Economia

Tecnologia Made
in Grande ABC

WALTER VENTURINI - 05/05/2002

Ferido pela abertura comercial, pela desindustrialização e pelo desemprego, o Grande ABC pode ter na produção tecnológica a solução para retornar à rota do crescimento. Mais do que um sonho, a terapia tecnológica local começa a ser aplicada em pequenas poções numa região que busca transformar o perfil produtivo importador de inovações, luta para deixar de ser mera reprodutora de peças e equipamentos e pretende se tornar centro de pesquisas e soluções para a nova indústria. As doses ainda são homeopáticas e pingam na figura das incubadoras de base tecnológica, que começam a surgir nos galpões outrora abrigos da velha e tradicional linha de produção do chamado segundo setor. Os rebentos que emergem desse berço de novas apostas são na maioria ex-funcionários de grandes empresas, aposentados experientes ou jovens ao mesmo tempo sonhadores e habilidosos que começam a forjar tecnologia made in Grande ABC, com a cara de quem vive, trabalha e respira projetos e soluções para um novo possível futuro da economia regional.


Das pranchetas, tornos e monitores das empresas que nascem das incubadoras não vão sair engenhos espaciais ou maravilhas da biotecnologia, como sugerem os chavões mais conhecidos da tecnologia. Com os pés no chão e um projeto na cabeça, os novos empresários têm bem claro que precisam desenvolver serviços e produtos que o parque industrial do Grande ABC necessita. Os empreendimentos incubados procuram unir fatos novos ao conhecimento acumulado em anos de trabalho na região. Não são empresas que seguem modismos de mercado ou o mero desejo de montar um negócio, que por si só não é garantia de sucesso. Haja vista o alto índice de mortalidade dos pequenos novos negócios demonstrado no mais recente Estudo de Mortalidade das Empresas Paulistas divulgado pelo Sebrae-SP (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Estado de São Paulo): 71% das empresas fecham antes de concluírem o quinto ano de atividades. Falta de planejamento, dificuldades de acesso ao crédito e alta carga tributária são os principais fatores. Nas empresas incubadas, a taxa de mortalidade não passa de 20%.


Foco tecnológico -- Era inevitável que a devastação provocada pelo desemprego motivasse levas de pretendentes a empresários quando surgiram as primeiras experiências de incubadoras no Grande ABC. Num primeiro momento, a vontade de abrir negócio próprio vinha acompanhada pela falta de foco para os novos empreendimentos. "Quando surgiu a idéia da incubadora, vimos que não existiam universidades federais que preparassem jovens para desenvolver produtos. Aqui, a questão é a da empregabilidade. Apareceram mais de 400 interessados, a grande maioria querendo apenas mudar de ramo de trabalho. Só que a concorrência é muito alta em negócios com pouco valor agregado. Por isso, tínhamos de criar uma nova cultura" -- coloca Silvana Pompermayer, gerente do Sebrae de São Bernardo, uma das entidades que compõem o conselho da Iesbec (Incubadora de Empresas de São Bernardo).


Criada no primeiro semestre de 2000, a Iesbec tem 10 incubados. Começou como incubadora mista, reunindo empresas de base tecnológica mas também tradicionais. No meio do caminho, percebeu-se que a busca do diferencial, do valor agregado, da demanda do mercado por inovações em produtos e serviços é que poderia traçar a rota do desenvolvimento das empresas ali residentes. A correção do rumo foi inevitável. A partir de agora a Iesbec tem perfil exclusivo de base tecnológica e recebe média semanal de quatro novos projetos. 


Já em Santo André, Prefeitura, Sebrae e Agência de Desenvolvimento do Grande ABC optaram desde o início por montar uma incubadora de base tecnológica. Mesmo na IEM (Incubadora de Empresas de Mauá), que começou em fevereiro último com perfil misto, surgem produtos e serviços com diferenciais forjados em estudos e pesquisas de tecnologia. Em Mauá, cinco empresas estão abrigadas na experiência e uma funciona em outro local mas recebe assessoria dos consultores da IEM. O objetivo é incubar 12 projetos. 


Em Santo André, a incubadora ainda está em fase de seleção de empresas e a partir de julho deve ser divulgada a lista dos 14 projetos escolhidos. Em São Bernardo, a Iesbec se prepara para abrigar 20 empresas em novo galpão a ser inaugurado até o final do ano. 


A alternativa tecnológica ainda é inexpressiva diante do porte da economia da região? Com certeza, mas a situação também não foi diferente na época em que surgiram as primeiras incubadoras tecnológicas do Vale do Silício, nos Estados Unidos, para aproveitar os talentos de universitários que tinham poucas oportunidades de emprego quando deixavam os bancos escolares. 


A primeira fornada de empresas de base tecnológica surge em São Bernardo por ser a experiência pioneira, já que o prazo médio de maturação de um projeto é de 24 meses. Alguns especialistas consideram que somente projetos de áreas como mecatrônica, software e biotecnologia podem ser considerados tecnológicos, enquanto outros avaliam que basta à empresa inovar o processo de produção para que passe a agregar tecnologia. Essa segunda forma de inovação tecnológica é a chamada baixa tecnologia, que envolve, por exemplo, pesquisas sobre tijolos, alimentos, roupas e tintas. No caso da região, o perfil industrial está um pouco além, com setores de autopeças, plásticos e químico. De qualquer forma, há expectativa de que as novas empresas façam o Grande ABC deixar de ser mero montador ou reprodutor de processos criados em outros centros para ser um pólo inovador. Como dizia o dirigente chinês Deng Xiaoping, o mais capitalista dos comunistas asiáticos: pouco importa qual a cor do gato; o que interessa é que cace ratos. 


As incubadoras de base tecnológica podem, de fato, agregar valor à economia da região com mais e melhores empregos e abrem caminho para a possibilidade de início de sinergia entre as empresas. Cerca de 65% dos recursos destinados à pesquisa científica no Brasil, de acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, foram orientados para pesquisas que possam gerar produtos, serviços, empregos e divisas. Não só em tecnologia de ponta, mas também com a chamada baixa tecnologia.


Novo perfil -- A mudança do perfil da incubadora de São Bernardo começou em setembro de 2001, depois de 17 meses da convivência mista entre empresas tradicionais e outras de base tecnológica. Das sete empresas inicialmente incubadas, três eram de base tecnológica. Foi também em setembro que assumiu a gerência da incubadora o advogado Alexandre Vancin, que trabalha há 11 anos na área de gestão empresarial. Vancin percebeu que empresas tradicionais encontravam mais dificuldades para se firmar no mercado. Sem grandes diferenciais, tinham pela frente concorrentes fortes e estabelecidos. "Uma empresa incubada tradicional tem de ter capital, produzir e vender. Se não tiver estrutura administrativa em pouco tempo, se errar o tiro, se não tiver giro, leva prejuízo e quebra" -- argumenta o gerente da Iesbec.


O foco tecnológico vem ao encontro da necessidade de se apoiar os novos empreendimentos na região. No entanto, as duas incubadoras de base tecnológica do Grande ABC surgem na contramão do processo tradicional de incubadoras desse tipo, geralmente associadas aos principais centros de produção tecnológica tanto no Brasil como em outros países. No Brasil, das 159 incubadoras existentes até fins do ano passado, 82 eram de base tecnológica. Aqui, as incubadoras tecnológicas surgiram a partir de universidades e instituições públicas de ensino como em Campinas, Porto Alegre, São Carlos e São José dos Campos, mas dedicadas a pesquisas avançadas. A própria noção de incubadora de base tecnológica surgiu no início dos anos 90 no chamado Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, apoiada no potencial de pesquisa da Universidade Stanford.


Mas, ao contrário do que dita a regra, as universidades e escolas de nível superior do Grande ABC formam jovens mais interessados na colocação no mercado do que no desenvolvimento de alguma versão tupiniquim da Microsoft. "Ainda existe nas escolas particulares a cultura dos universitários que se formam e se sentem frustrados quando não obtêm emprego numa multinacional" -- lamenta Silvana Pompermayer. Foi justamente essa característica que gerou outro ambiente de inovações e pesquisas, fora do mundo acadêmico. "No Grande ABC, as universidades particulares formam e as montadoras e grandes empresas fazem a pós-graduação. Por isso, a incubadora se tornou um projeto interessante para os pequenos negócios" -- ressalta a gerente do Sebrae São Bernardo.


Em grandes centros como USP, Unicamp ou Universidade Federal de São Carlos, quem desenvolve projetos tecnológicos são os doutores -- acadêmicos que optam pela carreira de pesquisas e experimentos avançados. O diferencial do Grande ABC é que as incubadoras estão sendo idealizadas para se adequar à demanda tipicamente regional, o que só reforça a tese de que o ambiente de inovação para chegar ao mercado tem de se realizar dentro das empresas. No Grande ABC não são doutores, mas ex-funcionários de grandes empresas, que acumulam experiência na linha de produção, que estão desenvolvendo idéias, pensando em novos desenhos de peças e em novos materiais. Outro diferencial que se quer estimular a favor do Grande ABC é que a demanda está na região, isto é, há empresas que buscam novidades, serviços mais ágeis e de menor custo. "Temos um mercado criativo e as grandes empresas querem terceirizar e nacionalizar no mercado de peças. É nisso que estamos apostando, pois já existe no mercado uma leva de profissionais na área de engenharia. Conseguimos esse foco de profissionais formados pela FEI e pela Mauá e que têm clientes com as montadoras. Como a região é rica em possibilidades, falta aglutinar esses interesses para se chegar aos resultados" -- acredita Silvana Pompermayer.


Experiência -- Entusiasta dos pequenos negócios, o que a gerente do Sebrae São Bernardo ressalta é que no Grande ABC os incubados são trabalhadores que acumularam experiência e, mesmo sem financiamentos e ambientes acadêmicos, conseguiram esboçar projetos de produtos e serviços de base tecnológica que agora ensaiam entrar no mercado. E como a modernidade exige tecnologia, a Iesbec não podia se furtar a apoiar projetos com perfis exclusivamente tecnológicos. É o caso do protetor de porta-malas em polipropileno, produto inexistente no mercado e desenvolvido por Luiz Carlos Fais. Com ajuda da incubadora, Luiz Fais conseguiu encontrar a fórmula de um polímero termoplástico para o produto ter resistência e maleabilidade. O novo composto também permite rapidez na linha de produção, o que resulta em preço atraente para o consumidor final (veja box). Outro exemplo é a Techparts Industrial, empresa que desenvolve nacionalização de peças e já é considerada top de linha na inovação de peças e equipamentos. Os proprietários, os irmãos Renato e Vanderlei Búfalo, deixaram a informalidade para instalar a empresa na Iesbec. 


Aos poucos, idéias se transformam em negócios promissores, o grande desafio para qualquer incubadora. Mas para o projeto sair do papel e, mais ainda, se transformar num empreendimento rentável, é necessário tempo e dinheiro. Até agora, a Iesbec garantiu o primeiro requisito. O segundo, da rentabilidade, está a caminho. Com 37 empregados, os 10 incubados de São Bernardo faturaram no primeiro trimestre de 2002 R$ 332 mil, mais do que os R$ 322 mil de todo o ano passado. Uma empresa de base tecnológica pode residir numa incubadora por até três anos. Nas incubadoras tradicionais, o prazo é de dois anos.


Para dar conta da nova fase, a Iesbec criou um protocolo tecnológico para integrar entidades como Prefeitura de São Bernardo, Sebrae e Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) a instituições de ensino como Universidade Metodista de São Paulo, FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) e Uniban (Universidade Bandeirantes de São Paulo), entre outras. Poder Público, ONGs e outras entidades passaram a formar o conselho da Iesbec, que se transformou em empresa privada sem fins lucrativos, no mesmo formato que o Sebrae e o Cietec/USP (Centro de Incubação Tecnológica da Universidade de São Paulo). "Para se obter financiamento na área tecnológica tem de ter uma personalidade jurídica muito bem definida" -- explica Silvana Pompermayer, do Sebrae São Bernardo. 


Amparo à pesquisa -- Personalidade jurídica definida é essencial para se obter financiamentos para novos projetos. Por isso, a Iesbec já negocia as primeiras linhas de fomento às empresas incubadas. Os fundos de amparo à pesquisa em negociação são a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos -- Agência Federal de Fomento à Inovação), que pode liberar até R$ 365 mil para pesquisa, além da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que não estabelecem limites para financiamento, embora os projetos tenham de passar por avaliação minuciosa. 


Para volume pequeno de capital, a alternativa seria o aporte financeiro de grupos de capital de risco. A vantagem de investir numa empresa ligada a incubadora de base tecnológica é que existe estudo de viabilidade de mercado para os produtos ali desenvolvidos. "O investimento numa incubadora é claramente bem melhor direcionado" -- avalia Alexandre Vancin, gerente da Iesbec. Para as empresas que já completaram o estágio na incubadora, o próximo passo é o condomínio empresarial. A Prefeitura de São Bernardo procura área para instalação do condomínio. Em outros países, o apoio às incubadoras de base tecnológica é considerado estratégico. O Canadá, por exemplo, tem lei de incentivos fiscais para a inovação desde 1944. Lá, uma empresa pode ter até 57% de seu desenvolvimento tecnológico patrocinado pelo Poder Público. Estados Unidos, França e Alemanha e, de forma mais acentuada, Taiwan, Japão e Coréia do Sul também têm leis semelhantes às do Canadá.


Terciário avançado -- Em Santo André, depois de instalar uma incubadora para cooperativas, a Prefeitura parte para montar um berçário de base tecnológica que caminhe para o chamado terciário avançado, principalmente nas áreas de software, biotecnologia, telecomunicações, mecatrônica, química fina, plásticos e novos materiais, além de tecnologia da informação. Empresas desses setores ocupam pequenos espaços e costumam apresentar resultados significativos em valores agregados. 


O projeto da incubadora começou a ser tocado em novembro de 2001, com a qualificação da equipe que reúne um administrador e três economistas que vão acompanhar os incubados. Como em São Bernardo, a incubadora de Santo André é produto de parceria entre Prefeitura e Sebrae, mas recebe apoio também da Agência de Desenvolvimento Regional. No Conselho Consultivo estão entidades como FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), UniABC, Ciesp, Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), Fundação do ABC e Fundação Santo André, que passa este ano a contar com curso de engenharia, uma interface para o projeto incubador.


"Queremos que a incubadora faça com que Santo André e região tenham uma mentalidade de inovação tecnológica porque o emprego do terciário avançado é mais qualificado, com renda maior e que vai gerar mais consumo" -- analisa César Moreira Filho, novo secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura. A tarefa da nova incubadora, de acordo com Moreira Filho, é dar vida a projetos avançados. "Temos de atrair quem está no meio acadêmico ou na fábrica para transformá-lo em empreendedor" -- afirma o diretor. 


Além das empresas incubadas, ou residentes, Santo André vai também oferecer assessoria para empresas associadas, sediadas fora do espaço físico da incubadora. As propostas que não forem escolhidas podem ir para o que César Moreira Filho chama de Hotel de Projetos, onde passarão por fase de amadurecimento até que tenham plano de negócios viável. Plano de negócios é espécie de prova seletiva para que as empresas interessadas se habilitem às incubadoras. Reúne metas e prazos para o projeto se desenvolver nos três anos de residência na incubadora. 


A incubadora de base tecnológica de Santo André vai funcionar inicialmente no prédio da Central de Trabalho e Renda, mas o objetivo é sua instalação definitiva num pólo de negócios e tecnologia ao lado da Fundação Santo André, junto à Escola do Empreendedor. "Queremos criar um grande ambiente de negócios próximo à universidade" -- planeja o secretário de Desenvolvimento Econômico. A nova incubadora pretende também fazer parcerias com outras instituições de ensino e pesquisa do Estado. "Nada impede que o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) ofereçam tecnologia e recursos econômicos, que são mais importantes que dinheiro" -- declara Gilson Roberto Carbinatto, consultor de incubadoras de empresas do Sebrae-SP. 


Se as obras da incubadora de Santo André começarem ainda este ano, César Moreira Filho prevê que estarão prontas em 2004. Silvana Pompermayer, gerente do Sebrae São Bernardo, está otimista quanto ao processo de sinergia que pode surgir entre as incubadoras e outros pólos tecnológicos da região. "Estrategicamente, é significativo para o Grande ABC que se tenha mais de uma incubadora de base tecnológica na região" -- avalia a gerente do Sebrae. A incubadora tem o mérito de aproximar pesquisadores e cientistas de empreendedores e clientes potenciais e investidores. Vários desses berçários formam redes muito mais potentes que dinamizam a economia de uma região, cita Silvana. 


Rodo tecnológico -- Ao contrário de São Bernardo e Santo André, a incubadora de empresas de Mauá não fez da tecnologia exclusividade, mas o próprio perfil da região induziu as incubadas a adquirirem comportamento de pesquisa e de desenvolvimento de produtos, materiais e procedimentos técnicos. É o caso da Semco -- Soluções Empresariais e Comércio, que produz estruturas modulares para pontos-de-venda e estandes. A atividade pouco tem de pesquisa tecnológica pura, mas por força da política cambial brasileira levou a Semco a abandonar a importação de estruturas para banners para produzir material similar com nova liga de polipropileno. Quem fez a pesquisa foi o tecnólogo Marcelo Perussetto, um dos sócios da empresa, junto com a administradora Sandra Berti.


Dentro do conceito de baixa tecnologia, outra empresa incubada em Mauá pulou para o degrau de valor agregado. É a Maxrodo, que produz rodos de alumínio criados por Marcos Gaia. Antes de ser microempresário, Marcos vendia rodos de madeira no mercado informal. Além de revolucionar o desenho e o material do utensílio, agregou ao produto processo de anodização que deixa o alumínio mais apropriado ao manuseio. O projeto do rodo de alumínio foi escolhido entre outros 40 pelo Sebrae-SP para ser exposto na UD -- Feira de Utilidades Domésticas de 2002.


A alta do dólar nos últimos três anos é mãe de muitas pequenas empresas que se dedicam a fazer uma velha operação: a famosa substituição das importações, isto é, a nacionalização de peças ou mesmo equipamentos inteiros antes importados e que, em função das oscilações do câmbio e da economia internacional, ficam mais atraentes se produzidos no Brasil, como faz hoje a Techparts de São Bernardo. Muitos podem torcer o nariz para a cópia de equipamentos estrangeiros, mas foi justamente com esse tipo de atividade que a indústria japonesa começou, a partir dos anos 50, a desenvolver um dos maiores e mais avançados parques tecnológicos do mundo. Um dos fatores é o investimento em pesquisa. Segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, o Brasil aplica apenas 0,7% de seu PNB em pesquisa e desenvolvimento, enquanto no Japão esse investimento chega a 3%, na França 1,8% e na Alemanha, 2,8%.


Dinah Adkins, diretora da National Business Incubation Association, organização não-governamental que coleta informações sobre incubadoras em todo o mundo, estima que existam três mil ou mais incubadoras no planeta. Somente nos Estados Unidos, são 900. Alemanha e Coréia vêm em seguida entre os países que mais desenvolvem esses berços de empreendedores. Em todo o mundo, as incubadoras surgem como modelo de incentivo não apenas para universitários, mas também para empreendedores que buscam consolidar micro e pequenas empresas com base tecnológica.


O exemplo da Coréia é gritante. Nos anos 70, o setor privado daquele país asiático investia o mesmo que a livre iniciativa do Brasil aplica em ciência e tecnologia: 15%. Leis de incentivos fiscais e uma política agressiva no setor fizeram esse índice saltar para 70% em 30 anos. No mesmo período, o Brasil aumentou a participação das empresas nos investimentos no setor para 30%. Atualmente, Brasil, China e Turquia são os países em desenvolvimento onde as incubadoras de empresas vêm apresentando índice de graduação de 80% das residentes, de acordo com pesquisa patrocinada pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Por graduação, considera-se a empresa que esteja em condições de deixar a incubadora para tentar atividade própria no mercado.


O Brasil ainda gasta muito com royalties na compra de tecnologia que poderia ser desenvolvida internamente. Por isso, a incubadora de empresas de São Bernardo também começa a auxiliar os empreendimentos a obter a patente de novos produtos. Além de royalties, as novas empresas de base tecnológica representam alternativa importante para a empregabilidade. Um exemplo é primeira incubadora de empresas de base tecnológica que começou a operar formalmente no Brasil: o Celta (Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Inovadoras), de Florianópolis, Santa Catarina, em 15 anos de atividade colocou no mercado 28 empresas que hoje faturam R$ 300 milhões. 


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