De que aval precisaria LivreMercado para que visse ratificada uma de suas análises históricas sobre o chamado Novo Sindicalismo que emergiu em São Bernardo no final dos anos 70 e que se tornou divisor de águas no relacionamento entre capital e trabalho? A conclusão de LivreMercado de que o movimento sindical liderado por Luiz Ignácio Lula da Silva foi importante fenômeno corporativo, mas voltado exclusivamente para os trabalhadores, jamais foi bem aceita pela maioria dos sindicalistas da região. A interpretação sindical de que as greves que emergiram inicialmente em São Bernardo e depois se espalharam pelas demais cidades transformaram a região numa ilha de cidadania incrustada num País marcantemente corporativo jamais foi avalizada por LivreMercado.
Três vezes candidato à presidência da República e líder das pesquisas para as próximas eleições presidenciais, Luiz Lula Ignácio da Silva reforça a posição de LivreMercado. Numa entrevista à revista Sindiquim, órgão oficial do Sindicato dos Químicos do Grande ABC, Lula foi enfático:
"O Lula de 2001 não poderia ser o Lula de 1980. Primeiro porque em 1980 a minha consciência política era muito sindical e corporativa. O meu mundo era a minha categoria. Mas, na medida em que um dirigente sindical começa a fazer política mais ampla, ajuda a criar um partido e disputa o poder nesse País, a sua cabeça tem de ser abrir para uma categoria infinitamente maior do que a que ele representava. Hoje tenho que pensar no Brasil, em projetos que envolvem não apenas trabalhadores de categorias organizadas como químicos, metalúrgicos, bancários, mas que contemplem o retirante nordestino, as pessoas que estão em baixo da ponte, os pequenos proprietários, os pequenos e médios empresários, a universidade, etc. Ou seja, o leque de preocupação de um dirigente político é muito maior que o de um dirigente sindical"-- afirmou o ex-sindicalista.
Diferentemente do Lula que ocupa as páginas de jornais e revistas brasileitos com frequência, o entrevistado pelo Sindiquim fez evoluções críticas mais abertas. Algo como se estivesse numa assembléia de trabalhadores. Foi assim que Lula se manifestou sobre a indagação do papel social e o compromisso com a verdade dos meios de comunicação no Brasil:
"No Brasil, a imprensa é muito oficial. Em muitos casos depende do Poder Público que a financia. É por que que é tão dependente do governo. No Brasil se estabeleceu uma coisa chamada pensamento único. Em determinados momentos do País, não há espaço na mídia para os que fazem oposição. Nem sequer somos questionados sobre temas importantes. Em qualquer país civilizado, quando se tem um fato político de relevância, pergunta-se tanto para a situação como para a oposição. Mas na teoria do pensamento único só fala o governo. Isso valeu para as privatizações, política de estabilização, valeu para o Plano Real, valeu para todas as políticas do governo. A oposição fica reduzida ao anonimato.
À pergunta do Sindiquim sobre quem controla os meios de comunicação no Brasil, Lula foi incisivo:
"Hoje, nove famílias controlam quase toda a imprensa brasileira. Se viajar pelo Brasil você vai perceber isso. Têm famílias no Nordeste e Norte do País que controlam a Globo, SBT, a Bandeirantes, a Record e também os maiores e jornais da cidade. Só aparece quem eles querem. Só dão a notícia. que interessa à classe dominante, porque a imprensa é ideológica. Eles são defensores do pensamento único, da abertura das nossas fronteiras para os produtos estrangeiros, da flexibilização do trabalho. Quem falar contra isso não aparece. É por isso que a Força Sindical tem aparecido na mídia mais que a CUT; porque faz o jogo do governo mas a CUT não" -- desabafou Lula.
O presidente de honra do PT considera que o maior desafio para as próximas eleições presidenciais está na competência de articulação da oposição. Suas declarações à revista do Sindicato dos Químicos do Grande ABC:
"Acho que o aprendizado político do povo brasileiro está muito rápido. As pesquisas de opinião pública constatam que o somatório de intenção de voto nos candidatos que fazem oposição ao Fernando Henrique Cardoso atinge mais de 65% dos votos. Precisamos saber se teremos competência para unificar todos esses opositores de FHC num único bloco para ganharmos as eleições. É preciso não ficarmos lamentando o que não deu certo no passado. Foram três eleições muito complicadas. Na primeira, enfrentamos como ninguém o poder da mídia. Na segunda, lutamos não contra um homem, mas contra um programa econômico. E aí ficou difícil fazer campanha batendo em uma estabilização que tinha tomado conta do imaginário do povo brasileiro. E na terceira, fizemos uma campanha contra o que existia de mais forte no Brasil em nível de aliança política" -- comentou Lula ao Sindiquim.
Lula considera que o Partido dos Trabalhadores está vivendo momento muito especial, mas nem por isso deve trocar a mobilização pelo comodismo: "As eleições municipais de 2000 mostraram o nosso potencial. Entretanto, temos uma debilidade: se nos grandes centros urbanos somos muito fortes, a verdade é que quando vamos para os grotões, o poder da cesta básica, da esmola e da compra de votos ainda prevalece. Somente no ano passado o governo federal distribuiu 32 milhões de cestas básicas. Eu digo sempre que pessoas com fome não pensam com a cabeça, pensam com o estômago. Nós temos que brigar mais, acreditar na organização, sermos convincentes. As nossas propostas têm de ser entendidas pela população. Se a pessoa não sentir que pode alcançar aquilo que estamos propondo, vai preferir votar em coisa mais simples" -- afirmou ao Sindiquim.
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