Com abertura prevista para este 2 de maio, o Mauá Plaza Shopping quer reverter o fenômeno que se tem assistido na região na última década com a chegada de megaempreendimentos do varejo. Ao contrário de outras cidades onde grandes centros de compras provocaram queda de movimento e muitos obituários em lojas de rua, Mauá aposta no poder de atração do novo shopping para potencializar o comércio da área central. A veia agregadora estaria assentada em elementos como localização, mix moldado ao consumidor do Município e, principalmente, perfil para atrair o exército de compradores de Mauá que prefere gastar preciosos reais em cidades vizinhas.
É nessas perspectivas que o centro de compras da Brasterra Empreendimentos Imobiliários, empresa do Grupo Peralta, centra a munição para atrair 40 mil visitantes/dia no primeiro ano de funcionamento. O empreendimento joga, primeiro, com o efeito-novidade e, segundo, porque Mauá ainda não viveu a febre dos shopping centers e concentraria demanda reprimida para esse tipo de negócio. A tese poderá ser testada já na primeira semana de funcionamento. O shopping será inaugurado às vésperas do Dia das Mães, segunda melhor data de vendas para o comércio após o Natal, e terá oportunidade de mostrar se realmente desembarcou em Mauá para o bem de todos e felicidade geral da cidade.
O impacto que o Mauá Plaza deve causar sobre o comércio de rua do Centro não assusta porque as lojas instaladas no eixo comercial da Avenida Barão de Mauá são majoritariamente populares. "Se o shopping estivesse em outro ponto seria o caos, porque tiraria o movimento do calçadão. Mas, ao contrário, deve contribuir para atrair o morador que hoje não frequenta a área central" -- contextualiza o secretário-geral da Aciam (Associação Comercial e Industrial), Luis Almeida. A observação chama a atenção para o detalhe de que o Mauá Plaza não foi concebido para funcionar como ilha, já que a construção está integrada ao calçadão por uma entrada de pedestres. "O shopping deve se transformar na grande âncora do comércio central" -- confia o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Paulo Eugênio Pereira.
O estrago que o grande varejo tem provocado no pequeno comércio de rua da região é visível. Por isso, é compreensível a atitude tanto da Prefeitura quanto da Associação Comercial de não alimentar polêmica com a inauguração do Mauá Plaza. A chegada de hipermercados e centros comerciais ao Grande ABC provocou o fechamento de seis mil estabelecimentos familiares, nos anos 90 de acordo com o Sincomércio. O assunto também preocupa a Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Recentemente a entidade anunciou estatísticas que mostram que a cada emprego gerado pelos grandes varejistas, uma vaga e meia se perde nos pequenos estabelecimentos de vizinhança. O quadro alarmante consta até de estudos realizados na Universidade de Iowa, mostrando que nos Estados Unidos a situação não é diferente.
Por isso, a Associação Comercial de Mauá quer desviar de conduta ufanista e já se prepara para monitorar o novo movimento do comércio central com base em dados do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) e Telecheque. A Aciam pretende identificar se as consultas aumentarão com a inauguração do shopping ou se serão menores no calçadão e maiores no shopping e vice-versa. A Prefeitura também promete encontrar forma de medir o impacto do funcionamento do shopping nas atividades comerciais instaladas no raio de um quilômetro.
O Mauá Plaza não é o primeiro empreendimento do gênero na cidade. Em 1993, o empresário Hélvio Bozzato inaugurou o Green Plaza Shopping, com três pisos e porta de entrada em frente à principal saída da estação ferroviária na Rua Rio Branco. Sem predominância de lojas de grife, a idéia era atrair principalmente o público de passagem. O Green Plaza, no entanto, não conta com estacionamento e a ausência desse conforto acabou limitando a frequência. Nem mesmo as duas salas de cinema, já desativadas, foram suficientes para segurar o público. O movimento inicial de 10 mil frequentadores caiu para seis mil em seis anos e levou o empresário a redirecionar o negócio. O Green Plaza manteve 27 lojas no primeiro piso e acaba de ser reformado para abrigar 33 salas comerciais no segundo andar. No terceiro piso funciona um bingo.
Oscilações econômicas à parte, Hélvio Bozzato atribui a queda no fluxo sobretudo ao complicado sistema viário central, que dificulta o acesso de veículos à Rua Rio Branco, cujo trecho onde está localizado o Green Plaza passou a integrar a área do calçadão central construído no primeiro mandato do prefeito Oswaldo Dias. "A construção do calçadão limitou ainda mais o tráfego de veículos e não foram previstos bolsões de estacionamento" -- lamenta Bozzato, que garante: as lojas instaladas no Green Plaza não manifestaram intenção de migrar para o novo shopping.
O empreendedor acredita ter estabelecido mix cativo e por enquanto não detecta influência do Mauá Plaza sobre os negócios do Green Plaza. Pelo contrário. Hélvio Bozzato está surpreendentemente otimista com o novo vizinho, seja pelo poder de atração de público, seja pelas vagas de estacionamento oferecidas pelo empreendimento e que, para ele, vão potencializar o movimento da área central. "Com todas as mudanças, acho que vamos aumentar entre 15% e 20% o fluxo a partir do segundo semestre" -- projeta. O Green Plaza Shopping também está ligado por meio de corredor ao calçadão da Avenida Barão de Mauá.
Mix adequado -- Mauá detém 0,236% do potencial de consumo do País, segundo o ranking da Target Pesquisas e Marketing. É o 56º no ranking do Brasil, mas à primeira vista justifica o investimento de R$ 50 milhões do Mauá Plaza, principalmente porque metade da população ainda faz compras fora do Município, conforme termômetro da Aciam. É de olho na migração desse público e com os pés no chão que o empreendimento traça sua estratégia. O Grande ABC perdeu 21,5% do poder de compra nos últimos 10 anos, de acordo com estudos da Target, e a história de que ostenta poder aquisitivo elevado desmorona a cada dia. Estudo recente da Anep/Abipeme (Associação Nacional das Empresas de Pesquisa e Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado), com base em dados do IBGE, demonstra que quatro em cada cinco brasileiros só têm dinheiro suficiente para comprar o básico ou nem isso. Duramente atingida pela desindustrialização, a região não difere do quadro.
"Tomamos o cuidado de adequar o mix de lojas ao perfil do consumidor de Mauá" -- comenta o responsável pela comercialização do Mauá Plaza Shopping, Walter Rozados. A declaração perde o tom de retórica de ocasião quando desdobrada em números estratégicos. O empreendimento foi projetado para atrair 100% da classe B (cuja renda bruta mensal é superior a R$ 1.125), 80% da classe C e 40% da classe D. A distribuição encaixa-se na realidade de uma Mauá que ainda concentra 80% dos 390 mil moradores na base da pirâmide socioeconômica.
O Mauá Plaza Shopping também cercou-se de estudo de origem-destino para construir mapa mais realista de comercialização. Números revelados por Walter Rozados apontam que 34% dos frequentadores de shoppings localizados em Santo André vêm de Mauá. O percentual confirma a migração de consumo detectada há tempos pela Associação Comercial e Industrial de Mauá e ratifica a conclusão da pesquisa Anep/Abipeme de que a expansão do mercado interno brasileiro é tímida. O Mauá Plaza está de olho ainda em bairros vizinhos da zona leste da Capital, que contribuem com 14% do movimento dos centros de compra de Santo André, e obviamente na população de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. "Vamos oferecer mais uma opção para esses moradores e buscar o cliente que não está acostumado a comprar em shopping" -- anima-se Walter Rozados.
Mauá despertou as marcas famosas há dois anos, quando McDonalds, Sé Supermercados e Coop instalaram lojas no Município. O Mauá Plaza Shopping está trazendo Marisa, Park & Games, Telhanorte e Extra. O hipermercado já marca presença na comunidade com a abertura do Espaço Extra Feliz na vizinha escola pública Clarice Lispector. São atividades culturais e de recreação que atraem seis mil visitantes a cada final de semana. Com a abertura da unidade de Mauá, o espaço será transferido para a própria loja.
O Mauá Plaza Shopping abre as portas com 80% das 153 lojas locadas. Só há vagas para joalheria e moda masculina e feminina. Serão cinco salas stadium (em desnível) de cinema do Grupo Araújo, 15 opções de fast food, centro automotivo, caixas eletrônicos de todos os bancos, uma agência Bradesco e lojas como Casa das Calcinhas, 775, Wrangler, Sunline, American Shoes, Ângela Calçados, Pixolé e Ponto Frio. O estacionamento tem capacidade para 2,5 mil veículos, 1,8 mil dos quais em área coberta. Os consumidores só pagarão se ultrapassarem duas horas e meia de permanência.
O shopping é um dos componentes principais da lista de investimentos privados que injetaram R$ 2,9 bilhões em Mauá nos últimos cinco anos. É o único empreendimento que chega com doação de área e isenção de impostos porque assumiu a contrapartida de remodelar o sistema viário central com construção de pistas de desaceleração e duas novas avenidas para facilitar o acesso e auxiliar na ligação entre os dois lados da cidade cortados pela ferrovia. São 95 mil metros quadrados de construção e dois mil empregos diretos. "O Mauá Plaza prova que parceria objetiva e transparente entre os setores público e privado pode responder aos anseios da população" -- declara em clima de inauguração o prefeito Oswaldo Dias.
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