Guarulhos transformou o problema em solução e descobriu o potencial para ser um dos mais promissores municípios brasileiros deste século. O ovo de Colombo foi encarar o Aeroporto Internacional de São Paulo não como um cancro que aparentemente perturba a malha urbana e interrompe as comunicações locais, mas como o novo vetor de desenvolvimento que pode dar à cidade perfil econômico baseado em avançado pólo de tecnologia, logística e turismo de negócios. Para compensar os problemas urbanos e sociais decorrentes do rápido crescimento da Grande São Paulo, as oportunidades de bons negócios em Guarulhos começam literalmente a cair do céu e fariam a alegria de qualquer empreendedor ou administrador público. Segundo maior município do Estado em população e terceiro em arrecadação, Guarulhos quer deixar de ser coadjuvante do inchaço metropolitano para se transformar no modelo de desenvolvimento que combina movimento aeroportuário com empresas intimamente conectadas com a economia global.
Guarulhos cresce a olhos vistos, principalmente a população, que entre os censos de 1991 e 2000 registrou aumento de 2,5% ao ano. Em 2000, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) identificou 1.071.299 moradores, 458.946 deles parte da População Economicamente Ativa e que formam boa parcela da mão-de-obra dos 12 mil estabelecimentos comerciais, duas mil indústrias e 39 mil empresas de prestação de serviços. O Município é o quarto maior exportador do Estado. A arrecadação em 2001 somou R$ 616 milhões, dos quais R$ 316,32 milhões com repasse de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e R$ 51,95 milhões com ISS (Imposto sobre Serviços).
Crescimento populacional pode turbinar o recolhimento de impostos como ICMS e ISS para áreas de educação e saúde, pois o tamanho da população serve de base ao repasse de recursos, mas também se transforma em dor de cabeça para os administradores. População maior acaba sendo um terror para o Poder Público. "Preferia uma cidade menor, para ter um nível de vida superior. Guarulhos cresceu muito rapidamente, o que acabou sendo bom negócio somente para supermercados e transporte coletivo. O ideal é que a população cresça menos e o ritmo de desenvolvimento seja maior" -- confessa o prefeito Elói Pietá (PT).
A preocupação exemplifica o dilema vivido por Guarulhos, que tenta deixar de ser apenas mais uma cidade agregada à Grande São Paulo para se transformar numa metrópole que precisa cada vez mais otimizar os aspectos positivos para atrair novos investimentos. A tendência parece se direcionar para a afirmação do Município como pólo autônomo de desenvolvimento que ainda convive com taxa de crescimento populacional de 2,46% ao ano (censo de 2000), embora inferior aos cerca de 4% registrados 10 anos antes. Se Guarulhos, que tem área de 335 quilômetros quadrados, continuasse a crescer no ritmo antigo, a população da cidade dobraria a cada 20 anos, com resultados catastróficos para a qualidade de vida.
Um retrato socioeconômico, caso fosse possível, indicaria Guarulhos numa encruzilhada: ou se lança à rota do desenvolvimento, com atração de mais investimentos e aproveitamento estratégico do Aeroporto Internacional como eixo de crescimento, ou a cidade mergulha no caos que já se verifica nos grandes centros brasileiros, com pobreza e violência à frente das grandes chagas sociais. "Estamos num momento bom, que não é possível atualmente na maior parte do Brasil" -- acredita o prefeito Elói Pietá. O secretário de Indústria, Comércio e Abastecimento, José Carlos Maruoka, tem avaliação idêntica sobre as oportunidades que se abrem. "A cidade está preparada para o desenvolvimento. Só faltavam os projetos" -- garante José Carlos Maruoka, que se debruça sobre mapas, planos e projetos de desenvolvimento para os próximos anos.
Diversificação industrial -- Demorou 16 anos para que Guarulhos encarasse a alternativa do desenvolvimento de forma planejada. O Município se beneficiou nos anos 50 e 60 do século passado com a abertura da Via Dutra, principal eixo rodoviário entre São Paulo e Rio, os dois maiores pólos econômicos brasileiros. Ao longo da rodovia se instalaram cerca de mil empresas, que agregaram de forma espontânea mais uma vantagem estratégica à cidade: o perfil diversificado do parque industrial, com empresas dos ramos metalúrgico, químico, vestuário, farmacêutico, plástico, alimentação, logística e eletroeletrônicos, entre outros, poupa Guarulhos de crises setoriais. Ao contrário do Grande ABC, por exemplo, com economia amarrada umbilicalmente às montadoras de veículos, ou mesmo São José dos Campos, ainda parcialmente dependente do desempenho da Embraer, Guarulhos não é sede de nenhum gigante empresarial. Exemplo é a Aché Laboratórios Farmacêuticos, empresa que mais contribuiu para a arrecadação do ICMS na cidade e que não está entre os 100 maiores empreendimentos do País.
Desde 1985, a área do Aeroporto Internacional, situada praticamente no meio de Guarulhos e administrada pelo governo federal através da Infraero, era encarada como entrave para novas vias de trânsito, linhas de abastecimento de água ou de coleta de esgoto. Não existia relação do aeroporto com a cidade, para a qual nunca recolheu tributos. "As antigas administrações viam o aeroporto como um grande problema" -- revela o secretário José Carlos Maruoka. "O aeroporto está aqui há 16 anos e só agora parece que descobrimos sua existência" -- confirma o presidente da Acig (Associação Comercial e Industrial de Guarulhos), Anunciato Thomeo Sobrinho. Durante 30 anos, Anunciato manteve uma retífica de motores na cidade, que fechou em janeiro de 1999. O empresário fez estudos e pesquisas durante meses para descobrir que faria bom negócio caso transformasse as antigas instalações da retífica num centro de convenções, o Open Hall Convention Center. "Me antecipei à chegada dos grandes hotéis à cidade" -- afirma Anunciato com ponta de satisfação.
O Aeroporto de Cumbica, como também é conhecido, tem capacidade para 15 milhões de passageiros por ano, mas um crescimento de 9% ao ano fez acender a luz vermelha de alerta porque o limite operacional será atingido brevemente. Em 2001 foram 13,5 milhões de passageiros. Cerca de 40% do fluxo tem origem em vôos internacionais. Com esse movimento, Guarulhos ocupa o 67º lugar entre os aeroportos que mais transportam passageiros no mundo. A liderança é do aeroporto de Hartsfield, de Atlanta, Estados Unidos, por onde circulam anualmente mais de 80 milhões de passageiros. O aeroporto de OHara, de Chicago, em segundo lugar no ranking com movimento de 72 milhões de passageiros, serve como referência de aproveitamento econômico para Guarulhos.
Mesmo sendo o aeroporto mais movimentado do Brasil, Guarulhos fica atrás de outros terminais aéreos como o da Cidade do México (44º lugar); Palma de Maiorca, na Espanha (52º lugar); Tampa, na Flórida, Estados Unidos (59º lugar); e até o de Kuala Lampur, na Malásia (65º lugar). A solução é a construção de mais dois terminais (os de número 3 e 4) para passageiros e mais um de carga (Terminal 5), além da construção da terceira pista. A obra teve início em março e é de responsabilidade da Infraero (Empresa de Infra-Estrutura Aeroportuária). Aumentará a capacidade do aeroporto de 15 milhões de passageiros por ano para 27 milhões. As instalações passarão dos atuais 42 mil para 80 mil metros quadrados.
O Aeroporto de Cumbica não é um problema para Guarulhos. Muito pelo contrário. Cerca de 30 mil empregos diretos, metade ocupada por moradores da cidade, são gerados pelo aeroporto, que ocupa 14 quilômetros quadrados. A área equivale a 4,18% do total do Município ou a uma cidade de São Caetano. Desde que foi criado, o aeroporto serviu para embarque e desembarque de 154 milhões de passageiros. O Aeroporto Internacional de Guarulhos é o maior gerador de renda entre todos os terminais administrados pela Infraero: respondeu por 15,5% do faturamento de R$ 1,47 bilhão da estatal em 2001.
Segundo trem -- Depois da construção da Via Dutra, meio século atrás, a ampliação do Aeroporto de Cumbica, o maior da América do Sul e que liga o Brasil a outros 30 países, é o segundo trem da história que passa pela estação das oportunidades de desenvolvimento do Município. "A grande alavanca de desenvolvimento foi proporcionada pelo aeroporto e mais recentemente com a privatização da Via Dutra" -- garante Tércio Ivan de Barros, superintendente da Infraero na regional Sudeste.
Somente o novo Terminal 3 consumirá investimentos de R$ 700 milhões. Se somado à construção da terceira pista, desapropriações e outras obras, o custo sobe para R$ 1,1 bilhão. A obra é mais do que necessária porque a Infraero já cogita transferir vôos internacionais de Guarulhos para o Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, que comporta a circulação de 15 milhões de passageiros por ano mas que atende somente cinco milhões. A ampliação do Aeroporto de Cumbica exige desapropriação de mais de 2,7 mil residências em seis bairros da cidade, o que afetará pelo menos 13 mil pessoas. O ato de desapropriação foi assinado em janeiro pelo governador Geraldo Alckmin e a Infraero arcará com os estimados R$ 100 milhões de despesas. A Prefeitura pretende criar um bairro padrão para abrigar os desapropriados, em parceria com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e iniciativa privada. O projeto para construção do Terminal 3 e da terceira pista levará pelo menos oito anos para ser concluído e promete gerar outros 18 mil empregos.
Com 50 mil funcionários, o Aeroporto Internacional de Guarulhos se transformará num dos maiores empregadores do País, à frente de grandes absorvedores de mão-de-obra como a rede McDonald’s, que emprega 36 mil pessoas por todo o Brasil. O complexo aeroportuário de Guarulhos só perderia para o maior empregador brasileiro, o Bradesco, que soma cerca de 55 mil funcionários. O superintendente da regional Sudeste da Infraero, Tércio de Barros, lembra também que o Aeroporto Internacional é verdadeira cidade que funciona 24 horas por dia em vários setores, desde a operação aeroportuária, passando pelo comércio interno, agências bancárias, negócios, táxis e outras atividades diuturnas.
Guarulhos vem há algum tempo passando por transformações por causa do aeroporto. Nos últimos dois anos 11 hotéis se instalaram na cidade, num total de quatro mil leitos disponíveis para usuários do aeroporto. Por mais incomum que possa parecer hospedar-se em Guarulhos, ganha força a cada dia a tendência do turismo de negócios implantar-se em áreas próximas aos aeroportos internacionais. Exemplos de modelos de desenvolvimento econômico lastreados em aeroportos são as cidades de Chicago e Miami, nos Estados Unidos, e Hanover, na Alemanha. "Turismo de negócios não significa só hotéis, mas também restaurantes, centros de convenções e de exposições, lazer e empresas de transportes" -- ressalta o secretário José Carlos Maruoka.
Para executivos que viajam, é mais prático desembarcar num aeroporto, fazer reuniões e ir a feiras nas proximidades do que se deslocar por uma grande metrópole como São Paulo. É verdadeira maratona, por exemplo, um roteiro que começa em Guarulhos, no leste da Grande São Paulo, passa pela Avenida Luiz Carlos Berrini, na zona sul da Capital, e o Centro de Convenções e Exposições do Anhembi, na zona norte de São Paulo. "Hoje Guarulhos está apta a receber grandes eventos com custos de locomoção baixos" -- avalia Alexandre Pop, gerente-geral do Hotel Mercury, empreendimento de 330 apartamentos do Grupo Accor, que pretende inaugurar ainda este ano mais duas unidades no Município: o Íbis em junho, com 288 apartamentos, e o Parthenon, flat de 166 apartamentos a ser entregue em setembro. Alexandre Pop manifesta expectativa positiva para 2002. "Depois da retração provocada pelo atentado ao World Trade Center, à crise energética e à crise argentina, esperamos que o mercado se aqueça este ano" -- aposta o gerente do Hotel Mercury.
Para incrementar o turismo de negócios Guarulhos ganhou o Convention Bureau, que reúne empresários do ramo hoteleiro, de agências de turismo, de lazer e da área de eventos. O ambiente de negócios também inspirou a criação da Agen (Agência de Desenvolvimento de Guarulhos), organização sem fins lucrativos que reúne lideranças locais em busca de desenvolvimento e qualidade de vida. Participam entidades empresariais, sindicatos, Prefeitura, Câmara Municipal e Sebrae-SP (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa).
Em fevereiro último tomou posse o Conselho Municipal de Turismo, que além de incentivar ações voltadas ao setor vai impulsionar novas formas de atividades, como o ecoturismo. A Prefeitura inaugurou em março no Aeroporto Internacional o primeiro balcão de informações turísticas do Município. Guarulhos oferece 30% do território para a vertente ambientalista do turismo. São áreas de proteção ambiental, principalmente o trecho local do Parque Estadual da Serra da Cantareira, com trilhas e passeios ecológicos. Hoje a cidade é considerada o 13º pólo de consumo do Brasil, de acordo com a Prefeitura e com base em estudos do Sebrae (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa), e tem o quarto maior shopping center do País, o International Shopping Guarulhos.
Miami brasileira -- Além do turismo de negócios, Guarulhos está atenta à possibilidade de o aeroporto atrair indústrias que operem com montagem final de equipamentos. É o modelo de desenvolvimento de Miami, maior centro exportador de eletroeletrônicos dos Estados Unidos sem que exista uma indústria do setor na cidade. "Na verdade, Miami é um centro de distribuição e é isso que pretendemos com Guarulhos" -- confessa José Carlos Maruoka, secretário de Indústria, Comércio e Abastecimento. José Carlos sonha com as chamadas indústrias de aeroporto, que importam chips da Malásia, por exemplo, para montá-los num gabinete de computador produzido localmente. O resultado final é um produto com alto valor agregado e excelentes taxas de impostos arrecadados.
Guarulhos ainda não tem indústrias com esse perfil, mas há dois anos conseguiu atrair, em boa medida por causa do aeroporto, a Cae, multinacional canadense que oferece de forma ininterrupta serviços de simuladores de vôos para toda a América Latina, Ásia e África. A Cae tem vocação para ser, de acordo com José Carlos Maruoka, o maior centro de simulação de vôo do mundo. Outra gigante da tecnologia que moderniza o perfil industrial da cidade é a Visteon, maior produtora mundial de autorádios.
A segunda onda de desenvolvimento que pode atingir Guarulhos a partir do impulso dado pelo aeroporto internacional provoca verdadeira febre de planos e iniciativas na cidade. O primeiro passo para o desenvolvimentismo local foi o anúncio da instalação da Fiera Milano, megacentro de pavilhões de exposições instalado ao lado do aeroporto de Milão e que começa este ano a construir em Guarulhos a primeira unidade fora da Itália. A Fiera Milano promete levantar no prazo de dois anos pavilhão de 100 mil metros quadrados totalmente climatizado, mais do que o dobro do principal centro de feiras da Grande São Paulo, o Anhembi, na Capital, inadequado a grandes eventos com seus 40 mil metros quadrados.
O governo do Estado, por sua vez, planeja montar ao lado do Aeroporto de Cumbica o Dry Port, uma ampliação do conceito de área alfandegada, com estrutura e potencial para abrigar indústrias e serviços ligados à movimentação de cargas. Já o Grupo Enterprise providencia terraplenagem de área de 500 mil metros quadrados onde pretende instalar o Centro Internacional de Negócios, planejado para aglutinar hotéis, centros comerciais e trade point. Outro empreendimento atraído pelo aeroporto é o Centro Tecnológico e de Logística, que ficará pronto em dois anos ao lado aeroporto e que abrigará depósitos de empresas como Intel, Microsoft e HP.
Trem expresso -- Para dinamizar os planos, a Prefeitura também negocia a instalação de linha de trem expresso de alta velocidade ligando a estação ferrometroviária do Brás, na Capital, a Cumbica. Em março último foi assinado convênio com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) para ligação do aeroporto ao Centro de São Paulo, com conexão metroferroviária na Estação Brás. "Hoje temos praticamente um único acesso, que é a Marginal do Tietê. Uma chuva ou um caminhão batido fecha o caminho" -- afirma Tércio Ivan de Barros, da Infraero.
A CPTM calcula os investimentos em cerca de US$ 300 milhões -- US$ 45 milhões financiados pelo Banco Mundial e o restante com aporte do governo do Estado. A viagem duraria 25 minutos com tarifa de R$ 20. O deslocamento pelas congestionadas avenidas da metrópole leva hoje uma hora ou mais. "A linha metroferroviária seria extremamente viável, tanto na ida quanto na volta" -- argumenta o secretário municipal de Indústria, Comércio e Abastecimento, José Carlos Maruoka. A Prefeitura de Guarulhos negocia a instalação de uma estação intermediária no conjunto habitacional Cecap -- haveria outra na Penha, em São Paulo -- para composições de trens urbanos que circulariam pela mesma linha, nos intervalos do trem expresso.
A licitação será iniciada ainda neste primeiro semestre e as obras no final do ano que vem, com o aproveitamento da linha variante da CPTM na zona leste de São Paulo. A concessionária precisa construir mais nove quilômetros de ferrovia. Pelos planos, serão adquiridos cinco trens com capacidade para 410 pessoas sentadas, ar condicionado, compartimento para bagagem e poltronas estofadas. As viagens serão feitas a cada 12 minutos, o que promete igualar Guarulhos a outros aeroportos internacionais no quesito transporte rápido de passageiros. A CPTM negocia verba de US$ 800 mil com a agência americana US Trade Development Agency (USTDA), a fundo perdido, para estudo de viabilidade do trem. A construção não levará mais do que 15 meses caso seja batido o martelo das decisões. O trem transportaria 20 mil passageiros por dia, equivalente a 25% das cerca de 80 mil pessoas que circulam diariamente pelo aeroporto.
O projeto do trem, em sua versão mais acabada, terá de ser integrado ao processo de modernização do centro nervoso da CPTM, composto pelas estações Brás, Luz e Barra Funda, interligando seis linhas ferroviárias e três do metrô. Dessa forma, um executivo poderá, nos próximos anos, desembarcar em Guarulhos e seguir de trem expresso até a Avenida Luiz Carlos Berrini, novo centro financeiro e econômico da Capital.
A cidade que abriga o maior aeroporto do País não dispõe, porém, de uma estação rodoviária, seja para linhas intermunicipais ou interestaduais. O prefeito Elói Pietá já nomeou grupo de trabalho para elaborar proposta a ser apresentada à iniciativa privada com objetivo de concluir a obra em três anos. "Faremos parceria com a iniciativa privada porque é quem sabe fazer isso" -- afirma o secretário José Carlos Maruoka.
Seria uma exceção absoluta um visitante ou executivo pegar um ônibus para se deslocar de Guarulhos para outros locais, mas a rodoviária se inscreve dentro da meta de aumentar a qualidade de vida que o prefeito Elói Pietá persegue. É também esse o objetivo do projeto de revitalização da área central da cidade, que se destina tanto a atender o público que chega pelo aeroporto e quer fazer negócios nas proximidades como dar melhor condição urbanística e de vida à população local e, assim, possibilitar ambiente favorável a novos empreendimentos. O desenvolvimento econômico local também será afetado pela construção do Rodoanel, previsto para entrar em operação a partir de 2006 num traçado próximo a Cumbica. Guarulhos terá três acessos: da Fernão Dias, do aeroporto e o da Dutra. A principal dificuldade para a realização da obra são os critérios de preservação na área local da Serra da Cantareira.
IPTU progressivo -- As ações da Prefeitura para impulsionar o desenvolvimento de Guarulhos e buscar qualidade de vida para uma concentração urbana de mais de um milhão de moradores não deixam de lado o aumento na arrecadação. Quando o assunto é imposto, certamente a polêmica está garantida. São pesadas as críticas do empresariado ao IPTU progressivo implantado pelo prefeito Elói Pietá. "Está ficando muito caro para as empresas, principalmente para metalúrgicas e autopeças, que tiveram aumentos de até 600% na carga tributária. Se nada for feito, empresários sairão de Guarulhos, não do dia para a noite, mas certamente a médio prazo" -- alerta o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado), Antonio Carlos Koch. "Tivemos alguns problemas com o IPTU progressivo, mas ao final os empresários vão agradecer porque vai melhorar a arrecadação para atender a uma dívida social acumulada" -- minimiza Elói Pìetá.
Quando fala do passivo social da cidade, o prefeito se refere aos serviços básicos de saúde, que não atendem a um terço da população, além de não haver leitos suficientes na rede hospitalar. A demanda a ser atendida não é pequena, principalmente nas 300 favelas da cidade, 60 das quais já urbanizadas com pavimentação de vias, iluminação, saneamento e regularização fundiária.
Cortado pelas rodovias Dutra, Fernão Dias e Ayrton Senna, o Município sofre com o trânsito caótico e congestionado, principalmente nas vias de acesso -- um grave problema para uma cidade que quer atrair empresas de logística. Em dois anos, a Prefeitura promete utilizar a arrecadação reforçada com o IPTU progressivo para dobrar o número de vagas na rede municipal de ensino, passando de 24 mil para mais de 50 mil vagas. "É o segundo maior programa educacional do Brasil, perdendo apenas para a cidade de São Paulo" -- ressalta o secretário de Indústria, Comércio e Abastecimento, José Carlos Maruoka.
Tanto empresários como moradores das áreas mais altas de Guarulhos sempre reclamaram do abastecimento de água. Residências e empresas chegavam a ficar até 15 dias por mês sem água por causa do rodízio. Hoje, a falta dágua dura no máximo 24 horas e atinge somente algumas áreas mais elevadas da cidade. “Fizemos uma otimização dos recursos”. O atual sistema é totalmente inadequado, pois a cidade cresceu para o lado oposto do principal reservatório -- explica Sebastião Almeida, superintendente do Saae, autarquia que chegou a acumular dívida de R$ 150 milhões com a Sabesp, da qual adquiria 95% da água consumida na cidade. No Bairro dos Pimentas e em Cumbica, na zona leste e mais pobre da cidade, moradias e empresas ficavam de oito a 10 dias sem água. "Isso provocou uma saída significativa de indústrias da cidade" -- admite Sebastião Almeida.
Uma das primeiras medidas do Saae em 2001, com a posse da nova administração foi restabelecer os pagamentos à Sabesp, que se comprometeu a aumentar o fornecimento de água e o envio para áreas industriais e residenciais da zona leste de Guarulhos. A meta do Saae nos próximos dois anos é abastecer 100% da cidade, 24 horas por dia. Em um ano, a Prefeitura conseguiu renovar a frota de 19 ambulâncias e promete dobrar o volume até o final do ano. Outro objetivo da Prefeitura é construir um hospital no Bairro dos Pimentas, bolsão onde 400 mil pessoas vivem de forma precária, com carência de serviços básicos como pavimentação, água e esgoto.
Eixo metropolitano -- É justamente a partir da região carente de Cumbica-Bairro dos Pimentas que a Prefeitura planeja dinamizar um eixo econômico de alcance metropolitano. A partir de obras na Avenida Berinepe, o objetivo é formatar o eixo que liga a Dutra à Avenida Jacú-Pessego, na zona leste de São Paulo, com extensão ao Grande ABC e à Via Anchieta. Trata-se de uma ligação estratégica com o Porto de Santos. Em março começam as obras para o acesso ao novo eixo pela Via Dutra, antigo terror dos motoristas. Somente no trecho da Dutra que corta Guarulhos havia congestionamentos de uma hora, agora reduzidos a 15 minutos graças às obras da NovaDutra, concessionária privada que passou a administrar a rodovia.
Mesmo sem a eliminação total, a redução dos engarrafamentos já faz a alegria entre as cerca de 200 empresas de logística sediadas no trecho da Dutra em Guarulhos. Com o eixo Berinepe-Jacu-Pessego, o contingente de indústrias, centros de distribuição e outros empreendimentos passaria a ter ligação rápida e barata com outras zonas industriais da Grande São Paulo. "Guarulhos é uma cidade logisticamente apta para negócios" -- garante Alexandre Pop, gerente do Hotel Mercury. A combinação eficiente de localização geográfica, comunicações ágeis e porta de entrada para o mundo pode fazer Guarulhos entrar definitivamente no século XXI.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?