Economia

Cresce unidade de
exportação do BB

DANIEL LIMA - 05/02/2002

Quem imaginar que o perfil das empresas exportadoras sediadas no Grande ABC difere da realidade brasileira que coloca as grandes corporações no topo do ranking sabe muito pouco da economia regional. Um balanço da agência de negócios internacionais do Banco do Brasil em São Bernardo é esclarecedor: única instituição financeira a tratar dessa especialidade na região, a agência detectou a fina semelhança entre o Grande ABC e o Brasil -- um grupo de 10% do universo de exportadores é responsável por 90% do volume embarcado no ano passado, que atingiu US$ 530 milhões. No Brasil, 900 das 14 mil empresas exportadoras responderam por 85% das vendas, que atingiram US$ 55 bilhões. 

O potencial de exportação das indústrias do Grande ABC está por volta de US$ 800 milhões, segundo estudos da gerente da agência do BB em São Bernardo, Diana Ahmar de Moraes. Isso significa que o Banco do Brasil já detém 66% desse mercado regional. Os R$ 530 milhões contabilizados nos 12 meses de 2001 significaram crescimento de 50% sobre os US$ 352 milhões da carteira em 1999. O desempenho do Banco do Brasil, garante a gerente, foi fortemente influenciado pela própria dinâmica de operações dos especialistas da instituição. "Acredito que 90% do crescimento decorre da conquista de mercado que estava com a concorrência e também nas agências do BB da Capital, enquanto os outros 10% se referem a aumento de exportação do parque industrial da região" -- afirma Diana Ahmar. 

A executiva financeira cita que chegam a 500 os exportadores do Grande ABC cadastrados na agência de São Bernardo. "As pequenas empresas fazem parte do grupo dos 90% que respondem por apenas 10% das exportações, mas acredito que o mercado da região oferece perspectivas de crescimento" -- afirma. 

Instalada há dois anos, a agência de negócios internacionais faz parte de seleto grupo do Banco do Brasil voltado especificamente para o mercado de exportação. Em todo o território nacional são apenas 14 unidades, duas das quais em São Paulo, uma em Campinas e uma em Ribeirão Preto, entre os paulistas. Antes da centralização da especialidade, todas as agências do Banco do Brasil no Grande ABC mantinham estrutura de atendimento aos negócios internacionais, entre os vários serviços oferecidos. A centralização numa única unidade a partir de fevereiro de 2000 atingiu os objetivos traçados, porque de US$ 120 milhões pulverizados entre as várias agências não especializadas, registrados em 1999, saltou-se para US$ 352 milhões no primeiro ano e para US$ 530 milhões em 2001. 

A atuação como facilitador de exportações é uma das características do Banco do Brasil, responsável por 25% das operações de comércio exterior do País. Os números de exportação da agência especial do Banco do Brasil confirmam o mix industrial do Grande ABC, fortemente influenciado pelo setor automotivo. O domínio de 70% da carteira de exportação pelas montadoras de veículos demonstra exatamente uma realidade histórica construída a partir da implantação da indústria automotiva, em meados dos anos 50. O Grande ABC continua sobre rodas. Seguem em ordem de importância os setores químico e petroquímico, plásticos e perfumaria, além da indústria mecânica voltada para a área de alimentos. 

Diana Ahmar Moraes projeta novo avanço do Banco do Brasil no Grande ABC em 2002. Sua expectativa é de que será possível crescer mais 15% sobre o volume financeiro registrado no ano passado, o que aproximará ainda mais o desempenho da instituição do teto potencial do universo regional. México, China e Índia são mercados alternativos que exportadores nacionais estão prospectando depois que a Argentina entrou em parafuso, o Velho Mundo apertou a competitividade com a criação do Euro e a economia dos Estados Unidos foi sacudida por Osama Bin Laden. A desvalorização cambial promovida pela equipe econômica no início de 1999 tornou muitos produtos brasileiros mais competitivos. Tanto que em 2001, depois de sete anos seguidos de déficit na balança comercial, o Brasil alcançou superávit de US$ 2,6 bilhões.

Ínfima participação -- As exportações brasileiras em 2001 totalizaram US$ 55 bilhões, o que corresponde a 9,4% do PIB nacional e a 0,88% do comércio mundial. Especialistas consideram esses números ínfimos. São múltiplas as explicações. Para Jorge Saba Arbache, professor de Economia da Universidade de Brasília, educação e timing do processo de liberalização comercial brasileiro são pontos pouco valorizados. Para o acadêmico, o mais elevado do chamado Custo Brasil que também interfere nas relações comerciais do País é a baixa educação e qualificação do trabalhador mediano brasileiro. 

Os elevados custos dos portos, a sufocante carga tributária, os excessivos custos trabalhistas e a irritante burocracia, entre outros itens que oneram a produção e reduzem a competitividade internacional do Brasil, perdem para a questão educacional, segundo o professor. "No Brasil, onde pelo menos 60% da população em idade ativa é analfabeta ou analfabeta funcional, a produtividade do trabalhador há que ser muito baixa. Dessa forma, a ineficiência e a baixa produtividade tendem a se generalizar através dos complexos canais que inter-relacionam as empresas" -- afirma Jorge Saba. 

Quanto ao timing, o economista afirma que, diferentemente dos tigres asiáticos que adotaram no final dos anos 60 e início dos anos 70 vigorosas políticas de exportação como motor do crescimento econômico, Brasil, Argentina, México e China introduziram tardiamente programas de flexibilização do comércio internacional. Como se lançaram ferozmente no mercado internacional quase simultaneamente -- afirma Jorge Sabe -- os mercados de semi-manufaturados ou manufaturados de baixo valor agregado tornaram-se muito mais competitivos, aumentando sobremaneira as dificuldades de se exportar. "Para tornar as coisas ainda mais difíceis, o aumento das exportações ou a abertura de novos mercados tem sido condicionado, por vezes, à reciprocidade comercial, reduzindo o efeito marginal de novas vendas externas na balança comercial" -- afirma.


Leia mais matérias desta seção: Economia

Total de 1894 matérias | Página 1

21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?
12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES
07/11/2024 Marcelo Lima e Trump estão muito distantes
01/11/2024 Eletrificação vai mesmo eletrocutar o Grande ABC
17/09/2024 Sorocaba lidera RCI, São Caetano é ultima
12/09/2024 Vejam só: sindicalistas agora são conselheiros
09/09/2024 Grande ABC vai mal no Ranking Industrial
08/08/2024 Festejemos mais veículos vendidos?
30/07/2024 Dib surfa, Marinho pena e Morando inicia reação
18/07/2024 Mais uma voz contra desindustrialização
01/07/2024 Região perde R$ 1,44 bi de ICMS pós-Plano Real
21/06/2024 PIB de Consumo desaba nas últimas três décadas
01/05/2024 Primeiro de Maio para ser esquecido
23/04/2024 Competitividade da região vai muito além da região
16/04/2024 Entre o céu planejado e o inferno improvisado
15/04/2024 Desindustrialização e mercado imobiliário
26/03/2024 Região não é a China que possa interessar à China
21/03/2024 São Bernardo perde mais que Santo André
19/03/2024 Ainda bem que o Brasil não foi criado em 2000