A transformação da Volkswagen Anchieta em plataforma mundial do novo Polo já teve seu marco oficial. Foi em 30 de agosto último, quando a montadora abriu-se a autoridades e convidados para mostrar a magnitude das mudanças que transformaram a mais antiga fábrica da marca no Brasil, de 42 anos, em um dos mais avançados complexos industriais do grupo alemão. O pretexto da festa foi a produção de 10 milhões de veículos na planta Anchieta, representado por um Gol 1.0 de 16 válvulas. Mas a patente da cúpula da corporação presente ao ato, como Peter Hartz, presidente do conselho mundial da Volks AG para América do Sul e África do Sul, mostrou que o evento tinha importância muito maior. Até pouco tempo atrás uma fábrica desacreditada e obsoleta, a Anchieta foi escolhida não apenas como base de um dos veículos mundiais mas, sobretudo, para produzir a grande aposta da marca para sair da agonia de perder o trono de líder no qual está sentada desde que aportou no Brasil. Os 29% de participação no mercado de automóveis -- ora reivindicados pela Volks ora pela Fiat -- nunca tornaram uma liderança brasileira tão disputada.
Em outros tempos, a Volks sozinha deteve o dobro disso. "Temos agora 18 montadoras e mais de 400 produtos no mercado" -- resume o diretor de Vendas, Miguel Barone, para justificar a contagem regressiva à espera do Polo, como foi batizado o até agora conhecido PQ24 e que será um intermediário do Gol e do Golf. O Polo está agendado para chegar ao mercado na metade de 2002 e exigiu uma montanha de R$ 2 bilhões na repaginação total da Anchieta, cujo marco zero -- fevereiro de 1999 -- coincidiu com duro golpe na política cambial e na estabilidade do Real, o que colocou a reconstrução da fábrica sob nuvens negras.
"Sob o olhar só financeiro, há lugares mais lucrativos, a curto prazo, para investir. Mas não somos corredores de 100 metros rasos. Seguimos e temos de seguir uma política de fôlego de longo prazo" -- fala o presidente da Volkswagen do Brasil, Herbert Demel, principal arquiteto da modernização da fábrica de São Bernardo, que já teve 37 mil funcionários, hoje reduzidos a 16 mil e que não passarão de 10 mil ao final da reestruturação, em 2003. Entre outras ações, a área de 1,9 milhão de metros quadrados passará para 1,6 milhão com a venda de terrenos e a área construída será reduzida em 300 mil metros quadrados do total de 1,1 milhão. Nove fornecedores estão sendo trazidos para um parque industrial anexo de 20 mil metros quadrados. O time já tem confirmados Goodyear, ArvinMeritor, Kroshu, KMAB, Quasar, Faurecia, Kautex-Textron, Kromberg & Schubert, que vão trabalhar em sistema de módulos integrados. A manufatura da nova Anchieta será gerenciada pelo modelo FIS (Sistema de Informações de Fabricação), que armazena pedidos de toda a rede concessionária e define a quantidade e versões dos veículos a serem fabricados no dia. O sistema permite sequência lógica de produção e envia automaticamente pedidos de peças para os fornecedores, que fazem entregas just-in-time.
Novos equipamentos e processos prometem reduzir de 12 para oito horas o tempo de montagem de um carro. Na armação de carrocerias, o número de robôs passará de 50 para 300 nos próximos dois anos, o que dará à fábrica grau de automação de 60%. Entre outras inovações, a linha de pintura foi totalmente automatizada na aplicação de cera protetora e tinta externa da carroceria. Um novo secador de tintas, com sistema de pós-queima, elimina 99% dos solventes lançados na atmosfera. Um microscópio eletrônico, capaz de ampliar em mil vezes a imagem, identifica problemas invisíveis a olho nu. A fábrica também está ganhando pista própria de teste. Além de centralizar o QG administrativo da Volks no Brasil, a nova Anchieta comanda as operações de processamento de dados do Brasil e da Argentina. No setor de compras, por exemplo, o sistema Net 2000 permite cotação eletrônica via Internet para compras gerais e material produtivo e reduz em 90% o tempo gasto pelas licitações via correio.
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