Economia

Nem Diadema
ocupa galpões

DANIEL LIMA - 05/08/2000

O tamanho do tombo varia conforme a versão de especialistas. Vai de estratosféricos 60% ao mais brando índice mínimo de 20%. O resultado, de qualquer forma, é igualmente elástico e inquietante: Diadema, o único Município do Grande ABC que apresentou crescimento econômico sobretudo nos anos 80, acumula estoque de galpões industriais vazios que flutua entre 200 e mil unidades, de um universo de dois mil espaços. Jamais, em toda história, Diadema viveu números tão expressivos, depois de cristalizar-se como a cidade do Grande ABC que mais absorveu investimentos industriais nos anos 80.

Os dados podem indicar possível exaustão da atividade no Município, mas não surpreendem. Na verdade, confirmam interpretação de LivreMercado ao trabalho divulgado pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análises e Dados) e pela Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC: os pequenos negócios industriais da região estão passando por situação mais que desconfortável. A asfixia econômica é explícita para quem não está na rota de fornecimento das médias e grandes empresas, pressionadas pela competitividade da globalização.  

Diadema é o melhor laboratório para avaliar o grau de efervescência, de congelamento ou de degelo da economia de micros e pequenas indústrias do Grande ABC. O Município é o que mais reúne empreendimentos de menor porte, que ocupam predominantemente galpões de até 700 metros quadrados. Além disso, sua matriz econômica é a mais diversificada da região, embora também fortemente influenciada pelo setor automotivo. Além de autopeças, Diadema conta com numerosas pequenas indústrias das áreas química, de plástico e de cosméticos. 

O abismo que separa três avaliações de especialistas do mercado imobiliário industrial de Diadema não ameniza os horrores embutidos no quadro estatístico. O corretor Antonio Mendes Quico fala com a experiência de quem faz das ruas de Diadema rotina de frequência: "Temos pelo menos 50% dos galpões industriais vazios; nunca vi coisa igual". O empreendedor imobiliário João Gonçalves, da Águia do Brasil e morador em Diadema antes mesmo da emancipação do Município, há mais de quatro décadas, calcula que a ociosidade atinge no mínimo 20% dos dois mil espaços industriais. O quadro menos grave é traçado por Marcos Ballarin, também diretor de empresa do setor: "A ociosidade está concentrada nos galpões de pequeno porte, até 700 metros quadrados, que são metade do conjunto de espaços para o setor industrial. Acho que temos pelo menos 200 galpões vazios nesse segmento, 80 sob a administração de minha empresa" -- afirma. 

Faltam dados -- Não existem dados oficiais sobre os vazios ocupacionais de indústrias em Diadema. Embora tenha criado secretaria voltada para o desenvolvimento econômico, a Prefeitura não conta com mapeamento da situação. A carência não é novidade: os outros municípios da região também não reúnem o mínimo de informações confiáveis sobre o nível de ocupação dos galpões industriais, entre outros indicadores estratégicos para instrumentalizar políticas de desenvolvimento industrial. 

Procurar fontes de dados em organizações empresariais também é perda de tempo. Todas trabalham com números no atacado sobre a quantidade de empreendimentos, sem capacidade de acompanhar movimentos de investimentos, de falências e concordatas e também de deserções. O máximo que a maioria dos agentes públicos e também os representantes de entidades fazem é tentar atenuar o quadro. Alguns não só reduzem a algumas dezenas a ociosidade de galpões industriais como chegam a afirmar que se trata de novos espaços que estão à venda. Um verdadeiro acinte que só encontra uma reação dos três especialistas: o sorriso irônico de quem está fora da realidade ou busca esconder os fatos com finalidade política.  

Embora divergentes na dimensão das perdas de galpões industriais de Diadema, os três especialistas concordam num ponto: os valores estimados para o aluguel ou compra de galpões foram drasticamente reduzidos desde o Plano Real. Aliás, para eles o Plano Real é o ponto de referência do sufoco industrial de Diadema. Exatamente o período em que mais se acentuaram os efeitos da globalização, com redução da margem de rentabilidade, enxugamento dos quadros de trabalhadores, estreitamento do número de fornecedores de médias e grandes empresas, novos modelos gerenciais por força não só da abertura do mercado como também da estabilidade monetária, entre outras variáveis que colocaram o Grande ABC no olho do furacão de um País sacudido pelas transformações.  

Problemas múltiplos -- Antonio Mendes Quico, que também é membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Diadema, internaliza as principais razões que atrapalham a vida de micros e pequenos empreendedores industriais. Diz que falta política municipal de incentivo à produção e que os índices de criminalidade e de exclusão social são contraproducentes à tranquilidade de quem busca qualidade de vida para investir em negócios. Já para Marcos Ballarin, não há motivos municipais especiais que possam colocar a administração pública no banco dos réus. Prevalecem questões macroeconômicas nacionais e internacionais. Mas, mesmo admitindo que a condução da política econômica pelo governo federal tem influência decisiva nos negócios em Diadema, Marcos Ballarin lembra que a legislação sobre o uso do solo e o sindicalismo constituíram-se adversidades aos investimentos no Município, com reflexos na situação atual: "Os espaços que privilegiaram a ocupação residencial e o grevismo de alguns anos atrás também ajudaram a reduzir o grau de importância de Diadema na atratividade do empreendedor industrial" -- interpreta. Se os movimentos grevistas desapareceram, explica Ballarin, permanecem os esqueletos de discriminação à elasticidade de espaços potencialmente industriais. E, ironicamente, esses esqueletos só serão removidos pela eventual reocupação dos galpões vazios. "A indústria de construção de galpões está paralisada em Diadema" -- afirma.  

A curva de crescimento econômico de Diadema durante os anos 80 está expressa na participação do Município na arrecadação e redistribuição do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que tem o Valor Adicionado como principal componente. Valor Adicionado é o que melhor estratifica a potencialidade de geração de riquezas de um Município, porque significa, de forma simples, a capacidade de transformar matéria-prima em produto. Diadema saltou de um índice estadual de 1,21% em 1982 para 1,62% em 1990; portanto, antes da abertura dos portos do presidente Collor de Mello. No mesmo período, Santo André caiu de 3,15% para 2,57%, São Bernardo de 4,91% para 4,05%; e São Caetano de 1,54% para 0,96%. Os demais municípios da região mantiveram-se praticamente estáveis no período: Mauá tinha 1,28% em 1982 e 1,31% em 1990, Ribeirão Pires 0,20% contra 0,23%, e Rio Grande da Serra não oscilou no 0,03%.

Nos anos 90 a situação de Diadema é de queda. Só não é de queda permanente porque em alguns ciclos de 12 meses o comportamento do ICMS é superior ao imediatamente anterior. O índice alcançado em 1990 (1,62%) jamais foi repetido. Em 1996, chegou a 1,21%. O índice de participação no ICMS para este ano 2000 é de 1,31%, o que coloca Diadema em 12º lugar no ranking estadual. Dos demais municípios da região, só São Bernardo conseguiu avançar na comparação ponta-a-ponta do índice do ICMS, mesmo assim de forma escassa: era 4,05% em 1990 e passou para 4,18% neste ano. 



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