Vou mostrar neste texto (que contraria a unanimidade forçada, espontaneamente burra ou simplesmente despreparada) porque afirmo categoricamente que a propagada chegada do monotrilho ao Grande ABC é um barco furado de ilusões quando referenciada como ferramental de Desenvolvimento Econômico.
O uso de “monotrilho” é por minha conta. A imprensa regional segue a vender a falsa informação de que se trata de “metrô”. Vejam os pontos sobre os quais me dedicarei nesse contra fluxo aos exageros de quem parece estar à beira de um orgasmo retumbante ao tratar de uma obra típica de Terceiro Mundo:
Logística restrita
Desvio de consumo
Conforto precário
Mercado estuprado
Monstrengo urbanístico
Isolamento econômico
Plano de ocupação
O que mais causa estupefação quando se observa a caudalosa mobilização em torno da Linha 18 Bronze do monotrilho é o direcionamento de informações que contemplam exclusivamente supostas vantagens que a obra proporcionaria à região.
Há desprezo generalizado ao contraditório. E o contraditório diz que o custo-benefício não é a maravilha anunciada. Diferentemente disso, aliás.
Essa nova versão de análise do monotrilho segue as digitais das anteriores e deve ser considerada, portanto, complementar. Não desço a detalhes técnicos porque dispensáveis. Faço o suficiente para oferecer insumos a contraditórios férteis.
Somente sob um ponto de vista o monotrilho (que não é metrô, sempre se deve ressaltar, porque os ilusionistas adoram um drible da vaca semântico) encontra sustentação na realidade prática intrínseca e redundante: favorecerá o usuário de transporte coletivo que tem principalmente a vizinha e pujante Capital como espécie de ponto central de trabalho e consumo.
Ou seja: o Grande ABC, notadamente em áreas restritas de Santo André, São Bernardo e São Caetano, ficará ainda mais próximo da Capital. Com as consequências positivas e muito mais negativas, sob o ponto de vista de Desenvolvimento Econômico, que isso desencadeia.
Abordamos breves sete vetores de clareza solar sobre os desdobramentos do traçado desse meio de transporte de média capacidade e que circula em via elevada.
Logística restrita
Se o traçado de 15,7 quilômetros de extensão do monotrilho previsto para São Caetano, Santo André e São Bernardo fosse a maravilha que os propagandistas sugerem provavelmente seria desnecessário. Afinal, já contamos com sistema de trólebus que corta parte da periferia e o coração de Santo André, passa por São Bernardo e atinge Diadema; e também com transporte ferroviário interligando, na região, Santo André, São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O potencial de interferência no desenvolvimento econômico e de logística, no sentido de fluidez do trânsito, é bastante limitado, portanto. Se os quase 100 quilômetros de metrô de verdade, não monotrilho, não resolveram o problema central da Capital, não seria o monotrilho que salvaria a pátria regional. Para mitigar o que os especialistas chamam de deseconomia de escala, representada por custos logísticos sobrepostos e múltiplos da Região Metropolitana de São Paulo, sobretudo dos maiores municípios, há série de medidas a serem efetivadas. Uma das quais é retirar do passivo histórico dos gestores públicos o descaso a planos voltados ao setor e, principalmente, a generosidade dedicada ao mercado imobiliário, fartamente incidente nos desarranjos. Os mercadistas imobiliários tomam todos os espaços lucrativos com espigões em muitos casos fora da lei, como denunciaram agentes de Estado que atuaram no combate à Máfia do ISS, na Capital.
Desvio de consumo
Uma pesquisa da Universidade Metodista, sobre a qual já escrevi neste espaço, provou que o monotrilho causará sérios buracos no faturamento do comércio varejista dos municípios mais diretamente impactos pelo traçado. São Caetano sofre desde a inauguração da estação Tiradentes do Metrô. Quando se comparam a diversidade e o poder de negociação do comércio de rua da Capital com o do Grande ABC, nossa escala de desvantagens é desanimadora. A quebra de faturamento será gigantesca, mas as lideranças das associações comerciais e industriais não se deram conta disso. Explicação? Provavelmente porque são mal informadas ou jogam o jogo de um otimismo vazio quando questionadas sobre as repercussões do monotrilho. Tanto é verdade que saíram em apoio à campanha em favor do metrô, mal sabendo, também, que se trata de monotrilho.
Conforto precário
É um exagero pretender colocar no mesmo patamar de qualidade de conforto o sistema de metrô, que não contemplará a região, e o sistema de monotrilho, de fato previsto para o Grande ABC. Comparar uma coisa a outra tem o mesmo significado de entender que uma Ferrari e um calhambeque identificam-se em conforto e em aparato tecnológico. Recentemente a Folha de S. Paulo publicou reportagem relatando não só as avarias contínuas do sistema de monotrilho como também a fluidez instável que incomoda os usuários. Há entre especialistas em logística metroviária artigos que condenam autoridades públicas que glorificam o sistema de monotrilho. No mapa mundi de logística urbana, o monotrilho é encontrado em raríssimas localidades.
Mercado estuprado
O traçado do monotrilho é um convite à deserção de residências próximas e uma convocação à complicação de negócios. Existe um ponto de equilíbrio espacial extremamente sensível que favorece os negócios e também os moradores que estejam no raio de influência das estações do monotrilho. O resumo dessa ópera é que, quanto mais próximo, pior, e quanto mais numa zona de neutralidade do fluxo popular, melhor. Ou seja: não se pode estar tão próximo, mas também nem muito longe. Um meio termo, portanto. As poucas experiências internacionais com o sistema registram críticas aos efeitos imediatos nos imóveis mais impactados pelo traçado. Tanto é verdade que há quatro anos moradores do Condomínio Domos, ao lado do Paço Municipal de São Bernardo, mobilizaram-se para barrar o traçado do monotrilho, que passaria praticamente no mesmo nível de apartamentos dos primeiros andares. O movimento não teve continuidade porque o monotrilho desapareceu do mapa de investimentos do governo do Estado. Mas, assim que o projeto for retomado, tudo indica que haverá muito barulho. Qualquer pesquisa séria do mercado imobiliário no entorno próximo do monotrilho paulistano constatará deterioração do preço do metro quadrado dos imóveis – situação bem diferente do entorno próximo das estações de metrô. Quem conhece o monstro de perto sabe que o monstro de perto não é algo que merece confraternização.
Monstrengo urbanístico
O monotrilho é um mostrengo urbanístico. Não é obra de país de Primeiro Mundo. Basta observar os parcos locais no mapa mundial em que o sistema foi implantado. E mesmo assim com sérias complicações operacionais. Se o chamado Minhocão em São Paulo incomoda muita gente, imaginem o quanto o monotrilho incomodaria em áreas urbanizadas. A propagada valorização imobiliária não passa de publicidade de oportunistas. O teste dessa falácia pode ser retirado do exemplo já mencionado. Perguntem aos moradores da mais de uma dezena de torres residenciais do Condomínio Domus o quanto apreciariam ver de suas janelas aquela montanha de concreto armado em formato de linguição
Isolamento econômico
Não se deve acreditar que só pelo fato de existir o monotrilho vai provocar massa de investimentos que intensificariam o desenvolvimento econômico. Distante disso. Fosse essa perspectiva defensável, o sistema de trólebus e o transporte ferroviário teriam impedido a sequência tenebrosa de desindustrialização da região, seguida de empobrecimento com consequente desigualdade social. O monotrilho não oferecerá uma pitada sequer de empuxo econômico sem que o Grande ABC como um todo se organize e se empenhe em medidas baseadas em planejamento econômico que considere todas as armadilhas preparadas pela desatenção publica na gestão do território. O monotrilho está sendo tratado com descuido semelhante ao que marcou os planos e a chegada do trecho sul do Rodoanel. Os números provam que o traçado do Rodoanel, com apenas três acessos, são os mais deletérios como fonte de esgarçamento do potencial produtivo regional. A região de Osasco cresceu exponencialmente porque empreendimentos que, em larga escala, deixaram o Grande ABC, e outros que vieram de outros cantos do Estado, encontraram aparato logístico sensivelmente motivador e competitivo. Não custa lembrar que aquela região da Grande São Paulo não conta com metrô de verdade nem com monotrilho.
Plano de ocupação
O traçado do monotrilho poderia ser contemplado com planejamento econômico específico, o qual tornaria menos vulnerável à concorrência da Capital sempre mais sedutora. Se para a População Economicamente Ativa da região o monotrilho significaria oportunidade a mais de ocupar o mercado de trabalho da Capital, por outro essa mesmo população consumidora preferirá sempre e decididamente deslocar-se à Capital. Uma ação contra essa evidência pesquisada pela Universidade Metodista seria a criação de nichos varejistas ao longo das estações de embarque e desembarque do traçado do monotrilho. Entretanto, essa é uma operação complexa, que dependeria de ações conjuntas entre o Poder Público de cada Município da região, detentor de trecho do monotrilho, como também da iniciativa privada. Além do próprio governo do Estado. Mas, de qualquer forma, os comerciantes e prestadores de serviços da região que guardarem distância relativamente grande do traçado do monotrilho teriam seus negócios esvaziados pelo deslocamento de consumidores.
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