos sindicais. São Bernardo teve participação na Grande São Paulo reduzida de 9,35% para 6,12%, uma queda relativa de 34,54%. São Caetano perdeu 42,86% de participação metropolitana na indústria de transformação, caindo de 3,85% para 2,20%. Nem Santo André escapou, caindo de 4,23% para 3,22%, com perda relativa de 23,88%.
Quando afirmo que nem Santo André se salvou não quero dizer que exista qualquer possibilidade de o PIB Industrial do Município surpreender quando acusa novas perdas, mas é sempre possível perder cada vez menos porque quase tudo do que tinha a perder nas últimas décadas já foram para o brejo.
Tanto é verdade que choca aos dirigentes locais constatarem (e trato desse assunto de vez em quando) que a recriminada Barueri, a quem se atribui farra de guerra fiscal para atrair investimentos nem sempre dourados, contava em 2016 com PIB Industrial praticamente igual ao de Santo André: R$ 4.327.279 bilhões contra R$ 4.212.889 bilhões daquele Município à Oeste da Região Metropolitana de São Paulo. Em 2002, na largada desse embate, Santo André era bem mais forte, com PIB Industrial de R$ 2.303.332 bilhões (valores nominais) contra R$ 1.879.349 bilhões. Ou seja: a vantagem pró-Santo André de 18,41% na largada caiu para 2,5% na chegada. O que separa o desenvolvimento econômico dos dois municípios (e coloque distância nisso) são os setores de comércio e serviços. Barueri dá de lavada não só em Santo André, como nos demais municípios locais.
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