Pensei em utilizar a palavra “desesperança” para definir o comportamento da economia do Grande ABC neste novo século, portanto, desde o 2000. Optei, entretanto, pelo que está no título. É mais contundente. E também porque é mais preciso. Encaixe perfeito. Qualifica o que é desclassificatório, ou seja, a institucionalidade regional.
Institucionalidade no sentido mais amplo, não apenas relacionada ao Poder Público. Refiro-me à soma de entidades inúteis, a maioria das quais povoada de oportunistas ou incompetentes, quando não as duas coisas. Gente velha de guerra. E gente nova presa a velharias. Dizer isso é respeitar a inteligência e as perspectivas dos leitores. Eles sabem quem os rodeiam. Quem são os mandachuvas e mandachuvinhas.
Nosso PIB Geral (a soma de riqueza produzida num determinado período) perde de goleada para a mediocridade registrada no mesmo período por um País chamado Brasil -- aquele que não cansa de ter um grande futuro no passado. E perde ainda mais feio para concorrentes diretos na Região Metropolitana de São Paulo.
Ou seja: o vexame regional é responsabilidade integralmente doméstica. Nada tem a ver com improdutividades de escala que os acadêmicos sempre projetaram na Grande São Paulo. E que não se confirmou na métrica terrorista que desfilaram.
Período de 17 anos
Vamos a um resumo dos números deste século. Peguei o PIB Geral do Grande ABC de 1999 e o confrontei com o PIB Geral de 2016, o mais atualizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Portanto, a comparação é ponta a ponta. Deflacionei os dados. Ou seja: atualizei monetariamente os valores em relação a dezembro de 2016. A base de cálculo envolve o dia primeiro de janeiro de 2000 e o dia 31 de dezembro de 2016.
Levei em consideração o volume do PIB Geral, que considera todas as atividades econômicas e, também, a Administração Pública. Indústria, comércio, serviços, construção civil, agropecuária, tudo está no mesmo saco de análises. É assim que o IBGE identifica o PIB Geral.
Contar com os dados do PIB Geral de 1999 foi uma aventura. Os sites de organismos oficiais do Estado não os têm para uso externo. Procurei nos meus arquivos e os encontrei. Pretendia ir mais fundo, pegar o touro do comportamento da indústria de transformação à unha, mas ainda não os encontrei.
Tenho tudo sobre o PIB Industrial em variados períodos, mas exatamente de 1999, para comparar como comparei o PIB Geral, ainda anão foi possível. Mas, nesse caso, não é tão importante.
Os 17 anos de PIB Geral do Grande ABC neste século são mesmo vexaminosos. Nem o intervalo de euforia do segundo ano do mandato presidencial de Lula da Silva salvou a pátria. A dureza do prélio sempre chega após um encantamento provisório, circunstancial.
Comendo poeira geral
Vamos aos números, ou macro números. Afinal, não vou descer a detalhes municipais da região. Deixo isso para outros textos. Vou promover o confronto entre o Grande ABC propriamente dito, a soma de sete municípios, e o comportamento do País. Também não poderia deixar passar o embate entre o Grande ABC e o que chamo de G-3M, os três maiores municípios da Região Metropolitana de São Paulo, à Leste e à Oeste, no entorno da Capital. E, igualmente, o G-3I, que envolve Campinas, Sorocaba e São José dos Campos.
Preparem o coração porque, por mais que já tenham lido neste espaço o que somos em termos econômicos, sempre há território a desvendar. E a entristecer.
Nos 17 anos já apurados deste século, o Grande ABC viu o PIB Geral estagnado em termos convencionais e em queda quando se consideram os valores por habitante, o PIB Geral per capita.
Fiquemos apenas no PIB Geral, que não leva em conta nuances demográficas. Em 16 anos houve crescimento monetário, sempre considerando a inflação do período, de 4,03%. Isso é estagnação mesmo, e vou explicar. Em 1999 o PIB Geral nominal do Grande ABC era de R$ 26.884.25 bilhões. Aplicando-se a inflação do período, até dezembro de 2016, o valor salta para R$ 107.709.060 bilhões. O montante registrado pelo IBGE chegou a R$ 112.048.67 bilhões.
Quando se divide o PIB Geral pelo período, a média de crescimento não passa de 0,24% ao ano. É importante lembrar que esse PIB Geral foi beneficiado, mesmo no congelamento, pelo acréscimo de 350 mil novos moradores nos sete municípios. Mais gente, mais PIB Geral. Pressupostamente, claro. No PIB Geral per capita, dançamos feio. Mas fica para outro dia.
Brasil muito melhor
Agora, peguemos o PIB Geral do Brasil no período. Sempre entendendo a comparação pelo volume monetário. Enquanto o Grande ABC avançou não mais que 0,24% ao ano, o PIB Geral do Brasil, esse país que anda e para sem se dar conta de que está cada vez mais longe da modernidade, avançou 2, 58%. Nove vezes mais que o Grande ABC.
O PIB Geral do País em 1999 registrou R$ 1.087.711 bilhão. Dezesseis anos depois chegou a R$ 6.266.895 bilhões. Uma variação nominal, ou seja, sem considerar a inflação, de 476,38%. A variação do PIB Geral do Grande ABC foi de 316,78%. Atualizados os valores, o PIB Geral do Brasil cresceu no período, em termos reais, 43,80%. Que divididos por 16 anos, dá os 2,74% já mencionados.
A vizinhança mais formosa do Grande ABC, beneficiadíssima pelos trechos Sul e Oeste do Rodoanel, avançou muito mais que a média nacional. Osasco, Guarulhos e Barueri cresceram em termos reais, descontando-se a inflação do período, 4,39% ao ano. Calcule quantas vezes o resultado é superior ao 0,25% do Grande ABC. Um vexame localizadíssimo.
O crescimento real daqueles três municípios foi de 74,64% no período. Em 1999 somavam R$ 25.078,37 bilhões. Em 2016, chegou-se a R$ 175.465,91 bilhões. Ou seja: no começo do século, a economia do Grande ABC era equivalente à economia conjunta de Osasco, Guarulhos e Barueri. Em 2016 a diferença de 36% a favor daqueles três municípios não deixa dúvida sobre a calamidade regional.
Ainda falta um embate. Pegamos as sedes das três regiões metropolitanas do Estado de São Paulo: Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. Não custa lembrar que o desempenho desses municípios só não foi mais robusto porque o fenômeno do avanço da economia em direção a pequenos e médios municípios do entorno, de mais qualidade de vida, é uma realidade consumada.
Também na fita de largada do PIB Geral, em 2000, sempre tendo como âncora de avaliação o ano de 1999, quando o País de Fernando Henrique Cardoso estava em crise, somava R$ 24.004.11 bilhões. Em 2016, passou a R$ 126.433.37 bilhões. Crescimento nominal de 426,71%. Crescimento real, descontada a inflação, de 23,94% no período. Ou 1,47% ao ano. Parece pouco, mas é seis vezes maior que o consumado no Grande ABC.
Santo André e Mauá
Para saber o quanto o PIB Geral do Grande ABC deixou de crescer no período de 17 anos há várias métricas. Fico com uma conta simples: se o PIB Geral de 1999 acompanhasse o ritmo de crescimento real do PIB Geral do Brasil, que é inferior ao PIB Geral dos três municípios da Grande São Paulo já mencionados, e um pouco maior que o PIB Geral das três cidades-metrópoles do Interior do Estado, o resultado seria R$ 144.546.709 bilhões.
Traduzindo e metabolizando esses números: se a economia do Grande ABC caminhasse no passo de tartaruga do PIB Geral do Brasil entre janeiro de 2000 e dezembro de 2016, teria sido evitada a perda de R$ 32.498.039 bilhões, que é a diferença entre o registrado e o minimamente aceitável. Em vez de um PIB Geral de R$ 112.048.670 bilhões, o Grande ABC teria consolidado R$ 144.546.709.
Sabe o leitor o que significam os R$ 32.498.039 bilhões que o Grande ABC deixou de amealhar como riqueza construída no período, sempre considerando a mediocridade do crescimento médio do País nessa comparação ponta a ponta? Perdemos algo como o PIB Geral de Santo André em 2016 (R$ 25.837,05 bilhões) e metade do PIB Geral de Mauá (R$ 13.963.85 bilhões).
Perceberam que não há exagero algum, mas muita indignação, ao ver o Grande ABC destes dias, como no passado, flertando com a demagogia do lamento marquetológico geral da debandada da Ford? Trabalhar, planejar, definir metas prioritárias para enfrentar a borrasca? Somente agora apareceu um prefeito (Paulinho Serra, de Santo André) decidido a criar um grupo disposto a juntar algumas peças desse enxadrismo que tarda e falha.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?