Economia

Um ano para
pegar no tranco

WALTER VENTURINI - 05/05/2001

Depois de um ano, começa a desencantar o projeto de incubadoras de empresas coordenado pela Agência de Desenvolvimento do Grande ABC. Acidentes, incertezas de ano eleitoral e descontinuidade administrativa são os motivos apontados para a demora na implantação das cinco incubadoras em Mauá, Santo André, Diadema, São Caetano e Ribeirão Pires. Em duas cidades, Mauá e Santo André, a aposta é em empreendimentos de alta tecnologia, para abrir caminho à criação de terciário avançado e oferta de empregos de qualidade. Na corrida para inovar e abrir novas alternativas econômicas Mauá sai à frente, apesar de ter enfrentado até incêndio para implantar sua incubadora. O segredo foi ter planejado e incluído o custo do projeto na dotação orçamentária deste ano, prática não adotada em outras cidades.  

Quando foi anunciado, o projeto das cinco incubadoras de empresas deixou no ar a esperança de uma plataforma para embasar novas alternativas ao desenvolvimento econômico da região. Um ano depois, apenas Mauá se prepara para cortar a fita de largada. Mesmo assim, serão necessários quatro meses para que a produção comece efetivamente, pois os projetos selecionados terão de ser transformados em planos de negócios e aprovados pelo conselho gestor da incubadora. Para explicar a demora, o secretário executivo da Agência de Desenvolvimento, José Carlos Paim, aponta as eleições de 2000 como fator de incerteza na efetivação de um dos principais ingredientes para criação das incubadoras: o aluguel de galpões industriais. Ele cita o exemplo de Diadema, cujo projeto estava praticamente acertado, mas o proprietário do imóvel temeu que o sucessor do prefeito Gilson Menezes não se dispusesse a tocar o empreendimento e deixasse de pagar a locação. 

A Agência de Desenvolvimento Econômico assinou em 13 de junho do ano passado com o Sebrae-SP o protocolo de intenções para fomentar as cinco unidades no Grande ABC, onde apenas São Bernardo tem um projeto materializado. O resto do Estado já contabiliza 35 incubadoras, que abrigam 345 empresas e criaram mais de 1,6 mil empregos diretos, segundo dados do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa. Além de cidades de grande porte como São Paulo, Campinas, São José dos Campos, Bauru e São José do Rio Preto, até municípios de menor porte como Jardinópolis, Garça, Santa Fé do Sul, Guaíra e Patrocínio Paulista já viabilizaram incubadoras.

No caso de Mauá, a incubadora estaria em estágio mais avançado se o primeiro galpão escolhido não fosse destruído por um incêndio, revela o secretário de Desenvolvimento Econômico, Paulo Eugênio Pereira. O contraponto para o planejamento de Mauá está em Diadema, onde o processo praticamente recomeçou. "Estamos na estaca zero, pois não tivemos orçamento que contemplasse o projeto em 2001" -- declara o secretário de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Miyazawa. Exemplo disso é o reaparelhamento da própria secretaria, para que Miyazawa possa pelo menos poder trabalhar. "Começamos agora a colocar linhas telefônicas e computadores" -- conta.

Enquanto Diadema tenta juntar os cacos da máquina administrativa, Mauá já se preocupa com o perfil das incubadas. O conselho gestor decidiu que serão empresas de alta tecnologia e do setor plástico. "A cidade precisa alavancar sua base tecnológica, mas também é estratégico fortalecer um cluster do setor petroquímico, com empresas de transformação de resinas" -- explica Paulo Eugênio. Sete ou oito empresas deverão ser de alta tecnologia e as outras ligadas à transformação de resinas. "Existe proposta da Petrobras para que uma incubada desenvolva software para monitorar a Refinaria de Capuava. Outra desenvolveria novo processo de reaproveitamento de petróleo e as demais elaborariam projetos ligados à área de preservação ambiental" -- conta o secretário executivo da Agência de Desenvolvimento, José Carlos Paim. 

Além da Petrobras, a Cabot e a Resinor, empresas do pólo petroquímico, fazem parte do conselho gestor da incubadora de Mauá, junto com Basf, FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), Fama (Faculdade de Mauá), Fadin (Faculdade de Desenho Industrial de Mauá), Banco do Brasil, Prefeitura, Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Mauá, Sebrae e a própria Agência de Desenvolvimento. O investimento da Prefeitura na incubadora este ano será de R$ 123 mil e o do Sebrae, de R$ 80 mil.

O convênio com Mauá é o mesmo para as outras quatro incubadoras. Cabe à Prefeitura alugar imóvel para abrigar o projeto e se responsabilizar pelos custos com energia elétrica e água. O Sebrae entra com know-how e recursos financeiros para custear a equipe composta de gerente, recepcionista e office-boy. Também cuida do treinamento e do repasse de conhecimentos e tecnologia. Os candidatos devem ser empresas em formação, novas empresas formadas por pessoas físicas, novas empresas formadas por pessoas jurídicas (terceirizada, fornecedora ou associada) e empresa já existente que transfira departamento de outro local. 

Para uma região que precisa buscar alternativas de produção e de empregos, o Grande ABC tende a favorecer a vocação de EBTs (Empresa de Base Tecnológica). Em Santo André, a discussão entre Prefeitura, Agência de Desenvolvimento e Sebrae é para definir o perfil da incubadora preferencialmente para empresas de alta tecnologia como forma de superar a evasão combinada com o refluxo do crescimento do setor industrial convencional, além de agregar valor e capacidade de geração de empregos de qualidade. "Em princípio, a idéia é de que a incubadora impulsione empreendimentos indutores de inovação" -- afirma a secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Nádia Somekh, que atribui o atraso em Santo André às mudanças na forma de implantar o projeto. Como nas outras cidades, a Prefeitura saiu em busca de local, mas percebeu que precisava primeiro dimensionar o porte para depois buscar espaço físico, explica Nádia Somekh, que promove total reorganização na Secretaria de Desenvolvimento e Trabalho, antes dirigida por Nelson Tadeu Pereira. O prefeito Celso Daniel, em entrevista à LM de abril, admitiu que uma de suas dívidas junto à comunidade foi ter jogado mais peso na ação regional do que em trabalhos específicos na cidade. Para Nadia Somekh, a reorganização da secretaria, inclusive com prioridade à incubadora, se dá em função da mudança de foco da Prefeitura.

O atraso também é assumido pela Prefeitura de Ribeirão Pires, que priorizou neste ano a implantação Banco do Povo e deixou a incubadora para 2002. "Demos uma segurada por uma questão de estrutura interna" -- informa o secretário de Desenvolvimento Sustentado, Luciano Roda, que em 2001 vai fazer apenas estudos para identificar a demanda para a futura incubadora. Em São Caetano é verificada a mesma tendência de buscar uma incubadora de base tecnológica até pela carência de espaço físico. Mesmo em Diadema, o secretário Sérgio Miyazawa acredita que tudo caminha para que boa parte das incubadas tenha perfil tecnológico, de pesquisa e serviços para empresas convencionais.

Pioneira na região, a Iesbec (Incubadora de Empresas de São Bernardo) completou um ano em abril e surgiu antes do projeto da Agência de Desenvolvimento. De cinco empresas abrigadas inicialmente, o numero subiu para oito este ano. Uma empresa conseguiu se estruturar para atuar fora da incubadora e outra fechou. Nenhum dos atuais empreendimentos é do setor de alta tecnologia. O custo para instalar a Iesbec foi de R$ 313 mil. Desse total, a Prefeitura bancou R$ 150 mil, o Sebrae R$ 90 mil, os próprios empreendedores arcaram com R$ 70 mil e o Sindicato da Indústria Moveleira entrou com R$ 3 mil. Das oito incubadas, uma é do setor moveleiro. Há também uma têxtil e uma metalúrgica. "Até agora é um bom negócio para os empreendedores, que têm mais possibilidades de sobrevida" -- garante Lourival Passos, gerente da Iesbec.


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