Economia

Sobrou também
para os pequenos

VERA GUAZZELLI - 05/10/2001

A assinatura do contrato entre Petrobras e Polibrasil para construção de estação separadora de propeno dentro dos domínios territoriais da Refinaria de Capuava, em Mauá, significa bem mais que a injeção de US$ 217 milhões na atividade industrial do Grande ABC. A magnitude dos números não beneficia só as duas gigantes. O aumento da produção de resinas promete render frutos também para a terceira geração da cadeia produtiva do setor plástico.  Assim que a nova planta da Polibrasil for inaugurada, em dezembro de 2002, a empresa deverá criar estratégias de venda para atender diretamente pequenos e médios transformadores de plástico da região. 

A possibilidade real de aproximação entre fornecedor e produtores locais pode parecer o desdobramento mais tímido da estação de propeno anunciada há dois anos, mas mostra como uma empresa global pode estar sintonizada com a região onde está instalada. Ao mesmo tempo em que a Polibrasil se capacita tecnologicamente para ganhar escala mundial com o aumento de 125 mil para 300 mil toneladas/ano na produção de polipropileno na unidade de Mauá, também procura mostrar eficiência no próprio quintal. 

Somente no ano passado, as 360 transformadoras de plástico do Grande ABC consumiram 51 mil toneladas de polipropileno, pelos dados da Polibrasil. O número equivale a 41% de tudo o que a Polibrasil produziu durante o ano e representa 23,7% do consumo de resina termoplástica da região. "Pretendemos criar sistema que facilite as vendas para os pequenos clientes instalados no Grande ABC" -- confirma o diretor comercial da Polibrasil, José Ricardo Roriz Coelho. A empresa ainda não definiu critérios para a comercialização, mas reconhece que dará atenção especial ao mercado potencial localizado no entorno da planta de Mauá. 

Apesar de concentrar apenas 5,4% das indústrias plásticas da região, Mauá se articula para montar um Centro de Apoio e Difusão Tecnológica do setor. A Prefeitura trabalha a proximidade do Pólo Petroquímico de Capuava com o distrito industrial de Sertãozinho como vantagem logística para atrair empresas da cadeia plástica. Também quer usar o fato de a matéria-prima estar praticamente à porta como mais um atrativo e faz gestões para que as petroquímicas abram os departamentos de vendas aos produtores locais. 

A Polibrasil também está afinada com o movimento regionalizado de patrocínio ao centro tecnológico do setor plástico, programado para ser instalado no empreendimento privado Citiplastic, também em Capuava. Junto com Petroquímica União, Polietilenos União, Solvay, Basf e Rhodia, a Polibrasil comprometeu-se a ser uma das fornecedoras de matéria-prima para o laboratório a ser construído em parceria com governo do Estado, Prefeitura, Sebrae e iniciativa privada. Como a Polibrasil poderá produzir até 260 tipos de polipropilenos na nova planta de Mauá, a proximidade com centro tecnológico que orientará transformadores na utilização de novas matérias-primas também se mostra como importante vantagem estratégica. 

Lucro dividido -- Os US$ 217 milhões de investimentos anunciados pela Polibrasil referem-se à construção de duas unidades distintas. Com a Petrobras foi assinado contrato para início das obras da estação separadora de propeno dentro da Refinaria de Capuava. A estação está orçada em US$ 47 milhões e é totalmente financiada pela Polibrasil. Vai transformar gás propeno da Recap em matéria-prima para produção de resinas. Com isso, a Polibrasil aumentará em 140% a capacidade de produção da nova planta que substituirá a atual unidade. A inauguração está marcada para 19 de dezembro de 2002.  

O contrato assinado entre o presidente da Petrobras, Henri Philippe Reischstul, e o diretor-superintendente da Polibrasil, Marcelo Batsleer, utiliza o modelo profit sharing (divisão de lucros). A previsão é que a unidade separadora esteja incorporada aos ativos da Petrobras em seis anos e meio. Durante o período, a estatal deverá pagar o investimento à Polibrasil com fornecimento de gás e outras formas a serem acertadas. A Refinaria de Capuava projeta aumentar em 9% a receita porque até agora o propeno, resultante do refino do GLP, não era utilizado. 

Já a Polibrasil, que também possui fábrica em Camaçari, na Bahia, e em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, torna-se uma das principais produtoras latino-americanas de polipropileno porque eleva a capacidade das três unidades de 450 mil para 625 mil toneladas com o projeto de expansão. O acordo também confere à empresa outra fonte de matéria-prima para a unidade de Mauá. Antes da estação separadora de propeno, a Polibrasil só dispunha de nafta fornecida pela Petroquímica União. A Polibrasil continua a utilizar a nafta da PQU, mas terá também as 145 mil toneladas de gás propeno da Recap. 

A Polibrasil entrará com US$ 30 milhões do total dos investimentos anunciados. Outros US$ 55 milhões são provenientes de linha de crédito do BNDES e o restante financiado pelo ABN Amro Bank e pelo fundo holandês FMU. A Polibrasil é controlada pelos grupos Bassel -- joint-venture entre Basf e Shell -- e Suzano. Atua em um mercado que consome 1,1 milhão de toneladas de polipropileno/ano e cresce à velocidade de 80 mil toneladas no mesmo período. O polipropileno está entre as resinas termoplásticas mais consumidas pelas indústrias de transformação, principalmente utilidades domésticas, embalagens e autopeças. 



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