Economia

São José é muito
mais que avião

WALTER VENTURINI - 05/01/2002

A imagem da implosão das torres do World Trade Center, em 11 de setembro último, não preocupou somente o prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani. A milhares de quilômetros, no Brasil, outro prefeito, Emanuel Fernandes, de São José dos Campos, fazia o mesmo que Giuliani: reavaliava planos e prazos administrativos porque o Município também sofreria os efeitos dos atentados por sediar importantes indústrias, entre as quais a Embraer, a quarta maior fábrica de aviões do mundo. Assim como Emanuel Fernandes, empresários se reprogramaram para enfrentar adversidades e exercitaram uma informalidade de relações rara no Brasil, ainda despreparado para ações sinérgicas e coordenadas diante de crises e contratempos. 

Para dar conta das adversidades, São José dos Campos se valeu da marca da tecnologia e do progresso que incorporou no último meio século de desenvolvimento, além de um ambiente de negócios, pesquisas e produção pouquíssimo encontrado em outro local do Brasil. Diante das crises, São José joga no ataque aproveitando-se da diversificação de seu parque. O Município já não depende tanto de seu ícone maior, a Embraer, e além do pólo aeroespacial soube desenvolver os pólos automotivo e eletroeletrônico. Não é à toa que saiu do quarto lugar em Valor Adicionado no Estado, em 1994, com 2,73% de participação, para o segundo lugar em 2000, com 4,06%. Só perdeu em VA para a Capital.

Escaldada pela abertura comercial de 1990, quando sofreu os efeitos de verdadeiro desmonte na economia, a começar pela Embraer, que naquele ano demitiu 4,1 mil funcionários de um total de 12,6 mil, São José dos Campos criou reflexos mais ágeis para novos tempos de crise. "É impossível segurar emprego na marra. O principal é jogar no ataque, fazer a cidade atrativa, com oportunidades" -- afirma o prefeito Emanuel Fernandes. São José sempre ficou na ofensiva, mais precisamente desde o início dos anos 50, quando estava no caminho da principal rodovia do Brasil, a Via Dutra, construída na época. No final da década, foi escolhida pelos militares da Aeronáutica para sediar o CTA (Centro Tecnológico da Aeronáutica), o berço tecnológico de toda economia da cidade. Nos anos 50, o CTA se expandiu com a criação do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), a única escola da época que formava engenheiros aeronáuticos no País. O pólo iniciado nos anos 50 produz hoje tecnologia de ponta como a do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), responsável pelos satélites brasileiros que circulam pelo planeta.

Nas pranchetas do CTA foram rascunhados os primeiros planos para a criação da Embraer. Dos bancos do ITA saíram os engenheiros que construíram os produtos da empresa: Bandeirante, Brasília, AMX e a série de jatos ERJ. Os engenheiros do ITA se espalharam por outras empresas da cidade. O próprio prefeito Emanuel Fernandes é formado pela escola. Foi a diversidade da economia de São José, intensificada nos últimos anos, que permitiu à cidade enfrentar com mais preparo a crise de 2001, não só a dos atentados, mas a do apagão, a da Argentina e a do refluxo da economia norte-americana, que começou antes da ira do Taleban e ainda não terminou. "De 1990 para cá, a economia da cidade diversificou-se bastante, principalmente na área de serviços. Também houve mudanças no setor industrial. A Embraer ainda é o carro-chefe, mas como houve crescimento acelerado da economia local nos últimos cinco anos, o impacto provocado pelos atentados será absorvido" -- acredita o consultor Roberto Koga, diretor do Sindicato dos Economistas do Estado de São Paulo e estudioso da economia do Vale do Paraíba.


Mais empregos -- Um indicador de que a crise desta vez será menor é o nível de empregos. Apesar das mais de 3,5 mil demissões, inclusive das 1,8 mil da Embraer, há um saldo positivo de 5.184 postos de trabalho com carteira assinada, de acordo com dados de novembro do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho. Cerca de quatro mil vagas foram criadas pelas indústrias. O sindicato varejista da cidade tem expectativa de aumento de 5% nas vendas de final de ano. Hoje, São José baseia produção industrial em três pólos: o aeroespacial, o automotivo e o de eletroeletrônicos. "A vantagem de ter três pólos é que quando um entra em crise, a economia da cidade é salva pelos outros dois" -- avalia Felipe Cury, diretor local do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Mesmo que o quadro seja um pouco menos otimista que o traçado por Cury, até porque dificuldades atingiram os três setores em maior ou menor grau, a sensação entre os empreendedores é de que o pior já passou. "Conseguimos sobreviver à crise, mas com problemas setoriais" -- analisa Paulo Saes, presidente da Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos.

Empresários e administradores públicos souberam enfrentar as dificuldades das várias crises que atingiram a economia da cidade porque tinham projetos, planos e estratégias de negócios para médio e longo prazo. Bastou readequar os roteiros, adiar alguns projetos e antecipar outros. "A Prefeitura acelerou o processo de atração de investimentos e tem excelentes perspectivas. Por outro lado, passamos a cadastrar quem perdeu emprego" -- explica o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ramón Touron, que logo após as demissões na Embraer participou da criação do Centro de Apoio aos Desempregados da Embraer e do Pólo de Telecomunicações. Ligado ao Programa Municipal de Solidariedade, o centro de apoio passou a selecionar e a encaminhar currículos em parcerias com Ciesp, Sebrae, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Associação Comercial e Industrial, Sindicato do Comércio Varejista e o Centro de Educação Profissional Hélio Augusto de Souza. Foram oferecidos cursos de informática, gestão administrativa e inglês, além de financiamento a juros subsidiados para os participantes dos cursos do Sebrae, voltados à abertura de novos negócios. O Ciesp chegou a disponibilizar até mesmo psicólogos e advogados para atender os desempregados. A rápida articulação entre Prefeitura, entidades empresariais, bancos públicos e outras entidades explica-se pelo fato de que somente nas 1,4 mil demissões da Embraer a economia da cidade contabilizou pesadas perdas. A reação, mais do que uma necessidade, era uma obrigação.


Novos vôos -- Embora com economia diversificada, São José dos Campos ainda não pode relegar a Embraer a segundo plano. Muito pelo contrário, porque os números da empresa não são nada desprezíveis. O lucro líquido em 2000 foi de R$ 645 milhões e o faturamento alcançou R$ 5,2 bilhões. No ano passado, a empresa chegou a ter 12,7 mil empregados e liderou as exportações brasileiras ao vender para o Exterior US$ 2,7 bilhões. A Embraer tem cadeia produtiva de mais de 30 fornecedores diretos e outras centenas de empresas pequenas e de médio porte que fornecem serviços e materiais diversos. Já em agosto, a própria Embraer se antecipava à crise desencadeada com os atentados de setembro e reduzia previsão de entrega de 200 para 185 aviões, número posteriormente recalculado para 160 aeronaves. Para 2002, a previsão é ainda mais modesta: 135 aviões. Em outubro último a Embraer enfrentou a crise jogando no ataque: lançou o jato ERJ-170, para 70 passageiros e ideal para viagens curtas, justamente o perfil de rota que não é alvo de atentados por não frequentar os grandes e concorridos aeroportos. A empresa desenvolveu em exatos 28 meses um moderno avião que custa US$ 24 milhões. Mesmo com a sequência de crises, o produto tem mercado garantido nos Estados Unidos, Europa e China, o novo e poderoso membro da OMC (Organização Mundial do Comércio), com fôlego para bons negócios com o Brasil. Um exemplo é o contrato que está negociando com a Embraer, no valor de US$ 350 milhões, para a compra de 20 jatos ERJ-145, para 50 passageiros, espécie de aperitivo para os futuros negócios com o ERJ-170. Especialistas avaliam que a recuperação da Embraer acontece nos próximos dois anos, inclusive com a recontratação de funcionários, que seriam aproveitados nos planos de construção de modelos para 78, 98 e 108 lugares, o que colocaria a Embraer já na concorrência com a Boeing, a gigante da aviação civil mundial. Nos planos da empresa de São José também está o contrato de fornecimento de 24 aviões de caça para a FAB (Força Aérea Brasileira), no valor de US$ 700 milhões. O produto a ser oferecido para a FAB seria o Mirage 2000 V, planejado para ser produzido em parceria com a francesa Dassault, um dos acionistas da empresa. A disputa para as vendas para a FAB conta ainda com simpatias no Congresso e no próprio governo federal.

É justamente a perspectiva de revigorar a venda de equipamentos militares que já está produzindo resultados positivos em São José dos Campos.  Outra empresa fruto do perfil tecnológico da cidade, a Avibrás, retoma as exportações de mísseis, que fizeram sucesso na guerra Irã-Iraque. A empresa saiu de 400 para 1,2 mil funcionários em 2001 por conta do aumento da demanda no setor militar. Muitos dos contratados eram funcionários da Embraer. O mais novo produto da Avibrás é o Astros 4, cuja base de lançamento carrega 52 mísseis com alcance de 90 quilômetros. A Malásia, pequeno país do Sudeste Asiático, no epicentro das convulsões políticas e religiosas na região, fechou contrato de US$ 250 milhões com a empresa para compra de mísseis e blindados. Nos próximos dois anos, a Malásia pretende gastar US$ 500 milhões em equipamentos militares brasileiros e o principal mercado do setor é São José dos Campos. A Avibrás projeta fechar o faturamento de 2001 em torno de US$ 70 milhões. A meta da empresa é faturar US$ 1,5 bilhão em 2005, saindo assim de 1,2 mil para oito mil funcionários. 

O crescimento da Avibrás é sinal da diversidade da economia de São José dos Campos. A consistência e competitividade do parque industrial local consegue fazer frente às dificuldades e baixas de mercado, consideradas passageiras, mesmo no setor automobilístico. "A GM fechou bons contratos com a China, de US$ 1,5 bilhão. A Monsanto vai duplicar a capacidade produtiva e a Petrobras investiu muito na Refinaria do Vale do Paraíba, onde é produzido todo o combustível de aviação do País. A economia de São José continua crescendo" -- garante Ramón Touron, o secretário de Desenvolvimento Econômico.


Competitividade -- É possível dizer que São José enfrentou a crise de 2001 em melhores condições do que há 10 anos. Um dos motivos são os indicadores que colocam a cidade entre os municípios com melhores condições de vida do País. Mais de 96% dos 538 mil habitantes são alfabetizados e 28,6% têm Ensino Médio ou Superior completos. A taxa de mortalidade infantil, de 15,4 por mil crianças nascidas vivas, é bem inferior à média brasileira, de 37,4, ou mesmo à da Argentina e da Ucrânia, as duas com 22, chegando próxima de índices de países da Comunidade Européia, como Portugal, que registra nove mortes em mil nascimentos. A coleta de esgoto atinge 93,3% da cidade e a coleta de lixo 96,1%. Cerca de 45% do esgoto sanitário é tratado, índice que promete saltar para 100% com a conclusão da Estação de Tratamento de Esgoto. 

Se o critério for novos padrões de qualidade de vida, São José não decepciona: tem 63% das residências com videocassete, 21% com microcomputador e 8,5% dos domicílios conectados na Internet. O orçamento municipal de 2001 alcançou R$ 535 milhões e a arrecadação tem participação de 65% do setor industrial, que emprega 24% da mão-de-obra local. Outros 51% são absorvidos pelo setor terciário. A previsão orçamentária da Prefeitura de São José para 2002 é de R$ 622 milhões. A maior parte dos recursos é planejada para as áreas de educação e saúde.

São números desse porte que atraíram investimentos de US$ 4 bilhões entre 1997 e 2000, principalmente entre as 28 grandes indústrias da cidade, entre as quais Embraer, General Motors, Petrobras/Revap, Jonhson&Jonhson, Kodak, Monsanto, LG, Ericsson, Panasonic e Solectron. "Sou otimista porque, além de tudo, não temos gargalos viários e apresentamos excelente estrutura urbana, o que gera uma economia de escala monumental" -- expõe o prefeito do PSDB Emanuel Fernandes, leitor assíduo das obras do economista Michael Porter, da Universidade de Harvard, Estados Unidos, estudioso da competitividade regional. Atento às leituras, Fernandes afirma que a cidade tem o básico para a competitividade: investiu em infra-estrutura, tem mão-de-obra fabril, produz riqueza e é produtiva. "É isso que a Argentina parou de fazer, que os Estados Unidos fazem permanentemente e que a China se prepara para realizar" -- analisa o prefeito, para quem jogar no ataque é gerar ambiente econômico que propicie mais admissões do que demissões. "São José tem de manter a característica da cidade de gente que veio para cá fazer a vida. Esse é nosso maior capital" -- festeja Emanuel Fernandes, prefeito que vai atrás de investimento assim que sabe do interesse de alguma empresa em se instalar na cidade.

Fernandes não pratica, entretanto, a disputa selvagem da guerra fiscal que assola o Brasil de cabo a rabo. "Disputo palmo a palmo, mas se a empresa não ficar em São José, a gente torce para que se instale no Vale do Paraíba, que é uma região sistêmica. Aqui não temos consórcio de prefeitos, mas procuramos não atirar nos outros" -- afirma o executivo público. 

A sinergia entre as cidades da região faz o Vale do Paraíba ser responsável por um terço das exportações do Estado e 15% das vendas brasileiras ao Exterior. "Para atrair o capital, ajuda saber que o lugar a se investir tem regras. Aqui vale o que está escrito, não faço favor para ninguém" -- assegura o prefeito, que, além de não fazer concessão fiscal fora das estabelecidas por lei, garante não ter assumido dívidas desde que comanda a administração pública. 

A Prefeitura não doa terrenos e faz concessões pontuais de benefícios fiscais como a redução de 5% para 0,5% de ISS (Imposto Sobre Serviços) para empresas que atuem em desenvolvimento de software e treinamento empresarial, o que estimulou a Ericsson a instalar no Município seu Centro de Treinamento, que diariamente traz para a cidade cerca de 200 pessoas. É a tecnologia reforçando o orçamento do setor de serviços.

Além da prudência financeira, Emanuel Fernandes está de olho no que considera vital para a cidade. "Com 538 mil habitantes, ainda temos espaço para crescer. Acredito que a cidade se estabilize com 800 mil habitantes daqui a 20 anos" -- prevê o prefeito. Para preparar a cidade para 2020, Fernandes coordena um quadro de 8,5 mil servidores municipais que mensalmente custam R$ 14,4 milhões. O Instituto de Previdência do Funcionalismo local é considerado exemplar no mar de rombos do setor: com recolhimento de 10% dos salários do servidor e outros 20% custeados pela administração pública, consegue ser o mais capitalizado do Brasil, com cerca de R$ 210 milhões em caixa.


Exportações -- Para crescer ainda mais, São José só precisa manter o posto de uma das cidades líderes em investimentos e em exportação no Brasil, uma dobradinha infalível no manual da competitividade. "Exportamos manufaturados e tecnologia e não commodities, principal ponto da pauta das exportações brasileiras" -- explica Felipe Cury, diretor do Ciesp. São José se diferencia do perfil econômico do País até nas importações de matérias-primas para a indústria farmacêutica local e mesmo de técnicos. "Em função da tecnologia que geramos aqui, temos de importar especialistas, como é o caso dos engenheiros e cientistas russos que foram trazidos pela Embraer" -- conta Cury, dando mais um exemplo de como o pólo tecnológico reforça o setor de serviços. 

O impulso da indústria à economia da cidade lubrificou a ampliação do comércio, que ganhou cinco grandes shoppings, praticamente um para cada grupo de 100 mil habitantes. O maior, o Center Vale, à beira da Dutra, tem movimento de um milhão de pessoas por mês. Pólo tecnológico e sede de inúmeras multinacionais, São José dos Campos é destino de muitos executivos, técnicos e engenheiros estrangeiros, o que também faz da cidade o mais promissor centro de turismo de negócios do Brasil. Somente este ano, a Prefeitura aprovou sete projetos no setor hoteleiro, num investimento total de R$ 56,5 milhões, voltados principalmente para o público executivo. Dos sete hotéis, dois devem ser inaugurados no começo de 2002. Nos últimos anos foram instalados na cidade oito grandes hotéis e outros 10 tiveram as obras iniciadas.

O crescimento de São José caminha para o chamado eixo Tamoios, ao longo da Rodovia dos Tamoios, ligação com empresas como Embraer, Avibrás, o Aeroporto Internacional e o Porto de São Sebastião e que corta outras vias de aceso como Dutra e Ayrton Senna/Carvalho Pinto. "Poderemos ter um grande eixo modal para entrada e saída" -- explica o presidente da Associação Comercial e Industrial, Paulo Saes, que todo mês organiza plenárias com empresários e dirigentes do setor de todo o Vale do Paraíba para discutir temas ligados ao desenvolvimento. Para tratar do eixo modal, Paulo Saes quer trazer para o debate os ministros Celso Lafer, das Relações Exteriores, e Eliseu Padilha, dos Transportes. Atualmente, as gestões do Poder Público e dos empresários buscam dinamizar duas portas de entrada do eixo Tamoios: o porto de São Sebastião e o aeroporto internacional. Para o primeiro, a proposta é criar um terminal de contêineres, o que acarretaria uma economia de 30% na logística. "Temos condições de reparar componentes de aviões para outros países e podemos desenvolver esses serviços junto com um conceito novo que é o de aeroporto-indústria. Trata-se de área para produtos estrangeiros sem necessidade de serem internados e que, após receberem valor agregado, são exportados com menos burocracia" -- explica o secretário de Desenvolvimento Econômico de São José dos Campos, Ramón Touron. Entre as empresas interessadas em investir em São José dos Campos está uma alemã que administra dois aeroportos europeus e está disposta a injetar US$ 1 bilhão no País. Outra empresa alemã, também com nome sob sigilo, pretende operar uma base de dirigíveis para transporte de cargas pesadas e disformes. "Pode-se dizer que serão guindastes voadores operando estrategicamente para desafogar a Dutra e outras rodovias" -- expõe Touron.


Feiras e convenções -- Mas a menina-dos-olhos do secretário é a construção do maior complexo de feiras e congressos da América Latina, numa área ao lado do aeroporto, no cruzamento das rodovias Carvalho Pinto e Tamoios. Estão projetados mais de um milhão de metros quadrados de área construída, cinco vezes o tamanho total do Parque Anhembi, em São Paulo. A área total do complexo é de cinco milhões de metros quadrados. O estudo de viabilidade incentivado pela Prefeitura e realizado por empresas particulares deve estar concluído este mês. "O Anhembi já está antigo, o Center Norte tem falta de condições e o Riocentro é inadequado" -- avalia Ramón Touron. 

Será um investimento de meio bilhão de dólares que pretende atrair cerca de 800 empresas só na área de serviços, como hotéis, bancos, agências de turismo, frotas de táxi e outros empreendimentos. Em janeiro, o secretário de Desenvolvimento Econômico apresenta o business-plan, bem como as âncoras do projeto, operadores e investidores nacionais. "São José é um dos maiores centros aeroespaciais do mundo, mas a maior feira do setor na América Latina é no Chile. Por que? Tem de ser no Brasil e aqui na cidade" -- afirma Felipe Cury, que além de dirigente do Ciesp fala com a autoridade de ter sido diretor da Avibrás por 13 anos. Cury ficou animado com a 1ª ExpoAr (Exposição Aeronáutica), realizada em outubro no CTA, próximo ao local onde o secretário Ramón Touron pretende criar o complexo de feiras e congressos. A ExpoAr reuniu 50 empresas do Vale do Paraíba. "Daqui a três anos, será uma exposição internacional com aviões de todo o mundo" -- aposta Felipe Cury.

O setor aeroespacial de São José dos Campos criou o primeiro consórcio de exportação do País, composto por 17 empresas, entre pequenas e médias, as que mais dificuldades tinham para exportar. "Os empresários esbarravam na falta de estímulo do governo e achavam que só os grandes é que conseguiam exportar. Quem acreditou no consórcio hoje está rindo à toa" -- analisa Felipe Cury, do Ciesp. A experiência estimulou a criação de outro consórcio, agora do setor de máquinas, formado por 13 empresas. "Os empresários nacionais estão começando a trabalhar, mas é uma questão de tempo, de longo prazo, e também tem de haver um trabalho de manutenção na política de exportação" -- avalia o economista Roberto Koga.

Talvez seja a iniciativa de empreendedores que se reúnem para discutir exportação, projetos para a economia local e formas de parceria com o Poder Público que esteja por trás da capacidade de São José para enfrentar dificuldades com novos horizontes e projetos. Os empresários locais construíram um ambiente favorável à troca de idéias e que incentiva iniciativas e novos negócios. Felipe Cury, quando diretor do Ciesp regional, construiu um local de lazer com bar e varanda na sede da entidade, para reunir empresários. Das conversas informais saíram contatos promissores, negócios e ações de classe. Ao lado do ambiente tecnológico e econômico, o convívio frequente entre agentes econômicos talvez seja um dos segredos da economia de São José dos Campos. Uma união de informalidade, senso de cooperação e visão de futuro.


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