Caminha a passos de dois-prá-lá dois-prá-cá a criação de seis centros de tecnologia que têm a missão de concretizar a sonhada transformação do Grande ABC em pólo de ponta. Por estarem sob as asas do plano de revitalização econômica do Grande ABC traçado pela Câmara Regional, os centros tecnológicos andam em círculos, na dependência de prefeituras cederem áreas, do governo do Estado ajudar no financiamento e de as empresas interessadas aderirem ao custeio de instalação e manutenção. Reuniões técnicas do grupo do pólo tecnológico também tropeçam nas agendas da cúpula da Câmara Regional. O Centro de A&D (Apoio & Difusão Tecnológica) de plásticos é o único estruturado no papel até agora, mas o Consórcio Intermunicipal de Prefeitos -- uma das altas patentes da Câmara Regional -- não consegue audiência com o secretário estadual de Governo, Antonio Angarita. "Estamos solicitando nova reunião com o secretário para depois fazer novo encontro de articulação entre os participantes do centro plástico" -- comenta o professor Armando Laganá, responsável pelo grupo do pólo tecnológico e representante do Estado na Câmara Regional.
Se não fosse tão difícil dar ritmo à burocracia, o Grande ABC teria colocado de pé, ou estaria erguendo, seis centros tecnológicos cujo principal mote é assessorar pequenas e médias empresas: dois centros são de Apoio & Difusão para plásticos e moveleiros e já estão contemplados no convênio do Estado com a Câmara Regional, criada em 1997. Em janeiro deste ano a Câmara incluiu na agenda de discussões outros dois centros de A&D, de manufatura mecânica e de cosméticos, e mais dois centros de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) para os ramos petroquímico e de eletrônica embarcada. A&D é uma modalidade que difunde tecnologias já existentes e P&D debruça-se também em pesquisas e inovações tecnológicas.
Antes de empresas de serviços avançados que acabam de chegar ao Grande ABC, como a EDS que terceiriza tecnologia da informação para as empresas, são os centros de A&D e P&D que podem imprimir definitivamente tom de vanguarda à região. Para pleitear o status de pólo tecnológico, o Grande ABC precisa amortizar a dívida tecnológica de seu parque manufatureiro trabalhando com pesquisa, inovação e desenvolvimento que adicionem elementos tecnológicos aos produtos. De nada adianta dispor de tecnologia de transmissão de dados se não tiver no chão de fábrica densidade tecnológica nos produtos. O alerta vem, inclusive, na esteira do Programa Nacional de Inovação, recém-lançado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia para incentivar empresas a trabalhar com pesquisas que agreguem valor e utilidade aos produtos brasileiros. O Brasil investe apenas 1,3% do PIB em pesquisa e a meta do MCT é chegar a 2,5% em 10 anos, um patamar onde a Coréia já está hoje.
Reunir todas as pontas dos planejados centros tecnológicos do Grande ABC é uma dificuldade prática apontada por Armando Laganá para fazer os empreendimentos ganhar agilidade. O professor não diz, mas nada se compara às dificuldades políticas de negociações. A Câmara Regional perdeu muito do ritmo desde 1999. Os interlocutores -- sobretudo os prefeitos do Consórcio -- ora estão debruçados sobre eleições para cargos políticos, ora estão em disputa interna pela atração de investimentos sem considerar a propalada integração, ora mergulham em total desinteresse. Apesar de ser o mais estruturado até agora, o Centro de A&D do setor plástico travou durante bom tempo na definição da sede, disputada por Mauá e Diadema. Mesmo concentrando 49% das cerca de 360 empresas do setor plástico na região, segundo censo patrocinado por Sebrae-Abiplast, Diadema perdeu o centro tecnológico porque não demonstrou visão mais sistêmica do processo. Mauá, ao contrário, joga tudo para potencializar o setor capitalizando a presença do Pólo Petroquímico de Capuava, onde estão os principais fornecedores de polímeros para os transformadores plásticos, que no Município somam só 5,4%, segundo o censo setorial. "Mauá se articulou inclusive com um condomínio industrial só para o setor plástico, o Citiplastic" -- saúda Armando Laganá. O Citiplastic America, um empreendimento privado no Pólo de Capuava, prevê 66 galpões de 1,2 mil metros quadrados, dois prédios para escritórios, um centro de convenções para 500 pessoas e hotel com 100 apartamentos, confirmam os proprietários, que ainda não oficializaram o lançamento.
A proposta da Prefeitura de Mauá é levar o Centro de Apoio & Difusão do setor plástico para perto ou dentro do Citiplastic e, portanto, próximo dos fabricantes de resinas, sete dos quais patrocinadores do centro tecnológico: Petroquímica União, Polibrasil, Polietilenos, Solvay, Basf, Rhodia e Rhodia Engenharia.
Essas empresas privadas se comprometeram a custear R$ 480 mil dos R$ 5,560 milhões estimados para o centro tecnológico do plástico na forma de fornecimento de matérias-primas. No organograma orçamentário diluído em quatro anos o governo do Estado entrará com R$ 1,8 milhão, a Prefeitura com R$ 960 mil, o Sebrae com R$ 580 mil, os transformadores plásticos com R$ 720 mil (através de prestação de serviços dentro do centro) e a Abimaq com R$ 390 mil na forma de 30% de desconto sobre equipamentos fornecidos pelos associados. Fabricantes de moldes se comprometeram a entrar com R$ 150 mil através de horas/máquinas para fabricação de moldes para o centro de A&D. A Câmara Regional ainda negocia R$ 480 mil junto às montadoras da região -- grandes usuárias de componentes plásticos -- e com a Brasimet de Diadema o tratamento térmico gratuito das experimentações. Com a Villares pretende-se que entre com fornecimento de aço. "Estamos amarrando com todos para entrar na fase de implementação do centro, que estaria pronto entre seis e oito meses" -- confia Laganá.
O modelo de gestão do Centro de A&D do plástico não está definido, mas caminha-se para o comando da iniciativa privada. A parte acadêmica virá do Estado, por meio de curso em nível superior de Tecnologia em Plástico a ser desenvolvido pelo Ceetps (Centro de Ensino Técnico Paula Souza, mais conhecido como ETE nos cursos técnicos e como Fatec nos cursos de tecnologia). Pretende-se formar especialistas em processos, em produtos, em moldes, em ensaios e em engenharia da produção.
O Centro Paula Souza na ETE Lauro Gomes também já foi acionado para ser o formador de mão-de-obra no Centro de Apoio & Difusão Tecnológica dos moveleiros, que se instalará em São Bernardo ao custo estimado de R$ 3 milhões. "Só estávamos aguardando confirmação do Senai para ser o formulador do projeto" -- comenta o professor Armando Laganá. Serão os mesmos professores do Senai da Capital que estruturou o pólo moveleiro de Votuporanga. O centro dos moveleiros seguirá as parcerias feitas com o do plásticos, ou seja, Sebrae, Sindicato dos Fabricantes de Móveis, Abimaq, fornecedores de matéria-prima e governo do Estado estão sendo chamados para ratear custos e empenho.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?