Economia

Cristal fora de foco
não resiste e quebra

WILSON SOUZA - 05/05/2001

Virou estatística de fracasso o Cristal Casa Shopping, inaugurado no início do ano passado em São Bernardo, na divisa entre Santo André, São Caetano e São Paulo. Falta de público e divergências internas levaram o shopping de móveis e decorações a encerrar as atividades. O fechamento evidencia a fragilidade de empreendimento de porte em que o foco não é bem definido. Lojistas apontam a falta de experiência do proprietário no ramo como uma das razões do fracasso. Vanderlei Tonetti, que presidiu a Associação dos Lojistas, acredita que a ausência de capital de giro, de boa vontade e de cooperação dos lojistas foi decisiva para o insucesso. "O empreendimento tinha boa localização e é bonito, mas faltou investimento em publicidade" -- aponta Tonetti, sócio da Home Factoring, especializada em cozinhas modulares. A promessa de instalar um totem na Via Anchieta nunca foi cumprida. "Mas a culpa não foi do sr. Elias" -- relembra Tonetti, referindo-se a Elias Romanos, empreendedor do Cristal Casa Shopping. “Ninguém quis alugar ou ceder espaço” -- completa. 

Elias Romanos, empresário do ramo de construção em Poá, na Grande São Paulo, reconhece o erro estratégico e aponta cinco fatores determinantes. Primeiro: ter construído o empreendimento em São Bernardo, onde a má fama de alguns moveleiros, segundo ele, contaminou a imagem do shopping. Segundo: estabelecer o empreendimento para as classe A e B com produtos de primeira linha -- esse tipo de público, notadamente da Capital, não visitava o shopping. Terceiro: falta de propaganda, cuja responsabilidade era dos lojistas. Quarto: administração e gerenciamento deficitários. Quinto: momento vivido pela economia brasileira. 

O Sindicato dos Moveleiros do Grande ABC discorda de Romanos. "É desculpa. Ele abriu o shopping em momento errado, quando o mercado de móveis não vivia bom momento" -- refuta Agnaldo Marson, relações públicas do sindicato. O terreno onde foi instalado o shopping pertence a João Uras, sócio da Kubatur Turismo. Elias Romanos esperava recuperar o investimento de R$ 2 milhões em 10 anos, mas amargou prejuízo já no primeiro ano. Agora negocia a venda do ponto para um supermercado. O Cristal Casa Shopping foi projetado para 30 lojas e 400 vagas de estacionamento em oito mil metros quadrados de área construída e cinco mil metros de área bruta locável. Foi instalado em terreno de 25 mil metros quadrados a 500 metros da Via Anchieta. A maioria dos lojistas era de São Paulo e metade de fabricantes. 

Recentemente, também o Shopping São Caetano deixou de existir. Virou Centro Empresarial São Caetano, com previstas 70 lojas no piso térreo e demais pavimentos com escritórios de empresas. É o caso da Multibrás, que ocupa 2,4 mil metros quadrados com as subsidiárias Brastemp e Garantech e respectivos call centers. A decisão de mudar, anunciada por LIVRE MERCADO, foi baseada em pesquisa da consultoria Semma LFM. "Constatamos que o consumidor local não compra em São Caetano" -- explica Raul Marcondes Furlan, superintendente do empreendimento. A alteração do perfil conta com auxílio da Prefeitura, que procura seduzir empresas com ISS (Imposto Sobre Serviços) reduzido e facilidade de instalação. Foi assim que o novo Centro Empresarial São Caetano recebeu a RCI, empresa de turismo vinculada a 568 hotéis dos Estados Unidos. Outros atrativos do empreendimento são as 900 vagas de estacionamento, dois cinemas e praça de alimentação com 300 mesas.


Mauá Plaza -- Na contramão dos problemas, o Grupo Peralta promete inaugurar o Mauá Plaza Shopping em novembro. São 95 mil metros quadrados de terreno que abrigará 94 mil metros quadrados de construção horizontal, dos quais 37 mil metros de áreas locáveis. O estacionamento receberá 2,5 mil veículos e o complexo contará com 208 lojas, além de oito salas de cinema. As âncoras serão o hipermercado Extra, do Grupo Pão de Açúcar, loja de construção Telhanorte, Lojas Marisa, McDonads, Ponto Frio e Loja do Gugu. O pátio de alimentação, com 600 lugares, contará com área de eventos de 1,5 mil metros quadrados. Um centro automotivo de 3,8 mil metros quadrados será gerenciado pela Petrobras. Conjunto de 70 salas comerciais, divididas em cinco pavimentos, completará o mix. Mas tem mais, no futuro: "Ao lado do centro automotivo, o Hotel Ibis reservou 3,8 mil metros quadrados para implantar um três estrelas com 200 apartamentos" -- adianta Armando Jorge Peralta, diretor do grupo.


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